Eduardo Gomes da Silva Filho


O LUGAR DO ÍNDIO NA HISTÓRIA


Considerações Iniciais
Até um passado recente, os índios eram vistos por parte da sociedade envolvente e representados nos livros didáticos como sujeitos subservientes, praticamente ausentes nas discussões historiográficas e com os seus direitos esmigalhados. Contudo, este panorama vem mudando com um maior nível de intensidade, à medida em que perspectivas e análises do ponto de vista teórico e metodológico, emergem inexoravelmente como um novo paradigma, sobretudo, no final do século XX e início do século XXI.
Devemos isso basicamente a dois fatores: a virada cultural da década de 1970, onde houve um significativo imbricamento entre a História e a Antropologia, além do aprofundamento dos estudos da chamada Etno-História. A esse respeito, recorremos a análise do texto do Prof. Dr. Thiago Leandro Viera Cavalcante da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD denominado: “Etno-história e história indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da pesquisa”[Cavalcante, 2011], para traçarmos um breve panorama acerca das questões que envolvem este aporte teórico.

“Inicialmente a etno-história foi ligada apenas ao estudo de sociedades culturalmente não-ocidentais e ágrafas. Pretendia-se que fosse a história de povos ágrafos escrita a partir de fontes produzidas por outros povos, predominantemente, portanto, em situação colonial. Segundo essa definição, a etno-história estava próxima de ser uma espécie de história dos povos sem história”[Cavalcante, 2011, p. 351].

Ainda de acordo com [Cavalcante, 2011], após a promulgação da CF/88, vários direitos dos povos indígenas foram garantidos, sobretudo, os que se referem aos seus territórios tradicionalmente ocupado, gerando a partir de então uma maior demanda e valorização a respeito desses povos, tanto por pesquisadores, quanto pela sociedade envolvente.

Outrossim, diversas etnias de várias regiões do país vêm resistindo bravamente desde a invasão colonial a todo tipo de atrocidade em seus territórios, com a ação de madeireiros, grileiros, mineradoras, posseiros, garimpeiros, entre outros agentes, inclusive por parte do Estado [com conivência do Exército e da Funai], como nos casos do genocídio Waimiri-Atroari, amplamente divulgado pelo Relatório do Comitê Estadual da Verdade do Amazonas [2012] e pelo Relatório da Comissão Nacional da Verdade [2014] e da formação da Guarda Rural Indígena – GRIN, só para citar alguns exemplos.

Todavia, a ideia da história indígena e do indigenismo é bem mais pretérita, isso nos demonstra que o lugar do índio é aonde ele quiser, tomando como premissa sua autodeterminação, protagonismo, resistência e alteridade. A despeito do conceito de lugar, [Moreira; Hespanhol, 2007, p. 49] comentam: “Compreender o lugar é considerá-lo não como uma soma de objetos, mas como um sistema de relações (subjetivo-objetivo, aparência-essência, mediato-imediato, real e simbólico)”.

Essa compreensão ao longo dos séculos, principalmente na história do Brasil, teve percepções totalmente antagônicas, entre índios e brancos. Os primeiros, resistindo bravamente pelos seus territórios, língua, cosmologias, costumes e tradições. Já os segundos, pilhando tudo o que podiam [e ainda o fazem] em nome das “conquistas e do progresso”.

Mas afinal de contas, de que índio nós estamos falando?

De grupos étnicos que descendemos enquanto brasileiros e que têm a mesma capacidade de aprendizado como todos nós, vejamos abaixo um importante relato a esse respeito feito pelo Padre João Daniel e citado por Antonio Porro:

“Frei Agostinho de S. Maria, escrevendo em 1722 sob informação dos franciscanos, afirmava que os índios Aruãs tinham grande capacidade para aprender com perfeição tudo o que se lhes ensinasse. Muitos aprendiam a língua portuguesa com uma perfeição tal, a dar inveja a qualquer lisboeta. Outros eram escultores exímios, como os melhores de Portugal. Alguns eram pintores e insistiam para fazerem curso de aperfeiçoamento em Portugal, mas não lhes era permitido, por medo que lá se viessem a ‘perder’ ” (Agostinho de S. Maria, apud Fragoso). Em meados do séc. 18, já é tempo de dizermos alguma cousa da grande habilidade e aptidão dos índios da América para todas as artes e ofícios nas missões e casas dos brancos, em que aprendem todos os ofícios que lhes mandam ensinar, com tanta facilidade, destreza e perfeição como os melhores mestres, de sorte que podem competir com os mais insignes do oficio; a muitos basta verem trabalhar algum oficial na sua mecânica para o imitarem com perfeição [...]. Em uma vila de portugueses havia um índio ferreiro e serralheiro tão insigne, que os mesmos portugueses do mesmo oficio lhe davam não só as primazias, mas também os votos para ser juiz do oficio [...]. No colégio dos padres da Companhia na cidade do Pará estão uns dois grandes anjos por tocheiros com tal perfeição que servem de admiração aos europeus, e são a primeira obra que fez um índio daquele ofício [J. Daniel]”. [Porro, Antonio, 2007, p. 170-171].

Como podemos inferir a partir da citação acima, os índios têm as mesmas capacidades e habilidades que qualquer um de nós, o que difere é a maneira e as circunstâncias de como são colocadas em prática, como observa [Sampaio, 2010] e [Oliveira, 1964]. Ao que me parece, o conceito de “civilização” ainda é um forte argumento utilizado pelo “branco”, para tentar justificar possíveis diferenças entre ele [nós] e o índio.

