DESFAZENDO ESTIGMAS: FAMÍLIAS
ENTRE SUJEITOS ESCRAVIZADOS EM SÃO LUÍS/MA (1870-1880)
Para que se compreenda a escravidão no Brasil
nas suas múltiplas facetas, faz-se necessário direcionar o olhar para todos os
sujeitos envolvidos nesse processo, especialmente para aqueles que foram nele
escravizados, encarando-os, antes de tudo, como sujeitos históricos. Nesse
sentido, impelido pela necessidade de repensar a representação atribuída aos
negros durante o período da escravidão - geralmente vinculada à promiscuidade e
à brutalização dos valores éticos e morais - optei por realizar, a partir de
uma revisão bibliográfica, uma análise sobre as formações familiares entre os
sujeitos escravizados no Maranhão durante a segunda metade do século XIX, cujo
recorte espaço-temporal específico é São Luís/MA nas décadas de 1870 e 1880.
Ainda que tenha se beneficiado de
contribuições dadas por outros autores que defendem a existência de famílias
entre os africanos vitimados pelo escravismo criminoso no Brasil durante o
período colonial, a tessitura desse texto foi primariamente orientada pela obra
de Cristiane Jacinto (2005) “Relações de intimidade: desvendando modos de
organização familiar de sujeitos escravizados em São Luís no século XIX”, e
secundariamente pela obra de Mariléia dos Santos Cruz (2008) “Escravos, forros
e ingênuos em processos educacionais e civilizatórios na sociedade escravagista
do MA no século XIX”. Também, se preocupou em apresentar uma proposição de
atividade para refletir em sala de aula sobre a condição do negro na história
do Brasil e na sociedade brasileira atual.
Abreviados
apontamentos sobre as pesquisas de Jacinto (2005) e de Cruz (2008)
O estudo de Cristiane Ribeiro Santos Jacinto
(2005) se concentra nas formas de organizações familiares dos escravos em São
Luís/MA no século XIX, bem como nas relações de intimidade existentes no
interior de tais organizações. Para constituí-lo, a pesquisadora recorreu aos
dados da Junta de Classificação de Escravos, assim como aos registros
eclesiásticos de São Luís/MA no período. Ela é categórica ao afirmar que é
inadequado usar a nomenclatura “famílias escravas”, porque na realidade as
famílias que envolviam sujeitos escravizados eram compostas por pessoas de
diferentes situações jurídicas e, portanto, não apenas por escravos. Esse
posicionamento é também apoiado por Florentino e Góes (1997), pois para esses
pesquisadores a categoria família escrava é incapaz de abarcar toda a
diversidade das configurações familiares elaboradas por esses sujeitos.
Por seu turno, Mariléia dos Santos Cruz
(2008) no seu estudo trabalhou com o recorte temporal de 1872 a 1886 e com os
dados da Freguesia da Nossa Senhora da Vitória, de São Luís/MA. Ao analisar os dados
obtidos nessa freguesia, ela concluiu que havia um pequeno número de uniões,
legitimadas pela Igreja Católica, entre os escravos. Evidentemente, a pequena
quantidade de uniões religiosamente oficializadas, percebida pela pesquisadora,
não deve ser interpretada como um indicativo da inexistência de famílias entre
os escravos em São Luís/MA nesse período.
Afinal, mesmo aquelas uniões matrimoniais que
não receberam oficialização da Igreja, devem ser consideradas como tais. Assim
sendo, o levantamento feito por Cruz (2008), na realidade, mostra que poucos
casais de escravos tinham suas uniões sacramentadas pela Igreja Católica,
evidenciando com isso que o casamento religioso oficial, por assim dizer, não
era o meio mais comum de consolidação da constituição familiar entre esses
escravos.
Escravidão e famílias entre escravos em São
Luís/MA (1870-1880)
No ano de 1873, São Luís/MA possuía 7.023
escravos; destes, 3.323 eram homens e 3.700 eram mulheres (RIBEIRO, 1990). E
quanto à situação geográfica, Jacinto (2005, p.108) diz que os “[...] plantéis
de escravos no cenário urbano não eram tão grandes quanto no espaço rural”. A
explicação para isso está no fato de que no cenário urbano não havia a
necessidade de muitos escravos, diferentemente do que ocorria no meio rural de
São Luís/MA na segunda metade do século XIX.
