Marcos Leite Junior


A ESCASSEZ DE NEGROS INTELECTUAIS NA BIBLIOGRAFIA DO CURSO DE HISTÓRIA


O seguinte artigo visa refletir sobre a escassez de alguns sujeitos, no caso de negros intelectuais na bibliografia do curso de História. Para se pensar na questão foram analisados sete planos de ensino de disciplinas do curso de História da UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do sul, do campus de Nova Andradina, entre o segundo semestre de 2019 e o primeiro de 2020. As disciplinas analisadas foram: História do Brasil I, II , III, História e Cultura Afro- Brasileira, Educação das Relações Étnico-Raciais, Mato Grosso do sul e América II. Por falta de acesso às fontes, as Referências bibliográficas indicadas apenas por seus respectivos organizadores, não foram contadas nos dados, logo estão sendo desconsideradas, com exceção de: ‘Barbosa, Lúcia Maria de Assunção; Silva, Petronilha Beatriz Gonçalves e; Silvério, Valter Roberto. De Preto a Afro-descendente:Trajetos de Pesquisa sobre o Negro, Cultura Negra e Relações Étnico-raciais no Brasil. São Carlos, SP: Edufscar, 2003-2010.’ Pois sabe-se que os organizadores e autores são negros. A partir dos pontos levantados, torna-se necessário uma reflexão sobre o local de alguns sujeitos na sociedade e a importância do reconhecimento de negros e negras na academia brasileira, bem como em todos os locais da sociedade.

Lilia Moritz Schwarcz em O Espetáculo das raças destaca a chegada da corte portuguesa em 1808 ao Brasil, como o início de uma história institucional local “data dessa época a instalação dos primeiros estabelecimentos de caráter cultural – como a Imprensa Régia, a biblioteca, o Real Horto e o Museu Real" [Schwarcz, 1993, p. 23-24]. Essas instituições, além do conforto de uma sede provisória do rei, resultam em uma “produção” e “reprodução de cultura e memória” [Schwarcz, 1993, p. 24]. Porém, esses aspectos não incluíam o negro como um sujeito na sociedade, e ignoravam sua cultura, não sendo representada nas instituições de memórias. 

Schwarcz enfatiza também uma das preocupações dos institutos históricos que “congregando a elite intelectual e econômica de diferentes províncias e profundamente vinculados ao monarca d. Pedro II, começavam a escrever a história oficial deste jovem país.” [Schwarcz, 1993, p. 25]. Escrever a história dita como oficial é exaltar heróis e grandes feitos da nação, não se preocupando com o micro e determinadas figuras da sociedade, e deste modo a memória de um povo é refutada em decorrência de uma memória elitista. A memória dos negros é sempre um ato de resistência, e a religião é o maior exemplo disso. 

Dados da pesquisa
Foram analisadas noventa e nove Referências bibliográficas, e vale lembrar como é frágil realizar definições de quem pode ser considerado negro, principalmente no caso do Brasil, onde o processo de miscigenação é tão explícito. No entanto, procurei explorar, o local que antes foi negado para os negros e demonstrar a difícil barreira até o reconhecimento na academia e demais lugares da sociedade.

Das noventa e nove Referências analisadas, apenas treze são de negros. Luiz Alberto Oliveira Gonçalves [2003, p. 17] disserta sobre o racismo existente, que nega o local do negro na pesquisa e produção de conhecimento. “Dificilmente uma sociedade racista, como a sociedade brasileira, nos aceitaria como produtores de conhecimento. E quando falo, aqui, de conhecimento não me refiro apenas ao científico, mas a qualquer outro tipo de conhecimento”.

O lugar de produção de conhecimento negado às minorias da sociedade passa, então, a ser reivindicado, porém especificamente aos negros, segundo Guerreiro Ramos (1996) “os problemas de não aceitação e de descarada exclusão começam para os negros, no momento que ousam entrar no mundo da superestrutura, ou seja no mundo dos brancos, feitos pelos brancos" [apud Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, 2003, p. 18]. A exclusão que o negro sofre no ambiente de pesquisa, o faz viver distante dos demais colegas de trabalho de uma universidade, não encontrando um sentimento de representação e de pertencimento.

