Brandon Lopes dos Anjos e Cyntia Simioni Franca


LEITURAS A CONTRAPELO DE CENAS PUBLICIZADAS EM NARRATIVAS SOBRE POVOS INDÍGENAS PRODUZIDAS PELO MUSEU DE CAMPO MOURÃO


Conhecendo o cenário
Compartilhamos uma experiência desenvolvida na disciplina de Metodologias no Ensino de História junto com alunos do 3º ano, do curso de História da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), no Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira, na cidade de Campo Mourão, situada no interior do Paraná. A atividade formativa no museu refletiu sobre a participação de indígenas na constituição do município e suas presenças e ausências no espaço museológico, o que nos levou a um questionamento sobre as lembranças e esquecimentos que permeiam as práticas de memórias no museu.

Os procedimentos teórico-metodológicos dessa atividade formativa se pautaram no diálogo entre os sujeitos – estudantes – e objeto – acervo museológico – (Thompson, 1981) no entrecruzamento de tempos e espaços (Benjamin, 1985). Durante a visita, estimulamos encontros singulares dos alunos com os objetos museológicos e algumas inquietações surgiram: Que noções de história e tempo percebemos nessa instituição? Que povos flagramos na história da formação do município de Campo Mourão? Quais memórias foram silenciadas e lembradas?

Com essas perguntas, colocávamos em movimento um exercício dialogal (Thomson, 1981) dos estudantes com o acervo museológico para percebermos como é tecida a narrativa do museu. A relação dos sujeitos com acervo deve ir além de uma relação naturalizada e neutra porque os “objetos são anteparos que enunciam histórias, mas também nos impedem de perceber as múltiplas articulações temporais e corpóreas da vida. Toda visão é constituída por alargamento de alguns horizontes e por anteparo de outros” (Pereira; Carvalho, 2010, p. 390). Isso porque, desde o princípio, o museu nasce de escolhas, de operação de exclusão, de esquecimento e de apagamento.

Baseado nas discussões de Knauss (2018) e Meneses (1985), é possível constatar diferentes propostas de instituição museológica: (I) “gabinete de curiosidades”, no qual os objetos são expostos para impressionar e maravilhar, com coleções elitistas e aristocráticas; (II) “vitrine” para expor o dito “progresso” – para quem? – do grupo estabelecido, expondo a conquista e a dominação sobre outras culturas; (III) “perpetuador” de uma história única, que busca criar uma unidade das memórias para a posteridade – como herança –, desprezando as especificidades dos grupos e silenciando suas narrativas; (IV) “hedonista”, cujas exposições buscam somente agradar ao público, com a missão de deleitar e cativar, sem levantar questionamentos e problematizações. Estes padrões se entrecruzam, produzindo museus que exibem um passado sem contradições históricas, como algo que já passou, acabado, que não se transforma, que não reflete os problemas sociais atuais. Desta maneira, esses espaços de memória e identidade perde sua pertinência e despertam a curiosidade de seus públicos.

Apesar de reconhecermos que essas concepções de museu ainda são presentes, a definição moderna de museus tem passado por transformações que trazem desafios de “manter sempre viva uma contribuição para a fisionomia cultural da região, em vez de inscrever seu projeto em uma arqueologia do colecionismo” (Poullot, 2013, p. 34). Nas palavras de Pomian (1984) os museus são instituições na modernidade que possibilitam estabelecer a relação entre o visível e o invisível.

Ao longo do século XX, o museu foi incorporando diferentes funções, desde a pesquisa à educação, que vão modificando as suas relações com os públicos. Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM, 2010, p. 1) traz uma visão ampliada do que significa essa instituição: “Os museus são casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos, pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons e formas. [...] são pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes. [...] são conceitos e práticas em metamorfose”.

Assim, podemos pensar na relação com os museus em diferentes vias, que se intercambiam, indo desde o colecionismo à abertura de leituras alegóricas; desde uma apresentação de fragmentos do passado a um convite à transgressão das narrativas apresentadas. É importante no ensino de história podermos dialogar com os museus empreendendo um olhar crítico e desnaturalizado de narrativas, ao mesmo tempo que acolhemos os fragmentos como potencialidades de construções de outras leituras possíveis.

