ACARAJÉ E CULTURA: A
PERMANÊNCIA DOS SABERES AFRO-BRASILEIROS E SUA UTILIZAÇÃO NAS AULAS DE HISTÓRIA
A cultura emana do povo e é através dela que
expressa sua identidade, sua singularidade, sua essência. As características
próprias à determinada sociedade são evidenciadas por meio das manifestações
culturais que surgem em todos os meios sociais, atingindo âmbitos ligados às
necessidades humanas, como por exemplo, a alimentação. Pensar a gastronomia
enquanto elemento cultural de uma determinada sociedade é analisar a essência
de seus traços essenciais, uma vez que o ato de se alimentar está imbricado à
naturalidade e à necessidade de todas as pessoas.
A Bahia, em sua extensão territorial, possui
domínios culturais múltiplos. No entanto, a cultura baiana como um todo é
designada por meio de suas tradições religiosas e principalmente sua
gastronomia. A comida baiana dá o nome e a forma da cultura da Bahia dentro e fora
do país, ressaltando fortes traços da ancestralidade e da tradição africana. A
baiana do acarajé é um ícone da tradição gastronômica baiana, e no seu
tabuleiro encontram-se práticas culturais coletivas. A produção e a venda de
sua principal mercadoria, o acarajé, perpassa por três essenciais ambientes da
cultura baiana: a vida social, a religião e a gastronomia, mostrando-se como
uma iguaria rica não apenas de cores e sabores, mas principalmente de história,
memória e resistência, o que leva-nos a entender a gastronomia baiana enquanto
elemento construtor de sua identidade.
Cultura
e gastronomia
A cultura tem o poder de traçar formas,
modelos e definir características próprias à determinada sociedade,
evidenciando assim suas marcas essenciais, seus aspectos peculiares e suas
insígnias. Em meio a um ambiente em constante mutação, a cultura está propensa
a mudanças e ressignificações que são adquiridas de acordo com a sociedade em
que está inserida. De fato, “a discussão sobre cultura tem a humanidade como
referência e ao mesmo tempo procura dar conta de particularidades de cada
realidade cultural” [Santos, 1991, p. 30]. Isso ocorre por que a cultura possui
em si uma potência criadora capaz de assimilar novos formatos, recriando assim
sua singularidade como traço identificador. É uma construção histórica que
evolui e se transforma. Dessa maneira, novas concepções e novos ícones são
agregados ao panorama cultural a fim de montar um novo painel de observação,
mas que traz uma essência, um histórico.
As influências externas e as adaptações
também se mostram como agentes transformadores desta cultura. Lançando um olhar
sobre a cultura baiana, são perceptíveis os múltiplos elementos que a
constitui. Na capital do estado, Salvador, as danças ritmadas com sons peculiares
de percussão, a religiosidade de matriz africana presente de norte a sul da
metrópole, os dialetos e o sotaque único se mostram como elementos tão fortes
que cidades de todo o estado, mesmo em regiões mais distantes da capital
soteropolitana carregam a insígnia da baianidade.
Dentre os traços culturais baianos, a
culinária é um dos elementos que mais se destacam quando o assunto é “falar da
Bahia”. A culinária baiana se mostra rica não apenas em cores e sabores, mas
também revela a sua história e a sua cultura. E o elemento que leva a imagem da
culinária baiana para diversos lugares do Brasil e do mundo é justamente o
acarajé, comida ritualística das religiões de matrizes africanas, mas que ganha
as ruas com o comércio das negras de ganho no período colonial.
Por conta dos aspectos históricos que o
acarajé possui, convém analisa-lo enquanto ferramenta para as aulas de
História, na tentativa de romper com um currículo distanciado da realidade de
jovens baianas e baianos, podendo ser abordado de forma dinâmica e
estabelecendo relações entre o passado e a realidade contemporânea, fazendo com
que estudantes sintam-se inseridos dentro do processo histórico do alimento,
observando “o papel de cada um de nós como agentes ativos da história e
corresponsáveis pelo futuro da humanidade” [Ramos, 2010, p. 99].
