A HISTÓRIA DA ÁFRICA NO
LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL DO 7ª ANO DA COLEÇÃO ARARIBÁ
Quando o assunto é livro didático nota-se uma
significativa parcela de autores que contribuem para pensar a forma de (re)
produção dos mesmos como Alain Choppin, Circe Bittencourt, Cuesta Fernandez e
Rüsen etc.
Diante dessa gama de autores, é importante
destacar que Choppin [2004, p. 563] em seu artigo História dos livros didáticos
e das edições didáticas: sobre o estado da arte afirma que:
“[...] a pesquisa desenvolvida sobre o livro
escolar de início dizia respeito ao próprio produto, ou seja, essencialmente ao
seu conteúdo (product-oriented researches); apenas recentemente os
historiadores têm se interessado pelas diversas etapas que balizam a existência
de um livro (process-oriented researches), sem deixar de privilegiar algumas
delas, como as reações e as críticas que podem ser suscitadas pelos livros
didáticos (reception-oriented researches)[...].”
Nota-se que, aos poucos, o livro didático foi
sendo observado sob outra perspectiva sem limitar-se naquela cuja
característica essencial era a ilustração, isto é, sem ser somente pela sua
existência, mas pelo seu conteúdo.
De outro lado é possível perceber que
Bittencourt [2011, p. 490] ao analisar as pesquisas feitas a respeito do livro
didático aponta que tiveram um avanço significativo no Brasil a partir dos anos
1980 “[...] as pesquisas acadêmicas sobre o livro didático tiveram um constante
crescimento em programas de pós-graduação a partir da década de 1980 [...]”. E
esse crescimento está relacionado aos temas trabalhados nos livros didáticos
que tinham a ver com as questões de identidade conforme destaca Choppin:
“A análise desses temas mostra ainda que
determinadas questões são frequentemente retomadas em cada país: as que se
referem a formação da identidade nacional, e que são as mais comuns,
notadamente em países que conquistaram a autonomia ou que a recuperaram
recentemente, ou ainda naqueles nos quais o poder político preocupa-se em
consolidar ou alimentar – por razões diversas – o sentimento de nacionalidade”.
[Choppin, 2004, p. 556].
Os estudos apontaram que a identidade
nacional era o tema trabalhado em diversos países como forma de despertar e consolidar
o sentimento de nacionalidade. E isso está diretamente ligado à produção
didática de construção sob o viés do Estado.
Nessa
linha interpretativa, Circe Bittencourt em seu artigo Produção didática de
história: trajetórias de pesquisa ao trabalhar as produções didáticas no
Brasil, aponta elementos que fazem pensar as perspectivas de construção dos
livros didáticos que passaram a ser preocupação de historiadores e geógrafos
com relação a manipulação desses conteúdos pelo poder estatal.
Dessa
forma, Bittencourt ao trazer uma análise do trabalho do historiador francês
Marc Ferro afirma que:
“[...]
identificou o caráter ideológico da literatura didática de maneira muito
semelhante em países de diferentes lugares nas décadas de 1960 e 1970
concluindo que os livros escolares eram veículos privilegiados da difusão de
uma ideologia e de uma manipulação política sobre as populações dos países do
então terceiro mundo.” [Bittencourt, 2011, p. 497].
Essa
contribuição dos estudos de Ferro sinalizada por Bittencourt estaria
diretamente ligada ao entendimento de que os livros serviam como forma de
manipulação política e difusão de ideologia sobre os países considerados de
terceiro mundo, ou seja, aquilo que Boaventura de Sousa Santos (2010) critica,
ao defender as Epistemologias do Sul que, de acordo com o autor são “Conjuntos
de procedimentos que visam reconhecer e validar o conhecimento produzido por
aqueles que têm sofrido sistematicamente as injustiças, a opressão, a exclusão
causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo e patriarcado”[Sousa Santos,
2010].
Além
disso, a autora destaca que houve novas interpretações acerca do conhecimento
escolar e do acadêmico o que contribui significativamente para repensar a
produção dos materiais didáticos. [Bittencourt, 2011, p. 501].
Desse
modo, o livro didático como mercadoria uma vez que há uma preocupação, nos dias
atuais, com o aperfeiçoamento tecnológico do livro didático de História, o que
acarreta em melhorias no processo de difusão e distribuição do material.
