O ENSINO DA HISTÓRIA DA
(I)MIGRAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: PONDERAÇÕES ACERCA DA
IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR AS ETNICIDADES NO CURRÍCULO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS
Durante a segunda metade do século XX, o
surgimento de novas correntes historiográficas possibilitou a escrita da
história do homem ordinário. Ao considerar o homem comum, essa perspectiva
desviou o olhar do historiador dos grandes feitos, dos “heróis” da política ou
da economia, lançando-se na variedade de homens. Nesta viragem, incluíram-se
análises das relações sociais e, sobretudo, da cultura das sociedades e
populações até então marginalizadas pelo campo da História. Isso possibilitou o
surgimento de novas temáticas, novos problemas e objetos, bem como, o
aparecimento de novas perspectivas e metodologias para se produzir o
conhecimento histórico. O mesmo se estendeu para o ensino da História, que
passou a ser constituído em meio ao desafio de despertar no educando a
capacidade crítica da realidade, bem como, a consciência do protagonismo individual
e coletivo dos sujeitos em sociedade.
O presente texto busca apresentar uma
proposição curricular que incorpore o conteúdo História da (I)migração, tendo
como exemplo a abordagem que compõe o currículo de História da rede municipal
de ensino de Colombo, cidade do Paraná fundada por imigrantes europeus,
sobretudo italianos, no final do século XIX, que posteriormente, na segunda
metade do século XX, recebeu um enorme contingente de migrantes oriundos do
interior do estado e de diversas partes do imenso território brasileiro.
Consideramos que essas experiências
migratórias, que abarcam velhos e novos grupos sociais, continuam latentes nos
intermináveis processos de construção de identidade, não só protagonizados
pelos sujeitos que migraram, mas também pelos seus descendentes. Essa nossa
forma de pensar o fenômeno (i)migratório se apoia no seguinte conceito de
imigração:
“Defino “migração” incluindo tanto migrações
internacionais quanto intranacionais e, como a maioria dos estudos de história
oral, enxergo a passagem física da migração de um lugar para o outro como
apenas um evento em uma experiência migratória que abarca velhos e novos mundos
e que continua por toda a vida do migrante e pelas gerações subsequentes”.
[THOMSON, 2002, pp. 341-342]
Da mesma maneira, estamos considerando que a
etnicidade, ou seja, a identidade étnica de um indivíduo ou grupo social, é
fruto dos contatos interétnicos, como defende também Lesser ao afirmar que
“identidade e etnicidade são sempre construções históricas, e não heranças
recebidas como parte de algum tipo de essência cultural ou biológica”. [2015,
pp. 20-21]
Nessa direção, procura-se no texto que se
segue, problematizar a necessidade de desenvolver os conceitos de etnicidade
nos educandos, a partir do ensino da História da (I)migração nos anos iniciais
do Ensino Fundamental baseada na história próxima e em escalas.
O ensino de História tem se constituído em um
desafio constante para os professores da Educação Básica, tanto do ponto de
vista de escolhas metodológicas, quanto do fato de ter que lidar com temas
polêmicos e controversos da atualidade. Sendo assim, torna-se necessário
oferecer diferentes possibilidades de compreender a realidade do passado
articulada aos aspectos do presente e os anseios futuros.
A partir da década de 1970, muitas foram as
produções acadêmicas que buscaram dar conta dos fenômenos (i)migratórios no
país, especialmente no Sul. Associações étnicas fazem genealogia, promovem
eventos, publicações, viagens. Reportagens, documentários, filmes, museus,
memoriais, revistas, sites, entre outros foram produzidos para guardar a
memória ou instituir uma representação do que é o fenômeno da imigração. Ao
longo dos anos, as mídias têm explorado muito essa temática em diferentes
aspectos, mas de modo especial tem oferecido representações romantizadas ou
dramatizadas sobre o fenômeno. Mas e a escola, como tem tratado essa temática
que se constitui em conteúdo escolar? Que elementos deste conhecimento
histórico são considerados relevantes pelos professores para se ensinar? Como
os materiais didáticos abordam o conteúdo? Que metodologias norteiam o processo
de ensino e aprendizagem da História da (I)migração?
