Ana Flávia Crispim Lima e Luan Frederico Paiva da Silva


O DESAFIO DO ENSINO DA HISTÓRIA SOBRE OS POVOS INDÍGENAS


Introdução
Em 10 de março de 2008, foi aprovada a Lei 11.645, que modificou as diretrizes e bases da educação nacional, tornando obrigatório no currículo oficial da rede de ensino a temática da “História e cultura indígena”. Isso implica na necessidade de abordar a temática em questão no ensino de todas as disciplinas do currículo da educação básica. Desde então, os professores, principalmente os das Ciências Humanas, sendo responsáveis pela escolha e manuseio do material a ser trabalhado, deveriam inserir essas temáticas em sala de aula. Surge aí, inúmeras indagações, que giram em torno de como proceder.

Luciana da Silva analisa a aprendizagem histórica a partir dos contextos educacionais indígenas (Javaé) e não indígenas, e identifica a sensação de que “o indígena tem que aprender a dialogar com os saberes de matriz ocidental enquanto os não indígenas devem se limitar a desenvolver uma imagem positiva, não racista, dos negros e indígenas [Silva, 2019, p. 15]”. Ou seja, os índios têm o dever de aprender os saberes dos não-indígenas, mas o oposto não está sendo feito. Esses pressupostos vieram desde o processo de invasão dos europeus no continente que hoje chamamos de América, no qual a Europa se auto classificou como superior e tomou para si o “árduo trabalho de civilizar o mundo” [PIN, 2016, p. 19].

A negação do “outro” é necessário para se reafirmar [CANDAU, 2002]. Sendo assim, a percepção dos povos indígenas como bárbaro é uma característica constitutiva da sociedade europeia, e da filosofia hegeliana, onde estes foram e ainda são representadas como sociedades na infância, cujo ápice do desenvolvimento estaria na Europa, tornando inviável aprender algum conhecimento fora desse ambiente. Walter Mignolo [1998] nos mostra que os europeus subordinaram o registro da História na tentativa de construir a “modernidade”, que desconsiderou a importância das histórias locais e as subordinou a história universal do ocidente. Karla Souza chama a atenção de nós professores, sugerindo que a “perspectiva eurocêntrica e evolucionista perpetuada nos currículos escolares deve ser problematizada, abrindo espaço para outras narrativas que representam outros povos” [SOUZA, 2019, p. 18].

Partindo dos pressupostos desses autores, essa análise defende a construção de uma aprendizagem histórica intercultural que traga a complexidade e as variedades epistêmicas que fogem dos padrões eleitos de sociedade desenvolvida, progresso e civilização, advindas com a colonização europeia. Por isso, buscamos contribuir com indagações que permitam, ainda mais, o desocultamento de narrativas outras, aquelas até então encobertas pela colonialidade, isto é, a continuidade da sujeição dos povos das terras que foram colonizadas as “grandes potências”, para que tenhamos não apenas uma versão dos acontecimentos históricos, mas sim, das várias existentes.
Por isso, a proposta desta narrativa consiste em indicar alguns direcionamentos sobre como nós professores podemos abordar a história sobre as populações nativas do Brasil, antes e depois do processo de invasão dos europeus, direções estas que partem de epistemologias do Sul global. Vale ressaltar que essa pesquisa consiste na visão de dois acadêmicos não indígenas, por isso utilizamos o título “sobre os povos indígenas” e não “dos povos indígenas”, pois acreditamos que a história desses povos deve ser contada, prioritariamente, por eles mesmos. Logo a nossa “versão da história” não consegue abranger todas as suas especificidades, mas não nos isenta de aceitar o desafio.

Sendo assim, traremos resultados de uma pesquisa documental feita a partir do referencial teórico do grupo modernidade/colonialidade/
decolonialidade, que nos possibilita uma visão crítica à invisibilização dos indígenas e a valorização de seus saberes e de suas falas. Desse modo, o que por vezes foi ignorado na disciplina de História, passa a ser considerado.

“Dando voz aos indígenas”
Uma das principais discussões acerca dessa temática, seria o de “como dar voz aos indígenas?”. Para isso, acreditamos que sua efetivação deve ser feita por meio da oportunização de momentos em que os indígenas possam contar as suas histórias, podendo ser feita de diversas maneiras. Uma delas, talvez a mais interessante e a mais difícil de ser realizada, seria levar os estudantes para conhecer uma comunidade indígena para analisarem o espaço a partir de alguns direcionamentos programados pelos professores: Como vivem? Quais são as suas atuais dificuldades de subsistência? Como eles compreendem a si mesmos e os não-indígenas? Podem servir para ilustrar os possíveis encaminhamentos.

