Lucas Felipe Duraek e Bruna Andrade Benjamim de Souza


CRESPOS ESTÃO SE AMANDO: O PAPEL DO RAP EM SALA DE AULA


Nos currículos escolares não faltam temas em torno de uma História eurocêntrica que dita como os conteúdos serão ensinados e vistos, a História da América por exemplo, começa com a chegada de Colombo. Com a África não é diferente, a história de um continente é resumida a chegada dos europeus e na escravidão.

Essa colonização do ensino é perigosa visto que a educação deve ter como objetivo conduzir o aluno a uma consciência crítica própria, nesse sentido, em 2003 foi sancionada uma lei que obriga o ensino de Cultura Afro-brasileira em sala de aula. A lei reflete a falha no currículo que se mantém até os anos atuais quando o assunto é a formação e a participação da população negra na sociedade brasileira.

Tendo como base a Lei 10.639/03 iremos trazer uma reflexão sobre o ensino de Cultura Afro-brasileira nas instituições de ensino e a problemática que envolve esse tema, explicitando os problemas entorno da própria lei iremos debater como podemos usar da música para descolonizar a visão sobre a África que por muitos anos tem sido resumida a escravidão.
 Para entender a problemática inicial, iremos recorrer ao próprio texto da lei:

“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, economia e política pertinentes à História do Brasil.”

Nesse sentido, a lei obriga o ensino da cultura afro-brasileira em todos os níveis da educação, entretanto, as problemáticas que envolvem esse ensino ainda são muito grandes. Primeiramente pensamos na necessidade da obrigatoriedade do ensino da cultura de povos que forjaram o Brasil, esse assunto deveria ser um dos principais dentro da sala de aula quando se trata da formação da sociedade brasileira. Os povos africanos foram a base da formação da brasilidade, tendo em vista o grande número de pessoas que foram trazidas durante os 339 anos de escravidão.

Sendo assim, se revela uma falha na educação de um país que não ensina suas raízes e ainda tem um pensamento colonial, nossa visão sobre a população negra é basicamente a europeia. Se olharmos por essa ótica, excluímos primeiramente as especificidades dos povos africanos, o continente conta com 54 países e uma infinidade de culturas diferentes entre si que tem uma história rica em detalhes mas que por não ter muitas fontes escritas é invalidada nessa visão eurocêntrica de História tornando toda população em apenas uma definição: negro.
Quando falamos de um olhar singular da história a voz que ecoa nesse debate é a da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie que em uma de suas palestras (que posteriormente virou livro) falou sobre “O Perigo de uma História Única” que revela o problema de um pensamento colonial ou único sobre algum assunto. A autora revela o perigo de olhar a história apenas de um ponto de vista:

“Começa a história com as setas dos Nativos Americanos, e não com a chegada dos Britânicos, e terás uma história completamente diferente. Começa a história com o fracasso do estado Africano, e não com a criação colonial do estado Africano, e terás uma história totalmente diferente.”[ADICHIE 2019]

Além disso, a autora revela também o problema que a história única causa que são os estereótipos, a autora fala que os estereótipo não são necessariamente mentiras mas sim informações incompletas sobre os sujeitos que tornam esse sujeito o fruto de um olhar singular e muitas vezes preconceituoso, acarretando assim na visão racista que se revela na estrutura do ensino de cultura afro-brasileira nas nossas escolas.

Conferindo esse primeiro problema da colonização do pensamento, iremos expor uma problemática talvez mais importante que a primeira. Junto com a colonização do nosso pensamento surge o problema prático em sala de aula, nos livros didáticos o material disponível para o ensino sobre a população negra não passa de umas poucas páginas com os números da escravidão, os castigos e trabalhos do período colonial, alguma curiosidade sobre Zumbi dos Palmares.

Isso revela um currículo pobre em conteúdo e, ainda, soma-se uma formação ainda mais pobre sobre a cultura afro-brasileira dos professores e temos um ensino excludente e racista que usa da visão europeia para ensinar uma das partes mais importantes da história brasileira. Nesse espectro, a população brasileira que é formada por 56% [IBGE 2018] de pessoas não-brancas se vê excluída do ensino por não se identificar com a visão colonial e que tenta a todo custo se embranquecer para ser aceita como parte efetiva no surgimento da sociedade brasileira.