Nessa época, os escravos que viviam na zona
urbana - aqui analisados -, eram de grande importância para o desenvolvimento
da economia de São Luís/MA, por causa das variadas funções que desempenhavam,
as quais envolviam desde servir como escravos domésticos até a atuar como
escravos de ganho (RIBEIRO, 1990).
Os escravos residentes na cidade, ao
contrário daqueles que viviam no meio rural, circulavam pelas ruas da urbe,
usufruindo de certa dose de liberdade. Ainda, a realização dos seus diferentes
ofícios lhes permitia um contato maior com outros escravos e até mesmo com
pessoas livres e libertas, condição essa que viabilizava a formação de famílias
envolvendo sujeitos de diferentes situações jurídicas (JACINTO, 2005), como foi
assinalado anteriormente.
Assim, com base nisso pode ser afirmado que
nem sempre as famílias que envolviam escravos eram compostas somente por
escravos. Isso é comprovado por Jacinto (2005), quando ela fala que em “[...]
fins do século XIX, encontrar famílias heterogêneas, formadas por livres,
escravos, ingênuos e libertos não é tarefa difícil” (JACINTO, 2005, p.101). O
motivo disso, como já fora apresentado, está relacionado com a maior mobilidade
dos escravos urbanos proporcionada pelo exercício das suas atividades laborais.
Apesar de vivenciarem as mazelas da
escravidão e de se encontrarem longe dos seus ancestrais e raízes culturais, os
escravos no Brasil construíram famílias e lutaram de diferentes modos para
preservar tanto a sua identidade cultural como também os laços familiares aqui
constituídos. Jacinto (2005) defende que a necessidade de afeto e das alianças
familiares foi uma das razões que levaram os escravos no Brasil, e em
consequência no Maranhão, a constituírem famílias. Isso se torna patente quando
a pesquisadora diz que a:
“[...]
afetividade e busca da liberdade certamente eram os principais elementos, entre
outros, considerados quando se reflete sobre o que levaria um escravo a se
casar com uma pessoa livre ou liberta” (JACINTO, 2005, p. 100).
Em acréscimo a isso, deve ser destacado, como
é sugerido por Jacinto (2005), que dentre os fatores indutores que levaram os
senhores escravagistas a promoverem as uniões entre os escravos, destacam-se os
interesses econômicos e a religiosidade. Sobre o primeiro fator, deve ser dito
que era muito conveniente para os senhores a geração de prole entre os sujeitos
escravizados, visto que isso aumentaria o número de escravos da sua propriedade
sem haver a necessidade de recorrer ao tráfico interprovincial de mão de obra
escrava negra. E sobre o segundo, cabe destacar que a Igreja Católica buscava
combater as uniões ilícitas, isto é, as uniões consensuais entre os escravos,
incentivando para tanto os senhores a casá-los. Então, esses também foram
fatores que levaram à formação de organizações familiares entre os escravos.
Mesmo que se reconheça que a formação de
famílias entre os escravos pode ter sido usada pelos senhores escravagistas
como artifício de beneficiamento próprio, regulado pelo objetivo de anular o
risco dos escravos fugirem e/ou se rebelarem contra seu senhor, é claro que as
famílias também poderiam potencializar as chances de êxito de revoltas contra o
sistema escravista. Esse ponto é sustentado por Slenes (1999), para quem os
escravos organizados em famílias poderiam se tornar uma ameaça potencial para
os interesses dos senhores, uma vez que as manifestações de desagrado à
escravidão de um grande grupo de indivíduos, comungando dos mesmos sentimentos
e interesses, produziriam consequências maiores.
Ao analisar as famílias formadas por
escravos, precisamos ainda levar em consideração que o “[...] casamento não
pode ser considerado como um marco inicial das [suas] organizações familiares”
(JACINTO, 2005, p.92). Afinal, como foi indicado pelo levantamento de Cruz
(2008), as uniões consensuais possivelmente predominavam entre a população
escrava da época, dada a existência de poucos registros de casamentos
oficializados entre esses sujeitos.