De acordo com os dados da Fundação Nacional do Índio [FUNAI], em todos os Estados federativos do Brasil existem povos indígenas, o que sugere que talvez esse desafio possa ser concretizado. Para os residentes no Estado de Goiás, essa questão pode ser resolvida de maneira prática, pois, a Universidade Federal de Goiás [UFG] fornece um curso de Educação Intercultural, que é voltado para a formação de professores indígenas.

Volta-se para a realidade dos povos indígenas provenientes dos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Minas Gerais, abarcando estudantes de 27 distintas etnias: Apinajé, Bororo, Gavião, Guajajara, Ikpeng, Javaé, Juruna, Kalapalo, Kamaiurá, Kanela, Kanela-Araguaia, Karajá, Karajá-Xambioá, Kayabi, Krahô, Krikati, Kuikuro, Mehinako, Metuktire, Tapirapé, Tapuio, Timbira, Xakriabá, Xavante, Xerente, Waura, Yawalapiti. Outra alternativa seria oportunizar momentos em que índios possam relatar suas experiências no ambiente escolar dos não-indígenas. A oralidade tem provado ser um instrumento eficaz na trajetória e sobrevivência desses povos, como defende Boaventura de Sousa Santos [2019], afinal, quem melhor do que o próprio agente para contar sua história?
Também dispomos dos saberes de Ailton Alves Lacerda Krenak, um líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro. Nascido em 1953, em Minas Gerais, pertence a etnia indígena crenaque. Possui livros e diversas entrevistas disponíveis na internet, no qual expõe suas lutas em prol do movimento indígena brasileiro em busca de sua emancipação e mostrando como deveríamos proteger a natureza para “adiar o fim do mundo”.

Uma das ideias de Krenak, é de que o desenvolvimento, no sentido tecnológico, científico e econômico, não tem nada a ver com civilização, como comumente é defendido pela população não-indígena:

“Pode ser um bando de assaltantes e delinquentes que se mutilam e desenvolvem uma experiência tecnológica, científica e econômica - um desenvolvimento fantástico - mas eles não estão construindo uma sabedoria, um acervo de conhecimentos, de cultura. Os três pilares da aventura ocidental, desenvolvimento, tecnologia, progresso, não tem nada a ver com qualidade de vida, com a nossa felicidade, estabilidade e equilíbrio. A nossa Mãe Terra não tem nada a ver com essas bobagens. Separar a terra em primeiro e terceiro mundo é outra bobagem. Isso tem a ver com o gerenciamento imobiliário. Isso não tem a ver com a vida do nosso planeta” [KRENAK, 2019, p. 27].

Para Marcia Nunes Maciel, pertencente ao povo Mura, da Amazônia, esse desenvolvimento dos não indígenas é entendido como uma catástrofe social:

“Essa Amazônia urbana, que constrói uma cartografia oficial em cima de territórios indígenas e oculta a presença indígena na cidade, que ainda em nossos dias demole os modos de vida amazônicos para em cima construir novos espaços e modos de vida do dito modelo de desenvolvimento que representa desestruturação e morte para quem vive ou vivia do seu próprio modo sustentável. E apesar de toda política desenvolvimentista e embranquecedora, antigos e novos espaços da cultura local se mantêm como resistência. (MACIEL, 2016, p. 24)

Outro indígena que busca ter voz perante a sociedade brasileira é Davi Kopenawa Yanomami, um escritor, xamã e líder político yanomami. Atualmente, é presidente da Hutukara Associação Yanomami, uma entidade indígena de ajuda mútua e etnodesenvolvimento. Além do seu livro “A queda do Céu: Palavras de um xamã yanomami”, possui, assim como Krenak, diversas entrevistas disponíveis na rede online.

O livro foi:

“narrado por um indígena yanomami e escrito por um antropólogo francês. Esse experimento literário nasce da iniciativa de Kopenawa, um ser de fronteira que fala desde a ferida colonial. A sua dor e ressentimento foram reverberadas em uma tomada de consciência em relação à subalternização do conhecimento de seu povo e dos mecanismos de violência sentidos por eles. Assim, o xamã yanomami se utiliza da escrita, do instrumento do colonizador de forma inversa, ou seja, não se deixa seduzir pela escrita, mas percebe que, ao se apropriar dessa ferramenta, os não indígenas poderão acessar a história e os problemas vivenciados por seu povo e aí talvez possam compreender e respeitar os saberes dos povos da floresta [SOUZA, 2019, p. 161]”.