Todavia, os aspectos de civilização, assim como seus conceitos primordiais, já foram amplamente discutidos em diversos campos do conhecimento, como nos casos da História, Antropologia, Sociologia, Etnologia e da própria Etno-história. Adentrando nessa seara, temos algumas obras que nos ajudaram a refletir nesta questão, como argumenta por exemplo [Ribeiro, 1977], [Eremites, 2003] e [Monteiro, 1995].

Sobre Cultura e Identidade
Com o aumento do interesse na história dos povos tradicionais no Brasil, várias publicações vieram à tona, descortinando um universo que até então parecia “desconhecido”. Muitas dessas obras nos trazem aspectos importantes acerca da cultura e identidade desses povos. Entre elas, podemos citar a contribuição de Florestan Fernandes [2006], onde o autor analisa a função social da guerra na sociedade Tupinambá, [originalmente publicada em 1952, pela Universidade de São Paulo – USP, em função da defesa de sua Tese de Doutorado].

A esse respeito, o autor analisa a guerra como um instrumento de resistência, que mexeu com imaginário europeu da época, por misturar a vingança com práticas consuetudinárias de canibalismo, trazendo à tona os segredos do ritual antropofágico. Nesse sentido, Laraia [2001], nos direciona do campo da Sociologia para a Antropologia, alegando que a cultura é um conceito antropológico. Tanto a Sociologia, quanto a Antropologia, nos fornece importantes subsídios para análises, mesmo por caminhos por vezes distintos.

Um passo importante para compreender a trajetória social e cultural dos índios brasileiros, foi dado pela antropóloga portuguesa Manuela Carneiro da Cunha, quando lançou em 1992 a célebre obra “História dos Índios no Brasil”, que alçou a história indígena a outro patamar, evidenciando aspectos que até então passaram “desapercebidos” da historiografia tradicional.

Seguindo por esse caminho, o Professor John Manuel Monteiro [In Memoriam], é lembrado em um emocionante texto da professora Maria Regina Celestina de Almeida que comenta: “[...] no campo da história dos índios que, desde a década de 1990, sob a decisiva e marcante influência de John Monteiro, tem se renovado significativamente, com abordagens histórico-antropológicas que permitem novas compreensões sobre o lugar dos índios em nossa história. O papel irrelevante que, por tanto tempo, os historiadores deram aos índios já não se sustenta diante de inúmeros trabalhos que, na linha de pesquisa interdisciplinar incentivada por John, revelam novas realidades sobre os índios em contato com sociedades coloniais e pós-coloniais. A trajetória acadêmica de John Monteiro caminha junto ao desenvolvimento dessa historiografia que passou a considerar os índios como sujeitos históricos, questionando as antigas concepções que lhes reservavam o lugar de vítimas passivas dos processos de conquista e colonização. Defensor das causas indígenas, John militava por essa revisão historiográfica. Para ele, dar voz e vez aos índios na condição de agentes históricos é tarefa dos historiadores e deverá resultar no enterro definitivo de uma historiografia, muitas vezes, conivente com políticas de apagamento de identidades indígenas. Seu desempenho foi tão fundamental na valorização dessas abordagens que não seria exagero falar de uma história indígena, ou dos índios na história, antes e depois de John Monteiro”. [Almeida, 2013, p. 1].

Corroborando com a ideia de cultura, Franz Boas [2004], nos insere no universo da Antropologia cultural, também discutida por Geertz [1989], que trouxe à baila um debate inovador sobre às diversas formas de cultura existente, assim como Evans-Pritchard [1978] fez em “Os Nuer”. De volta à questão indígena, mas sem se afastar ainda da Antropologia, Júlio Cézar Melatti [1983] e Mércio Pereira Gomes [2002], nos fazem refletir sobre o papel dos índios na história, nos apresentando em suas obras, diversas possibilidades de análises mais verticalizadas, que nos coloca frete a frente com histórias de alteridade das sociedades ameríndias.

De acordo com Cunha [2009], não podemos definir grupo étnico, meramente por sua cultura, contudo, ainda de acordo com a autora, a cultura entra na etnicidade. A esse respeito, Poutignat e Streiff-Fernat [1998] comentam que a perspectiva da noção da etnicidade em Barth são apresentadas de quatro maneiras diferentes, que dão um norte a estes estudos, com base na organização social dos grupos étnicos. Dessa forma, os estudos étnicos buscam investigar e analisar os seguintes problemas: “[...] O problema da atribuição categorial pela qual os autores identificam-se e são identificados pelos outros. O problema das fronteiras do grupo que servem de base para a dicotomização Nós/Eles. O problema da fixação dos símbolos identitários que fundam a crença na origem comum. O problema da saliência que recobre o conjunto dos processos pelos quais os traços étnicos são realçados na interação social”. [Poutignat; Streiff-Fernat, 1998, p. 141-142].

Aspectos do Protagonismo Indígena, Resistência e Alteridade
“Falar de resistência indígena é referir-se a um processo criado e recriado dia a dia e por muitas mãos. Trama feita por muitos fios, da cultura, da identidade, da religiosidade, da tradição, trançados por homens e mulheres, do dia a dia. E, nesta resistência que se faz e refaz continuamente, os povos indígenas vão inventando ou descobrindo novas formas de organização”. [Porantim, abril/2000 apud Silva Filho, 2015, p. 6].