No intuito de problematizar estas questões a
partir da proposição curricular, o texto que se segue está dividido em duas
partes: a primeira discute qual deve ser o ponto de partida para o ensino da
História da (I)migração nas séries iniciais; a segunda analisa os elementos
metodológicos e os conceitos necessários ao ensino da História da (I)migração a
partir de escalas, considerando a compreensão do pertencimento até o
reconhecimento da identidade local inserida no âmbito nacional.
O
ensino de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental: o ponto de partida
Compreender a relevância do conhecimento histórico
para o processo de formação humana é reconhecer as potencialidades que definem
a área e a disciplina de História. O ponto de partida para se promover o
conhecimento histórico, a maneira como ele deve começar a ser ensinado e
aprendido, ou seja, o início do ensino da História deve-se pautar pela noção da
proximidade. Isto significa que o primeiro conteúdo a ser apresentado é o da
história próxima.
Ao escrever história próxima estamos nos
referindo àquela do tempo e do espaço mais presentes, aquela que ocorre
diariamente na vida do aluno, que se dá em torno da vida cotidiana do
estudante, que envolve as pessoas comuns com as quais ele convive e, que
acontece em casa, na escola, na sua rua, ou seja, nos lugares que ele ocupa.
Conscientizando-nos continuamente que “a história humana não se desenrola
apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola
também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas, nos subúrbios...”
[Ferreira Gullar, 1999]
Portanto, entendemos que para que o estudante
dos anos iniciais passe a compreender a História, ele precisa primeiro enxergar
em si próprio e no seu próximo um sujeito histórico, saber que está inserido no
presente que faz parte de um continuum do tempo, e que ele ocupa um determinado
espaço, físico e social, no qual é capaz de agir historicamente promovendo
mudanças e transformações. É uma história do cotidiano, do familiar, do local,
do particular, que parte da realidade individual para a coletiva, do micro para
o macro, de forma lenta, porém gradativa.
Uma História ensinada por meio de
experiências ligadas à micro-história, individual e depois coletiva, a partir
dos acontecimentos do cotidiano do aluno, da família, da escola, da localidade,
que mostram pontos de vistas e ações de realidades próximas, mas que permitem
uma ampliação com o desenrolar do processo de aprendizagem, onde o passado e
presente podem ser ampliados de forma dialética e a compreensão do micro leve a
um entendimento da macro-história a ser estudada posteriormente.
Tal abordagem encontra seu embasamento
teórico na Nova História Cultural, corrente historiográfica que despontou na
década de 1980, na qual, como o próprio nome já demonstra, a noção de cultura
foi valorizada enquanto prática social. Mais especificamente, esta forma de
investigar a história por meio da cultura popular e da microanálise, conhecida
por micro-história, foi inaugurada pelo historiador italiano Carlo Ginzburg.
Ele propôs uma reavaliação da macro-história, pela redução da escala do
historiador, com recortes que valorizem sujeitos como indivíduos, famílias,
comunidades que sofrem e enfrentam os condicionamentos do processo histórico
mais amplo.
Nossa proposta, é que o professor e o aluno
dos anos iniciais adotem essa perspectiva, empregando essas escalas reduzidas
por meio de um recorte que valorize a micro-sociedade e as coletividades do
estudante. Assim, a relação entre o local e o universal seria ensinada por meio
de escalas, que começariam com um olhar local no intuito de fundamentar a percepção
das estruturas sócio-históricas mais amplas, apontando caminhos que mapeiem as
transformações que ocorrem durante a constituição dos processos históricos.