Caso haja recursos audiovisuais disponíveis nas instituições escolares, os profissionais do ensino podem fazer o download de entrevistas dessas lideranças indígenas e utilizar em aulas a partir de recortes que possibilitem aos estudantes, um diálogo simétrico entre essas realidades.

O Brasil antes dos brasileiros
Outra pergunta em relação a essa discussão se insere no anseio por dados que caracterizam os territórios em que vivemos, hoje chamado de Brasil, antes do período da invasão portuguesa. Essas pretensões podem ser resolvidas com a contribuição de pesquisas feitas pelos arqueólogos, como a obra de André Prous, O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país. Essa obra nos ensina que a humanidade penetrou na América em algum momento do Pleistoceno final [o Pleistoceno é o período geológico que se estende entre 2.000.000 e 10.000 anos, ao qual sucede o período atual, o Holoceno]. Para esse pesquisador, as sociedades indígenas estavam implantadas no Brasil há mais de 12.000 anos.

Já o etnólogo Curt Nimuendaju [1993] assinalou no seu mapa etno-histórico a existência de cerca de 1.400 povos indígenas no território que correspondia ao Brasil antes da invasão portuguesa, feito após o Tratado de Tordesilhas. O autor ainda menciona as famílias linguísticas destes povos, como o tupi-guarani, jê, karib, aruák, xirianá, tucano, dentre outras – com diversidades geográficas e de organizações sociais.

Trabalhos Acadêmicos
A partir de uma pesquisa bibliográfica que foi realizada no Banco de Monografias, Dissertações e Teses, da Faculdade de História e no Programa de Pós-Graduação em História da UFG, entre 1991 e 2019, dispomos de 26 pesquisas, cuja temática central é voltada para a história sobre os povos indígenas em territórios brasileiros. A maioria dos trabalhos estão disponíveis nas plataformas online, ou podem ser consultadas no acervo físico da universidade. Ou seja, aqui temos mais um recurso que pode servir para os docentes que ainda desconhecem o assunto e estão procurando materiais para preparar suas aulas.

Os trabalhos se destacam por “dar voz” aos indígenas, além da pesquisa nas fontes, os acadêmicos se preocuparam em trazer a narrativa oral deles para trazer seus relatos acerca do período estudado. Além disso, enfatizam a resistência desses povos desde o período colonial, conteúdo que raramente aparece nos livros didáticos. Esses dados nos mostram que o protagonismo indígena, infelizmente, não ocorreu no sentido de controle ou domínio da situação, mas no contexto da dominação e violência, encontrando maneiras de resistir, existir, atuar, promover agenciamentos e, garantir assim alguma margem para negociações ou, até mesmo, da resistência aberta [NASCIMENTO, 2019].

Além de todas essas contribuições, algumas dessas pesquisas trazem orientações valiosas sobre como os povos indígenas atuavam durante toda a História do Brasil:

“Visto que nos manuais didáticos de história há um notório silêncio acerca de variados contextos que envolvem as relações entre indígenas e não indígenas na história do Brasil, destacaremos aqui alguns temas: formação, ideais e conquistas dos movimentos indígenas; os indígenas no contexto da ditadura militar; o confrontamento da “Belle Époque” com as experiências traumáticas dos povos indígenas do Acre; a leitura indígena do branco e de seus ideais de civilização; autoria indígena e educação intercultural [SILVA, 2019, p. 204]”.

Seguindo o calendário de datas comemorativas, temos o dia 19 de abril em que é comemorado o “dia do índio”. Em sua dissertação de Mestrado, Lukas Borges critica a forma que esse dia é celebrado nas escolas:

“São situações que causam mais entretenimento do que algum conhecimento significante sobre a diversidade cultural destes povos, além dos estereótipos que parecem ser a principal atração: os alunos se vestem com fantasias de índios, usando cocares, pinturas corporais e simulando danças “ritualísticas” que pouco ou nenhum significado têm para os alunos que a praticam, ou, para dizer de outro modo, consiste em uma prática reducionista, pouco ou nada condizente com alguma cultura indígena [BORGES, 2016, p. 94]”.