“a maioria desses poucos intelectuais negros provavelmente passou e passa por diversas dificuldades para chegar aonde eles chegaram, ou seja, para ocupar um cargo e ter o status de professor de uma universidade pública brasileira. Ademais, o isolamento a que, praticamente, estão relegados em seus departamentos, muito provavelmente os impossibilita de debater a questão racial brasileira de forma franca, profunda, sem medo de represálias e com apoio ou solidariedade racial, visto que raramente há pares intelectuais negros em suas unidades acadêmicas.” [Santos, 2008, p. 3].

Guerreiro Ramos, criticava a Sociologia e a Antropologia de pesquisadores brancos brasileiros de sua época, por não compreender as diferenças do Brasil em relação aos Estados Unidos e países da Europa [Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, 2003, p. 20]. Ao tentar impor a mesma realidade, seria uma interpretação errônea, por ignorar questões sociais, econômicas e políticas, que variam entre países. Para Guerreiro Ramos (1996) sobre os pesquisadores que trabalhavam com a questão “acentuavam apenas os aspectos exóticos e pitoresco do tema racial” [apud Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, 2003, p. 20].  Não contribuindo para a ampliação e aceitação de intelectuais negros na fala e produção de conhecimento, e na atuação em Universidade e nos mais diversos debates da sociedade.

Ao analisar a bibliografia do curso de História de Nova Andradina da UFMS, encontram-se intelectuais negros em Educação das Relações Étnico-Raciais e História e Cultura Afro-Brasileira: Kabengele Muganga, Lúcia Maria de Assunção Barbosa, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Valter Roberto Silveiro constam em ambas disciplinas. Logo, compreende-se que com dada notoriedade desses homens e mulheres na pesquisa, são poucos que alcançam essa legitimidade acadêmica, para discutir uma temática ampla que poderia ser abordada por outros pesquisadores negros, com o aporte teórico dos já mencionados. Vale lembrar que o livro ‘De Preto a Afro-Descendente: trajeto de pesquisa sobre o negro, cultura negra e relações étnico-raciais no Brasil’, organizado por Lucia Maria, Petronilha Beatriz e Valter Silvério, contam com diversos artigos de negros e negras, mas dependerá de outros pontos, como a quantidade de artigos que serão trabalhados ao decorrer das aulas, e as reflexões que devem surgir para compreender a importância em ler um livro produzido e escrito por negros. Poucos são os autores com maior visibilidade na academia. Ao total são treze intelectuais negros incluídos nas Referências bibliográficas analisadas e na disciplina de História e Cultura Afro-Brasileira, abre-se um pouco mais, e aparecem também: Silvio Almeida, Petronio Domingues, Jorge Arturo Chamorro Escalante, Conceição Evaristo, Adilson Moreira, Ana Flávia Magalhães, Djamila Ribeiro, Joice Berth e Antônio Bispo dos Santos.

Mesmo que parte desses pesquisadores sejam amplamente reconhecidos, é possível dentro de pouco tempo traçar uma ausência de reconhecimento de autores e autoras em diferentes instituições de modo geral. Há apenas treze nomes de negros. Já a maioria dos intelectuais brancos que são ofertados como aporte teórico são reconhecidos, e aparecem somadas vezes entre as matérias, mas neste caso, é uma questão de relevância que o nome tem dentro do tema de estudo. Com os negros, nota-se o desenvolvimento de pesquisas, porém a falta de reconhecimento e acesso ao material produzido, provoca a invisibilidade e gera a falsa impressão que não há negros na pesquisa.

“Pode-se dizer que, até o terceiro quartel do século XX, não havia possibilidade de se ter intelectuais negros nas universidades públicas brasileiras. Por exemplo, Abdias do Nascimento e Alberto Guerreiro Ramos nunca foram professores efetivos de universidades públicas brasileiras antes do período supracitado, embora tenham sido professores em universidades dos Estados Unidos nas décadas de setenta e oitenta do século passado.” [Santos, p. 3, 2008].