Trata-se de um encaminhamento da didática da
História que estabelece um processo de aprendizagem com vistas no
desenvolvimento da consciência histórica formada a partir da experiência de
vida prática dos estudantes. Isso sempre respeitando as etapas que contemplam a
infância e a adolescência, promovendo as vivências e as adaptações por meio da
progressiva inserção nos diferentes espaços sociais, sejam eles do âmbito
local, regional, nacional e/ou mundial.
Nesse sentido, o texto da BNCC [Brasil, 2017]
destaca a importância da passagem da ludicidade para a percepção das
experiências reais que permitem as crianças despertarem a capacidade de
compreender a história, ou seja, de criar uma consciência histórica desde os
anos iniciais do Ensino Fundamental. Também neste ínterim, acontece uma
conscientização da realidade social individual e coletiva por meio dos
processos de apropriação e representação, que permitem o início do
desenvolvimento de uma compreensão de mundo e de pertencimento a ele.
Aqui estamos certamente nos apoiando mais vez
na Nova História Cultural. Nela a cultura não está situada nem abaixo e nem
acima das relações econômicas e sociais. Pelo contrário, como explica Hunt,
“todas as práticas sejam econômicas ou culturais dependem das representações
utilizadas pelos indivíduos para darem sentido ao seu mundo”. [1995, p.25]
Isso vai ao encontro com o que defende o
historiador francês Roger Chartier, o qual considera que as categorias de
representação e apropriação são indispensáveis para que haja a produção do
conhecimento histórico. Para ele a representação é entendida como as diversas
maneiras pelas quais os grupos e comunidades, a partir de suas diferenças
culturais e sociais, compreendem e percebem sua sociedade e sua própria
história.
Assim, na nossa concepção a representação
produz também um processo de identificação com um grupo social, por isso
defendemos ser uma categoria importante para que haja um sentido no ensino e na
aprendizagem da história. Da mesma forma, a apropriação “tem por objetivo uma
história social das interpretações remetidas para as suas determinações
fundamentais (que são sociais, institucionais e culturais) e inscritas nas
práticas específicas que as produzem”. [Chartier, 1987, p.26].
Os dois últimos autores citados privilegiam
as relações múltiplas existentes na temporalidade, ou seja, não uma história
linear, mas aquela onde se encontram permanências e mudanças nas experiências
do passado, que por sua vez são capazes de produzir diferentes ações e
interpretações no presente e criar diferentes perspectivas no futuro dos
sujeitos. Isso acontece porque valorizam os diversos tipos de fonte, como
documentos, imagens, canções, objetos arqueológicos, cartazes, etc., para que
se construa o conhecimento histórico. Nossa opinião, é que essa variedade de
fontes utilizadas favorece o ensino e a aprendizagem, pois aquilo que se tem no
âmbito local e familiar, (como por exemplo, um passaporte ou uma carteira de
trabalho, ou ainda, um documento da compra de um terreno), pode ser analisado
como material que permite a produção do conhecimento histórico.
Conforme Bittercourt (2011) o ensino de
História precisa estabelecer as relações entre os sujeitos e o cotidiano onde
vivem, articulando as histórias locais e nacionais utilizando de diferentes
fontes históricas para a aquisição do saber histórico. E essa valorização da
História local deve se dar de duas formas: considerar o processo de
subjetivação dos indivíduos e apresentar todos como atores sociais e sujeitos
históricos. É uma História vista de baixo, onde o povo, desde criança, ganha o
direito de interpretar os acontecimentos em sua sociedade. No caso da escola, o
aluno aprende a identificar sua história e sua função de sujeito histórico,
percebe a história de sua coletividade e entende o porquê pertence a ela, ou
ainda, tem a possibilidade de viver um processo de identificação sociocultural.
Assim, a disciplina exerce uma função social ao fazer com que o conhecimento
histórico produza sentido de mundo para os indivíduos.
O
ensino da História da (I)migração nos anos iniciais do Ensino Fundamental em
escala
Com base naquilo que refletimos
anteriormente, para investigarmos a história de nossa localidade, hoje
organizada em forma de cidade com o nome de Colombo, temos que nos remeter ao
estudo de suas populações, ou seja, da formação de sua diversidade étnica. O
primeiro passo é fazer com que os estudantes se identifiquem como componentes
da população que ocupa a cidade no tempo presente.