Apesar dos sofrimentos e dificuldades
impostos pela escravidão, os escravos em São Luís/MA desfrutavam da
possibilidade de formarem núcleos familiares, assim como de estabelecer “[...]
relações de amizade entre si e com livres e libertos, e muitas vezes até com
seus proprietários” (JACINTO, 2005, p. 96). Isso também é apontado por Slenes
(1999), de acordo com o qual os escravos em algumas regiões do Brasil, a
despeito das privações típicas da sua situação jurídica, podiam escolher seus
parceiros no momento em que decidiam estabelecer uniões maritais. No caso
específico de São Luís/MA, tal autonomia também era possível, ainda que a regra
fosse essa escolha ser feita pelos senhores escravagistas. Esse fato é
reconhecido por Jacinto (2005, p. 91), quando ela diz que os escravos “[...]
tinham um poder real de escolha [...]” ainda que esta pudesse “[...] esbarrar a
qualquer momento na autoridade dos senhores” (JACINTO, 2005, p. 91).
Valendo-se de dados dos anos de 1873, 1885 e
1886 extraídos da Junta de Classificação de Escravos de São Luís/MA, Jacinto
(2005) percebeu que somente 57 dos escravos registrados eram casados no
religioso. Esse observado comprova a conclusão de Cruz (2008), de que o
casamento realizado sob a égide da Igreja Católica em São Luís/MA nas décadas
de 70 e 80 do século XIX não era tão comum entre os escravos, uma vez que a
maior parte das uniões entre eles, possivelmente, era do tipo consensual.
O modo como as famílias escravas estavam
organizadas, de fato, era muito complexo. As evidências sugerem que o modelo
familiar mais comum entre os escravos era o matrifocal, caracterizado pela
forte presença das mães ao lado dos seus filhos nas famílias. Essa assertiva é
sustentada pela predominância nas documentações de Referências às mulheres
sozinhas vivendo junto com seus filhos. Entretanto, Jacinto (2005, p.112) diz
que a “[...] presença maior de registros desse tipo de família tanto pode ser
um reflexo da realidade quanto pode estar ocultando relações consensuais”. A
ideia levantada por esta pesquisadora mostra-se razoável pelo seguinte fato:
visto que as documentações provinham de instituições públicas e religiosas, que
na época se recusavam a reconhecer a validade das uniões consensuais, os
registros destas uniões podem ter sido deliberadamente ignorados nas
documentações do período.
Dessa forma, nem todas as uniões entre os
escravos foram oficializadas nos moldes normativos da Igreja Católica. Em adição,
o apontado nos leva a concluir também que o fato de os homens escravos não
serem, frequentemente, apresentados nas documentações não significa que eles
não fizessem parte das famílias. Pois, fossem “[...] escravos, livres ou
libertos, esses homens também participavam da vida de seus filhos e filhas,
mesmo que essa atuação não se desse nos moldes do modelo familiar tido como
ideal” (JACINTO, 2005, p.120).
O
casamento envolvendo escravos
O casamento religioso entre os escravos
correspondia a uma forma de legitimar e, em consequência, de oficializar as
suas relações de intimidade (JACINTO, 2005). Além dessa função, não se deve
perder de vista o fato de que este tipo de casamento também era usado como uma
forma de cristianizar os escravos e de alterar sua identidade cultural.
Esse argumento se respalda no empenho da
Igreja Católica em incentivar a oficialização das uniões consensuais entre os
escravos. Agindo desse modo, tal instituição pretendia na realidade propagar o
catolicismo entre a população escrava (SILVA, 1998), sob a alegação de que era
necessário os senhores escravagistas promoverem casamentos entre os sujeitos
escravizados, a fim de que estes saíssem do cativeiro do pecado.
Apesar desse empenho, como se disse, em São
Luís/MA durante as décadas de 1870 e 1880, houve poucas uniões tidas como
legítimas, o que reitera a assertiva de que as uniões oficializadas não eram
costumeiras entre os escravizados (JACINTO, 2005). Diante disso, é possível que
nos perguntemos o porquê de tal quadro. Sua explicação está ancorada nas
dificuldades que cercavam o matrimônio na época.