É dessa forma que a resistência e o protagonismo indígena vem se perpetuando através dos séculos, mantendo em seu bojo suas formas de organização, fato que fez e vem fazendo emergir ao longo da história várias lideranças, como nos casos de Araribóia, Marapião e Ajuricaba em um passado mais remoto e Juruna, Raoni, Davi Kopenawa, Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Gersem Baniwa e Joelma Wapichana no tempo presente.
Todas essas lideranças citadas acima têm algo em comum, além do sangue indígena que os une, trata-se da chamada “Alteridade”. A esse respeito, diversos autores nos trazem reflexões importantes acerca da perspectiva da alteridade desde o processo de colonização da América, como nos aponta Todorov [1999]. Contudo, observando determinadas nuances de maneira pormenorizada, há um fio condutor que liga a cultura à alteridade, como sugere Sahlins [1997a].
Outrossim, Rosângela Angelin e Celso Gabatz comentam: “[...] pondera-se que a alteridade tem como pressuposto centrar o saber no ato de colocar-se no lugar das outras culturas, a fim de percebê-las, compreendê-las e reconhecê-las na plenitude da dignidade humana, para que todos e todas, mesmo diante das diferenças, possam atingir o pressuposto de uma vida com mais dignidade dentro de uma sociedade composta por grupos sociais distintos. [..]. É imprescindível enfatizar que os valores culturais precisam, urgentemente, ser vistos com as lentes da alteridade”. [Angelin; Gabatz, 2012, p. 71-72; 82].

Sendo assim, nota-se que os aspectos culturais e identitários têm uma relevância bastante significativa na forma como os grupos étnicos se enxergam e, principalmente, enxergam o outro. Ao se veem, conseguem transcender os estigmas lançados pela sociedade envolvente, ao ver o outro, coloca-se no seu lugar, reconhecendo e respeitando suas diferenças. Afastando-se assim, das teorias etnocentristas e aproximando-se dos exemplos de alteridade sugeridos por Bronislaw Malinowski [1978] e Franz Boas [2004].

Considerações finais
Não tenho pretensão com esse texto de trazer “supostas verdades” acerca do lugar do índio na história, mas de suscitar inquietações de caráter teórico-metodológico em que possa lê-lo. Não há caminho mais plausível para esse tipo de discussão do que o amplo diálogo entrelaçado com a Antropologia. Tal imersão fez-se necessária, à medida em que tentei desnudar uma etno-história de quase cinco séculos em apenas algumas mal traçadas linhas deste que vos escreve.

No entanto, espero que o texto possa servir de reflexão para um tema tão essencial quanto este, que por ora me debrucei, pois, o lugar do índio é a onde ele quiser! Na aldeia, ou na urbe ele não deixa de ser índio! O índio sou eu, é você e todos nós!

Referências
Eduardo Gomes da Silva Filho é Professor de História da Universidade Federal de Roraima - UFRR, lotado na Escola Agrotécnica no Campus Murupu. Mestre em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. [E-mail: eduardo.filho@ufrr.br]. 

ALMEIDA, Maria Regina Celestina de. John Manuel Monteiro (1956-2013): um legado inestimável para a Historiografia. Revista Brasileira de História. Vol.33 nº.65. São Paulo, 2013.
ANGELIN, Rosângela; GABATZ, Celso. Alteridade indígena: a aceitação da diversidade na promoção da dignidade humana. Direitos Culturais, Santo Ângelo, v.7, n.12, p. 71-84, jan./jun. 2012. 
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
CAVALCANTE, Thiago Leandro Vieira. Etno-história e história indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da pesquisa. História (São Paulo) v.30, n.1, p. 349-371, jan/jun 2011.
CUNHA, Manuela Carneiro. Etnicidade: da cultura residual, mas irredutível. In: Cultura com Aspas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
CUNHA, Manuela Carneiro da. (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
EREMITES DE OLIVEIRA, J. Sobre os conceitos e as relações entre história indígena e etno-história. Prosa Uniderpjun. 2003. v. 3, n. 1, p. 39-48.
EVANS-PRITCHARD, E. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 1978.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A, 1989.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge "Zahar” Editora, 2001.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo. Abril Cultural, 1978.
MELATTI, Júlio César. Índios do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1983.
MOREIRA, Erika Vanessa; HESPANHOL, Rosângela Aparecida de Medeiros. O lugar como uma construção social. Revista Formação - USP, n 14. Volume. 2, p. 4860, 2007.
MONTEIRO, John Manuel.  “O desafio da história indígena no Brasil”, in Aracy Lopes Silva; Luís D. B. Grupioni (orgs.), A temática indígena na escola, Brasília, MEC/MARI/UNESCO, 1995.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O índio e o mundo dos brancos. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1964.
PEREIRA, Gomes Mércio.  O Índio na História. O povo tenetehara em busca da liberdade. Petrópolis: Vozes, 2002.
PORRO, Antonio. Dicionário Etno-Histórico da Amazônia Colonial. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros/USP, 2007.
POUTIGNAT, Philippe, STREIFF-FERNAT, Joceyne. Teorias da etnicidade. Seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo; Fundação da Editora UNESP, 1998.
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. Petrópolis, Vozes, 1977.
SAHLINS, M. O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um objeto em via de extinção (parte 1). Mana, vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro:1997a.
SAMPAIO, Patrícia Melo. Índios e brancos na Amazônia portuguesa: políticas e identidades no século XVIII. IN: CHAMBOLEYRON, Rafael & ALONSO, José Luís Ruis-Peinado (org.). Trópicos de histórias: gente, espaço e tempo na Amazônia (séculos XVII e XXI). Belém. Ed. Açaí/Programa de pós-graduação em história social da Amazônia (UFPA) / Centro de memória da Amazônia (UFPA), 2010.
SILVA FILHO, Eduardo Gomes da. Projetos Desenvolvimentistas na Amazônia e a Resistência dos Waimiri-Atroari – 1964-2014. Dissertação de Mestrado defendida no PPGH/UFAM. Manaus-AM, 2015.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. 2. ed. São Paulo: M. Fontes, 1999.

