A LEI 10.639/03 E A
EXPERIÊNCIA NO ESTÁGIO DOCENTE: A RELEVÂNCIA DA DISCIPLINA “O SISTEMA
ESCRAVISTA NO SÉCULO XIX” PARA A FORMAÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO DE HISTÓRIA DA
UFRN
Em 9 de Janeiro de 2003 houve a implementação
da Lei 10.639 – alterando a Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 – a
qual passa a estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional para
incluir no currículo oficial da rede básica de ensino a obrigatoriedade da
temática “História e Cultura Afro-brasileira”. Procurando garantir igual
direito às histórias e culturas que compõem a nação brasileira, a intenção do
Governo Federal, da relatora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva e dos
conselheiros Carlos Roberto Jamil Cury, Francisca Novantino Pinto de Ângelo e
Marília Ancona-Lopez, era de oferecer uma resposta na área da educação, à
demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas reparativas, de
reconhecimento e valorização de sua história, cultura e identidade.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana, estabelecidas pela MEC em resposta a referida lei,
buscam, justamente, combater o racismo e as discriminações que atingem
particularmente os negros. Um ponto interessante de análise, que muitas vezes
não é destacado nestas Diretrizes, é observar que a lei garante também a
formação dos profissionais que atuarão nas salas de aula. De acordo com as
Diretrizes:
“É necessário sublinhar que tais políticas
têm, também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos
brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas devidamente
instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino
das diferentes áreas de conhecimento; com formação para lidar com as tensas
relações produzidas pelo racismo e discriminações [...] Estas condições
materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis para uma
educação de qualidade, para todos.” [Conselho Nacional de Educação, p. 499,
grifo nosso]
Entretanto, na realidade, o que encontramos
nas escolas são professores que não tiveram nenhum tipo de contato durante a
sua formação acadêmica com disciplinas e discussões sobre a História e Cultura
Afro-brasileira. Então como poderão tratar adequadamente sobre a temática com
os seus alunos? Como poderão desconstruir o mito da democracia racial na
sociedade brasileira? O fim último da política educacional não é apenas a
inclusão de mais conteúdos nas grades curriculares da educação básica, mas sim
a inclusão de temas e princípios contrários às perspectivas demarcadas e
informadas pelo racismo. É a adoção de políticas educacionais e de estratégias
pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial
presente na educação escolar brasileira. A formação de professores competentes
nos domínios dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação dos negros e
brancos, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem
desrespeito e discriminação, mostra-se como um dos principais pilares para a
execução plena da lei 10.639/03 e das diretrizes educacionais.
O sucesso das políticas públicas de Estado
depende de condições físicas, materiais, intelectuais e afetivas favoráveis para
o ensino e para aprendizagem, ou seja, “todos os alunos negros e não negros,
bem como seus professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados” [Conselho
Nacional de Educação, p. 499]. Mas como fazer isso se estes futuros professores
saem das Universidades sem nenhum respaldo teórico sobre o assunto? A
proposição e execução da disciplina optativa “O Sistema Escravista no Século
XIX” no Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
apresenta-se, portanto, como uma resposta a esta lei para a sociedade e os
futuros docentes, proporcionando o respaldo sobre a temática para licenciados e
bacharéis do curso de História. Neste artigo, procuramos analisar os impactos
que esta disciplina está causando na formação dos discentes do referido curso
observados pela estagiária docente no atual semestre de 2020.1. Através das
observações de aula e de questionário aplicado aos alunos, refletimos sobre os
positivos impactos que uma disciplina pensada em consonância com a Lei
10.639/03 tem na formação pessoal e profissional dos graduandos, futuros
professores da rede básica de ensino.