Com esses fatos expostos surge outra problemática que é a evasão escolar, segundo dados do mesmo ano do IBGE 44,2% dos jovens negros não concluíram o ensino médio e cerca de 33% das jovens também se evadiram do ensino. Esses números são preocupantes, exemplificando as percentagens, a cada 10 jovens negros que entram na escola, 4 não o concluem. Esse recorte de raça expõe as falhas desse ensino excludente e racista, não é muito difícil de achar relatos de jovens negros que abandonaram o ensino por conta do racismo estrutural presente dentro das instituições de ensino.

Em um vídeo do canal Preta-rara intitulado NOSSA VOZ ECOA | EP 09 - "LEI 10.639" podemos conferir relatos de profissionais da educação e de alunos sobre a realidade dentro da sala de aula. Os relatos revelam esse racismo estrutural no ensino, tanto nos temas abordados como também as atitudes racistas de alguns professores por conta dos fenótipos negros como o cabelo armado e a própria cor da pele.

Revelados os problemas em torno da lei e sua aplicabilidade em sala de aula,  nossa proposta neste artigo é encontrar uma alternativa para ajudar os educadores a encontrar uma forma de lidar com o problema dentro da sala de aula resgatando a autoestima dos jovens negros mostrando uma outra visão da história. Aproximar o conteúdo histórico da realidade do aluno tem como objetivo a criação de uma consciência histórica completa e plena onde o aluno consegue aplicar o conhecimento no seu dia a dia e para além disso, consegue desenvolver o pensamento crítico sobre o tema.

Uma alternativa para a criação dessa identificação do aluno com o tema, aqui no caso, a cultura afro-brasileira é usar a música em sala de aula, mais especificamente o RAP. O rap é produto da cultura afro-brasileira e hoje em dia é disseminado cada vez mais com a democratização do acesso a cultura.
Para o ensino cultural devemos primeiramente entender que uma prática cultural não é constituída apenas no momento da produção de um texto ou de qualquer outro objeto cultural, ela também se constitui no momento da recepção. [BARROS, 2003] Entendido isso, a nossa proposta nesse artigo é demonstrar como as letras de RAP podem ser usadas dentro da sala de aula para criar um sentimento de pertencimento no ensino, uma nova visão sobre a população negra, o aumento da autoestima e de forma mais crítica acabar com o racismo presente nas instituições de ensino.

A música no processo de ensino e aprendizagem, faz com que o aluno reflita sobre sua letra, clipe, o que ela representa. Ainda pode-se explorar, diversos estilos, fazendo com que se tenha uma aproximação e compreensão de diversas culturas, grupos sociais e a sociedade como um todo. Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE), usar os recursos de audiovisuais pode fazer com que o aluno analise e compreenda de outras formas as verdades socialmente impostas, criando assim um entendimento crítico.

O historiador Roberto Camargos também fala sobre a importância do rap na sociedade:

“Assim, a importância dessa cultura/música para os debates em torno da sociedade contemporânea está, em termos gerais, no fato de que parte considerável dela constitui meios de expressão associados às classes populares e, sob seu prisma (de pessoas comuns, de trabalhadores), ganha corpo uma intrigante interface entre história, cultura, sociedade, protesto social e vida cotidiana.” [Camargos 2015]

Trazer o rap para dentro da sala de aula pode acarretar através das letras uma consciência social e na construção da auto estima de alunos negros assim como a cultura hip hop como um todo faz nas periferias de todo o país. A exclusão dos jovens periféricos na sociedade fez com que o rap ganhasse espaço para além de ser uma ferramenta que protesta contra essa exclusão, também possa ser uma forma de representatividade e identificação, fazendo com que se possa ter mais confiança para enfrentar o sistema racista que ainda nos cerca.

Qual o motivo da evasão de jovens negros nas escolas? A resposta requer uma contextualização dos diversos problemas herdados pelos 339 anos de escravidão, mas por aqui cabe dizer que a falta de identificação com os conteúdos passados ajuda no desinteresse dos alunos. Principalmente nas aulas de história, onde o negro só é mencionado como o escravo ou designado a papéis inferiores aos dos brancos.

Usar as letras de rap para que haja uma representatividade dentro de sala de aula é de extrema relevância para ajudar a conter essas evasões e principalmente apoiar na forma que o jovem negro se enxerga, se sente representado de forma positiva e assim, eleve sua autoestima, que a sociedade e a escola fazem questão de diminuir.