Em seguida, precisamos investigar quem foram
os indivíduos que aqui viveram, desde os tempos mais remotos, ou seja, mesmo
antes da fundação do nosso município, até chegar aos nossos dias. Devemos fazer
isso interrogando a variedade de fontes sobre estes indivíduos do passado que
obtemos por meio de estudos e pesquisas de pessoas do tempo presente. Da mesma
maneira, comparando com a forma de vida daqueles que hoje formam a população
colombense, bem como a paranaense e a diversidade brasileira, de modo que a
escala espacial vá se ampliando.
Dessa forma, o ensino de História nos
primeiros anos do Ensino Fundamental deve se ocupar em despertar nos estudantes
o sentimento de sujeito-histórico e cidadania, como também o pertencimento a
sociedade local e, depois sucessivamente, a diversidade de sujeitos-históricos
e sociedades que compõem os contextos regional, nacional e mundial.
Nessa direção, no 1º ano deve-se, por meio de
variadas fontes (fotos, relatos, memórias e objetos) ensinar a criança a
respeito de si, de modo que a mesma perceba em si uma identidade étnica
particular. Em um segundo momento, nesta primeira etapa, apresenta-se os
lugares, os afazeres e os grupos de convívio do cotidiano deste aluno. Uma
primeira noção de tempo relacionada as ações do dia a dia do mesmo, seja em
casa como na escola. Mostram-se as responsabilidades e os deveres que estão
relacionados aos espaços sociais que ele frequenta. A preocupação aqui é a
constituição da identidade dos sujeitos nos diferentes grupos sociais, em
diferentes tempos e espaços.
No 2º ano o ensino de História deve
apresentar uma compreensão temporal e cultural mais ampliada, fazendo com que a
criança perceba que ela própria possui um passado, como também, que seus pais,
avós, tios, enfim, que sua família tem um passado, e que este foi marcado pelo
fenômeno da (i)migração. Da mesma maneira, evidenciar que o grupo social de
convívio escolar, os colegas e as professoras, possuem também um passado. Esses
passados não são iguais, portanto, possuem entre eles semelhanças, mas também
diferenças. São essas semelhanças e diferenças que devem ser evidenciadas, como
por exemplo, modos de morar, de festejar, de comer, etc. Aqui a existência de
grupos originários, como é o caso dos indígenas que habitaram nossas terras em
tempos remotos, suas tradições e características devem ser apresentadas. Os
objetivos nesta etapa são apresentar a diversidade de identidades étnicas
existentes em uma mesma sociedade e ampliar a noção temporal.
No 3º ano deve-se dedicar ao ensino da
história da população que compõe o local até demonstrar como a mesma está
organizada espacialmente hoje em forma de cidade. Portanto, o tema nesta etapa
é a ocupação e o povoamento da cidade de Colombo. A partir da problematização
de diferentes fontes, procurar investigar as causas e motivos da vinda dos
primeiros habitantes, dos portugueses, dos negros e dos imigrantes (sobretudo
os italianos e poloneses que aqui formaram colônias no final do século XIX)
para nossa localidade e que levaram a formação do município. O objetivo nesta
etapa é a aprender sobre a formação e a variedade étnica que compõem a
população colombense e a particularidade da história local.
No 4º ano pretende-se aprofundar a
particularidade da história da cidade inserindo o mesmo no contexto paranaense.
Nessa direção, devem-se investigar as relações entre os povos que formaram a
cidade, assim como as atividades que desenvolveram aqui mais diversos âmbitos,
sejam elas culturais (festas típicas, por exemplo), sociais, econômicas, etc.