A
baiana e o acarajé: uma relação histórica e cultural
A chegada das africanas na Bahia durante o
século XVIII representou uma grande mudança na cultura alimentar baiana da
época, e que se perpetua nos dias atuais. Pierre Verger em seu artigo
intitulado A contribuição especial das mulheres ao candomblé do Brasil afirma:
A partir de meados do século dezoito, os
Africanos importados para a Bahia e Recife provinham sobretudo da região do
Golfo do Benin ou Costa dos Escravos, mas, para as outras regiões do Brasil,
eles continuavam a vir do Congo e de Angola. Este pormenor tem a sua
importância, pois contribuiu para a originalidade do caráter de vida na Bahia,
e explica porque ela é diferente da que existe em outras zonas do Brasil
[Verger, 1986, p. 275].
Esta originalidade e este caráter de vida
descrito por Verger diz respeito principalmente à construção da identidade
cultural dentro da Bahia. Por serem originários da região do Golfo do Benin,
africanas e africanos importados durante o século XVIII trouxeram consigo suas
tradições e culturas. A mistura dos diferentes saberes e fazeres gastronômicos
e as influências culturais do Brasil colonial acabaram por gerar novas
configurações à cultura alimentar baiana, ganhando espaço principalmente nas
ruas.
A presença da negra mercante que comercializa
seus quitutes nas ruas de Salvador passa a ser um elemento presente no
cotidiano urbano durante os séculos XVIII e XIX. Mas esta prática não foi
inventada aqui. Verger [1986] mostra que em África as famílias eram polígamas,
e que como progenitoras de descendência, as mulheres eram valorizadas.
Dividindo o espaço com as outras esposas de seu marido, cada mulher possuía
certa independência por buscar outras fontes de renda. Excelentes mercantes,
iam a povos vizinhos e em terras mais longínquas comercializar produtos
fabricados por elas mesmas. Soares [1996] mostra como o trabalho da mulher
negra nas ruas era rentável:
As relações escravistas nas ruas de Salvador
do século XIX se caracterizavam pelo sistema de ganho. No ganho de rua,
principalmente através do pequeno comércio, a mulher negra ocupou lugar
destacado no mercado de trabalho urbano. Encontramos tanto mulheres escravas,
colocadas no ganho por seus proprietários, como mulheres negras livres e
libertas que lutavam para garantir o seu sustento e de seus filhos. [Soares,
1996, p. 57]
Este método de trabalho por parte das
mulheres negras permitia sua sociabilidade com a as demais figuras do espaço
urbano, o que contribuía para que seus quitutes fizessem parte da cultura
alimentar do ambiente ao qual se inseriam.
Soares [1996, p. 59-62] afirma que as negras mercantes de rua
comercializavam uma série de produtos como hortaliças, peixes, frutas, comidas
prontas (quitutes) e louças. Faziam isso circulando com o tabuleiro equilibrado
sobre a cabeça ou fixadas em um local onde diariamente vendiam seus artigos,
como esquinas e praças. Entre os quitutes vendidos pelas negras, um assume
destaque até os dias atuais, designando um grupo de mulheres que trabalham com
a tal iguaria: as baianas do acarajé.
Segundo o dossiê do IPHAN, a venda o acarajé
garantiu e até hoje garante o sustento de famílias inteiras. O ofício das
baianas constitui-se não apenas em uma profissão, mas principalmente em uma
tradição passada de geração em geração, onde as novas baianas “iniciam-se na
atividade por instrução de suas mães e avós ou, ainda, de outras baianas, pois
o ofício atualmente é organizado nos moldes de pequenas empresas domésticas”.
Sendo assim, as baianas do acarajé ainda preservam o tradicionalismo da recita
e também de sua indumentária, preservando receituários ancestrais africanos
transmitidos de geração após geração por meio da oralidade e prática [Brasil,
2007, p. 16-17].