31 comentários:

  1. Neste texto “o lugar do índio na História” o senhor faz uma contextualização desde os anos 70 quando começou um diálogo entre a História e a Antropologia, para discutir a temática indígena, e perpassando pela Constituição Federal (1988), e assim:
    “Vários direitos dos povos indígenas foram garantidos, sobretudo, os que se referem aos seus territórios tradicionalmente ocupado, gerando a partir de então uma maior demanda e valorização a respeito desses povos, tanto por pesquisadores, quanto pela sociedade envolvente.”, surgindo grandes nomes que contribuíram significativamente para que a história do país ser (re)contada. Inclusive tendo como protagonismo o próprio indígena.
    Minha pergunta é diante de todas estás conquistas, onde o índio tem se mostrado na história dos últimos anos. No entanto, hoje neste cenário atual onde o presidente da república diz que “Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós. Então, vamos fazer com que o índio se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, isso é o que a gente quer aqui" (fala de Bolsonaro). Como nós professores que lidamos com alunos da educação básica devemos discutir em sala de aula com alunos adolescentes e jovens? Como explicar que índio seja na aldeia ou na cidade ele tem uma história, e sempre foi um ser humano ao contrário do que afirmam o governo atual e ainda uma parcela da sociedade considerável, que ainda passa a ideia de serem “selvagens” ou “não civilizados”?

    Luciana Martinez de Oliveira Costa

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  2. Olá Luciana, boa tarde! De fato o cenário político atual não é nada promissor para os povos indígenas, sobretudo, a partir do avanço de pautas neoliberais e ultraconservadoras no congresso nacional.O índio não deixa de ser índio porque sai da sua aldeia em busca de educação, trabalho, renda e qualificação profissional. Isso é um direito, portanto, deve ser garantido e respeitado. Sua ancestralidade e hábitos culturais consuetudinários, muitas vezes é interpretado por parte da sociedade envolvente como "exótico", levando a esse discurso de ódio e preconceito que os assolam a mais de cinco séculos. Em sala de aula, na educação básica como você colocou, é preciso estimulamos a fazê-los refletir, a partir de discussões que os estimulem a compreender coisas essenciais à vida e cultura indígena, como por exemplo, formas de protagonismo e resistência, além de conceitos de alteridade e autodeterminação. Mas o principal na minha humilde opinião é sem dúvida esclarecer os direitos indígenas, mostrar o que há na Constituição, o que diz as convenções, como no caso da OIT-169 por exemplo.

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  3. Boa tarde Iago! O papel do professor é de orientar, formar, motivar e informar os educandos. O papel de legitimação dos direitos no ordenamento jurídico cabe à Constituição Federal de 1988, artigos 231 e 232 e ao MPF. Nada justifica de fato o que está ocorrendo não apenas no momento, mas durante séculos com os povos tradicionais. Eles têm direito à diversidade, aos seus territórios, sua cultura e autodeterminação. Ao professor vale mais uma vez ressaltar, cabe trabalhar esses conceitos em sala de aula através de metodologias que permitam além de reflexões, informações corretas, indicações de livros, filmes e obras, incentivos à rodas de conversas, pesquisas, trabalhos que valorizem aspectos relacionados à cultura, identidade, resistência, protagonismo, formas de organização, valorização do senso crítico, entre outros aspectos relevantes.

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  4. Bom dia Eduardo Gomes, seu texto levanta inúmeras reflexões desafiadoras para história indígena no Brasil. Eu queria destacar no seu texto quando você fala da importância de dar protagonismo aos sujeitos históricos indígenas que por muito tempo na historiografia aparecia como submisso as vontades do colonizador europeu, uma história reconstruída a partir do olhar do Homem branco. Nas minhas aulas de história, sempre tento dar voz ao grupo indígena, destacando seu protagonismo na história. Um bom exemplo é a trajetória da família indígena Arcoverde que foi importantíssima nas conquistas do Nordeste apoiando os portugueses na guerra contra holandeses e franceses. Inclusive alguns indígenas foram agraciados com mercês, fato que você também mencionou com Arariboia. A minha pergunta é: por que nos livros didáticos do ensino fundamental não encontramos ainda esse protagonismo indígena? Na sua opinião existe uma memória seletiva, no sentido dessa história cair no esquecimento e silenciar esses grupos na atual politica brasileira? Seu texto é muito interessante, estou cursando mestrado e a temática indígena sempre me despertou interesse. Abraços

    Pedro Henrique Sassone Cupertino '

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  5. Obrigada pela oportunidade da leitura. Será de grande utilidade para a elaboração da minha tese “Oeste indígena: patrímônio indígena construido pelo conhecimento e sua recepção na comunidade escolar do oeste de Santa Catarina”, em fase de elaboração, na UPF. No quarto capítulo vou analisar como a história indígena é abordada no ensino básico e médio, nas escolas públicas e privadas da região oeste de SC. Com base na investigação de conteúdos e imagens dos livros didáticos e apostilas utilizadas pelos alunos, bem como no depoimento de professores e gestores, além do acervo disponível no ambiente escolar. Por favor, poderias indicar bibliografias pertinentes ao tema?

    Abraços!

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    1. Bom dia Valdirene, claro que posso.. Caso precise de mais materiais meu e-mais está nas referências do texto.