Da mesma maneira, as relações que mantiveram com os outros municípios,
sobretudo Curitiba, por ser, além de cidade vizinha, a capital do estado. Neste
contexto, deve ser inserido o crescimento populacional, ocasionado pelo êxodo
rural no estado e pelas migrações internas ocasionadas por este fenômeno. O
surgimento dos bairros e a caracterização das áreas rurais e urbanas precisam
ser elencadas. Portanto, a preocupação nesta etapa de ensino da História é a
inserção do município no contexto regional, percebendo ao mesmo tempo sua
especificidade e sua articulação com a história do Paraná.
No 5º ano o objetivo principal é relacionar a
história local com os acontecimentos nacionais e mundiais. Mais uma vez as
(i)migrações são temas recorrentes, mas agora contemplando também a vinda de
migrantes de outros estados (São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul,
estados do nordeste, etc), assim como a vinda de imigrantes estrangeiros
ocasionadas por contextos mundiais atuais (caso dos haitianos e venezuelanos).
Consequentemente, as diferenças culturais e diversidade étnica devem ser
trabalhadas. Ao mesmo tempo, a particularidade do município vai aparecer
novamente ao relacionar o mesmo com o contexto nacional e universal. Essa
característica particular deve ser evidenciada por meio da apresentação do
patrimônio histórico-cultural, e também natural, do local, assim como dos
símbolos da cidade, ou seja, dos elementos que fortalecem a identidade do
município. Sendo assim, nesta etapa o objetivo principal é a inserção do
município no contexto nacional e mundial e a afirmação de uma identidade local
construída pela soma dos grupos sociais e suas etnicidades.
Acreditamos que após percorrer esse percurso,
pelo qual são apresentadas as etnicidades que contribuíram com a história
local, o aluno será capaz de viver o seu próprio processo de identificação
étnica, como também reconhecer e respeitar a diversidade cultural existente no
município onde ele vive, configurando-se em um agente histórico de
transformação para sua sociedade.
Referências
Elaine Cátia Falcade Maschio é Doutora em
Educação pela UFPR e professora substituta no Departamento de Planejamento e
Administração Escolar da UFPR.
Fábio Luiz Machioski é Mestre em História
pela UFPR e Gestor do Museu Municipal de Colombo, Paraná.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 2017.
Disponível em basenacionalcomum.mec.gov.br.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre
práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrant Brasil, 1987.
FERREIRA GULLAR. Corpo a corpo com a
linguagem. Ponta Grossa: UEPG, 1999.
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais.
São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
HUNT, Lynn. A nova história cultural. São
Paulo: Martins Fontes, 1995.
LESSER, Jeffrey. A invenção da brasilidade:
identidade nacional, etnicidade e políticas de imigração. São Paulo: Editora
Unesp, 2015.
THONSOM, Alistair. Histórias (co)movedoras:
História Oral e estudos da migração. In: Revista Brasileira de História, São
Paulo, v. 22, n. 44, 2002, pp. 341-364.
Em primeiro lugar gostaria de parabenizar pela produção do artigo. Considero uma pesquisa extremamente pertinente para o contexto educacional e historiográfico.
ResponderExcluirMeu questionamento de refere ao segundo capitulo do artigo “O ensino da História da (I)migração nos anos iniciais do Ensino Fundamental em escala”, onde está contido algumas indicações de como inserir o debate migratório nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Distribuídos nos 5 primeiros anos.
Pergunto: 1- Na produção destes indicativos foi levado em consideração a legislação vigente que trata sobre o ensino fundamental? Digo a LDB, Leis e os Pareceres do CNE, bem como o currículo escolar do município.
2 – Foi feito alguma entrevista com professores e alunos? Para aferir com os mesmo a aplicabilidade e a opinião desses agentes a respeito das sugestões apresentas? Entendo que são algumas informações relevantes.
Agradeço a oportunidade de ler esse importante trabalho de pesquisa.
Atenciosamente
Ketno Lucas Santiago
Boa tarde Ketno Lucas Santiago
ExcluirAgradecemos suas contribuições e questões.