A cozinha baiana é um elemento diferenciador
do mercado em âmbito do turismo nacional. Nesse ínterim, vemos a cultura
gastronômica da Bahia como detentora de uma riqueza de sabores e de valores
históricos. Segundo Barroco [2008, p. 06]:
A gastronomia baiana é uma das mais
diversificadas e ricas do mundo, misturando os conhecimentos afro, português e
indígena, contudo existe predominância da africana, que emprega o azeite de
dendê e o leite de coco para temperar mariscos e peixes, abundantes no litoral
baiano.
Em meio a esta diversidade de cores e
sabores, está o acarajé, principal atrativo das baianas que tomam conta não
apenas das ruas de Salvador, mas que estão presentes em todo o estado baiano.
Tombado como patrimônio cultural imaterial do Brasil, o acarajé é tido como o
símbolo da Bahia, representando a cultura e a gastronomia afro-baiana dentro e
fora do país. Trata-se de um bolinho feito de massa de feijão fradinho frito no
azeite de dendê, recheado com vatapá, caruru, camarão, e por vezes, vinagrete.
A comida baiana é reconhecida em todo o mundo, e a iguaria mais famosa do
estado é o acarajé.
A publicação do IPHAN traz um breve contexto
histórico acerca da produção e comercialização da iguaria:
O acarajé, bolinho de feijão-fradinho
(Phaseolus angulares Wild), cebola e sal, frito em azeite-dedendê (Elaesis
guineensis L), é de origem africana; seu nome original é, em locais do Golfo do
Benim, África Ocidental, acará 1, que, em iorubá, significa “comer fogo” –
acará (fogo) + ajeum (comer) – e advém do modo como era apregoado nas ruas:
“acará, acará ajé, acarajé”2. Sua tradição, na Bahia, vem do período colonial,
quando as mulheres – escravas ou libertas – preparavam-no e, à noite, com
cestos ou tabuleiros na cabeça, saíam a vendê-lo nas ruas da cidade [Brasil, 2007,
p. 15].
No universo das religiões afro-brasileiras, o
acarajé é tido como uma comida sagrada e ritual ofertada aos orixás ligados ao
elemento fogo, principalmente aos deuses Xangô e Iansã. Para cada santo, uma
ritualística, e em cada uma delas o acarajé é preparado de forma diferenciada,
de modo que dentro do cenário da cozinha afro-religiosa, o acarajé possui
importante destaque no que tange aos saberes e fazeres religiosos:
Os terreiros, nessa perspectiva, além de
lugares de sociabilidade e relação com o sagrado, são núcleos de repasse de
saberes que mantêm ativas as técnicas relacionadas às tradições africanas e,
assim, constituem-se como Referências coletivas [Brasil, 2007, p. 21].
Os terreiros, inclusive, contribuíram em
muito para a que o acarajé chegasse às ruas, pois a tradição da venda do
acarajé pelas ruas tem sua origem no universo do candomblé, onde as Iyalorixás
autorizavam suas filhas de santo a produzirem e vender a iguaria publicamente
nas ruas, abrangendo assim não apenas os adeptos à religião, mas também o
grande público, aumentando assim o ganho com as vendas e com isso angariando
recursos a fim de cumprir com suas obrigações religiosas. [Brasil, 2007, p. 23].
Seja como função sagrada ou pura prática
comercial, o acarajé está presente não apenas na Bahia, mas em todo o
território nacional, onde cada localidade guarda seu modo de preparo, apesar de
todos possuírem basicamente os mesmos ingredientes e as mesmas características
essenciais. Neste contexto, Santos [1991] afirma que a diversidade está
relacionada ao poder de mutação, de divergir, dividir e multiplicar-se a fim de
construir novos modelos, que podem ter traços peculiares ou que divergem em
parte aos primeiros, sem que isso acarrete na perda da essência primária de
suas características.