Docência
Assistida no Ensino Superior: relatos de experiência do Estágio Docente na
disciplina “O Sistema Escravista no Século XIX”
O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
(CONSEPE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) considerando a
necessidade de envolver os programas de pós-graduação da UFRN no ensino de
graduação e a necessidade de maior integração entre a graduação e a
pós-graduação, nesta instituição, institui em 05 de Outubro de 1999 a resolução
nº 100, a qual cria o Programa de Estágio Docente nesta Universidade. O
objetivo principal era de aperfeiçoar a formação de estudantes de pós-graduação
para o exercício da docência no ensino superior. O Programa criado por esta
resolução passa, portanto, a compreender atividades acadêmicas a serem
desenvolvidas junto às disciplinas de graduação. Destinado aos alunos
regularmente matriculados nos programas de Pós Graduação da instituição,
apresenta-se em caráter obrigatório para os alunos contemplados com a bolsa do
Programa de Demanda Social da CAPES. Realizado sob o acompanhamento e
supervisão do professor orientador e do professor responsável pela disciplina,
tem a duração máxima de 04 (quatro) horas semanais, compreendendo preparação e
execução da atividade, não ultrapassando 60 (sessenta) por semestre. Também
fica claro nesta resolução que o pós-graduando no exercício do Estágio Docente
não substitui o professor da disciplina que continua responsável pela mesma.
No semestre de 2019.2 procurando ganhar
experiência de sala de aula e responder a resolução da instituição, realizei o
Estágio Docente na disciplina de Brasil Império no Departamento de História sob
a supervisão da professora responsável pela disciplina, Dra. Juliana Teixeira.
A escolha pelo referido componente curricular partiu inicialmente, devido à
disciplina abarcar a mesma temporalidade da pesquisa que estou desenvolvendo
juntamente ao Programa de Pós-graduação em História (UFRN). O contato prévio
com a temática mostrou-se importante para uma boa troca de experiências com os
graduandos que cursariam a disciplina devido a nossa proximidade com a
temporalidade (1840-1862) e um dos objetos de estudo da disciplina (a família
escrava). Como estamos desenvolvendo uma pesquisa que busca compreender a
família escrava como uma instituição de resistência dentro da sociedade
escravista do século XIX, tendo como espaço a cidade de São José de Mipibu, e
tendo em vista que para o Rio Grande do Norte poucos trabalhos foram
desenvolvidos sobre a temática, a possibilidade de ampliar as discussões e
perspectiva dos alunos acerca da escravidão no Estado e poder realizar um
estágio no ensino superior se mostraram a mim como uma excelente oportunidade
de crescimento profissional.
Este primeiro contato com os alunos da
graduação e a temática da escravidão no Império brasileiro apareceram para mim
como portas de acesso da necessidade pessoal que os alunos demonstraram ao
longo das discussões da temática da cultura negra ao longo da disciplina, a
qual teve seu contato limitado devido à necessidade de estudo de outras
temáticas ao longo desta disciplina obrigatória. Este primeiro contato com o
estágio docente me fez, portanto, refletir de maneira mais aprofundada sobre o
papel da Universidade na formação dos futuros profissionais da área da educação
e sobre que tipo de profissionais estávamos formando, como estávamos
preparando-os para os desafios cotidianos da sala de aula. O diálogo constante
com a professora Dra. Juliana Teixeira ao longo do semestre foi fundamental
para amadurecer e instigar tais análises observadas por mim nos momentos de
observação das aulas, de atuação teórica e prática, de planejamento das aulas e
dos plantões de dúvidas com alunos.
Assim, a necessidade de realizar um novo
estágio em que pudesse atuar em uma disciplina voltada especificamente para o
ensino de História e a cultura negra surgiu para mim como uma necessidade
profissional e de pesquisadora da área. Então, para o semestre de 2020.1 foi
escolhida a disciplina “O Sistema Escravista no Século XIX” ministrada também
pela professora Dra. Juliana Teixeira que tem como o primeiro e um dos
principais objetivos “Valorizar a história de luta e o patrimônio cultural dos
africanos e afrodescendentes conforme orientação do Parecer CNE/CP 003/2004,
que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana”. De acordo com esta mesma docente que foi responsável por propor ao
Colegiado do curso de História a criação desta disciplina no ano de 2015, tal
matéria surge em meio a esta necessidade explicitada pelas Diretrizes
Curriculares em qualificar os futuros profissionais da área da História para discussões
na rede básica de ensino sobre o tema da cultura negra, assim como uma demanda
apresentada pelos alunos do curso de História a esta docente.