Choppin em seu artigo “O historiador e o
livro escolar” afirma que o livro didático é uma fonte rica e complexa,
passível de análise historiográfica “[...] porque ele se esforça em lançar um
olhar distanciado, livre de contingências, livre de polêmicas, o historiador
pode distinguir e colocar em relação as diversas facetas desse objeto
extremamente complexo, que é o livro escolar. [Choppin, 2002, p. 15].
Dessa forma, torna-se imprescindível trazer o
livro didático como fonte já que a proposta é a de analisar de que forma o
conteúdo de história da cultura afro-brasileira está sendo retratado nos
livros/manuais didáticos, e no caso particular deste artigo, será feita a
abordagem do livro didático do Projeto Araribá que norteia o trabalho do
professor de ensino fundamental da sétima série.
Os livros didáticos em geral, segundo
Bittencourt, quando trabalham as leis 10.649/2003 e 11.645/2008 –
obrigatoriedade do ensino de história da África e da cultura dos
afrodescendentes e do ensino de história indígena – deram novo sentido político
ao ensino de História “[...] uma vez que tais decisões do poder governamental
são decorrentes dos movimentos negros e dos indígenas” [Bittencourt, 2011, p.
506].
Já Luciene Moraes em seu artigo A revolta dos
malês nos livros didáticos de História e a lei 10.639/2003: Uma análise a
partir da “epistemologia social escolar” ao trazer a lei 10.639/2004 destaca
que:
“[...] a referida lei atende uma antiga
reivindicação do Movimento Negro apresentada já durante o I Congresso
Brasileiro do Negro, promovido pelo Teatro Experimental do Negro, em 1950, e
corroborada na Convenção Nacional do Negro pela Constituinte, realizada em
Brasília, em 1986, reivindicando a inclusão da História da África e do negro no
Brasil em todos os níveis de ensino, além da proibição de propaganda de guerra
ou subversão da ordem e de preconceitos de religião, raça, cor e classe.
[Moraes, 2014, p. 212].
Observa-se no trecho que referida lei é
resultado de lutas e reivindicações do Movimento Negro ao longo do século XX no
Brasil. Contudo, ao fazer uma análise de obras que tratam da revolta do Malês
aponta:
“[...] percebe-se uma mudança sensível no
trato do assunto corroborando a tese de que ocorre um impacto do texto da lei
nas lutas hegemônicas pela fixação do sentido dos negros. O tema, que passava
quase despercebido nos manuais anteriores à lei 10.639/2003, é utilizado nos
manuais dos anos posteriores a sua promulgação, mesmo que seu espaço não tenha
linhas tão rebuscadas quanto de outros eventos do período.” [Moraes, 2014, p.
220].
É perceptível que, segundo a autora, a lei
10.639/2003 trouxe mudanças na maneira como o assunto A Revolta do Malês é
retratado havendo um impacto positivo, sobretudo relacionado às “lutas
hegemônicas pela fixação do sentido dos negros”.
No que diz respeito ao manual didático
analisado neste artigo consiste na Unidade 3 intitulada “Povos e reinos da
África”.
Como o objetivo deste artigo é analisar de
que forma o negro é retratado no livro didático do 7º ano, é pertinente trazer
autores que contribuem com a análise do processo de escravidão ao longo do
tempo.
Desse modo, ao tratar do tema é possível
notar autores que concordam e que discordam de Gilberto Freyre, autor que
disseminou uma visão romantizada desse processo doloroso.
Suely Queiroz em Escravidão negra em debate
faz uma análise de como a escravidão era percebida pelos autores, em especial
por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, afirmando que o autor foi um
conservador “[...] seus argumentos para ressaltar a benignidade da escravidão
revelam ter sido influenciado pelo pensamento conservador do século XIX, cuja a
substância seria a “apologia do passado e a consequente defesa do status quo”.
[Queiróz, 1998, p. 104].
Conforme a autora, as ideias difundidas por
Freyre além de não serem contestadas na época influenciaram autores brasileiros
e estrangeiros, no entanto, nos anos 1950 surgiu uma corrente norte-americana
que se opôs as ideias defendidas por Freyre descaracterizando a existência de
um “sistema mais suave de escravidão”.
Além dessas discussões feitas, a autora
Queiroz traz uma análise a respeito da família escrava apontando elementos que
dificultavam a criação dessa instituição e de autores que defendem que era
possível existir família escrava a partir das fontes qualitativas em que há
historiadores da nova corrente que não negam a expressividade numérica
masculina e baixa fecundidade feminina da qual está atribuída “[...]em grande
parte explicada pelo inconformismo do escravo ante o cativeiro”. [Queiróz,
1998, p. 114].