Na música Mufete, do rapper Emicida, ele mostra essa situação: Gente, só é feliz quem realmente sabe que a África não é um país. Esquece o que o livro diz, ele mente. Sim, existem alunos de sétimo, oitavo e até nono ano, que não sabem que a África é um continente, por que os livros didáticos não citam esse fato. Já é complexo demais saber que é impossível se reconhecer com descendentes de algum país da África devido a mistura das nações feitas no Brasil, o jovem negro sabe apenas que é descendente de escravo, mas não consegue distinguir da onde esse escravo veio. Tendo toda essa complexidade, ainda não é mencionado que a África não é um país. Dessa forma, é possível apresenta-la aos alunos em forma de áudio e a letra impressa, junto com um mapa, para explicar de forma ilustrativa essa questão.

Usar o rap como uma ferramenta nas aulas ajuda explicar discussões como essa levantada no parágrafo anterior. É possível então, passar um pedaço da letra no quadro ou leva-la impressa, levar o áudio ou o clipe da música para interligar com os conteúdos de uma forma mais didática. Isso pode ajudar na reflexão referente ao tema e na compreensão da temática proposta.

Em outra letra do mesmo rapper, ele disse que: Tendo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim? Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? ruim pra quê? ruim pra quem? Infeliz do povo que não sabe de onde vem. Apresentar esse tipo de canção para os alunos pode ajudar na reflexão e na autoestima dos mesmos. Ao entender que a cultura negra não é um problema e sim resistência, ascende a importância de desconstruir os padrões que os brancos criaram e assim, se colocar como alguém que tem um papel importante na sociedade.

Como fala o rapper Baco Exu do Blues na música Bluesman: Eles querem um preto com arma pra cima num clipe na favela gritando "cocaína". Querem que nossa pele seja a pele do crime, que Pantera Negra só seja um filme. Os brancos no convívio social já são racistas, se a escola não consegue mostrar o ‘’lado bom’’ de ser negro, como os jovens negros vão se sentir confortáveis dentro desse ambiente? Para além disso, como a escola ajuda na construção de cidadãos não racistas? É exatamente essas questões levantadas que o rap pode auxiliar na compreensão. ‘’ Quente que nem a chapinha no crespo, não! Crespos estão se armando. Faço questão de botar no meu texto que pretas e pretos estão se amando’’ Esse tipo de letra faz com que o aluno negro se identifique e os demais alunos entendam que há necessidade de afirmar essas questões por conta do racismo.

Mostrar através das letras uma outra visão em relação ao negro, incentiva que o aluno reflita sobre seu lugar na sociedade, ajudando na criação de uma identidade de resistência. Para essa construção a escola tem um papel fundamental, onde pode ser levado mecanismos diversos que podem ajudar os alunos negros a se enxergarem de outra forma.

A relevância da discussão então, está em compreender para explorar os discursos do rap sobre o social, a representatividade e o modo que a sociedade vê o negro. Para então as letras e suas reflexões possam ser levadas para dentro da sala de aula onde essas representações possam ser discutidas e analisadas estabelecendo uma forma diferente de abordar os temas que envolvem a construção da sociedade.

Referências
Lucas Felipe Duraek é graduando em História na Unespar no campus de União da Vitória - Paraná.
Bruna Andrade Benjamim de Souza é graduanda em História na Unespar no campus de União da Vitória - Paraná.

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. “O Perigo de Uma História Única” disponível em: https://www.academia.edu/4378533/O_perigo_da_hist%C3%B3ria_%C3%BAnica Acessado em 15/04/2020.
BARROS, José D’Assunção. “História Cultural: um panorama teórico e historiográfico” in: Textos de História (Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UNB). Dezembro de 2003, volume 11, nº 1/2. p.145-171.
CAMARGOS, R. Rap e política: percepções da vida social brasileira. 1. ed. São Paulo: Livro Pronto, 2015.
RARA, Preta. “NOSSA VOZ ECOA | EP 09 - LEI 10.639”  2018. (16m46s). Disponível em:
REDE BRASIL ATUAL. “ Evasão escolar é maior entre jovens negros. É a violência do racismo” Disponível em:
Acesso em 15/04/2020.
Baco Exu do Blues, ''Bluesman'', Álbum Bluesman (Salvador, Gravadora 999, 2018)
Emicida, ''Mufete'', Álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa... (São Paulo, Laboratório Fantasma, 2015)
Emicida, ''Milionário do sonho'', Álbum O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui (São Paulo, Laboratório Fantasma, 2013)
Rincon Sapiência, Single ''Ponta de Lança (Verso Livre)'' (São Paulo, Boia Fria Produções, 2016)