      BETTO, F. Tanta mentira que parece verdade. In: A. L. Silva, A questão indígena na sala de aula (pp. 7-10). São Paulo: Brasiliense, 1987.
      BITTENCOURT, C. M. O ensino de História para populações indígenas. In: I. N. INEP, Em aberto - Educação Escolar Indígena (pp. 105-116). Brasília/DF: MEC, 1994.
      GRUPIONI, L. D.. Olhar longe, porque o futuro é longe: Cultura, escola e professores indígenas no Brasil. São Paulo/SP: Universidade de São Paulo, 2008.
      GRUPIONI, L. D.. Estudos para a regulamentação da Lei 11.645. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2012.
      MELO, D. S., & Melo, E. S.. Formação Continuada para Professores não indígenas para uma educação escolar intercultural em escolas indígenas. Belém/PA, 2016.
      MONTEIRO, J. M.. O desafio da História Indígena no Brasil. In: A. L. Silva, & L.B.
      Grupioni, A temática Indígena na escola (pp. 221-228). Brasília: Unesco, 1995.
      SILVA, A. L.. A questão indígena na sala de aula. São Paulo: Brasiliense, 1987.

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  6. Bom dia Pedro! Para entendermos isso, é preciso voltarmos alguns séculos até a invasão colonial, mas como somos professores de História vou direto ao ponto. A herança colonialista tem uma perspectiva eurocêntrica, patriarcal, capitalista, mercantilista, coronelista e tantos outros aspectos que conhecemos. Os livros didáticos seguem uma postura similar (infelizmente)historicamente falando. Há um revisionismo muito forte que atende "interesses da República", com as primeiras edições sempre exaltando o ufanismo exacerbado aos "heróis da pátria" ou sempre tentando representar o índio e o negro com posturas subservientes. Por outro lado, alguns avanços importantes ocorreram nas últimas décadas, principalmente com as aprovações das leis 10.639/03; 11.645/08 e 12.288/10. Com isso, atrelado à perspectiva da "Nova História Indígena", esse cenário vem mudando, mas ainda de uma maneira muito aquém do esperado. Um dos nossos principais papais enquanto educadores é tentar contribuir para uma mudança de paradigma desta situação, a partir de aulas que abordem de maneira correta esta temática, evidenciando os índios como protagonistas destes processos. Cada uma fazendo a sua parte, esse suposto silenciamento não ocorrerá mais. Contudo, como você mesmo bem frisou, estamos carentes de políticas públicas mais efetivas para os grupos étnicos. Resistir é o objetivo principal!!!

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  7. Estimable maestro Eduardo:

    Muy dolorosa la situación que usted reseña con respecto a la postura del actual gobierno brasileño y los indígenas. ¿Vislumbra usted líderes que rebasen las fronteras del Brasil en defensa de las identidades? Respecto a su aporte teórico metodológico me gustaría que me aclare, precisamente, la concepeción que usted tiene con respecto a la relación entre etnicidad e identidades. Lo pregunto pensando desde la realidad mexicana actual y de antemano le agradezco. Paulina Latapí

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  8. Querida maestra Paulina, buenas tardes! Recibo su mensaje con gran satisfacción, sabiendo que la discusión ha logrado cruzar las fronteras. En la situación política actual en Brasil, de hecho, es muy difícil nombrar políticos preocupados por la causa indígena, lamentablemente. En nuestro parlamento en las últimas elecciones electorales, el abogado Joênia Wapichana, de esta misma etnia (Wapichana), fue elegido diputado federal. Es abogada de formación, nativa del estado de Roraima y la voz de los pueblos indígenas en el congreso brasileño. Cuando me refiero a la etnicidad, es básicamente un grupo social en el que la identidad se define a través de prácticas tradicionales, como en el caso de la cultura, el idioma y las tradiciones. Sin embargo, en Brasil, estos grupos étnicos tienen diferentes tipos de culturas e idiomas, dependiendo de cada región. Tengo un capítulo de libro que discute el papel de varios líderes indígenas importantes a la luz de la historia indígena de la actualidad. Si está interesada en leer, contácteme por correo electrónico y con gusto le enviaré el material. Mi correo electrónico: eduardo.filho@ufrr.br

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  9. Parte do texto fala sobre a resistência indígena e ás novas formas de organização “Falar de resistência indígena é referir-se a um processo criado e recriado dia a dia e por muitas mãos. Trama feita por muitos fios, da cultura, da identidade, da religiosidade, da tradição, trançados por homens e mulheres, do dia a dia. E, nesta resistência que se faz e refaz continuamente, os povos indígenas vão inventando ou descobrindo novas formas de organização”. Meu questionamento cai em cima dessas transformações indígenas para se adaptarem em momentos tão ameaçadores como os atuais, isto é, com o claro descaso do governo atual o território indígena é cada vez mais penetrado pela dita "civilização". Para além disso, questiono: Como o professor pode ou deve se posicionar dentro da sala de aula para legitimar e proteger o território indígena em um momento onde o negaciosismo e algumas teorias da conspiração ganharam tanta força e "justificam" esses tipos de práticas?
    - Iago Almeida Catunda

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  10. Texto enriquecedor, grata pela oportunidade.
    Todavia, a ideia da história indígena e do indigenismo é bem mais pretérita, isso nos demonstra que o lugar do índio é aonde ele quiser, tomando como premissa sua autodeterminação, protagonismo, resistência e alteridade. A despeito do conceito de lugar, [Moreira; Hespanhol, 2007, p. 49] comentam: “Compreender o lugar é considerá-lo não como uma soma de objetos, mas como um sistema de relações (subjetivo-objetivo, aparência-essência, mediato-imediato, real e simbólico)”
    Considerando "o lugar do índio é onde ele quiser", os livros didáticos e e muitos registros foram feito colocando o índio como um ser incapaz e que seu lugar é na aldeia, seguindo seu costume. Diante disso, até os dias atuais, as pessoas dos centros urbanos ainda pensam dessa forma, pois aprenderam assim, Professor como fazer para mudar esse olhar em relação ao indígena?