Diante dos dados afirma que “[...]a separação
forçada foi um dos grandes obstáculos para a vida familiar” [Queiróz, 1998, p.
114]. Nesse sentido, fica a polêmica sobre a expressividade da família escrava
no Brasil.
Agora, no que concerne ao conceito de
escravidão Ana Paula Squinelo e outras autoras em O conceito ‘escravidão’ nos
manuais didáticos de História: diálogos, itinerários e narrativas em Brasil e
Portugal fazem uma análise comparativa dos manuais didáticos brasileiros e
portugueses do livro projeto Araribá com o qual este artigo trabalha:
“Usando meios pacíficos ou violentos, os
africanos resistiam à crueldade da escravidão, em defesa de sua condição
humana, de suas necessidades e de sua cultura. Muitos negros resistiam também
de modo mais direto. Não foram poucas as ocorrências de escravos negros que
roubaram os pertences do senhor, assassinaram feitores, capitães-do-mato e
familiares do senhor. Nenhuma forma de resistência foi mais significativa que a
fuga. Afinal, ela representava o fim das agressões físicas, do trabalho
forçado, da submissão à vontade dos outros.” [Squinelo; Solé; Barca, 2018, p.
20].
De acordo com a autora, o projeto Araribá
destaca que houve em partes o protagonismo do negro. Partindo dessa linha de
pensamento, ao trazer como objeto de pesquisa o livro didático, manual do
professor, do projeto Araribá para o 7ª ano do ensino fundamental cumpre frisar
que é produção da editora Moderna cuja responsável é a Bacharel em História
Maria Raquel Apolinário que possui experiência como professora na rede
municipal e estadual de ensino.
Assim, será feita a análise da Unidade
3“Reinos e povos da África” que é composta por: Tema 1 “Reinos islamizados do
Sahel”; tema 2: “O comércio caravaneiro”; tema 3: “Povos iorubás e bantos”.
Os reinos
e povos da África
A Unidade 3 é iniciada com trecho do “Hino à
minha terra” que exalta a importância da terra, fauna e flora da África, mas,
em especial o foco está voltado ao respeito à diversidade e como imagem de
abertura é possível observar 3 momentos distintos que caracterizam a vida na
África: o comércio, a pintura corporal e uma sala de aula ao ar livre conforme
figura abaixo:
Figura1:
Capa da Unidade 3
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p. 62.
Na
figura abaixo é possível verificar de que forma a África é retratada apontando
elementos culturais.
Figura
2: Bantos de Moçambique
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p. 63.
É
possível perceber esportistas como ciclistas em competição desportiva e
jogadores de futebol, o que aponta as habilidades dos povos oriundos da África
que se destacam em distintas áreas profissionais.
Considerando
as ilustrações constantes em praticamente todas as páginas é pertinente trazer
o que Squinelo [2015] afirma em sua análise inicial das obras didáticas
trabalhadas no período de 1870, em especial, àquelas que retrataram a guerra do
Paraguai trazendo as principais perspectivas didáticas a respeito do assunto
sob o viés marxista.
Para
tanto, faz a análise das duas coleções mencionadas no título do artigo Projeto
Radix: História e História, Sociedade e Cidadania que segundo a autora:
“Nas
duas Coleções é possível averiguar elementos que as aproximam, assim como
aspectos que as distanciam. Ambos os textos principais apresentam ao leitor uma
narrativa linear e pautada nos acontecimentos, feitos, batalhas e heróis que de
acordo com esse perfil de escrita foram fundamentais no contexto da Guerra.”
[Squinelo, 2015, p. 1128].
Diante
da análise, afirma que cada vez mais quadros e ilustrações ganham espaço nos
manuais didáticos e ressalta que os textos cumprem “[...] função meramente
ilustrativa e não problematizadora dos conteúdos, especial às concernentes à
Guerra do Paraguai, isto é, as fontes não dialogam com o texto principal”.
[Squinelo, 2015, p. 1134].
Tal
assertiva gera a reflexão de como as imagens são dispostas nos materiais
didáticos, se estão ou não amarradas ao texto, o que facilita a compreensão e o
entendimento do assunto.
A
autora conclui estabelecendo uma crítica de que a equipe produtora do livro faz
a opção “[...] pela manutenção de uma escrita de história baseada no
encadeamento dos fatos a partir de uma história eurocêntrica, linear e
sustentada pelo quadripartismo histórico.” [Squinelo, 2015, p. 1137].