Para Sales Augusto dos Santos (2008), se faz essencial a diferenciação de intelectuais negros e negros intelectuais, pois Negros(as) intelectuais, além da origem ou ascendência negra, receberam influência direta ou indireta dos movimentos sociais negros, “adquirindo ou incorporando” uma ética da convicção antirracista, e um ethos acadêmico ativo, que reflete em seus estudos, vida e trabalho. Aqui, não cabe problematizar a nomeação e segregação entre a diferenciação proposta por alguns estudiosos. Tanto negros que participaram ativamente de movimentos negros, como aqueles que optaram não aderir, são de pouco reconhecimento acadêmico. A investigação que o autor apresenta, mostra-se pertinente ao averiguar a relação do movimento negro e sua ligação direta na produção de um ethos acadêmico e uma convicção antirracista que induz efetivamente na produção acadêmica. Logo, vê-se que a importância dos movimentos sociais na vida das minorias, e de fato grande parte dos autores negros encontrados na bibliografia, estão ligados diretamente ao movimento negro, como Petronilha Beatriz Gonçalves E Silva e Lúcia Maria de Assunção Barbosa. Assim, pode-se concluir que os negros intelectuais foram responsáveis por questionar pesquisas na área de relações raciais e a desconstruir ideias da época de sociólogos e antropólogos.

“os negros intelectuais passaram a intervir diretamente na produção do conhecimento científico, em especial na área de relações raciais, questionando-a profundamente, revisando ou desconstruindo conhecimentos colonizadores, eurocêntricos ou brancocêntricos; enfim, buscaram e buscam desestruturar ou desconstruir ideologias que afirmam, manifesta ou latentemente, que o Brasil é um país racialmente democrático ante a mistura e harmonia racial aqui existentes, ou que afirmam que não há necessidade de políticas de promoção da igualdade racial, como, por exemplo, ações afirmativas, ou mesmo minimizar as desigualdades raciais existentes neste país. Mais do que isso, os negros intelectuais passaram a questionar e desestruturar profundamente, por meio da suas produções acadêmico-científicas, o controle de alguns cientistas sociais brancos sobre a pesquisa e o estudo das relações raciais brasileiras, o seu modo de fazer essas pesquisas, bem como as suas propostas para a superação das desigualdades raciais entre negros e brancos.” [Santos, 2008, p. 13].
Visando apresentar a proporção de vezes em que intelectuais negros são referenciados nas disciplinas considera-se aqui as obras organizadas e a repetição de Referências bibliográficas em disciplinas diferentes. O nome de mulheres apareceu mais do que de homens negros. Eles aparecem 9 vezes enquanto mulheres aparecem em quarenta e três Referências, no entanto, destas, apenas oito são mulheres negras. Ou seja, pode-se concluir que o número de mulheres negras nas Referências é baixo e continua em desvantagem em relação aos homens negros e às mulheres brancas. América II, concentra o maior número de mulheres, em um total de onze menções. Já na disciplina História e Cultura Afro-Brasileira, mulheres aparecem dez vezes, seis delas sendo negras. Vale enfatizar que no segundo semestre de 2019, a disciplina de Relações Étnico-Raciais, contava com carga horária de apenas 51 horas, tornando-se difícil trabalhar com um tema amplo e urgente para um curso de licenciatura. Em História e Cultura Afro-Brasileira, a carga horária é de 68 horas, possibilitando discussão mais detalhada.

Em História do Brasil I, II e III, não há protagonismo de negros intelectuais dentro da bibliografia, assim como nas disciplinas de História do Mato Grosso Sul e América II. Embora grande parte da população seja negra no Brasil, alguns sujeitos foram por muito tempo excluídos da historiografia, e até o presente se deparam com dificuldades por maior visibilidade. A presença de outros sujeitos na historiografia possibilita que a história seja contada a partir de novos personagens, que viveram e estão inclusos na sociedade, isto é, por novas perspectivas, que vão além da história oficial e da tentativa de exclusão das minorias da História e memória do país. Djamila Ribeiro comenta que:

“As experiências desses grupos localizados socialmente de forma hierarquizada e não humanizada faz com que as produções intelectuais, saberes e vozes sejam tratadas de modo igualmente subalternizado, além das condições sociais os manterem num lugar silenciado estruturalmente. Isso, de forma alguma, significa que esses grupos não criam ferramentas para enfrentar esses silêncios institucionais, ao contrário, existem várias formas de organização políticas, culturais e intelectuais. A questão é que essas condições sociais dificultam a visibilidade e a legitimidade dessas produções.” [Ribeiro, p. 35, 2017].