Para fazer diferente, propõe algumas sugestões, como o uso de desenhos animados, que não precisam, necessariamente, ser abordados somente no “dia do índio”, mas também no cotidiano das aulas. Segundo ele, os desenhos:

“podem ser usados como ferramentas para desconstruir e simultaneamente demonstrar aos alunos, como os desenhos que eles assistem portam estereótipos, por outras palavras, consiste em se apropriar dos mesmos dispositivos que veiculam os preconceitos e usá-los contra eles próprios [BORGES, 2016, p. 157]”.

Por fim, esperamos que este breve trabalho traga algumas contribuições para refletirmos e ampliarmos nossas discussões sobre a necessidade de abordar a história indígena com outras perspectivas, no atual contexto social e político, em que os debates sobre intolerância, racismo, preconceito e etnocentrismo se tornaram uma das principais pautas de discussões, presentes tanto na educação escolar, quanto no ambiente extraclasse.

Verificar as diferentes formas de narrar o “ser” e “estar” no mundo é importante para então pensarmos uma aprendizagem histórica intercultural que reconheça/amplie os limites de nossas orientações conceituais e trate a diversidade de forma mais contundente que os atuais discursos, que ainda estão baseados no reconhecimento da diferença, a partir de uma visão indiferente e orientada pelos princípios ocidentais.

Vale enfatizar que entendemos que as realidades das instituições muitas vezes inviabiliza a realização dessas sugestões, assim como da sobrecarga de trabalho dos professores e o desinteresse dos estudantes, mas acreditamos que, na medida do possível, podemos almejar um ensino de qualidade,  contribuindo na formação do sujeito para aprender viver em sociedade, conhecendo e respeitando as diversidades culturais.   

Referências
Luan Frederico Paiva da Silva, possui graduação em História, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Atualmente faz uma especialização em História e Cultura, e o Mestrado em História, ambos na Universidade Federal de Goiás.

BORGES, Lukas Magno. As representações sobre os índigenas nas escolas públicas de Ceres: Colonialismo e Colonialidade (2010-2015). 2016. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade, cotidiano escolar e cultura(s): Uma aproximação. Educação e sociedade, ano XXIII , vol.23, n.79, p. 125 161, Agosto. 2002.
Educação Intercultural. Dispinível em: https://intercultural.letras.ufg.br/ . Acesso em: 10/04/2020.
Fundação Nacional do Índio. Disponível em: www.funai.gov.br . Acesso em: 10/04/2020.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. Tradução Beatriz Perrone-Moisés; prefácio de Eduardo Viveiros de Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
KRENAK, Ailton. Antes, o mundo não existia In: NOVAES, Adauto (org.). Tempo e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
KRENAK, Ailton. O eterno retorno do reencontro. In: A outra margem do Ocidente. Organização Adauto Novaes. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
KRENAK, Ailton. Estratos do tempo. Estudos sobre história. Tradução: Marcos Hediger. Contraponto/Ed. PUC- Rio, 2014.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
MACIEL, Marcia Nunes. Tecendo Tradições Indígenas. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2016.
MIGNOLO, Walter. Postoccidentalismo: el argument desde América latina. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; MENDIETA, E. (orgs.). Teorías sin dicsiplina (latinoamericanismo, poscolonialidad y globalización em debate). México: Miguel Ángel Porrúa, 1998.
NASCIMENTO, Patrícia Emanuelle. Protagonismo indígena na capitania de Goiás e suas estratégias e atuações frente às políticas indigenistas no século XVIII. 2019. 268 folhas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
NIMUENDAJÚ, Curt. Etnografia e Indigenismo: Sobre os Kaingang, os Ofaié-xavante e os Índios do Pará. Campinas: Unicamp, 1993.
PIN, André Egídio. História sobre o povo Javaé (Iny) e sua relação com as políticas indigenistas: da colonização ao Estado brasileiro (1775-1960). 2014. 161 folhas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
SILVA, Luciana Leite da. Aprendizagem histórica intercultural a partir dos contextos educacionais indígenas e não indígenas. 2019. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História - Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. 1ª ed. Autêntica Editora: Belo Horizonte, 2019.
SOUZA, Karla Alessandra Alves de. “A queda do céu”: o pensar decolonial na obra de Kopenawa Yanomami (1990-2015). 2009. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Goiás. Goiânia.