25 comentários:

  1. Olá Lucas e Bruna, parabéns pelo texto de vocês, realmente muito bom e com um assunto que parece ser cada vez mais necessário ser debatido. Eu adorei o textos, os trechos das músicas que escolheram para os exemplos foram ótimos.
    Embora eu concorde com cada apontamento e reconheça a importância do rap tanto dentro quanto fora do ambiente escolar, me veio uma pergunta. Em um colégio mais conservador, onde o professor não tem muita autonomia em suas aulas, vocês acham que o uso do RAP seria bem visto? Como o professor pode tentar contornar essa situação?

    Lumena Rios da Cunha Pereira

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    1. Boa noite Lumena, agradecemos muito seu comentário que contribui muito para o nosso debate. Como dissemos no texto, o ensino sobre a cultura afro-brasileira é garantido por lei mas como sabemos ainda hoje existem escolas conservadoras que seguem apenas o que está no currículo e não deixam o professor buscar nada fora dele. Entretanto, acreditamos também que o professor é soberano dentro da sala de aula, não de forma autoritária mas de uma forma onde acreditamos que o mesmo tem autonomia para escolher as fontes e suas abordagens sobre o assunto a ser trabalhado. Mas como sabemos quase nunca o professor irá ter a liberdade de trabalho que defendemos, acreditamos então que se houverem reclamações da parte dos pais dos alunos uma alternativa seria chamar esses pais para algum tipo de palestra sobre a importância de se aprender sobre a cultura afro-brasileira e como o rap está inserido dentro dessa cultura, justificando assim o seu uso. Se o problema for com a direção ou com a equipe pedagógica, acreditamos que o professor deve ser firme na sua decisão, demonstrar que sua aula é pautada por lei e não retroceder em nenhum aspecto de sua aula pois se continuarmos a abrir mão desses espaços, nunca iremos construir uma educação inclusiva e libertadora.
      Lucas Felipe Duraek e Bruna Andrade

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  2. Parabéns aos autores. Gostaria ainda de ressaltar que entendemos o RAP como uma ferramenta que transmite o conhecimento popular de forma musical, tendo condições específicas pro seu próprio desenvolvimento. O que quero dizer é que: todas as reivindicações presentes nas expressões musicais do RAP refletem as consequências do processo colonial e da ausência de reparação histórica na América, observando as denúncias de racismo, truculência policial, o desemprego periférico, e principalmente a criminalização do RAP pela parte dominante da sociedade.

    MATHEUS DOS SANTOS MARTINS

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    1. Olá Matheus, ficamos contentes com sua contribuição. Acreditamos de modo geral que o RAP é uma expressão artística que tem suas raízes mais profundas nas denúncias das violências e preconceitos que surgiram durante os anos nas periferias. Nesse sentido concordamos com seu comentário quanto ao RAP ser uma ferramenta de narrativa da população para ser ouvida. Entretanto, a nossa ideia com o texto é propor, além de enxergar o RAP como um canal de denúncias, enxergar o mesmo como uma forma de devolver a população negra uma identidade que fora roubada como você mesmo disse, desde os tempos coloniais, enaltecendo além dos traços de beleza física a sua cultura.
      Obrigado pela participação!
      Lucas Duraek e Bruna Andrade

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  3. Parabéns aos autores.Trazer a música para sala de aula é uma ferramenta cada vez mais importante para auxilar na compressão de muitos temas que permeia nossa sociedade. O RAP tem ajudado muitos alunos negros a se identificarem e que a cultura negra hoje é simbolo de resistência. o RAP faz com que os alunos negros se sintam parte da sociedade e que reflita sobre seu lugar social. Quando estende a discussão sobre o cabelo crespo que ao meu ver é um tema que ainda precisa ser muito debatido em sala de aula principalmente com relação ao preconceito. Como o RAP poderia ajudar em situações em que os alunos tenham receios em soltar e gostar do seu cabelo?
    Emmanuele Vale Silva