Assim, após aprovação pelo Colegiado do curso
de História do Plano de Docência Assistida produzido pela estagiária com a
justificativa para a escolha do componente curricular, objetivos e lista de
atividades a serem desenvolvidas no Estágio Docente ao longo do semestre,
pode-se dar inicio ao acompanhamento da disciplina. O semestre letivo iniciou
no dia 18 de Fevereiro de 2020 com a apresentação do curso aos 31 alunos
matriculados na disciplina no turno Matutino. Nos deparamos com uma turma
formada predominantemente por licenciandos e bacharelandos em História, mas
também com alunos dos cursos de Ciências Sociais e Direito, interessados nas
discussões da área. A primeira discussão teórica tida com os alunos foi o
debate da Lei 10.639/03 e o Parecer CNE/CP 003/2004, que estabelece as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais.
O objetivo era justamente fazer os alunos refletirem sobre como vamos convencer
os nossos pares e alunos de que o racismo é uma questão na sociedade. Apoiado
na análise de outros materiais didáticos como o vídeo “Identidade negra:
juventude, afirmação e empoderamento (Material didático/ProfHistória)”,
produzido pelo Prof. Ícaro Amorim Martins e no Capítulo 1 da dissertação de
Jefferson Silva “Relações étnico-raciais e o espaço escolar: articulações e
dissonâncias entre o Movimento Negro e o Estado brasileiro a partir do Programa
Nacional do Livro Didático (1995-2014)”, levamos os alunos a refletirem sobre o
racismo na escola, a criação da disciplina em consonância com a legislação e
como a pauta do movimento negro foi apropriada no espaço escolar. Estes foram
momentos interessantes, pois os próprios alunos levaram para o debate em sala
de aula situações de preconceito e discriminação que haviam passado em outros
ambientes educacionais e como isto tinha impactado na formação dos mesmos.
Alguns alunos demonstraram que o interesse em cursar a referida disciplina,
surgiu justamente por se identificarem como homens e mulheres negros e estarem
a procura de um maior aprofundamento teórico pela temática, a fim de se
prepararem melhor para o futuro profissional.
A fim de compreender de maneira mais profunda
o perfil socioeconômico da turma, aplicamos um questionário online e voluntário
com 12 perguntas a cerca do auto reconhecimento, da situação econômica, dos
motivos que os levaram a cursar a disciplina e das experiências que tiveram até
o momento com as aulas e discussões. Infelizmente devido ao alerta de pandemia
global do COVID-19, a UFRN decidiu paralisar suas atividades desde o dia 12 de
março de 2020 como medida de proteção aos alunos, professores e funcionários da
instituição. A análise dos alunos deu-se, portanto, até esta data, quando
ocorreu a última aula presencial.
Do total de 31 alunos matriculados na
disciplina, 16 alunos responderam de maneira anônima e voluntária ao
questionário formulado. Quanto à auto declaração, 56,3% (9) dos alunos se
reconhecem como pardos, seguido de 31,3% (5) como brancos e 12,5% (2) como
pretos. Este é um dado interessante, porque somando o número de alunos que se
identificam como pardos e pretos temos uma maioria descendente dos povos
africanos e afro descentes, personagens principais de análise e reflexão desta
disciplina. Entretanto, o número de alunos brancos também é significativo,
demonstrando a busca destes profissionais por uma educação antirracista,
baseada na diversidade e valorização de todas as culturas.
Quanto a renda per capita, mais de 80% (13)
dos alunos vivem com uma média de zero a 2 salários mínimos por mês (R$0 à
R$1.996), o que mostra a situação de vulnerabilidade social que os alunos se
encontram. Apesar de 50% (8) serem originalmente da capital, Natal, 43,8% (7)
são provenientes do interior do Estado ou de outros Estados, o que justifica a
média per capita da maioria que provavelmente sustentam sozinhos uma casa.
Mais da metade de nossos alunos realizaram o Ensino
Médio em escolas públicas, 62,5% (10), mas apenas 50% (8) deles utilizaram o
sistema de cotas para adentrarem na universidade pública. Analisando os alunos
que se enquadram neste segundo público, a maioria deles utilizou a cota
reservada para candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, com renda
familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo e que tenham
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (Lei nº 12.711/2012).