18 comentários:

  1. Olá, primeiramente gostaria de te parabenizar por levantar a questão indigena, que é tao importante e atual! A partir da leitura de suas sugestões referente a abordagem de como se trabalhar a história indígena, gostaria de saber se voce considera eficiente o desenvolvimento desse conteúdo a partir da cultura material, pensando em uma aula ou atividade voltada para a educação basica.
    Gabrielle Legnaghi de Almeida

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    1. Ana Flávia Crispim Lima20 de maio de 2020 às 15:36

      Olá Gabrielle, acredito ser muito eficiente a utilização de objetos feitos pelos indígenas na realização das aulas. É prático e facilita a exposição na aula, visto que nós professores dispomos, cada vez mais, de pouco tempo para trabalhar uma temática. Uma sugestão seria de utilizar objetos que talvez possam ser comuns nas moradias dos estudantes, como a cesta de cipó, a rede feita de fibra vegetal ou de vasilhas de barro ou cerâmica, buscando mostrar a presença de heranças culturais das populações nativas.

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  2. olá ,partindo do pensamento do seu texto de que " o dia do índio" é comemorado nas escolas ainda de forma cheia de estereótipos , pode-se dizer que no Brasil ainda se ensina uma história indígena baseada sobre uma visão eurocêntrica ?

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    1. Ana Flávia Crispim Lima20 de maio de 2020 às 15:44

      Olá Igor, buscamos trazer em nosso texto que ainda temos uma visão eurocêntrica presente em nossa historiografia brasileira, que colabora de forma negativa, na relação das pessoas não indígenas com os povos nativos das terras que hoje habitamos. Acreditamos que nós professores podemos colaborar com a desconstrução desses estereótipos, tanto no campo teórico, quanto na vida prática dos estudantes.

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  3. olá ,partindo do pensamento do seu texto de que " o dia do índio" é comemorado nas escolas ainda de forma cheia de estereótipos , pode-se dizer que no Brasil ainda se ensina uma história indígena baseada sobre uma visão eurocêntrica ?
    IGOR MOREIRA AZEVEDO

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. caros autores Ana Flávia e Frederico.
    Obrigada pelo compartilhamento de ideias e referências.
    Minha pergunta é: como vocês pensam no currículo e na organização do material didática no ensino de história da educação básica atual na perspectiva da educação indígena nas escolas regulares?
    Abraços!

    Anna Luiza Portugal Pereira Gomes

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    1. Boa noite. Agradecemos sua pergunta. É importante ressaltar que na condição de não-indígenas, ainda somos muito deficientes em relação as cosmovisões dos povos nativos da região brasileira. Apontar um caminho fechado para a construção de um currículo base seria muita ousadia de nossa parte, o que nos leva a no máximo algumas sugestões. Para pensar um currículo fora da hegemonia da tradição ocidental, o mínimo que se deve esperar, é a participação de "grandes sábios" que representem as epistemologias do Sul. O que eles acham que é importante que os não-indígenas devem saber sobre eles? Os passos seguintes podem ser definidos após essas discussão.

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  6. Muito plausível todas informações contida no texto, e de grande enriquecimento para nós. Contudo, como podemos mudar este tipo de comemoração de entretenimento que se faz no dia do índio ? E de fato é preciso que se ensine a verdadeira história do índio, não somente o que comem e como se vestem. É preciso relatos contados por eles e não somente por uma visão eurocêntrica. Como sua cultura, suas conquistas, a escravidão que sofreram, suas línguas, e que vem perdendo suas terras como aconteceu quando chegaram os europeu e apropriaram de suas terras. Concluindo e preciso que as escolas continue a ensinar sobre diversidade e respeito ao próximo.

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  7. Boa noite professores, parabéns pelo trabalho de vocês! No texto,vocês citam como uma das sugestões,o uso de alguMS textos feitos por professores sobre os povos indígenas né, e, lembrando aqui, que na graduação a gente encontra e estuda vários textos de autores que discutem essa questão do povo indígena e que são bem interessantes, trazem uma forma diferente de enxergar o indígena, vocês acham que, o professor trazendo esses textos na escrita adequada para a série que ele trabalha, seria uma ótima ferramenta para auxiliá-lo no conteúdo?

    Atenciosamente, Tamara Fernanda Mendes da Silva

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    1. Boa noite Tamara Fernanda. Em relação as suas colocações, acreditamos que mais importante que trabalhar textos que discutem os povos indígenas, é evidenciar para os alunos o local de fala dos autores destes textos e o desenvolver do "fazer" desse autor. Como ele constrói a narrativa sobre os povos indígenas? Por que não é o próprio indígena que conta sua história? Na universidade não ocorre o mesmo em nossas graduações? Nesse sentido, não basta usar textos "sobre o assunto", mas textos que foram construídos a partir daquilo que se estuda. Um texto genial que aborda esse problema é "Hacer decolonial" de Ortiz Ocaña que é de fácil acesso na Internet. Recomento sua leitura para uma boa instrumentalização que lhe permitirá fazer uma boa seleção dos textos em que deverá usar em sala de aula.