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    1. Olá Emmanuele, obrigada pela participação! Concordamos com você que a questão do cabelo crespo deve ser muito debatida, afinal temos ainda hoje notícias absurdas de professoras que pedem alunas negras para prender o cabelo, mandam bilhete para mães sugerindo alisamento, entre outras atrocidades. Ao utilizar o RAP como instrumento de representatividade podemos trabalhar essa questão do ''empoderamento'' já que algumas letras trazem esse incentivo (o começo do título do nosso texto é uma dessas letras, sugiro que ouça, é massa! rs). Outro fator importante é apresentar os rappers através de imagens para os alunos, já que alguns possuem cabelo crespo, isso faz com que o aluno se identifique e se sinta representado também. Objetivo de trazer o RAP para sala de aula é justamente fazer com que a representatividade seja em diferentes esferas, tal como o aluno entender seu espaço por direito na sociedade e compreender também que sua estética não é motivo de vergonha e ela deve ser aceita e imposta.
      Obrigada mais uma vez pela participação!
      Bruna Andrade e Lucas Duraek

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  4. Muito bom o texto, Bruna e Lucas!
    Tendo em vista que fomos o último país a abolir a escravização e temos ruas, hospitais e até mesmo escolas com nomes de personalidades racistas/eugenistas como Raimundo Nina Rodrigues, Renato Kehl e Monteiro Lobato, como a arte afro-brasileira poderia se sobressair nas escolas? E qual é a importância e impacto sócio-cultural que vocês dão para professoras e professores negros como fonte de representatividade intelectual para crianças não-brancas de todo o país?

    E como jovem negro favelado eu só trocaria o trecho "o jovem negro sabe apenas que é descendente de escravo" por "o jovem negro sabe apenas - por culpa do racismo estrutural - que é descendente de pessoas escravizadas que tiveram seus sonhos e liberdades tomadas".

    Flavio de Souza

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    1. Olá Flávio, tudo bem? Seu comentário contribui muito para o nosso debate! Sua primeira pergunta extrapola o nosso debate que visava se ater ao espaço da sala de aula onde ficamos contidos a expor as falhas presentes nos currículos escolares sobre o ensino de cultura afro-brasileira. Podemos pensar no exemplo de Monteiro Lobato que você mencionou, muitos de nós crescemos assistindo o programa matinal do Sítio Do Pica Pau Amarelo e como éramos crianças, não conseguíamos enxergar o problema daquela obra que estava em nossa televisão sendo disseminada para todo o Brasil. Nesses espectro, podemos perceber que essas referências culturais foram impostas a nós de uma fora muito sútil desde muito cedo em nossas vidas e a virada de chave onde conseguimos entender a problemática da semiótica da peça só se dá quando temos a bagagem de informação e censo crítico para entender a biografia do autor tendo em vista que essas informações quase nunca são expostas e de fácil acesso. Dentro desse grande problema, podemos inserir o contexto de sua segunda pergunta. Hoje em dia existem muito mais professores e professoras negros atuando em sala de aula ou na equipe pedagógica e isso está intimamente ligado ao contexto de sua primeira pergunta, como fazemos para ter uma elevação da cultura afro brasileira dentro de sala de aula? A resposta que propomos é relativamente simplória tamanho é o debate que cerca a pergunta, entretanto, acreditamos que com uma maior atuação de agentes educadores negros maior vai ser o debate sobre a cultura afro brasileira tendo em vista que os mesmos tem muito mais referencial sobre autores e artistas negros se levarmos em consideração que foi durante a graduação que os mesmos tomaram consciência do problema que o ensino de cultura afro brasileira enfrenta em nossas escolas.
      Obrigada mais uma vez pela participação!
      Lucas Duraek e Bruna Andrade