Para a discussão dentro de Relações Étnico-Raciais ou História e Cultura Afro-Brasileira, intelectuais negros estão em maioria entre os autores registrados no plano de ensino do professor. É ótimo que seja assim, até porque é um lugar conquistado. Contudo, falta a ocupação e reconhecimento desses intelectuais, em outras repartições da história. Brasil, já mencionado acima, exemplifica parte da questão, falta a presença de autorias negras, pois negros e negras fizeram parte da história do Brasil, contudo o espaço antes renegado na historiografia, hoje vem sendo conquistado por meio do acesso a educação e pesquisa, mas não se deve esquecer o longo caminho de permanência no ensino básico, graduação e pós graduação, entre outras dificuldades no meio do trajeto, por isso a importância das cotas nas Universidades. Os grandes autores clássicos da história, merecem destaque pela atuação, entretanto não representam todas as falas, o que comprova o dever de adicionar outros pontos de vista na ciência, artes e demais setores da sociedade.

Conclusões finais
Os negros intelectuais, até então são minoria na socialização de conhecimento. Com os dados analisados, fica evidente a invisibilidade que negros e negras ainda enfrentam após anos de luta. Mesmo com os avanços e conquistas que o movimento negro vem acrescentando significativamente na sociedade em si, e influenciando na criação de uma convicção antirracista na vida desses intelectuais, a luta não acabou, isso porque os números são discrepantes e injustos. As cotas se fazem precisas, exatamente por não existir uma equidade, visto que as diferenças raciais segregam e limitam determinados sujeitos, os mesmos que ainda hoje necessitam de um empenho maior para adquirir reconhecimento e novas conquistas, que são constantemente colocadas em dúvida por uma parcela da sociedade, ocasionando que o negro cotidianamente reafirme seu merecimento e luta por aquele lugar. Parte dos professores demonstram uma preocupação maior em incluir em suas bibliografias complementares (dificilmente encontrada na bibliografia básica), Referências de autorias negras, além de realizações de projetos e atividades fora da sala de aula para promover maior discussão e entendimento do conteúdo. Isso remete a relevância de incluir nas leituras, negros e negras, para gerar uma compreensão nos acadêmicos sobre novos olhares, perspectivas, inclusão, visibilidade e a aquisição de uma educação antirracista. Por fim, construindo maior representatividade e sentimento de pertencimento por acadêmicos, professores negros, ensino básico e comunidade externa. 



Referências
Marcos Leite Junior, acadêmico de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, campus de Nova Andradina.

Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, atualmente é professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais e pós doutor pela Universidade de São Paulo
GONÇALVES, L. A . De Preto a afro-descendentes: da cor da pele a categoria científica. In: De Preto a afro-descendente: trajetos de pesquisa sobre relações étnico-raciais no Brasil. Barbosa, Lúcia Maria de Assunção (org) et al. São Carlos: UFSCAR, 2010.

Djamila Ribeiro é mestra em filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo, atua na área de Relações raciais e de gênero e feminismo.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2017.

Sales Augusto Dos Santos é pós-doutor, tem experiência em sociologia, principalmente em relações étnico raciais.
SANTOS, Sales Augusto dos. De militantes negros a negros intelectuais. Disponível em: http://flacso.org.br/files/2015/11/De-militantes-negros-a-negros-intelectuais-71.pdf.

Lilia Moritz Schwarcz é professora livre docente no Departamento de Antropologia da Universidade De São Paulo.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: companhia das letras, 1993.