A
rigor, no que tange à análise de como o negro é retratado no material didático
analisado, não foi possível notar uma visão linear, no entanto, em um momento é
possível verificar o negro como mercadoria, resultado de uma reprodução
eurocêntrica, de uma epistemologia do norte.
Considerando
o tema 1, ao tratar dos “Reinos islamizados do Sahel” texto é iniciado com a
seguinte questão: “Por que conhecer a História da África?” E, logo abaixo, a
seguinte pergunta: “Quais são as principais características dos reinos de Gana
e Mali?”
Além
disso, um trecho é destacado em letras na cor-de-rosa para que o professor
evidencie as fontes que auxiliam nos estudos dos antigos povos africanos
compostos pelos escritos árabes, vestígios arqueológicos e, especialmente, os
relatos orais. Daí a importância da oralidade na construção da história dos
povos da humanidade.
Desse
modo, os questionamentos levam a reflexões que podem ser discutidas em sala de
aula. Feitas as reflexões, é apresentado o contexto, breve, da África
pré-colonial.
Figura
3: Tema 1: Reinos islamizados do Sahel
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p.64.
Na
presente imagem, o que chama atenção é a comparação de diferentes regiões da
África retratada na ilustração apontando para a diversidade de povos e tipos de
economia que mantém a sociedade.
Figura
4: As sociedades sahelianas
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p. 65.
No
texto, apresenta o ouro como moeda de troca, em especial, com o sal, e ao lado
evidencia uma ilustração que mostra a forma comercial da época, o comércio
caravaneiro. Ainda trabalhando a cidade de Gana trouxe um mapa para explicar a
presença do islã.
O
manual didático traz informações complementares para o professor e utiliza o
espaço “Pense e responda” com uma pergunta baseada no texto e na sequência
apresenta o contexto do Império Mali mostrando a sua importância.
Ao
destacar a vivencia cotidiana, a sociedade, a economia, a cultura e religião em
Mali dá ênfase para o trabalho artístico de produção de escultura, da arte.
Em
consonância com o assunto, dá continuidade no tema 2 “O comércio caravaneiro” e
a respeito desse tema é apresentado o texto intitulado “Sobrevivendo ao
deserto” contendo uma ilustração.
É
importante assinalar que, essa forma de texto associada à imagem, adotada na
produção do livro, demonstra a criação de um determinado padrão na maioria das
páginas que trazem algum tipo de ilustração que tem explícita ligação com a
reflexão proposta.
Figura
5: Tema 2: O comércio caravaneiro
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p. 69.
A
imagem demonstra o comércio caravaneiro no deserto em tempos antigos e atuais.
Nesse sentido, o deserto como lugar de passagem e, que contribuiu para o
comércio, ou seja, desmistificando a ideia de que o deserto é totalmente
inabitável. Demonstrando, além disso, as características e funcionalidades do
camelo, animal muito resistente ao clima desértico que serve para além do
transporte, como produtor de leite e de carne para o consumo humano.
Logo,
ao dar continuidade ao conteúdo do manual didático são apontadas as “Rotas do
comércio transaariano e transaheliano” e, para tanto, traz uma ilustração do
século XVII, em que mostra um camelo descansando assim como mostrando as
cidades que participavam dessa rota e as diferentes especiarias
comercializadas.
É
interessante assinalar que uma caixa de texto explicativa abaixo do referido
texto permite um diálogo com a Geografia, o que demonstra a preocupação com a
interdisciplinaridade uma vez que questiona os aspectos físicos do deserto e
reflete sobre o espaço.
Figura
6: Rotas do comércio transaariano e transaheliano
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p. 70.
Todos
esses elementos citados no texto levam a redefinição de conceitos prévios
preconceituosos quanto ao clima desértico e suas caraterísticas, isto é, a
entender a importância do deserto para as pessoas.
Os
produtos da região do Sahel e das florestas iam em direção ao norte e depois
seguiam para a Europa e para a Ásia. Dentre os principais produtos destacam-se:
o ouro, noz-moscada e escravos. Nesse sentido, a ilustração mostra abaixo a
produção da noz-de-cola:
Figura
7: Produção de noz-de-cola
Fonte:
Projeto Araribá, 2014, p. 71.