Em meio ao discurso de valorização da cultura
enquanto detentora de traços peculiares nasce os programas de resgate de
elementos culturais que estão em vias de extinção, a fim de que não sejam
perdidos ou esquecidos traços da identidade. O tabuleiro da baiana concentra e
reproduz práticas culturais coletivas, apreendias no meio social, seja ele
profano o sagrado, e por isso faz parte do quadro cultural e ideológico da Bahia.
Acarajé
e sala de aula: temas para intervenções
Quando SANTOS [1991] traz em sua obra uma
ideia de que cultura é um item múltiplo e multifacetado, ele afirma que seu
estudo pode contribuir “no combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma
firme para o respeito e a dignidade das relações humanas” [Santos, 1991, p.
08]. Este aspecto está em consonância com Napolitano [2010 p. 73] que afirma
que “a relação entre escola e cultura foi incorporada nas políticas
educacionais visando três objetivos: o reforço da autoestima dos alunos; o
fortalecimento das identidades sociais; e a ampliação dos repertórios
culturais”.
Na relação entre acarajé e cultura a herança
se mostra como elemento principal de análise nas aulas de História, uma vez que
“cultura engloba sujeitos, coisas e instituições ao longo do tempo. Estes podem
ser lembrados e monumentalizados, tornando-se herança”, sendo assim tema
importante para a construção do conhecimento histórico [Napolitano, 2010, p.
76]. O “tornar herança” está imbricado na ideia de patrimônio. Atualmente,
tanto o acarajé quanto a baiana que o comercializa soa oficialmente tombados
como patrimônio cultural imaterial da Bahia. A inserção destes elementos no
registro de patrimônios culturais se dá no momento em que foi perceptível como
estão imbricados no ideário e nas práticas cotidianas da sociedade baiana,
participando ativamente da vida social destes indivíduos, fazendo parte de suas
tradições, dos seus valores e da sua cultura.
Preservar uma cultura significa resguardar não
apenas os elementos que a compõe, mas principalmente a sua possibilidade de
existir e de perpetuar sua essência a fim de que gerações futuras tenham acesso
a estes ícones carregados de significações e emblemas. Neste contexto, cabe
manter o sentido coletivo do bem preservado, perpetuando sua importância e seu
sentido a fim de sempre estar evidenciando a sua relevância no meio ao qual se
insere por meio de sua identidade.
O registro do Ofício das Baianas de Acarajé
como Patrimônio Imaterial Brasileiro, no Livro de Saberes do Iphan, aponta para
a relevância de tradições afro-brasileiras que integram a cultura brasileira,
em especial esse ofício, como importante símbolo de identidade étnica, regional
e religiosa. Portanto, trata-se também de um instrumento de reconhecimento
oficial da riqueza e do enorme valor do legado de ancestrais africanos no
processo histórico de formação de nossa sociedade [Brasil, 2007, p. 61].
O legado africano, rico na Bahia como em
nenhum outro lugar do mundo, resguarda características próprias e saberes
oriundos da ancestralidade ao qual os africanos tiveram de se valer para
sobreviverem não apenas fisicamente, mas culturalmente e ideologicamente. O
ideário da cidade de Salvador é permeado por uma memória ancestral que remete a
uma cultura e uma tradição ressignificadas a séculos atrás e que está viva
através dos elementos fortemente presentes na sociedade baiana, entre eles a
gastronomia, em especial o acarajé.
Para Napolitano [2010, p. 84], “os valores,
coisas e símbolos herdados das gerações passadas constituem o patrimônio
cultural de uma sociedade”. No caso do acarajé, seu histórico de consolidação
enquanto patrimônio imaterial tem a ver com as memórias envolvidas no seu
processo de sobrevivência, transformação e permanência, que vão desde os
hábitos das mulheres nas antigas sociedades africanas até a reconstrução de
seus significados em solo brasileiro que lhe dotou de valor social. A
preservação dos saberes e fazeres da baiana do acarajé é de extrema relevância
social, cultural, mas principalmente uma grande conquista política, onde a
oficialização da ancestralidade africana marca uma grande conquista por parte
de uma camada social que por muito tempo ficou relegada aos patamares
inferiores da sociedade. Hoje, a baiana leva a cultura de seu estado e a
tradição de seus ancestrais para as ruas por meio do acarajé, mantendo assim
viva a memória e a identidade de seu povo.