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  8. Cara professora Ana Flávia, sou graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz e devo começar parabenizando pela presença de referencial teórico indígena em seu trabalho. É muito comum em nossa vivência acadêmica nos depararmos com trabalhos "indigenistas" que não contam com a presença de vozes indígenas através das referências.
    Minha pergunta é: que desafios a senhora enxerga para a construção de um conhecimento,uma epistemologia do sul como chama o Boaventura de Sousa Santos, que difere do modelo eurocentrado?

    Afonso Guilherme Martins Bitencourt

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    1. Ana Flávia Crispim Lima22 de maio de 2020 às 07:19

      Olá Afonso. Agradeço pelo comentário. Tenho contato com os escritos de Boaventura Santos há alguns anos, e por mais que ele esteja falando de um ponto de vista vindo da Europa, sem dúvida, ele colabora muito com o incentivo a construção de uma ecologia de saberes. Ainda encontro muitas dificuldades para tal abordagem, a principal consiste em tentar convencer os colegas da área sobre essa importância, visto que a nossa formação ainda é centrada na História da perspectiva europeia.
      Por outro lado, vejo que a tentativa de construir um diálogo norte-sul e do sul-sul está crescendo muito na América Latina e penso que é uma motivação para continuar tentando alcançar a teoria científica e a prática das pessoas.

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  9. Primeiramente parabenizo pelo texto, leitura enriquecedora. Sabe-se que a forma que os alunos eram incentivados a ver a História se transformou. Antes a mesma pautava-se apenas em grandes feitos, grandes nomes, em um cenário político, evidenciada em uma historiografia simplificada, não havia uma preocupação com as particularidades. Esta, buscava instigar nos alunos o amor por seu país, embora hoje isso ainda aconteça é feito de uma forma que também leve em conta outras culturas e a forma de vida de cada um, antes se buscava homogeneizar, hoje a diversidade é valorizada, embora alguns valores são vistos como importantes para todos então deve-se buscar que todos tenham acesso a eles. Minha pergunta é voltada a metodologia, visto que a forma como os professores trabalham com os alunos é crucial para o processo de aprendizagem. Como nós professores podemos trazer a particularidade que é história indígena dentro da sala de aula, tornando os nativos enquanto sujeitos históricos e não coadjuvantes da história do Brasil (como vem sendo tratado na maioria dos livros didáticos)? E em relação ao dia do índio, parece até um premio de consolação, os brancos chegam as terras nativas, roubam em todas suas instâncias e depois são os beneficiados de todo o processo de colonização, como superar isso? Como desconstruir isso em sala de aula?

    ANTÔNIA NATÁLIA DE SOUSA ARRAIS
    GRADUANDA EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI/CSHNB

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    1. Luan Frederico Paiva da Silva

      Agradeço as considerações e a pergunta. Após debater os problemas por você apontados com Ana Flávia, chegamos a algumas conclusões. Primeiro: o ensino da História indígena nos livros didáticos é, e ainda continuará sendo por muitos anos eurocêntrico. Enquanto a narrativa historiográfica for construída a partir de categorias das epistemologias do Norte, esse desfecho será inevitável. Segundo: para conseguir subverter essa lógica, mais do que a participação dos próprios indígenas nas aulas, precisamos auxiliá-los a chegarem na condição de produtores dos próprios livros, ou ao menos, de co-autores, em vista que a proposta não é sobrepor uma cultura sobre a outra, mas sim, concretizar um diálogo simétrico entre o Norte e Sul globais. Na condição de participantes ou autores desses livros, poderão inserir as categorias de suas cosmovisões. Caberá ao professor de História, na condição de não-indígena (situação em que os autores desse texto se encontram) conseguir realizar a tradução intercultural dessas cosmovisões para os estudantes.

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  10. Olá, bom dia! Parabéns pela proposta de vocês, leitura bastante interessante e enriquecedora. Mas percebo que, desde a promulgação das Leis 10.639 e 11.645, os debates em relação a essas temáticas têm sido desenvolvido, mas por que ainda existem bem mais pesquisas em relação as relações étnicas, do que da indígena? Seria por porque a cultura afro foi uma temática que se tornou obrigatória anteriormente?

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