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  5. Parabéns pelo texto! É a partir de produções como essa que nós, futuros professores, podemos nos munir teoricamente e criar uma rede de discussão sobre metodologias que façam jus à educação em uma sociedade racializada como a brasileira.
    Minha dúvida (que mais será uma inquietação sobre a atuação profissional futura) vai de encontro à da Lumena. Por mais que estejamos alicerçados legalmente, em determinados contextos conservadores na direção da escola, ou na associação de pais, é bem possível que haja uma oposição à utilização que raps e funks (ritmo também produzido por descendentes de africanos e também muito produtivo para fomentar discussões nas aulas) para abordar os diversos períodos da história do Brasil, da África, da América Latina, dos EUA e migração na Europa.
    Para além do conservadorismo (e do racismo presente nessa "oposição conservadora"), há também o impasse de termos que agir com cuidado ao trazer letras que, por mais que as/os estudantes vivenciem em seu cotidiano, fazem-no em contextos de ilegalidade (uso de álcool, drogas ilícitas, tráfico, pequenos delitos, etc). Esse é um paradoxo do uso dessa metodologia. Compreendo e concordo com a ideia do texto, de que é muito mais interessante para o objetivo de superar o livro didático, por vezes estigmatizador da população negra na história, trazer referências positivas sobre ser negra/o. Estereótipos raciais ligados à violência e encarceramento, quando trazidos à tona, devem ser feitos com muito diálogo e explicações sobre os processos que culminaram nas diferentes experiências diaspóricas dos descendentes de africanos. Todos esses temas também estão presentes nas obras dos rappers citados, já que faz parte da reflexão sobre a realidade brasileira e não devem ser esquecidos.

    Uma última contribuição que gostaria de deixar é que, como o texto bem expôs a relevância do hip hop para a reconstrução da autoestima do povo preto, é possível também trazer à tona questões identitárias e históricas para as/os estudantes indigenas (e toda a turma, consequentemente). Rappers como Bro MCs, MC Kunimin e Katu Mirim são algum exemplos de artistas que trazem a reflexão sobre história do Brasil a partir do ponto de vista de seu povo.

    Livia Mendonça Barbosa

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    1. Olá Livia, ficamos muito contentes com sua contribuição e vamos ouvir os mc's sugeridos para ampliar o conhecimento e também conhecer novos artistas. Essa questão da oposição na escola é um debate muito válido, pois até onde essa ''preocupação'' com a metodologia não é preconceito né? Existe sim letras de rap que não são denúncias e protestos (mais conhecidas como rap pra festa), o que faz com que o professor tenha que tomar cuidado ao selecionar as letras que ele apresentará para a turma e também que o uso correto dessas letras vá de encontro com o conteúdo proposto. Essa visão marginalizada do estilo musical cria obstáculos para docencia, mas não impede que o professor consiga utilizar, nem que seja de forma auxilar, as letras em sala de aula. O importante é trazer diferentes formas de que o aluno negro se sinta representado e o aluno não-negro possa entender a necessidade dessa discussão para evitar que o racismo estrutural continue ganhando forças.
      Obrigado pela participação mais uma vez!
      Bruna Andrade e Lucas Duraek

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  6. Parabéns aos dois pelo belo texto. Sabemos que o currículo das escolas sempre foi eurocêntrico, não valorizando, muito menos mostrando a verdadeira história de nossos ancestrais africanos. Crianças e jovens negros ficam de fora da história que é apresentada em sala de aula, pois não há uma representatividade, quando muito há uma presença estereotipada da população negra. É desafiador mudar essa realidade, isso porque deveria ser um trabalho interdisciplinar e não só do professor de História. Eu fiquei meio em dúvida com qual faixa etária de alunos vocês trabalharam, e se encontram algum entrave na aplicação das aulas.

    Leidiane Lopes da Silva

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    1. Boa noite Leidiane, agradecemos a sua contribuição para o debate. Ambos os autores foram bolsistas do PIBID durante a graduação,nosso projeto era pautado na Lei 10.639 e íamos as escolas duas vezes ao mês para ministrar as aulas. O projeto por envolver o ensino da cultura afro-brasileira também criou uma companhia de teatro que se apresentava todos os anos em eventos da faculdade, no ambiente escolar e em apresentações em geral para a população.
      Durante o tempo em que participamos do projeto, ministramos aulas para os alunos do ensino fundamental dois que são do sexto ao nono ano e durante esse tempo não encontramos nenhum entrave com direção ou professores. Claro que enfrentamos algumas reproduções de estereótipos dentro das salas de aula que tivemos que explicar a raiz dessas reproduções. Realmente trabalhar com essa mudança de visão é um trabalho árduo e dificultoso, quase que um trabalho de formiguinha por assim dizer e como você bem citou, o trabalho para a ruptura dessa cadeia excludente deve ser feito em conjunto com outras disciplinas como a filosofia, sociologia e a literatura que podem servir de apoio ao debate cultural apenas deixando de ler os autores clássicos e buscando por autores brasileiros e do continente africano para aplicar suas aulas.
      Lucas Felipe Duraek e Bruna Andrade.