A proposta é para que que possa ser
ministrado um ciclo de palestras temáticas em formato de oficinas em que alunas
e alunos sejam caminhem desde o histórico ancestral e litúrgico do acarajé do
Brasil Colônia, até as noções de patrimônio, cultura e memória que ganha na
contemporaneidade. O intuito principal de trabalhar tais vertentes conceituais
em torno do acarajé e dialogar sobre a cultura e a tradição dos povos negros.
Com isso é possível valorizar conhecimentos há muito relegados a segundo plano
nos espaços de ensino e que fazem parte do histórico social de alunas e alunos
negros em uma educação voltada para a construção de uma consciência histórica
[CAIMI, 2010, p. 60]. Tal interveção ocorre no intuito de levar a discussão da
construção da cultura afro-baiana por meio da história do acarajé e da figura
da baiana que o comercializa, sendo possível trabalhar aspectos ligados aos
temas de ancestralidade, memória, cultura, patrimônio, e principalmente o tema
do racismo religioso que há por trás do preconceito ainda existente em torno do
alimento por praticantes de outras religiões.
Algumas
Considerações
Ser professor é mais do que apenas ensinar
componentes curriculares. É mudar positivamente a realidade dos seus alunos de
uma forma em que o conhecimento faça sentido no dia a dia, na observação e
compreensão de elementos presentes no cotidiano. A cultura baiana é designada
por meio de suas tradições religiosas e principalmente sua gastronomia.
Pensá-la enquanto elemento cultural baiano rico para a utilização nas aulas de
História é focar a essência de seus traços culturais, uma vez que a ela estão
relacionados tantos outros elementos como a tradição e a memória.
Neste ínterim o acarajé se mostra enquanto
elemento que, através de sua história, remonta a história do seu povo, pois
mostra-se como uma iguaria rica em informações que, quando submetidas análise,
evidenciam claramente os traços ancestrais da Bahia e por extensão do modo de
vida africano, evidenciando uma memória cultural e religiosa e os aspectos da
resistência negra que ressignificou sua identidade a fim de mantê-la viva. O
acarajé é um alimento repleto de caráter simbólico presente no cotidiano da
Bahia, um marco da cultura baiana, um patrimônio de relevância e significados
únicos, cuja história jamais poderá ser extinguida.
Referências
André de Jesus Lima é mestrando do Programa
de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais pela Universidade Federal
do Sul da Bahia – Campus Sosígenes Costa / Porto Seguro. Possui graduação no
curso de Licenciatura Plena em História pela Universidade do Estado da Bahia –
Campus XVIII / Eunápolis.
BARROCO, Lize Maria Soares. A importância da
gastronomia como patrimônio cultural no turismo baiano. IN:
pt.scribd.com/document/173736599/A-IMPORTANCIA-DA-GASTRONOMIA-COMO-PATRIMONIO-CULTURAL-NO-TURISMO-BAIANO.
Universidade Federal do Paraná, 2008. Acesso em 17/04/2020 às 19:15.
BRASIL. Ofício das baianas de acarajé.
Brasília, DF: IPHAN, 2007.
CAIMI, Flávia Eloisa. Meu lugar na História:
de onde eu vejo o mundo? IN: OLIVEIRA, Margarida Maria dias de (org). Brasília:
MEC, 2010, p. 59-82.
NAPOLITANO, Marcos. Cultura. IN: Novos temas
nas aulas de História. Carla Bassanezi Pinsky (org.). 1. ed. São Paulo:
Contexto, 2010, p. 73-94.
RAMOS, Fábio Pestana. Alimentação. IN: Novos
temas nas aulas de História. Carla Bassanezi Pinsky (org.). 1. ed. São Paulo:
Contexto, 2010, p.95-118.