Tendo em vista essas considerações, apresentaremos o Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira, com o qual interagimos nessa atividade formativa e detalharemos o movimento crítico e dialógico no qual se pautou nossa metodologia de trabalho. Essa instituição, que tematiza a história de Campo Mourão, foi inaugurada em 1984, sendo mantido pelo poder público municipal. Sua sede atual é composta de sete salas interligadas por um corredor. Uma sala é reservada para exposições temporárias, outra para atividades administrativas do próprio museu. As demais são salas temáticas – nomeadas pela instituição como “Acervo indígena”, “Pioneirismo”, “Educação e da Saúde”, “Comércio e da Religião” e “Evolução política”- reunindo um acervo composto por documentos audiovisuais, objetos de cultura material, obras de arte, entre outros, que foram adquiridos, em sua maioria, através de doações da comunidade.

Neste texto, nos restringiremos a analisar o vídeo institucional, que é apresentado aos visitantes como primeiro movimento da visita, e a sala dos artefatos indígenas nas quais problematizaremos a participação dos povos originários na construção da narrativa de uma memória municipal.

Cena 1 – O “mito fundador” das origens
Logo na chegada fomos direcionados pela responsável do acervo para assistir o documentário “Como surge uma cidade”, produzido em 1988 pela prefeitura municipal. Esse material apresentou o processo de fundação de Campo Mourão e seu dito(so) “ascendente progresso”. O vídeo apresentou uma história que enaltece a figura dos pioneiros, esses que “foram homens corajosos, os primeiros a chegar, trazendo famílias ou lembranças delas, [que] se deslumbra[ra]m com os campos plantados por Deus nessa terra de Santa Cruz” – como registrado em uma das placas, expostas na sala do acervo indígena –, silenciando as narrativas do nativos e daqueles que também vieram para o município como mão-de-obra, mas que não são reconhecidos, neste material, como construtores do município.

O documentário apresenta um vocabulário “rico” em palavras que enaltecem Campo Mourão e seus pioneiros – “indômita”, “notável progresso”, “célebre”, “pujante”, entre outros – e apresenta as dificuldades que esses primeiros habitantes enfrentaram ao chegar no território outrora denominado “Campos de Mourão”. A primeira frase já manifesta o teor de seu conteúdo: “A mata virgem, o emaranhado de galhos, a inospitalidade da floresta não é obstáculo para a indômita força realizadora do homem”. As imagens mostram árvores derrubadas e homens trabalhando, representando o pioneiro como um herói que teve a missão de vencer esse terreno dificultoso para “trazer a civilização”, sem conforto e “cheio de sacrifícios e privações”. Na continuação do vídeo são apresentadas as transformações pelas quais o município passou, em “um dinâmico ritmo de progresso”, graças a algumas famílias que trabalharam “em prol da grandeza e da prosperidade de Campo Mourão”, levando a pequena vila a se tornar “um grande centro econômico” (Lima, 2018).

No vídeo, a imagem da colonização de Campo Mourão está embasada em um ideal de “progresso”, em que se perpetua a memória coletiva de um grupo social em detrimento de outras memórias, de outros grupos da sociedade mourãoense (Halbwachs, 2013). Essa história épica das origens produz um “mito fundador” de Campo Mourão, uma “solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminhos para serem resolvidas no nível da realidade” (Chaui, 2010, p. 9). Deste modo, apaga a “mancha de sangue” que existe na fundação do município, que está alicerçada na exploração das classes baixas e na morte e expropriação dos povos nativos. A memória coletiva, nesse espaço museológico, age como um mecanismo de coesão social, assumindo seu caráter destruidor, uniformizador e opressor de diversas memórias subterrâneas (Pollak, 1989), visto que os povos indígenas – habitantes originários do território no qual o município está estabelecido – são apagados, como também silencia outros grupos que construíram e constroem a história do município.

No diálogo em sala de aula, intercambiamos as percepções de cada estudante durante a visita e como cada um se relacionou com os objetos a partir das suas experiências de vida. Foi possível percebemos que a narrativa do vídeo não é a única possível sobre a constituição do município, que o passado não está fechado, mas está latente à espera de que nós possamos (re)elaborar outras narrativas, trazendo à baila, como muitos estudantes destacaram, aqueles que foram esquecidos pela historiografia tradicional, como os negros, índios, mulheres, crianças, comunidades LGBT e outros. Além disso, compreendemos que o museu é lugar de trânsitos, deslocamentos em que aflora relações dialogais entre os sujeitos na experiência de aprender e perceber os enovelamentos temporais. (Pereira; Carvalho, 2010) com potencialidade de cada sujeito conhecer o outro e a si mesmo (Knauss, 2018; Rodrigues, 2013; Poulot, 2009).

Ao flagrarmos estes apagamentos das culturas dos indígenas, refletimos sobre outros grupos étnico-raciais presentes em Campo Mourão, no passado e no presente, mas considerando as múltiplas identidades constituídas nas tramas urbanas, a partir das (re)elaborações dos seus costumes e tradições, na relação com práticas conflituosas e tensas (Thompson, 1988).