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  7. Olá amigos, parabéns pelo trabalho de vocês dois. Gostaria de saber como foi a recepção dos alunos com o RAP na sala de aula

    Assinatura: Thiago Rodrigues Ferreira

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    1. Ei Thiago! Bom te ver por aqui rs
      Os alunos demonstraram bastante interesse ao trabalharmos o RAP com eles. Participaram, contaram pra gente os mc's que conheciam demonstrando empolgação e surpresos por levarmos essa tématica para relacionar com o conteúdo. Houve também um debate sobre sobre as letras e o que elas representavam, isso trouxe uma reflexão bem produtiva, já que os alunos participaram bastante.
      Ficamos gratos pela participação!
      Bruna Andrade e Lucas Duraek

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  8. Boa noite amigos, sem dúvidas um olhar apurado sobre a temática proposta. Meu sincero parabéns.

    A lei de 2003 que obriga e retira a transversalidade do Ensino da Cultura Afro-brasileira é uma medida extremamente positiva, criando assim um transpasse intracultural. Mas como vocês interpretam isso, esse conhecimento endógeno, ou seja, a ciência e outras categorias produzidas no continente africano e demais espaços, estão sendo propostos por esse olhar de quem vivenciou, escreveu, estava dentro desses espaços?

    No artigo 26° tem a passagem que fala da atuação e luta dos negros (as) no Brasil, como vocês vem hoje o Brasil em relação a isso? Até porque é comum se ver transposições dos espaços de fala, ou ainda, História da África ser ensinada pelo olhar branco, a bibliografia estar pautada na visão do colonizador.

    Assinatura: Jhonathan William Heckler

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    1. Boa noite amigos, sem dúvidas um olhar apurado sobre a temática proposta. Meu sincero parabéns.

      A lei de 2003 que obriga e retira a transversalidade do Ensino da Cultura Afro-brasileira é uma medida extremamente positiva, criando assim um transpasse intracultural. Mas como vocês interpretam isso, esse conhecimento endógeno, ou seja, a ciência e outras categorias produzidas no continente africano e demais espaços, estão sendo propostos por esse olhar de quem vivenciou, escreveu, estava dentro desses espaços?

      No artigo 26° tem a passagem que fala da atuação e luta dos negros (as) no Brasil, como vocês veem hoje o Brasil em relação a isso? Até porque é comum se ver transposições dos espaços de fala, ou ainda, História da África ser ensinada pelo olhar branco, a bibliografia estar pautada na visão do colonizador.

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  9. Sabendo que o RAP, até os dias atuais ainda sofre grande resistência em ser ouvido, foi introduzido alguma metodologia antes da inserção do rap em sala de aula para quebrar um possível preconceito com o gênero musical e como foi a aceitação dos alunos ao uso do rap em sala de aula?

    José Júlio dos Reis Matos

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    1. Olá Júlio, agradecemos a sua contribuição para o debate. Quando foi trabalhado RAP em sala, antes de apresentar letras, fizemos algumas perguntas aos alunos em forma de saber se eles já tinham escutado, o que eles achavam, quais mc's eles conheciam, etc. Mas como foi uma temática diferente do que normalmente é ofertado pela escola, os alunos receberam muito bem nossa proposta. Além do RAP também foi trabalhado samba e eles participaram super empolgados rs
      Mais uma vez obrigada pela participação!
      Bruna Andrade e Lucas Duraek

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  10. Prezados Lucas Felipe e Bruna Souza,

    Primeiramente gostaria de parabenizá-los pelo excelente trabalho. Assim como vocês expuseram, acho de grande relevância trazer para o espaço da sala de aula materiais do cotidiano dos alunos, neste caso a música, que por vezes acabam não sendo interpretados e/ou compreendidos da forma profunda que merecem na correria do dia a dia. É papel de nós como professores fazê-los questionar de forma crítica tudo o que está a sua volta. Assim como vocês puderam me apresentar vídeos e músicas que aprofundaram o meu conhecimento sobre o assunto, gostaria de lhes indicar o vídeo disponível no YouTube do Professor Ícaro Amorim Martins, "Identidade negra: juventude, afirmação e empoderamento (Material didático/ProfHistória)" produzido como material didático por ele para trabalhar com os alunos em sala de aula sobre a questão do racismo e do empoderamento negro. Para compreender melhor a produção deste material seria interessante também ler sua dissertação de mestrado intitulada "Se eu não sou negra, eu sou o quê?: da importância de discutimos discriminação racial, interseccionalidade e empoderamento em sala de aula", defendido em 2018 no ProfHistória UFRN.