13 comentários:

  1. Pensando na escassez de negros intelectuais, a falta de representatividade pode ser um fator importante?
    Mathilda Souza Martins.

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    1. Olá Mathilda.
      Sim, a falta de representatividade é um grande fator. O caminho percorrido pelo negro é muito longo em diversos casos, sendo difícil concluir o ensino fundamental e médio. Então o primeiro passo é perceber como as divisões sociais estão diretamente ligadas a essa falta de representatividade. O/a negro(a) não se sente representado, e poucas são as atividades que tratam a temática afro, chega-se a ser ofensivo aquelas instituições que se orgulham por selecionar entre seu calendário um único dia para lembra de uma cultura tão rica. É como se os/as negros (as) só fossem vistos naquela data. Essa ideia de dar voz é racista, e precisa terminar, ninguém precisa dar voz aos negros e as negras, é necessário escutar. Muitas vezes quase caímos em um discurso do bom chefe que não contratou um negro porque não apareceu nenhum, mas ao analisar as qualificações exigidas vê-se que são excludentes, por exemplo ao exigir inglês fluente, pós graduação, especializações, fora da realidade da grande maioria da população brasileira. Isso vem mudando, mas ainda se vê uma escolha por autores brancos. Existem negros(as) intelectuais produzindo, mas em muitos casos não recebem o mesmo reconhecimento dos clássicos que em sua grande maioria são homens, brancos.
      Por esses motivos a importância das cotas, e da discussão dessa realidade diariamente.

      Marcos Leite Junior

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  2. Parabéns pelo artigo Marcos, muito bem colocado a falta de representatividade que ainda há no campo acadêmico e na sociedade em si, apesar de anos de luta. Gostaria de saber o que o autor acha que poderia ser feito para minimizar a falta de representatividade, e enfim, ter uma equidade, além dos pontos já ultra citados?
    Maria Eduarda Miranda Barbosa

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    1. Olá Maria, muito obrigado. De fato são anos e anos de luta e serão tantos outros para maior equidade.
      A falta de representatividade é um problema racial, social e de desigualdade. Por isso a importância das cotas, da universidade publica e de um forte combate ao racismo. Nisso já se percebe como a meritocracia caí levando seu falso discurso.
      Penso que pequenos atos do cotidiano já combate o racismo. O primeiro passo é tornar-se um cidadão e uma cidadã antirracista. Em uma sociedade como a brasileira, não ser racista (um dever), não é o suficiente, e sim tomar uma postura antirracista, pois é também criar uma responsabilidade social de combate ao racismo e de reparação histórica.
      Pensando na linguística, nos comprometemos a mudar algumas palavras do nosso vocabulário, como criado-mudo (mesa de cabeceira), mudar expressões como "a coisa está preta", para dizer que alguma coisa não vai bem, entre tantos exemplos.
      É possível ainda a realização de atividades afro sendo incluídas na sociedade, e não apenas em uma data específica do ano. No contexto geral não enxergamos a cultura e religião de matrizes africanas como pertencentes ao Brasil, por conta de uma sociedade racista e eurocêntrica.
      O exercício de inclui-las em nossos hábitos pode ocorre aos poucos. Ler negros e negras, mulheres, e outros sujeitos. Se praticarmos o ato de ouvir (no caso ler) outros sujeitos que foram silenciados no passado, resultará em visões, pensamentos, abordagens e novas ações serão tomadas em relação ao machismo, racismo, homofobia, preconceitos, etc. É uma ideia muito difundida na História de ouvir a história por novas vozes de quem viveu aquilo.
      Isso nos faz mais atentos ao nosso próprio contexto. Quantos negros trabalham onde você trabalha? e por que?. Será que percebemos a presença desses negros no ambiente?, será que percebemos a fala racista em "brincadeiras", atitudes e expressões? como bem citei. Quando eu digo em não perceber negros e negras no ambiente, também estou me referindo diretamente aquelas pessoas que dizem "ah, mas eu nem percebi que ele é negro", um discurso que não deixa de ser racista. As vezes a pessoa fica tão preocupada em não ser racista, e acaba sendo. Qual o problema de notar que o outro é negro? de enxergar a pessoa como ela é: negra, homossexual, mulher ou até mesmo de um estado diferente do seu? Não há problema nenhum, muito pelo contrário, se deve notar, respeitar e atuar, neste caso da minha pesquisa, no combate ao racismo, mas como citei pode ser empregado a outros casos.