Cena 2 – O apagamento da presença indígena na formação de Campo Mourão
Ao caminharmos pela sala do acervo dos artefatos indígenas, buscávamos ver o “outro” que foi deixado às margens no vídeo, ao mesmo tempo, procurávamos os rastros, os detalhes que expressassem a presença indígena na constituição do município. A sala possuía cinco quadros destinados a contar a história (I) da ocupação espanhola da Província del Guairá, a partir de 1492; (II) da fundação da comunidade Villa Rica del Espiritu Santu, onde, atualmente, está o município de Fênix, próximo a Campo Mourão; (III) da descoberta do território no qual está Campo Mourão, durante o governo provinciano de D. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão; (IV) de homenagem aos pioneiros e a família Pereira, que iniciou o deslocamento para os “Campos de Mourão”; (V) e da divisão entre as primeiras pessoas que lograram terras no município.

Ao analisar os quadros, compreendemos que a história do município foi inventada (Hobsbawm, 2006) a partir de grupos das elites, garantido seus status social, legitimando seu poder e construindo narrativas de “bravuras” dos primeiros colonizadores. A ideia é de que a chegada dos colonizadores em Campo Mourão ocorreu em um vazio demográfico, como se não houvesse a presença dos nativos, além de apresentar os ditos “pioneiros” como os únicos responsáveis pela constituição e “desenvolvimento” do município, desprezando a região que foi local de moradia da população indígena da etnia Kaigang (Onofre, 2005). A história é contada sem as contradições sociais, tensões e ausente de conflitos de terras entre os indígenas e colonizadores, apagando até mesmo as expulsões e mortes. Mais do que isso, quando refletirmos sobre esse passado narrado no museu, percebemos que ele ainda está presente, algo que pode ser observado nas atuais expulsões de indígenas e na proibição da venda de produtos, produzidos em suas comunidades, no município (Oliveira; Silva, 2018).

Os quadros que remetem às culturas indígenas não sobre seus saberes e fazeres, apresentam uma ideia simplista de que nessa região viviam Guaranis e Kaingangs, e a representação de um nativo nu de cor branca. Estes quadros estão ao lado de uma pele de onça, mas pelo teor do discurso, não seria de se espantar que fosse a pele de um nativo exposta. Tal como acontece com a história dos indígenas na América, o homem branco não reconhece tais povos como sujeitos da história, enxergam seus artefatos não como produções culturais, mas simplesmente folclore, e seus artesanatos são negados como obras de arte (Galeano, 1992).

Os artefatos indígenas que compõem a sala estão deslocados de seu contexto, carecem de suportes de informações, que possibilitem sua inscrição na narrativa constituída pelo museu. Da forma como estão colocados, os objetos indígenas são apagados, silenciados. Os “despojos de inúmeros vencidos e derrotados da história eram orgulhosamente, num gesto de arrogância e de afirmação do vencedor, expostos como testemunhas da derrota e do debacle sofridas pelos derrotados” (Albuquerque Junior, 2018, p. 137).

Fizemos alguns deslocamentos de sentidos ao nos relacionarmos com os objetos indígenas expostos nessa sala. Em busca dos vestígios indígenas, conversamos com a responsável sobre o acervo, principalmente, em relação aos artefatos que estavam com suas identificações ilegíveis e se eles pertenciam aos povos indígenas da região. Ela nos disse que uma parte dos objetos são fruto de doações de pessoas que estiveram em outros locais do país enquanto a outra veio de uma pesquisa sobre os caminhos de Peabiru, produzidas pela Universidade Estadual do Paraná, o que nos possibilitou perceber alguns vestígios dos povos indígenas na região.

Muitos fios foram puxados em sala de aula e articulados com possibilidades de práticas de ensino de história, entre eles: a)  que os problemas socioeconômicos, políticos e culturais dos povos indígenas no presente e no passado não foram contados, mas escamoteados, trazendo uma história da constituição do município ausente de conflitos e tensões; b) realizamos um exercício de rememoração, em busca das marcas dos povos indígenas no passado e no presente, no cenário urbano contemporâneo, acolhendo narrativas plurais.

Ao refletirmos sobre a presença e as ausências dos povos indígenas no presente e passado, em Campo Mourão, compreendemos que os objetos no museu não estão somente para conhecermos, mas, sobretudo, para desvendar os motivos que os engendraram, entendermos as relações de poder que estão imbricadas, atentando o que ainda do passado não foi realizado e está esperando uma leitura a contrapelo no presente (Benjamin, 1985).