Quanto a análise da disciplina, 50% (8) dos
alunos a conheceram através de indicação de amigos, o que demonstra a excelente
repercussão da mesma ao longo dos semestres, de forma que a principal forma de
conhecimento da mesma é pela indicação de alunos que já a cursaram, tendo ela
um impacto positivo em suas formações. Quando perguntados sobre o porquê do
interesse na disciplina, os alunos apresentaram a busca por conhecimento como a
principal delas. De acordo com um dos alunos, o interesse surgiu “Porque me
identifico como mulher negra e considero necessário tanto para mim, quanto para
o meu processo de formação na UFRN, visto que nós pessoas negras compomos a
maior parte da sociedade brasileira e ainda assim enfrentamos tantos obstáculos
políticos, sócias e econômicos [sic]”. Além disso, a “ótima oportunidade de
obter Referências para tratar de uma educação antirracista no ensino básico”
também foi destacado. Somado a estas justificativas, os alunos deixaram claro
também que a didática da professora Juliana Teixeira foi um aspecto que eles
levaram muito em conta no momento da escolha da disciplina, o que demonstra que
a forma de conduzir a disciplina, as escolhas teóricas e metodológicas feitas
pela docente tornam a disciplina significativa e atrativa para os estudantes.
Conclusão
Apesar das aulas da UFRN terem sidos
suspensas em todos os níveis e modalidades, em caráter excepcional e por prazo
indeterminado, pela Portaria nº 452/2020-R, de 17 de março de 2020, devido ao
alerta de pandemia mundial decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) do
novo coronavírus, observamos que a disciplina “O Sistema Escravista no Século
XIX” ofertada pela professora Dra. Juliana Teixeira no departamento de História
apresenta-se como um ponto de inflexão na execução da lei 10.639/03 e de relevância
na formação dos futuros professores.
Os alunos já relatam que as experiências que
tiveram em sala de aula até o momento, considerando as discussões textuais, a
análise de materiais e reflexões sobre a temática da escravidão e da cultura
negra, inclusive os instigaram a pesquisar, ler e assistir mais conteúdos sobre
história afro brasileira, questionando-se mais sobre questões étnico-raciais e
sobre o ensino de História. Segundo outro aluno, “até o momento a experiência
foi ótima. A forma como a disciplina é conduzida, principalmente nessas
atividades, é excelente para a participação e compreensão do discente. Algo que
também considero muito bom é a maneira como tudo que ocorre na disciplina é
justificado, no sentido de que nós entendemos o porquê que essas discussões e
atividades são realizadas, e qual é sua importância para nossa formação”.
Tornar o ensino de História significativo é
um dos compromissos que a educação deve ter com os alunos, seja na rede básica
ou superior de ensino. Portanto, ter depoimentos como de um dos alunos de que a
disciplina o “convida a fazer da aula também um processo pessoal, não apenas
profissional” nos demonstra que o papel desta disciplina está sendo cumprido:
valorizar não apenas a História e Cultura Afro Brasileira, mas a História de
cada um de nós.
Referências
Mestranda do Programa de Pós Graduação em
História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob orientação do
Prof. Dr. Helder Macedo. Licenciada em História pela mesma Instituição.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro
de 2003. Altera a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as
diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede
de ensino a
obrigatoriedade da temática
“História e Cultura
Afro-brasileira”, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. PARECER N.º: CNE/CP
003/2004. Brasília (DF); 2004.
COELHO, Mauro Cezar; COELHO,
Wilma de Nazaré Baía. As licenciaturas em História e a Lei
10.639/03 – Percursos de Formação para o trato com a diferença? Educação em
Revista (UFMG. IMPRESSO), v. 34, p. 1-39, 2018.
CONSELHO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO. Parecer CNE/CP
3/2004. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/ arquivos/pdf/003.pdf>.