      Marcos Leite Junior

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  3. Por que a mulher negra se comparada ao homem negro, ocupa menos espaço ainda na sociedade? pode-se dizer que tem relação ao machismo?
    Maria Eduarda Miranda Barbosa

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    1. Olá Maria.
      Ótima colocação, talvez sinta que a resposta seja vaga, mas de modo geral a mulher negra vai ter um espaço ainda menor, e sim está diretamente ligado ao machismo e racismo. A mulher negra acaba sendo vista como fonte de prazer, ou seja ligada ao sexo. Tanto que o termo mulata é pejorativo e depreciativo (te indico, Não me chame de mulata de Jarid Arraes). Logo, para muitas autoras a mulher negra estaria em uma posição inferior a mulher branca e até mesmo ao homem negro. Ainda mais baixo estariam as mulheres trans. Não se pode comparar dores, mas também não se sabe de fato o que o outro senti naquela posição.
      Como não sou capaz de falar tão bem de tal realidade, para fins de pesquisa e para saber mais segue indicações de leitura:
      Quem tem medo de feminismo negro? O que é local de fala?, Pequeno manual antirracista (todos da Djamila Ribeiro) e, Pode o subalterno falar? de Gayatri Chakravorty Spivak.

      Marcos Leite Junior

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Olá, Marcos Leite Junior. Gostaria de parabeniza-lo pela sua pesquisa, é sempre bom ler pesquisas que problematizam a falta de representatividade negra na academia. Em relação a autores/autoras negras, quais leituras tu considera imprescindíveis para quem está pesquisando (de forma ampla) negritude no brasil?

    Joyce Silva Cardoso

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    1. Olá Joyce, muito obrigado, fico feliz por ter gostado.
      Para quem procura uma formação ampla como bem destacou, é possível a leitura não apenas de textos acadêmicos, mas também compreender a negritude na arte, através da literatura.
      Segue algumas indicações de leitura:
      Pequeno manual antirracista
      O que é local de fala?
      Nem preto nem branco, muito pelo contrário
      O espetáculo das raças (os dois últimos de Lilia M. Schwarcz)
      O genocídio do negro brasileiro
      De preto a afro-descendente: trajetos de pesquisa sobre o negro, cultura e relações étnico-raciais no Brasil.
      Eu sei porque o pássaro canta na gaiola
      Um defeito de cor
      Quando me descobri negra
      Você pode pesquisar e ler também autoras e autores que não tenho tanto conhecimento como Octavia E. Butler (por sua importância na ficção), Angela Davis e Bell Hooks.
      Indico, o poeta Oliveira Silveira, e Conceição Evaristo (ex: Olhos d'água).
      Indico também grandes nomes:
      Luiz Alberto Oliveira Gonçalves
      Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
      Valter Roberto Silvério
      (tais nomes estão presentes no livro indicado: De Preto a afro-descendente...)
      Negritude: usos e sentidos
      Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra
      O negro no Brasil de hoje
      Fica aberto para novas sugestões.

      Marcos Leite Junior

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  6. Parabéns Marcos, ficou incrível seu artigo, gostaria de saber como foi sua experiência para realização deste tema.

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    1. Olá. Muito Obrigado, fico contente.
      Foi incrível o processo de investigar as bibliografias do curso de História. Por ser extremamente necessário, urgente e na correria, pouco notado. Confesso que foi um pouco cansativo trabalhar com bibliografias, mas além da realização, por ser o meu curso, me deixou muito mais próximo da pesquisa. Além disso, a base teórica utilizada me acrescentou muito na pesquisa e vida pessoal. Por fim, contei com as contribuições da professora Dra. Dulceli Estacheski, a quem deixo meus agradecimentos.

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  7. Esqueci de assinar. Luciara vitória ramos da Silva

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