Se existia por um lado um grande incentivo
dado pela Igreja Católica para estimular os casamentos entre os escravos, por
outro, havia também muitos desafios lançados àqueles que desejavam alcançar o
matrimônio. Isso, com certeza, nos ajuda a compreender os números irrisórios de
uniões oficializadas pela Igreja na época. Pode-se elencar, a partir das
contribuições de Jacinto (2005), como fatores desencadeadores de tal situação a
necessidade da permissão dos senhores escravagistas e as regras burocráticas do
período.
No que diz respeito à permissão dos senhores,
isso não era tão difícil de conseguir. Mas quanto a atender à burocracia do
período, isso era mais complicado. Diz-se isso porque a exigência de
documentos, a exemplo da comprovação de batismo, era um grande problema que
dificultava a oficialização das uniões maritais envolvendo escravos. Isso
porque, como nos aponta Silva (1998, p. 191):
“Dada a grande mobilidade geográfica da
população escrava, os contraentes residiam freqüentemente em freguesias muito
distantes daquelas onde tinham sido batizados e ficava difícil mandar vir às
certidões” (SILVA, 1998, p. 191).
Mas, obviamente, aqueles que queriam
constituir uma vida marital em harmonia com as normatizações da Igreja,
encontraram alternativas para burlar esse obstáculo. Silva (1998) aponta duas
destas alternativas, quais sejam: 1. Encontrar uma pessoa responsável, de
confiança e benquista para apresentar os documentos dos nubentes à instituição
responsável pela oficialização do casamento, depois do matrimônio ser
realizado; e 2. Apresentar testemunhas que pudessem afirmar que os batismos dos
nubentes realmente tinham ocorrido, ainda que isso não fosse verdade.
Essa situação se tornava mais difícil quando
envolvia sujeitos escravizados vindos diretamente da África (CRUZ, 2008). Além
de apresentarem os documentos que atestassem seus batismos, eles precisariam,
adicionalmente, deixar claro que sabiam o sentido religioso do casamento. Isso
serviria para demonstrar que aqueles indivíduos estavam cientes do que estava
envolvido no matrimônio. O atendimento a esse requisito era uma demonstração de
que esses escravos estavam assimilando os elementos do catolicismo (ANDRADE, 2003).
Que havia muitas dificuldades na
oficialização das uniões maritais de sujeitos escravizados em São Luís/MA nas
décadas de 70 e 80 do século XIX, isso é um fato. Mas é interessante pensarmos
no motivo que levava alguns escravos a se interessarem pelo matrimônio em tais
circunstâncias.
Certamente, a maior razão pela qual os
escravos se empenhavam pelo casamento do tipo religioso está abrigada sob o
fato de que uma vez oficializadas as uniões consensuais, esses sujeitos
poderiam obter a sua liberdade, por meio do Fundo de Emancipação. Nessa
perspectiva, o casamento serviria como uma tática que esses sujeitos usavam
para burlar o sistema escravista, a fim de conseguirem a liberdade (JACINTO,
2005). Além dessa, outra possível explicação que nos ajuda a entender a
importância atribuída ao casamento por esses sujeitos está no próprio valor
simbólico do matrimônio, visto que para muitos desses homens e mulheres, o
casamento serviria como um “[...] elemento de normalidade e de distinção
social” (JACINTO, 2005, p. 86).