É
possível notar que, na descrição dos produtos comercializados da coleção, o
escravo é um deles seguido do seguinte trecho: “Trabalhavam nas salinas do
Saara, nas sociedades islâmicas do norte da África e nos países europeus,
sobretudo na Península Ibérica Muçulmana.” O texto é finalizado com a afirmação
de que esses produtos representavam a base da economia do Sahel.
Entretanto,
chama a atenção do professor em letra de tamanho menor, na cor-de-rosa da
seguinte maneira:
“Os
alunos podem estranhar a classificação do escravo como produtor ou mercadoria.
Porém, é justamente essa condição de mercadoria que caracteriza a mão de obra
escrava. Sugerimos esclarecer os alunos a respeito desse conceito. Em outras
palavras, a desumanização não está no fato de os livros de história
classificarem as pessoas escravizadas como ‘mercadorias’, mas ‘no sistema
escravista que reduz um ser humano à condição de um bem, uma ‘propriedade’”.
[Projeto Araribá, 2014, p. 71].
Cumpre
frisar que, não são os livros de história que desumanizam ou caracterizam as
pessoas como mercadorias, mas quem o escreve. Desse modo, quem escreveu o livro
é infeliz ao apontar o escravo como mercadoria porque parte da perspectiva
eurocêntrica ao invés de adotar outro conceito e evidenciar ao longo do texto a
forma como as pessoas escravizadas foram tratadas durante o período estudado.
Diante
desse panorama, a crítica que se estabelece ao texto do manual didático diz
respeito ao fato de que o supracitado trecho deveria estar explícito no manual
didático do aluno também para que não fique somente sob a responsabilidade do
professor explicá-lo.
Referências
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História pela UFGD. Bolsista Capes/DS
CHOPPIN, Alain. História dos livros didáticos
e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e pesquisa, São
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____. O historiador e o livro escolar.
História da Educação. /ASPHE. Pelotas: FAE/UFPel, n.11, abr. 2002, p. 5-24.
____. O manual escolar: uma falsa evidência
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Pelotas: FAE/UFPel, n.27, jan./abr., 2009, p.
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MORAES, Luciene Maciel Stumbo; MORAES,
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lei 10.639/2003: Uma análise a partir da “epistemologia social escolar”. In.:
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SQUINELO, Ana Paula; SOLÉ, Glória; BARCA,
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Londrina, v. 24, nº 2, p. 55-86, jul./dez. 2018.
SQUINELO, Ana Paula. Concepções
historiográficas e ensino de história: a Guerra do Paraguai nas coleções
didáticas projeto Radix: História e História, sociedade e cidadania (PNLD
2014). Diálogos, Maringá, v.19, n. 3 p.1121-1139, set./dez.2015.
Importantíssima discussão e perfeitamente abordada, parabéns!
ResponderExcluirUma vez que ilustra-se os desencontros e conformidades, é público e notório o uso de uma historiografia positivista nos livros didáticos, além de uma análise crítica, como a autora considera possível transpor essa ótica tradicional e tendenciosamente eurocêntrica?
Atenciosamente, Talytha Cardozo Angelo.
Parabéns pelo texto e pela contribuição para o debate da temática!Gostaria de saber se há uma relação entre a análise do continente africano com a representação deste continente e dos negros nos tópicos da história do Brasil na coleção analisada. Ou se estão como narrativas desconectadas. Obrigada!!! Carmem Lúcia Gomes De Salis
ResponderExcluirPrezada Daiane, parabéns pela pesquisa. Os livros didáticos constituem uma ferramente importante nos processos de ensino e aprendizagem. As 'novas' produções, a partir da legislação passaram a dedicar partes de seu conteúdo ao estudo das sociedades/homens africanas. Mas a partir de seu texto podemos entender que ainda encontra-se fragmentado e a ligação entre homem africano e escravidão é muito presente. Para podermos pensar e estudar povos/sociedades/reinos africanos sem a visão eurocêntrica os textos deveriam ser orientados pela perspectiva decolonial. Nos livros que pesquisaste há referência a produção historiográfica africana, ou a escrita da história por africanos?
ResponderExcluirAtenciosamente,
Renilda Vicenzi
Você não acha que apesar de os livros estarem dando destaque ao ensino da história dos negros, estes ainda estão muitos associados a escravidão/racismo ou atividades que não mostram a capacidade intelectual dos negros? Como se, por exemplo, suas atividades se resumissem a trabalhos braçais?
ResponderExcluir-Amanda dos Santos Costa