Leituras a contrapelo no ensino de história
Durante a visita, fotografamos o acervo, fizemos anotações de campo e rodas de conversa, potencializando percepções plurais da formação do município, a partir das experiências de cada estudante na relação com o acervo, sobretudo, compreendendo o museu não como uma construção dada e naturalizada, mas percebendo-o dentro de um processo de engendramento histórico e cultural (Poullot, 2002). Por isso, refletimos sobre as relações entre as narrativas do museu e outras narrativas sobre a história e a memória de Campo Mourão, em busca da pluralização dos sentidos, inclusive relativos à temporalidade (Ramos, 2010; Cunha, 2011).

Quando retornamos para a sala de aula na universidade, fizemos partilha das experiências, escuta do outro e ficamos incomodados com as ausências flagradas no vídeo e no museu. Até que ponto essas ausências se perpetuam em outras esferas? Como podemos nas práticas de ensino de história agir a contrapelo de forma a superá-las?

Inspiramos as leituras a contrapelo no ensino de história, a partir das palavras de Manoel Luiz Salgado Guimarães (2009, p. 50), “atemorizados por uma barbárie cada vez mais presente em nossos cotidianos, repensar a história e seu ensino pode nos ajudar a refazer nossa humanidade esgarçada, tornando o passado não o lugar seguro para as respostas que nos angustiam, mas a fonte [...] para a nossa ação no mundo”, pois, ao dialogamos em sala sobre a nossa experiência no museu na relação com o cenário urbano no presente, vieram à tona narrativas dos estudantes sobre a presença e ausência dos povos indígenas carregadas de imagens do passado presente.

Os estudantes contaram que no dia 29 de abril de 2018, “Dia do Índio”, a prefeitura aproveitou a saída dos indígenas Kaigang para a sua aldeia que fica nas proximidades da região e “higienizaram” o terreno que eles utilizavam como acampamento permanente no centro do município, além de cortar árvores que estruturavam as suas barracas e retiraram todos os seus vestígios do local. Tais povos foram expulsos, pois ao retornarem a Campo Mourão, não encontraram seus pertences em seu lugar de moradia. O fato é endossado também por parte dos moradores vizinhos do local do acampamento que reclamavam do “lixo acumulado pelos indígenas, devido à falta de infraestrutura básica como banheiros e esgoto, [que] havia tornado a área intransitável” (Oliveira; Silva, 2018, p. 262).

Ao rememorarmos esse acontecimento em sala, o passado foi trazido como algo vivo no presente e questionamos as relações sociais na modernidade, em uma busca aos rumos a serem construídos no futuro (Galzerani, 2008). Nos inspiramos na perspectiva benjaminiana de rememoração, compreendida como ato político que não remete à restauração do passado, mas a uma transformação do presente. O passado, para ser salvo, precisa ser arrancado do fluxo cronológico do tempo para emergir outras possibilidades de futuro, com horizontes mais abertos e significativos para a coletividade. Benjamin (1985) em suas produções filosófica nos convida a romper com o passado imutável e que continua a perdurar no presente provocando abalo nas relações humanas, sociais e culturais.

A acepção de história benjaminiana assume a perspectiva de uma narrativa aberta que não encerra o passado numa única versão, mas possui potencialidades de mudanças no tempo do agora. Acreditamos que, a partir dos referenciais teóricos-metodológicos construídos no diálogo com outra concepção de tempo e práticas de memórias, podemos trazer novas perspectivas no ensino da história que abarca as dimensões pessoais e coletivas (Galzerani, 2008). Assim, para problematizar as narrativas museais no ensino de história, é preciso olhar para o progresso e seus discursos legitimadores na tensão com narrativas a contrapelo para que os estudantes sejam capazes de dialogar sobre o tempo em que vivem, a partir de suas experiências e entender que o passado pode ser diferente do que foi ao atuarmos ativamente no presente.

Ao mesmo tempo, é preciso apostar em outras possibilidades inventivas que esses fragmentos do passado nos oferecem, escavando a história a contrapelo. Podemos olhar para a história excludente, a partir da visita ao Museu, tensionando as narrativas, nos apropriando dos fragmentos expostos para vislumbrar outros passados e presentes, na relação com as experiências dos estudantes.

Nesse sentido, endossamos a importância de nos relacionarmos no ato de produção de conhecimentos históricos a partir de nossas experiências, em práticas de rememoração, numa perspectiva benjaminiana, em que assume uma dimensão política, com potencialidades de questionamento das relações e sensibilidades na articulação entre o presente e passado, bem como na busca da construção de uma sociedade mais inclusiva, democrática e igualitária em Campo Mourão.