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura
(Coleção Primeiros Passos). São Paulo, Editora Brasiliense, 1991.
SOARES, Cecília Moreira. As ganhadeiras: mulher e resistência
negra em Salvador no século XIX. IN: Revista Afro-Ásia. n. 17. Salvador:
EDUFBA, 1996. p. 57 – 71.
VERGER, Pierre Fatumbi. A contribuição
especial das mulheres ao candomblé do Brasil. IN: Culturas Africanas:
documentos da reunião de peritos sobre as sobrevivências das tradições
religiosas africanas nas Caraíbas e na América Latina.
UNESCO: (vol. CC-86/WS/37). 1985, pp. 272-290.
Boa tarde, André. Tudo bem?
ResponderExcluirGostei muito do seu texto e achei a proposta em realizar oficinas muito interessante. Gostaria de saber se já realizou alguma oficina com os estudantes? Como foi a oficina que realizou?
Grata. Aguardo respostas. Erine Estevam de Santana.
Boa Noite Erine!
ExcluirTudo ótimo, e contigo?
É deveras um prazer responder ao seu questionamento.
Bem, a proposta de oficina foi realizada tanto com alunas e alunos de escola pública da rede municipal. A receptividade inicial dos estudantes foi grande, uma vez que o acarajé é um elemento gastronômico que está presente no dia a dia dos mesmos pois a cidade conta com vários pontos de venda da iguaria. As oficinas ocorreram em dois momentos, sendo no primeiro a especificação dos elementos históricos, sociais e antropológicos do acarajé que foram mencionados no texto acima.
Neste primeiro momento os conceitos de cultura, patrimônio e memória foram amplamente dialogados com os estudantes, permitindo que os mesmos contribuissem com as informações de forma participativa, fazendo com que os conceitos fossem melhor compreendidos através de elementos afro-brasileiros do cotidiano como a religiosidade, a capoeira e a musicalidade.
No segundo momento foi feita uma oficina dos saberes e fazeres do acarajé, onde os estudantes puderam botar a mão na massa e aprender como se faz o acarajé atualmente, sempre dialogando com os saberes passados de geração ao longo do tempo e sua adaptações na modernidade.
Neste segundo momento os alunos em meio a aprendizagem prática da fabricação do bolinho foram levados a discutir temas relacionados a transmissão de conhecimentos por meio da oralidade (forma com a qual não apenas o acarajé mas outros elementos da cultura afro-brasileira), das práticas cotidianas negras do período colonial e questões relacionadas ao racismo religioso e preconceito aos elementos da cultura afro-brasileira.
Como resultado os estudantes confeccionaram um mini-livro dos saberes e fazeres do acarajé em que continha o histórico, as noções conceituais por trás da iguaria, bem como a receita do bolinho comercializado nas ruas, evidenciando que o conhecimento proposto na oficina foi deveras construído e não apenas transmitido.
Agradeço imensamente seu comentário e interesse pelo resumo.
Qualquer nova pergunta, estou à disposição.
Atenciosamente:
André de Jesus Lima
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ResponderExcluirQue maravilha, André. Parabéns! Fiquei muito feliz em responder meu questionamento. Isso por que na minha especialização, meu TCC foi sobre o Memorial da Baiana do Acarajé( Memorial da Baiana do Acarajé:Ferramenta Didática Para Implementação da Lei N°10.639/2003) , que fica em Salvador. E, inicialmente tive o objetivo de levar meus alunos no espaço de memória, que infelizmente não foi possível. Mas, trabalhei com eles dois documentários sobre as Baianas do Acarajé. Foi uma turma da EJA, e escolhi a turma justamente porque no livro didático tinha um texto de Carolina Cantarino, que menciona sobre a mudança do nome do acarajé para bolinho de jesus. Preconceito e racismo. Fico muito feliz que seus alunos colocaram a mão na massa e gostaram. Sobre a reação deles, em relação a questão religiosa, inicialmente, sua proposta foi bem recebida pelos estudantes?