Primeiramente, a LBD e as demais Diretrizes são documentos que normatizam o funcionamento da Educação Nacional. Com relação ao debate curricular da Educação Básica, esses documentos orientam a elaboração de uma base curricular comum, consolidada com a aprovação da BNCC. Portanto, o foco da nossa proposta está centrada nas orientações da Base Curricular Comum.
A temática do processo migratório/imigratório aparece já nas primeiras orientações do documento no que se refere a área das Ciências Humanas. Na página 402, uma das competências do ensino da História para as séries iniciais do Ensino Fundamental é “Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações”.
Seguindo as páginas, o documento aponta para os eixos temáticos de cada ano. Já a partir do 2º ano do Ensino Fundamental é possível problematizar os conteúdos referentes as migrações/imigrações, quando se demanda ao aluno a compreensão da sua comunidade e os espaços de memórias, muitas vezes ancorados nas presenças dos diferentes povos em movimento. Mas é no 4º ano que esse irá aparecer como unidade temática a ser ampliada “As questões históricas relativas às migrações”, (BNCC, 2019, p. 412). Ademais, dois dos objetos de conhecimento preconizados para o trabalho desta temática - “os processos migratórios para a formação do Brasil - são: os processos migratórios do final do século XIX e início do século XX no Brasil e as dinâmicas internas de migração no Brasil a partir dos anos 1960” (BNCC, 2019, p. 412).
Por fim, cumpre ressaltar que a BNCC também sugere que se desenvolva as seguintes habilidades referentes a esse eixo: “(EF04HI09) Identificar as motivações dos processos migratórios em diferentes tempos e espaços e avaliar o papel desempenhado pela migração nas regiões de destino. (EF04HI10) Analisar diferentes fluxos populacionais e suas contribuições para a formação da sociedade brasileira. (EF04HI11) Analisar, na sociedade em que vive, a existência ou não de mudanças associadas à migração (interna e internacional)”.
Assim, entende-se que a etnicidade proveniente dos processos migratórios deva ser uma categoria importante para se trabalha em sala de aula nas aulas de História do Ensino Fundamental, pois coloca em evidencia a importante de se desenvolver o respeito a diversidade de povos que colonizou, povoou ou migrou/imigrou no Brasil, tendo como ponto de partida o seu lugar de referência.
No que se refere a segunda questão, a resposta é não. Nesse momento da proposta, não avançamos no diálogo com os professores. Mas essa poderá ser uma investigação muito promissora, pois coloca em evidencia a própria prática docente, tão importante no processo de ensino da História.
Excelente. Agradecido e contemplado. Parabéns pela pesquisa.
ExcluirOlá, Elaine e Fábio.
ResponderExcluirGostei muito do trabalho de vocês - no caso do Fábio, já tive contato com a dissertação.
A proposta elaborada por vocês se relaciona bastante com o meu próprio texto neste evento, o que achei bastante interessante e, assim, me fez refletir também sobre o meu trabalho.
Algo que identifiquei na minha pesquisa com italianos e descendentes, é a criação e permanência de mitos entre essas famílias - como os heróis fundadores, o povo sempre trabalhador, entre outros. Considerando a faixa etária bastante jovem dos alunos na rede Municipal de Educação, ao deparar-se com essas questões, como vocês propõe tratá-las?
Muito obrigado e, novamente, parabéns pela proposta!