Por fim, os exercícios reflexivos e dialogais colocados em ação nessa experiência formativa possibilitou compreender os “motivos, os consensos e os dissensos, que algumas narrativas foram “silenciadas e preteridas em seu contexto” (Pereira; Carvalho, 2010, p. 394) bem como produziram leituras plurais que trouxeram à tona os marginalizados na sociedade – mulheres, crianças, negros, índios e outros. Pudemos compreender que visitar o museu é uma possibilidade de tocar e ser tocado pelos objetos. Ao mesmo tempo ele nos possibilita nos constituirmos no diálogo com uma diversidade de culturas que formam a população mourãoense. É preciso tocar a história e ser tocado para que ela deixe de ser a narrativa da poderosa elite e se torne, realmente, a história de todos aqueles que constituíram e constituem esse “pujante município”.

Referências
Brandon Lopes dos Anjos é graduando em História pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Atualmente é Bolsista de Iniciação Científica (CNPq) e membro do Grupo de Pesquisa Cultura e Relações de Poder, da Universidade Estadual do Paraná. E-mail: brandon.njos@gmail.com
Cyntia Siomioni França é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é docente no Programas de Pós-Graduação em História Pública (PPGHP) e Profissional em Ensino de História (ProfHistória) na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). E-mail: cyntiasimioni@yahoo.com.br.

ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A Melancolia dos objetos: algumas reflexões em torno do tema patrimônio histórico e cultural. In: BAUER, Letícia; BORGES, Viviane Trindade. História oral e patrimônio cultural: potencialidades e transformações. São Paulo: Letra e Voz, 2018, p. 137-163.
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4 comentários:

  1. Bom dia Brandon e Cyntia, primeiramente parabéns pela atividade realizada no Museu de Campo Mourão e as reflexões feitas. No texto de vocês ficou claro o apagamento da presença indígena na formação da cidade, enaltecendo apenas a figura dos pioneiros. Como vocês colocaram, é necessário refletir sobre as presenças e ausências no espaço museológico, no caso presente, a participação indígena. Vocês acreditam que esse apagamento de uma parte da história da cidade interfere na forma como os moradores se identificam, ou a forma como eles se colocam perante a sua própria história?
    Muito obrigada.

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    1. Boa noite, Ana! Como vai? Ficamos felizes com sua participação nesse importante debate.
      Sobre sua questão, esses apagamentos interferem na forma como os munícipes percebem sua história. A narrativa oficial enfatiza e romantiza a participação dos pioneiros, enquanto exclui a narrativa de outros grupos, entre eles os indígenas. Deste modo, os munícipes veem os nativos como povos que não participaram da constituição histórica do município, distantes, uma imagem marcada por esteriótipos. Ainda, quando entram em contato com essas etnias, o preconceito e a discriminação se tornam evidentes, marcados por solicitações para que a prefeitura expulsem seus acampamentos e proíba a venda de seus artefatos.
      Assim, além dos perigos da manutenção de uma narrativa oficial excludente, que exclui a participação e a desapropriação dos indígenas, esses apagamentos se manifestam na descriminação dos mourãoenses.

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  2. Marli Batista Basseto20 de maio de 2020 às 20:13

    Boa noite Brandon e Cyntia. Parabéns pela disposição em sair da universidade e produzir conhecimento em espaços outros como o museu! E a partir dessa experiência questionar a história maquiada sobre a formação da cidade na exclusão da população indígena, que foi jogada no silenciamento de uma das salas do museu. Diante desse contexto, houve por parte da instituição uma abertura para resignificar a narrativa produzida neste espaço? Ou qual outra proposta para superar essas ausências que nos foram apresentadas?

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  3. Olá, querida Marli!
    Obrigada pela leitura e questionamento.
    Foi uma experiência muito interessante no museu.
    Por parte da "guia" do museu não tivemos nenhuma ressignificação dos artefatos culturais indígenas. O que fizemos depois em sala de aula foi pensar na possibilidade de nos relacionarmos com os museus em diferentes vias, entre elas, estimulando à abertura de leituras alegóricas dos artefatos culturais indígenas, instigando os alunos construírem narrativas transgressoras em relação as que foram produzidas pelo museu. Como destaquei no texto, é importante no ensino de história dialogarmos com os museus empreendendo um olhar crítico e desnaturalizado de narrativas oficiais, ao mesmo tempo, acolhermos os fragmentos do passado como potencialidades de construções de leituras plurais.
    Abraço! Cyntia Simioni França

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