SILVA, Jefferson Pereira da. Relações
étnico-raciais e o espaço escolar: articulações e dissonâncias entre o
Movimento Negro e o Estado brasileiro a partir do Programa Nacional do Livro
Didático (1995-2014). Dissertação (Mestrado em História). Natal: Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, 2019.
Boa tarde cara pesquisadora. Primeiramente, parabéns pelo texto e pelo estudo realizado com um tema histórico e que, como bem sabemos, na atualidade tem se feito imprescindível. teu texto nos sugerem inúmeras indagações, pois tratar da questão étnico-racial é basilar para modificar esse cenário histórico no Brasil. Porém, pretendo ser sucinto. Minha indagação é: a partir do que foi estudado e de sua vivência em estágio, além do tema escravidão, haveria mais outras formas de abordar a questão da Lei 10.639/03 em sala de aula? Se sim, em seu entendimento, que propostas poderíamos viabilizar para sua efetivação.
ResponderExcluirPrezado Jander Martins,
ExcluirAgradeço suas reflexões a cerca do meu trabalho. Acredito que no ensino superior temos uma liberdade maior na escolha de materiais para serem trabalhos em sala de aula por estarmos lidando com alunos adultos. Assim, a análise de leis, livros didáticos, vídeos, filmes, músicas, imagens, charges e textos acadêmicos são de fundamental importância na compreensão da execução, ou não, da lei 10.639/03 em nossa sociedade. Por exemplo, ao instigarmos os futuros professores a fazerem uma breve análise sobre como o negro é tratado nos livros didáticos faz com que esta questão possa ser debatida de maneira profunda. Geralmente o negro é tratado quase somente na sessão sobre "escravidão brasileira" de maneira inferiorizada, trazendo pequenos parágrafos sobre o Quilombo dos Palmares. Devemos refletir, portanto com os alunos, por que isso acontece? Em que ano o livro foi publicado? Antes ou depois da promulgação da lei? É uma preocupação dos autores desconstruir o esteriótipo do negro apenas como escravo? Por quê? Tais reflexões críticas valem para outros tipos de materiais que os alunos podem levar para suas salas de aula como materiais de análise: vídeos, músicas e materiais de jornal. Como o negro é tratado nestes materiais? Quais sentimentos estes personagens apresentam? Em que situações se encontram? É necessário que formemos professores que procurem formar cidadãos críticos e responsáveis por uma sociedade a qual lute contra o racismo.
Clara Maria da Silva.
Gostaria de parabenizar sobre a reflexão.
ResponderExcluirIsto fez a minha ficha cair. Pesquisas e aplicações de aulas sobre temáticas que correspondam a lei 10.693 são voltadas para o ensino fundamental ou o ensino médio, mas esquecemos que aqueles que serão percursores desses conhecimentos são os atuais discentes do curso de História. Por um período de análise de bibliografia e estrutura do curso da UFRRJ-Seropédica, acabei observando a aplicação da Lei de 11.645 fica somados em cursos das disciplinas de BR 1 BR 2, mas esse conhecimento com suas divisões e especificações para aprimoramento e estímulo da pesquisa dos discentes encontra-se muito pouco. Então fico muito contente em ver uma postura de correção e estímulos de pesquisas a partir de discentes. Parabéns!
Débora de Queiroz Moreira.
Prezada Débora Moreira,
ExcluirFico muito feliz que o meu trabalho pode lhe suscitar sobre questões tão importantes. É necessário que nós como alunos e professores assumamos uma postura de luta pela aplicação das leis e combate ao racismo. Não podemos esquecer que as Universidades são os locais de formação dos profissionais do amanhã, e se quisermos uma educação de qualidade no futuro precisamos também começar a questionar e aprimorar as reflexões levadas para as salas de aula do ensino superior.
Há alguns anos o curso de História da UFRN também só contava com discussões a cerca da lei 10.639/03 e 11.645/08 em suas disciplinas obrigatórias de BR 1 e BR2. Graças a inquietação e movimento de docentes e discente atualmente contamos com a disciplina obrigatória de História da África e as optativas de História Indígena e O Sistema Escravista no Século XIX, as quais tem como um de seus objetivos principais a execução e reflexão de tais leis.
Clara Maria da Silva.