Bruno Ercole
Olá Bruno! Que bacana que leu nosso texto no evento, espero que tenha contribuído bastante. Aproveito para sugerir que leia a dissertação e a tese da Elaine, pois os trabalhos dela ajudaram muito a construir a discussão que desenvolvi no mestrado. Vamos a sua pergunta:
Excluir- Realmente esses mitos estão bem presentes nos discursos dos descendentes dos italianos, na minha dissertação procurei desmistificar um pouco o mito do padre, de que ele era respeitado por todos sem resistências, e também a ideia de que todos os italianos eram muito católicos. Já os mitos de fundadores e exímios trabalhadores que você cita são exemplos típicos da tentativa de afirmar a identidade por meio dos discursos de pioneirismo e superioridade do grupo pertencente, ao menos tempo que se inferiorizava outros grupos, outras famílias, os brasileiros, outros grupos étnicos (poloneses por exemplo), grupo italiano urbano, etc. Creio que passar essa interpretação, desmistificando essas construções do senso familiar e carregadas de etnocentrismo para os alunos das séries iniciais do fundamental seja um grande desafio. Vejo dois caminhos:
1. Demonstrar como outros grupos tinham discursos parecidos em colônias de outras etnias, poloneses por exemplos. E que também buscavam diferenciar-se dos italianos criando estigmas pra eles, como briguentos, blasfemadores, "mãos-de-vaca", etc. Apelidos carinhosos, rsrs.
2 - Mostrar que havia, mesmo que rasteira, uma presença luso-brasileira, indígena e negra antes da chegada dos italianos, ou seja, que eles não foram os primeiros. Ou seja, que eles conviveram com famílias que já eram donas ou ocupavam as terras. Creio que existe até um episódio de briga entre italianos e "brasileiros" por disputa de terras em algum relato da referida colônia. Assim como também, houveram famílias de outras etnias imigrantes que contribuíram com o bairro, alemães, poloneses, se eu não me engano Santa Felicidade tinha os Kusma por exemplo.
Creio que o caminho seja esse apontar para a diversidade étnica e explicar que todos trabalhavam e tiveram seu papel de agente histórico no processo de constituição do bairro como ele é agora.
Espero que tenha respondido, mas com certeza é um grande desafio ao qual precisa-se debruçar com mais calma no momento de planejar essa aula.
Fábio Luiz Machioski
EDUARDO SILVEIRA NETTO NUNES
ResponderExcluirPrezado Prof. Fábio e Prezada Profa. Elaine.
Em primeiro lugar, quero parabenizar vocês pelo trabalho apresentado, pois estimula a que os leitores percebam como temáticas e abordagens teórico-metodológicas da área de História, são possíveis de serem integradas no ensino básico.
De fato, o Brasil (ou Brasis) tem inúmeras histórias relacionadas aos processos de circulação da população desde épocas mais arcaicas com as populações autóctones e mesmo depois com a presença da colonização européia e diásporas, em especial de populações africanas.
A questão da periodização, da região, do território, e os recortes a partir das diferentes escalas (micro/macro) de fato são fundamentais serem considerados no estudo e no ensino da temática das (i)migrações/deslocamentos populacionais.
Li as observações que vocês fizeram sobre a temática nos documentos oficiais, inclusive na BNCC, chamando a atenção para a POTENCIALIDADE que o tema apresenta em diferentes anos do ensino fundamental.
Queria pedir para que vocês refletissem sobre a seguinte questão:
1. Mesmo estando presente na BNCC como uma habilidade/competência a ser trabalhada em diferentes anos, e levando em consideração uma tendência de "homogeneização" dos materiais didáticos, das avaliações estandardizadas, será que concretamente teremos espaço suficiente para "invertermos" as atividades didáticas no ensino de História no ensino fundamental, partindo de fato do território, do espaço vivido e da comunidade com suas periodizações e peculiaridades?
EDUARDO SILVEIRA NETTO NUNES
Obrigado Eduardo pela sua contribuição e a questão para refletir.
ExcluirEntendemos que muitas das proposições da BNCC consistem em desafios que as escolas, e especialmente os professores terão pela frente. A questão do material didático tem sido um desses desafios. Na maioria das vezes, as abordagens didáticas dessas temáticas específicas como as identidades, as memórias de comunidades, as etnicidades, entre outros, tem ficando exclusivamente, a cargo do próprio professor. Ademais, mesmo na vigência dos PCNs (1998) a parte diversificada, como orientava aquele documento, já configurava esse problema. Assim, o trabalho com a parte diversificada ou com as temáticas históricas específicas de cada região, tem se constituído uma empreitada subjetiva e solitária do professor. Consideramos que as reflexões, investigações, publicações e debates sobre o ensino da História possibilita dar visibilidade a esse desafio e a buscarmos formas de resolvê-lo. Primeiramente, acreditamos que é preciso planejamento curricular de estados ou municípios, de forma a viabilizar a formação do professor sobre a temática, e a possibilidades de se construir os materiais didáticos.