    Aproveito também para perguntar se os alunos trouxeram algum tipo de relato ou experiência vivenciada por eles ou por familiares e amigos quanto a questão do racismo e preconceito, dentro e/ou fora dos muros da escola.

    Desde já agradeço a atenção.

    Clara Maria da Silva.

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    1. Olá Clara, agradecemos a sua contribuição para o debate. Sem dúvidas iremos procurar sobre o professor Ícaro para que através de seu material podemos enriquecer o nosso!
      Ao trabalhar a questão do racismo foi possível perceber que os alunos ficaram inquietos e cheios de dúvidas ao tratarmos desse assunto. Houve bastante perguntas sobre a temática e apenas um aluno citou que por morar num bairro periferico ele sofria preconceito dos colegas que se referiam ao lugar como ''lugar de bandido'', segundo ele, pelo bairro ter mais pessoas negras. Nós então conseguimos ampliar ainda mais a discussão pra questão das favelas e bairros que estão a margem do centro, relacionando isso à questão racial.
      Mais uma vez, agradecemos a participação!
      Bruna Andrade e Lucas Duraek

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  11. Levar o RAP para a sala de aula me parece ser um ótima idéia, queria ter tido essa experiência na época que eu estava na escola. Inserir música na sala de aula ajuda bastante ao aprendizado fora dos muros da escola, assim os alunos podem aprender com as músicas propostas em sala de aula, mas como seria feita a escolha dessas músicas? Partiria por parte dos professores mesmo?
    Pra tratar de determinados assuntos existem músicas pontuais, mas o rap não trata só de um assunto, esse excesso de informação não atrapalharia a aprendizagem ou só tem a acrescentar?

    Gustavo Santos de Oliveira

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  12. Boa Noite! Parabéns aos dois pelo trabalho redigido. Com certeza o rap brasileiro tem muito o que acrescentar ao nosso trabalho enquanto professores e professoras de História. Adorei os cantores mencionados,são artistas que mostram seu ativismo negro nas letras de suas canções. E enquanto pessoa que já passou pelo Ensino Médio e teve o privilégio de experienciar aulas que giraram em torno de debates como esse, afirmo que práticas didáticas nesse sentido colaboram firmemente para a construção da auto estima e reafirmação do que é ser negro e negra numa sociedade que impõe em todos os âmbitos uma estratificação social e racial. Diante disso, sabemos que na pirâmide racial brasileira, as mulheres negras estão em último lugar, ficando atrás inclusive, dos homens negros. O trabalho acima cita grandes nomes do rap masculino e somente um do rap feminino que é a Preta Rara; percorrendo esse caminho, como vocês sugerem a introdução de letras que partem de rappers femininas negras nesse contexto de representação e autoafirmação da estética e cultura negra?
    Obrigada.

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  13. Vitória da Silva Dias21 de maio de 2020 às 22:38

    Boa Noite! Parabéns aos dois pelo trabalho redigido. Com certeza o rap brasileiro tem muito o que acrescentar ao nosso trabalho enquanto professores e professoras de História. Adorei os cantores mencionados,são artistas que mostram seu ativismo negro nas letras de suas canções. E enquanto pessoa que já passou pelo Ensino Médio e teve o privilégio de experienciar aulas que giraram em torno de debates como esse, afirmo que práticas didáticas nesse sentido colaboram firmemente para a construção da auto estima e reafirmação do que é ser negro e negra numa sociedade que impõe em todos os âmbitos uma estratificação social e racial. Diante disso, sabemos que na pirâmide racial brasileira, as mulheres negras estão em último lugar, ficando atrás inclusive, dos homens negros. O trabalho acima cita grandes nomes do rap masculino e somente um do rap feminino que é a Preta Rara; percorrendo esse caminho, como vocês sugerem a introdução de letras que partem de rappers femininas negras nesse contexto de representação e autoafirmação da estética e cultura negra?
    Obrigada.
    Vitória da Silva Dias

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