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    1. Olá Neide, boa noite! Infelizmente isso não depende exclusivamente do professor, apesar de termos um papel essencial no processo educacional de ensino/aprendizagem. O mundo contemporâneo está cheio de "convicções", mas o nosso papel de fato é esclarecer, provocar reflexões e apontar caminhos possíveis. Ao contrário do que muita gente imagina, o professor não é um formador de opinião e nem pode levar consigo o peso de de "mudar o olhar das pessoas", mas podemos levá-las a refletir, mudar de opinião ou não vai depender do efeito colateral em cada um... A valorização do livre arbítrio e a democracia devem sempre prevalecer na sala de aula. Saber conviver com a diversidade e a diferença é premissa básica não só em sala, mas na sociedade. O professor por si só, não mudará o mundo, mas pode torná-lo um lugar melhor para viver!

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    2. Obrigada Professor Eduardo
      ...

      Neide de Oliveira Pires.

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  11. Boa noite Iago, isso depende muito da metodologia adotada por cada docente, não existe uma maneira única de repassar o conhecimento. Existem situações que o docente precisa se adaptas às circunstâncias. Obviamente o cenário político atual é imensamente desfavorável, não só aos povos indígenas, mas trabalhadores, professores, e as ditas "minorias". Os esteriótipos atribuídos aos índios são uma herança maldita da colonização. O professor de História aponta caminhos possíveis para análise, reflexão e atitudes. Não há uma "fórmula mágica", contudo, nada justifica os descasos e abusos do governo atual.

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  12. Boa noite, Professor Eduardo Gomes. Obrigada pela reflexão em torno das populações indígenas. Sua explanação está contribuindo de forma significativa na formação pessoal e profissional de muitos, tenha certeza disso. Quero destacar alguns pontos sobre sua comunicação. É perceptível que a academia tem ampliado os estudos sobre as comunidades indígenas e seu lugar de fala, que tem sido explicitada de diversas formas, seja por artigos, dissertações, teses, etc. Mas, ainda sinto falta dessas discussões dentro do livro didático e dos ambientes escolares. A partir disso, gostaria de saber como o (a) docente pode trabalhar a história dos povos indígenas com o ensino fundamental e médio doravante a perspectiva atual, que nega as narrativas históricas e a deslegitima os direitos dos indígenas?
    Obrigada!!

    - Mariana prudente da Silva

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  13. Boa noite Mariana! Sim, realmente a ensino da História indígena vem ganhando mais espaço nos últimos anos. Porém, a maneira como eles aparecem nos livros didáticos ainda está longe do ideal. Isso se da por alguns fatores sociais, políticos e até "ideológicos", como no caso do atual governo! A liberdade de cátedra é que um princípio que assegura a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, arte o saber, etc. A Constituição Federal de 1988 nos assegura esse direito: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

    II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

    III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; (…).”

    Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394/96:

    “Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

    I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

    II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

    III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

    IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; (…).”

    Já no tocante à História indígena, a lei 11.645/08, alterou a LDB(Lei nº 9.394/96), a saber:

    "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

    § 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

    Portanto, respaldado pelas leis supramencionadas acima, o docente(a) tem a mais pura e legítima liberdade para lecionar temas relacionados à história indígena em sala de aula, seja na educação básica ou no ensino superior. O docente(a) poderá trabalhar de diversas formas, entre elas sugiro: trabalho com fontes primárias (jornais, revistas, boletins, periódicos, etc), rodas de conversas, pesquisas, história oral, conceitos de cultura, identidade e representação, além de temas que envolvam protagonismo, resistência, formas de organização e experiências e alteridade. Fazendo isso (de acordo com as metodologias de cada um) tenho certeza que você conseguirá alcançar os seus objetivos do plano de aula e ajudará a conscientizar alunos de qualquer faixa etária, contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária!

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    1. Obrigada pelo retorno, professor Eduardo.

      - Mariana Prudente

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  14. Olá professor! Parabéns pelo texto, inspirador. Tenho trabalhado em pesquisas que buscam dar visibilidade aos povos Jê Meridionais no Movimento do Contestado, e percebo a considerável dificuldade para os historiadores, tão apegados às fontes documentais, em levantar materiais sólidos que comprovem a presença indígena no Contestado como agentes protagonistas do conflito, uma vez que vários indícios, como fotos de rebeldes rendidos com fenótipos indígenas, a intensa presença da figura de São João Maria na cultura dos remanescentes Kaingang e Xokleng da região, entre outros, evidenciam que estes estavam lá, que tiveram um papel dentro da organização de resistência, mas que foram, até o momento, invisibilizados pela historiografia. Portanto, gostaria da sua opinião/sugestão quanto a possibilidade da utilização de métodos antropológicos para este tipo de estudo, o qual carece de muito de fontes documentais. Como a Antropologia poderia ajudar o historiador na construção de um trabalho histórico?
    Desde já obrigado e um abraço.
    Eloi Giovane Muchalovski

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  15. Olá Eloi, boa noite! Grato pela leitura do texto, espero que ele possa levantar questões pertinentes à sua pesquisa. Seu problema de pesquisa é instigante, assim como a sua preocupação em evidenciar o protagonismo indígena nesta região. No texto eu toco nessa necessidade do diálogo entre a História e a Antropologia, principalmente no que tange à história indígena do tempo presente e a etno-história. Esse seu trabalho irá contribuir muito para o grupo étnico Jê Meridional (Kaingang e Xokleng) e vou até mais além, também para o grupo "Macro-Jê". Para estreitar esse diálogo com a Antropologia, sugiro como metodologia você trabalhar com etnografia ou etnologia, se optar pela primeira, provavelmente desapegará mais das fontes escritas. Existem alguns trabalhos que podem te ajudar, mas do ponto de vista teórico, aqui citarei três em particular:

    REIS, Lucas Bond. PARA UMA HISTÓRIA JÊ MERIDIONAL NA LONGA DURAÇÃO: O CONTEXTO EM ALFREDO WAGNER (SC) E A SUA INSERÇÃO REGIONAL. Dissertação de Mestrado defendida no PPGH/UFSC, 2015.