ResponderExcluirMuito bom o tema de seu TCC Erine! Parabéns!
ExcluirBom, durante a primeira parte da oficina, o histórico religioso do acarajé foi levantado. De fato, falar sobre religiões de matrizes africanas gera um certo desconforto em alunos que participam do seguimento religioso protestante. No entanto, ao passo que os estudantes vão assimilando os dados históricos casando com os elementos patrimoniais e culturais que a iguaria fornece, aos poucos foram percebendo como o preconceito religioso os impedia de conhecer mais a fundo elementos presentes no seu dia a dia e que estão ligadas às raízes africanas. Nos relatos colhidos pós-oficina foi perceptível em boa parte dos estudantes uma mudança de pensamento acerca do acarajé e seu significado dentro e fora das religiões afro-brasileiras.
No entanto, a temática realmente provoca estranhamentos que levam a questionamentos e indagações, e é neste momento que a construção do conhecimento acontece numa educação voltada para a construção de uma "consciência histórica" [CAIMI, 2010, p. 60].
No segundo momento da oficina, quando os estudantes vão aprender a fazer o bolinho, vem à tona denominações tais quais "bolinho de Jesus" e "acarajé evangélico", que foram discutidos mostrando como o racismo religioso opera na obstrução do histórico e do significado das práticas ancestrais que culminaram no produto que hoje conhecemos como acarajé. Dessa forma, foi possível fazer discussões dentro das ideias de NAPOLITANO [2010, p. 84], afirmando que “os valores, coisas e símbolos herdados das gerações passadas constituem o patrimônio cultural de uma sociedade”, resguardando assim uma memória, uma história, um conhecimento.
Atenciosamente:
André de Jesus Lima
Obrigada. Sucesso! Erine Estevam de Santana
ResponderExcluirEu quem agradeço e lhe desejo igualmente sucesso em sua jornada acadêmica!
ExcluirAtenciosamente:
André de Jesus Lima
Boa noite, gostaria de compreender o que lhe motivou a propor e desempenhar tal atividade voltada para o Acarajé dentro da educação básica? Percebestes alguma desvalorização desta comida?
ResponderExcluirPergunto isto porque não entendo como é a realidade da população baiana mediante sua cultura e história. O mesmo trabalho em um local que não fosse o estado da Bahia, certamente seria diferente em seu olhar. Aguardo sua resposta.
Adriana Moura Soares.
Boa noite Adriana.
ExcluirObrigado pelo interesse no tema e pelo questionamento.
A cidade em que moro se chama Eunápolis. Fica situada no extremo sul da Bahia, poucas cidades antes das divisas com o Espírito Santo e Minas Gerais. Tal proximidade influencia grandemente a cultura local, que não se mostra tal qual a Bahia do Recôncavo, tão descrita por historiadores, sociólogos, etnólogos e antropólogos tais quais Edison Carneiro, Ruth Landes, Renato da Silveira e Pierre Verger, que centraram suas lentes sobre Salvador e adjacências. A cultura negra está envolvida em uma atmosfera de preconceitos e desvalorização, ao ponto de estabelecimentos usarem o slogan "acarajé evangélico" ou "bolinho de Jesus", o que desvaloriza o histórico de luta e resistência deste elemento gastronômico, relegando a segundo plano seu valor histórico e social por questões de racismo e/ou intolerância religiosa. Dessa forma, vimos como necessário trazer esta discussão para dentro do espaço escolar, na esperança de que sementes pudessem ser lançadas a fim de contribuir para uma futura mudança deste cenário através do conhecimento que ao mesmo tempo elucida e liberta.
Como respondido na questão anterior, o resultado foi bastante positivo pois as demandas foram trazidas pelos proprios estudantes e assim foi possível dialogar e trabalhar a temática de forma leve e espontânea.
Atenciosamente:
André de Jesus Lima