Proposição
de atividade sobre o assunto
Associada à abordagem adotada no presente
texto, a proposição de atividade intitulada “Positivando a imagem dos/as
negros/as na história do Brasil” destina-se aos alunos do Ensino Médio e tem
por objetivo promover a discussão sobre a necessidade de se repensar a posição
ocupada pelos negros na História do Brasil e no livro didático de História
para, em seguida, problematizar o lugar social ocupado pelos negros na
sociedade brasileira. Visando também evidenciar a atuação dos sujeitos
escravizados enquanto sujeitos ativos e responsáveis pela construção da sua
própria história, assim como, promover uma desconstrução dos estigmas que foram
lançados sobre essas pessoas e seus descendentes sugere-se que o/a professor/a
de História proponha a atividade mencionada para seus alunos a partir das
seguintes etapas:
Pesquisa sobre a escravidão e as táticas de
resistência dos sujeitos escravizados no Brasil;
Roda de conversa sobre a questão “A formação
de famílias entre os escravos servia aos interesses dos sujeitos escravizados
ou aos interesses dos senhores escravagistas?”;
Pesquisa sobre as contribuições dadas
pelos/as negros/as para a formação do povo brasileiro e da cultura nacional;
Análise da representação dos negros em livros
didáticos de História de diferentes épocas, a exemplo das décadas de 1990, 2000
e 2010 – nesse momento seria interessante o/a professor/a refletir com a turma
sobre quais das contribuições dadas pelos/as negros/as aparecem nos livros
didáticos analisados e também sobre a permanência de representações negativas
sobre os/as negros/as;
Pesquisa sobre personalidades negras nas
áreas da ciência, literatura, música, jornalismo e política;
Roda de conversa sobre protagonismo negro na
sociedade, injúria racial, racismo e direitos dos afrodescendentes na sociedade
brasileira;
Produção de lapbooks a partir dos resultados
das etapas anteriores – o/a professor/a poderá propor uma exposição dos
lapbooks, a fim de permitir aos demais alunos da instituição escolar ter acesso
aos resultados dessa atividade.
Faz-se necessário destacar que essa atividade
se trata apenas de uma proposição que pode ser, evidentemente, redefinida
pelo/a professor/a conforme as circunstâncias e necessidades das suas turmas.
Considerações
finais
Portanto, a despeito de narrativas que se
caracterizam por conceber os negros como indivíduos de conduta passiva e
desregrada, cuja vida se centraria na promiscuidade e na ausência de vínculos
familiares, a análise empreendida neste texto objetivou apresentar um
contraponto a essa representação depreciativa dos sujeitos negros escravizados,
focalizando São Luís/MA nas décadas de 70 e 80 do século XIX. Com base no
apresentado, notou-se que o fato de haver poucos registros de casamentos
envolvendo escravos em São Luís/MA, na temporalidade supracitada, não pode ser
tomado como indicativo da ausência de famílias entre esses sujeitos, dadas as
dificuldades de se conseguir, na época, a oficialização religiosa do matrimônio
entre esses indivíduos. Ao mesmo tempo, percebeu-se que os sujeitos
escravizados constituíam famílias e estas eram compostas por pessoas de
diferentes situações jurídicas. Tal heterogeneidade era possibilitada pelas
próprias condições em que viviam os escravos no meio urbano de São Luís, à
época, nas quais eles usufruíam de certa dose de “liberdade" que lhes
proporcionava um contato maior com outros/as escravos/as, negros/as libertos/as
e também pessoas livres. Com isso, destaca-se que ao contrário do que costuma
ser alardeado, inclusive nos livros didáticos, os escravos não eram sujeitos
destituídos de autonomia de pensamento e atuação e muito menos estavam fadados
a uma vida isenta de vínculos familiares.
Referências
Raimundo Nonato Santos de Sousa – É acadêmico
do oitavo período do curso de História na Universidade Estadual do Maranhão -
UEMA, campus Caxias. Atualmente, atua como pesquisador-bolsista PIBIC/UEMA e
pesquisador-colaborador UNIVERSAL/FAPEMA.
ANDRADE, Antonia de Castro. Diante da pia
batismal: laços de compadrio e escravidão no Maranhão oitocentista. Trabalho de
conclusão de curso (Graduação em História Licenciatura) – UFMA, São Luís, 2003.
[Monografia]
CRUZ, Mariléia dos Santos. Escravos, forros e
ingênuos em processos educacionais e civilizatórios na sociedade escravagista
do Ma no século XIX. (tese de doutorado). Araraquara: UNESP, 2008. [Tese]
FLORENTINO, Manolo; GÓES, José Roberto. A paz
nas senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c.1790-c.
1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. [Livro]
JACINTO, Cristiane Ribeiro Santos. Relações
de intimidade: desvendando modos de organização familiar de sujeitos
escravizados em São Luís no século XIX. (Dissertação de mestrado). São Luís,
UFMA, 2005. [Dissertação]
RIBEIRO, Jalila Ayoub Jorge. A desagregação
do sistema escravista no Maranhão (1850-1888).