Profa. Elaine. Obrigado pelas observações. De fato,como você aponta, acaba ficando com os docentes a criação das situações para trabalhar a temática a partir dos territórios, ficando destacado, portanto, a importância da formação de professores e professoras estimular a capacidade ativa e crítica no exercício da docência.
ExcluirOlá!
ResponderExcluirGostei bastante da proposta do trabalho de vocês. Embora muito relevante, pensava que poderia ser demasiado complicado trabalhar efetivamente (i)migração tão cedo, mas vocês mostraram que é muito viável. Bacana!
Sobre aos movimentos (i)migratórios em si, nossas pesquisas flertam em alguns pontos, e sobre isso gostaria de fazer alguns questionamentos:
1 - O que levou a essa segunda onda migratória na segunda metade do século XX em Colombo? Há alguma especificidade?
2 – Como foi a absorção desses novos migrantes pelos habitantes que já estavam estabelecidos?
Obrigado desde já e parabéns pela proposta.
Maicon Marques Frasson
Olá Maicon! Que bom que leu nosso trabalho e que ele proporcionou fazer relações com a sua pesquisa, isso nos deixa imensamente felizes. O texto é um dos resultados de uma experiência que tivemos ao elaborar a proposta do Ensino da disciplina de História para a Diretriz Municipal de Educação de nosso município, Colombo-PR. Ele é fruto da nossa crença de que seja fundamental trabalhar as temáticas da (i)migração e das etnicidades desde cedo, principalmente no Sul do Brasil onde encontramos essa multiversidade de etnias na formação de nossas cidades, decorrentes de processos migratórios, tanto internacionais como regionais, e isso já nos leva as suas questões:
Excluir1 - A onda migratória da segunda metade do séc. XX para Colombo, que levou a uma explosão demográfica na cidade, que passou de 20 mil habitantes na década de 1970 para 160 mil nos anos de 1990 (hoje o município tem 250 mil) ocorreu, sobretudo, pela proximidade com Curitiba. Os grupos de migrantes eram atraídos pela oferta de trabalho no meio urbano da capital paranaense. Porém, esses migrantes se estabeleciam ao redor, ocupando na verdade lotes mais baratos e que eram contínuos aos bairros limítrofes de Curitiba, mas que já pertenciam ao município de Colombo. Já a respeito da expulsão da maioria dos indivíduos que pra cá vieram, que são os oriundos do interior do Paraná, dentre uma variedade de fatores, podemos citar especificamente a mecanização no campo, como pontuar a catástrofe da geada negra de 1975, que dizimou as plantações de café no Estado. Ambas situações provocaram o êxodo rural paranaense e o deslocamento rumo a região de Curitiba.
2 - A absorção dos migrantes pela população que já ocupava o município, na maioria descendentes dos imigrantes que chegaram no final do século XIX, se deu e ainda se dá em meio à resistências. A relação social entre os dois grupos foi construída da forma como propõe Norbert Elias, onde os migrantes foram considerados os outsiders. Houve um fechamento do grupo formado pelos estabelecidos nas ex-colônias rurais formada pelos descendentes de europeus que demorou gerações para ser quebrado, e que ainda está em processo. Muitas vezes os migrantes eram chamados de "vindouros" de forma pejorativa ou outros termos mais ofensivos. Isso provocou também um afastamento por parte do segundo grupo em relação ao primeiro, que passou muitas vezes a se identificar mais como novos curitibanos do que novos colombenses.
Espero ter conseguido responder, ao menos em parte, suas questões. Deixo o email caso queira fazer contato: fabiomachioski@gmail.com
Fábio Luiz Machioski
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