    NOELI, Francisco Silva; SOUZA Jonas Gregório. Novas perspectivas para a cartografia arqueológica Jê no Brasil meridional. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 12, n. 1, p. 57-84, jan.-abr. 2017.

    BECKER, Ítala Irene Basile. O Índio Kaingang do Paraná: subsídios para uma etno-história. Colaboração (Luís Fernando da Silva Laroque. São Leopoldo; Ed. UNISINOS, 1999.

    Qualquer dúvida, auxílio ou sugestão, continuo à disposição, fraterno abraço!



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  16. Olá professor Eduardo Gomes da Silva Filho, tudo bem? Obrigado pela exposição do texto, muito útil para repesar o lugar do índio nos dias atuais. Parabéns!
    Ao longo do texto, percebi que muitas vezes foi colocado ao índio uma figura de incapacidade ou sem história, no entanto, em seu contexto não identifiquei alguns fatos em relação ao século XIX, a exemplo, do IHGB que tinha a respeito da história indígena naquele contexto. Gostaria de saber se o IHGB contribuiu com essa visão deturpada que ainda se tem aos povos indígenas nos dias atuais?

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  17. Olá professor Eduardo Gomes da Silva Filho, tudo bem? Obrigado pela exposição do texto, muito útil para repesar o lugar do índio nos dias atuais. Parabéns!
    Ao longo do texto, percebi que muitas vezes foi colocado ao índio uma figura de incapacidade ou sem história, no entanto, em seu contexto não identifiquei alguns fatos em relação ao século XIX, a exemplo, do IHGB que tinha a respeito da história indígena naquele contexto. Gostaria de saber se o IHGB contribuiu com essa visão deturpada que ainda se tem aos povos indígenas nos dias atuais?

    IVANILSON MARTINS DOS SANTOS

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  18. Olá professor Eduardo Gomes da Silva Filho, tudo bem? Obrigado pela exposição do texto, muito útil para repesar o lugar do índio nos dias atuais. Parabéns!
    Uma outra pergunta seria a respeito do contexto da década de 1970. Com esse novo pensar historiográfico exposto no texto e com o aumento de trabalhos acadêmicos sobre a história indígena, tese, dissertações e monografias. Esse contexto vai influenciar nos movimentos indígenas em relação afirmação ou identificação da identidade indígena nesse período? Porque nessa mesma época de 1979, por exemplo, temos alguns grupos indígenas, inclusive nos Nordeste se auto identificado como tal, a exemplo, do Xokó em Sergipe!!!!

    IVANILSON MARTINS DOS SANTOS

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  19. Boa noite Eduardo!Parabéns pelo excelente texto! Trabalho atualmente em um projeto de Educação Patrimonial voltado para o contexto arqueológico, onde trabalhamos a Etnohistória com alunos do Ensino Básico. Apesar dos avanços, tenho observado que ainda existem muitos problemas relacionados sobretudo ao reconhecimento identitário. Há uma dualidade entre a rejeição e romantização. Penso, como será trabalhar essas questões frente as novas políticas que o atual governo propõem? Levando em consideração uma possível alteração no conteúdo didático, como a escola pode se sobrepor nestes casos? Utilizamos a experimentação, recursos paradidáticos, mas sinto que o conteúdo se torna mais "curiosidade" do que algo para se "fixar" no currículo escolar.

    Caroline de Paula Egidio

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    1. Olá Caroline, boa noite! Você levantou questões muitos pertinentes a partir da leitura do texto. Parabéns pela sua percepção. A própria etno-história nos encarrega de descortinar algumas delas, senão vejamos: a etno-história está no campo de uma metodologia histórica, posso defini-la assim... ela nos ajuda a compreender determinados pressupostos, tanto de caráter histórico, como antropológico. As políticas indigenistas governamentais desde os tempos da lei de terras, passando pelo SPI, FUNAI, Estatuto do Índio e com os avanços da CF/88, sofreram diversas metamorfoses (até plot twists eu diria...), porém, como você bem frisou, o cenário político atual é totalmente desfavorável. Como o clima de instabilidade política ainda é enorme no país, não podemos cravar definitivamente uma mudança nos rumos editoriais, apesar da pressão ideológica ser enorme. Mudanças no currículo escolar não é coisa tão simples. Primeiro deve ter alguma lei sancionada que modifique a LDB (9.394/96), segundo que isso tem que passar prioritariamente pelos Conselho Nacional de Educação e pelos Conselhos Estaduais de Educação (como nos casos das leis 10.639/03 e 11.645/08) que modificaram a LDB. Creio que a sua preocupação gira mais em torno das possíveis metodologias a serem adotadas pelo professor (a) em sala de aula, que possam atingir os alunos com maior propriedade em detrimento de tudo o que está acontecendo no país. A boa notícia é que jovens como você inspiram toda uma nova geração, que luta assim como lutam os povos indígenas há séculos! Lutar... resistir... acreditar... eis a questão!