São Luís, SIOGE, 1990. [Livro]
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. História da
família no Brasil Colonial. RJ: Nova Fronteira, 1998. [Livro]
SLENES, Robert, W. Na senzala uma flor:
esperanças e recordações na formação da família escrava – Brasil Sudeste,
século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. [Livro]
Olá, Raimundo. Parabéns pelo texto! A temática pela qual você se debruçou é importante sobretudo por desfazer estigmas que ora negaram a possibilidade de vínculos familiares entre escravizados, libertos, forros, livres e consequentemente diminuíam a agência histórica e política de sujeitos que ainda em condições de subalternidade agiram ativamente em contexto político adverso. Fiquei pensando: você trouxe referências fundamentais para o estudo da temática no XIX maranhense, mas e você, como pensa em seguir com o tema? Afunilando em alguma experiência ou ângulo desta temática que ainda não foi trabalhada? Pergunto isto pois notei que você é oitavo período e este momento é crucial para encontrarmos a tal pesquisa que nos acompanhará por um bom tempo.
ResponderExcluirCordialmente,
Graziella Fernanda Santos Queiroz
Boa tarde, senhora Graziella Fernanda Santos Queiroz. Agradeço pelas expressões. Realmente é muito interessante essa temática. Desde o segundo ano da graduação, eu desenvolvo pesquisas sobre famílias no Brasil durante a segunda metade do século XX a partir de um enfoque demográfico; e é nesse campo que se situa meu objeto de pesquisa na monografia. Inclusive, foi o gosto pelo estudo das famílias que me levou a investigar a existência de vínculos familiares entre os sujeitos escravizados no espaço-tempo tratado no ensaio. Apesar de não trabalhar com esse tema na monografia, tenho muita vontade de pesquisar sobre a matrifocalidade e a infância entre os escravizados no MA no século XVIII e XIX.
ExcluirPor: Raimundo Nonato Santos de Sousa
Prezado Raimundo Nonato,
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo desenvolvimento da pesquisa de uma temática tão cara a História do Brasil. Principalmente para a região Nordeste, ainda possuímos uma lacuna nos estudos sobre a formação de famílias formadas por escravizados.
Ao longo do texto você destaca a existência dos casamentos entre escravos com pessoas livres, libertas e forras. Gostaria de saber se há dados quantitativos para a Província do Maranhão que apontem esta diferença entre casamentos homogêneos (somente entre escravos) e heterogêneos.
Ao falar sobre as dificuldades que cercavam a legitimação do matrimônio dos escravos diante da Igreja Católica, destacas que uma das razões na luta dos mesmos pelo reconhecimento eclesiástico era a possibilidade de conseguir a liberdade por meio do Fundo de Emancipação. Gostaria que explicasse melhor esta questão, pois não fico muito clara. Apenas os escravos casados poderiam solicitar a liberdade através desse fundo? Quais eram os requisitos?
Por último, ao apresentar a sugestão de atividade sobre a temática com turmas do Ensino Médio, você propõe a produção de lapbooks. Não conheço este tipo de material, então gostaria de compreender o que ele é.
Desde já agradeço a atenção.
Clara Maria da Silva.
Clara Maria da Silva, bom dia. Obrigado pelas expressões. Em resposta a sua pergunta, as pesquisas sobre as formações familiares entre escravizados no MA ainda são incipientes. No entanto, nas pesquisas de Cristiane Jacinto e de Mariléia dos Santos Cruz, usadas como aportes teóricos no ensaio, é possível perceber indícios quantitativos sobre os casamentos entre escravizados.
ExcluirQuanto a sua segunda pergunta, é pensamento consensual entre as duas autoras que a aquisição de um casamento na Igreja poderia ajudar os escravizados a obterem a liberdade, através do Fundo de Emancipação, criado no ano de 1871. A lei que regulamentava o Fundo de Emancipação estabelecia que os indivíduos escravizados que tinham famílias - com ou sem filhos - teriam prioridade na obtenção da liberdade.
Sobre a sua terceira pergunta, lapbook é um recurso que auxilia a aprendizagem. Ele consiste em uma espécie de cartilha que pode ser feito com uma folha de cartolina ou papel 40. Dobrada ao meio, essa folha conterá no seu interior informações textuais e imagéticas sobre o assunto considerado na aula.
Por Raimundo Nonato Santos de Sousa