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  20. Boa noite Ivanilson, que bacana que o texto conseguiu lhe apontar alguns caminhos possíveis para reflexão. Vou responder suas duas questões nesta postagem. Em relação ao IHGB no século XIX, eles estavam à serviço do governo imperial, a partir de ações que envolveram etnografia e arqueologia. O sentido disso, baseava-se praticamente na tentativa de formar um escopo de nação por parte de uma elite que via no IHGB condições favoráveis para isso na época. Sendo assim, as populações indígenas foram o alvo, tendo como pano de fundo o discurso de "ex-colonizados", uma verdadeira operação historiográfica a lá Michel de Certeau. Não creio que a intenção disso seria "deturpar" como você sugeriu, apesar dos esteriótipos serem bem pretéritos a este período. Existem outras fontes que corroboram com essa tentativa de descrição e análise do período oitocentista em questão, como os relatórios dos presidentes das Províncias por exemplo. Já a segunda questão que você aborda, acerca da suposta subserviência indígena e a influência da virada cultural para os povos indígenas, posso lhe garantir sem medo de errar que nunca houve de fato subserviência por parte dos povos indígenas no Brasil, a maneira como isso foi e ainda é colocado por parte da sociedade envolvente atende a critérios pré determinados e a interesses de gente muito influente (politicamente e financeiramente e em casos mais atuais, ideologicamente...). Contudo, autores como Maria Regina Celestino de Almeida, John Manuel Monteiro, Edson Hely Silva,Jorge Eremites de Oliveira, Thiago Leandro Vieira Cavalcante, Manuela Carneiro da Cunha, entre outros, vêm há bastante tempo chamando a atenção para esse protagonismo indígena na História. Ainda em relação à virada cultural e, por conseguinte, à Nova História, outra geração de novos autores estão se debruçando na questão, (coloco-me aqui humildemente). Partindo deste pressuposto, agora vou tomar a liberdade de inverter a ordem do discurso. Será que não foram os índios que influenciaram a virada cultural e não o contrário como você questionou?Um bom exemplo disso são as assembleias indígenas da promovidas pelos índios com o apoio do CIMI e da OPAN na própria década de 70. É a partir daí que emergiu com maior intensidade o conceito de agências indígenas.

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  21. Parabenizo Eduardo pelo texto enriquecedor. Quanto a minha dúvida, diz respeito a invisibilidade e protagonismo nativo, de acordo com Manuela Carneiro da Cunha(1992), o desinteresse por uma narrativa dos povos indígenas acarretou em uma distorção dos fatos, e os indígenas foram retratados vítimas da destruição de suas terras e do genocídio por parte dos colonos. A visão eurocêntrica de muitos historiadores negou e nega detalhes dos fatores e atores históricos, dentre eles, os indígenas sendo protagonistas de sua própria história, como nós professores podemos desconstruir que os nativos são vítimas de um sistema, quando sabemos que na realidade eles são agentes históricos e protagonistas quando lidamos com a realidade em uma escola pública que o único meio de pesquisa que o aluno tem é um livro didático que tratam os nativos apenas em tupis e tapuias, vítimas do sistema colonial, inocentes, "gentio bravo"? Nós historiadores temos consciência que fazer a recuperação da história nativa é algo fundamental, mas como podemos superar os desafios atuais?

    ANTÔNIA NATÁLIA DE SOUSA ARRAIS
    GRADUANDA EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI/CSHNB

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    1. Boa noite Antônia, que bacana você na graduação fazendo esses questionamentos tão importantes, parabéns pela inquietação... Na verdade a obra a qual você se refere no seu texto trata-se da "História dos índios no Brasil" uma coletânea de textos organizados pela Antropóloga portuguesa Manuela Carneiro da Cunha em 1992, que rapidamente tornou-se um marco da história indígena no Brasil. Dito isso, volto-me agora para algumas análises importantes: ela rompeu com o paradigma da suposta subserviência indígena pregada anos a fio, reconhecendo os índios como agentes e protagonistas da sua própria história. Soma-se a isso, outras obras de bastante impacto, como nos casos de "As Muralhas dos Sertões" da Nádia Farage, "Negros da Terra" do John Monteiro, "Metamorfoses Indígenas" da Maria Regina Celestino de Almeida, "Religião como Tradução" da Cristina Pompa, entre outros. Mas realmente, como você bem colocou, trabalhar isso na escola pública sem a devida estrutura faz com que o nosso trabalho enquanto professor (a) seja ainda mais importante. Precisamos ensinar, lutar contra a precariedade do sistema, falta de infraestrutura, além do "racismo institucional". Contudo Natália, não precisamos "recuperar uma história nativa" como você citou, precisamos mostrar a evidenciação da voz indígena, através das suas próprias práticas de resistências, sejam elas culturais, identitárias, educacionais ou políticas (não necessariamente nessa ordem). Em síntese, o protagonismo indígena deve ser evidenciado em sala de aula, pois precisamos lutar com as armas que temos!

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    2. Obrigada pela resposta e pelas indicações de leitura. :)

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  22. "Na aldeia, ou na urbe ele não deixa de ser índio! O índio sou eu, é você e todos nós!" o Senhor finalizou o texto de forma linda, as sociedades nativas não são parte de um passado distante, eles fazem parte do nosso presente e se fará presente em nosso futuro, a história nativa parte de um "roubo" sangrento e infeliz, estamos vivendo em cima de um cemitério nativo, portanto, precisamos sempre lembrar disso e tentar ao máximo superar aquela história ultrapassada de que esses povos eram inocentes e vítimas de todo o processo, eles foram e são sujeitos históricos.

    ANTÔNIA NATÁLIA DE SOUSA ARRAIS

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