Alcimara Aparecida Föetsch


OBSERVATÓRIO POLONÊS DA UNESPAR

“Algumas vezes ainda sentirá saudade da neve, mas já não quer viver sem o sol paranaense e talvez nem soubesse fazê-lo; poderá sonhar algumas vezes com a bétula, a tília ou o carvalho, mas considera o pinheiro, a bracatinga ou a imbuia como propriedade sua; poderá suspirar alguma vez, sonhando em voltar para a ‘Velha Pátria’, mas não trocará por nenhum tesouro aquela liberdade que lhe dá o Brasil”. (GLUCHOWSKI, 2005, p. 318-319).

Gluchowski (2005) ao caracterizar o segundo período colonizador no Brasil por emigrantes poloneses o tipifica como “febre brasileira”. Ocorre por volta de 1890 e ocupa o vale do Iguaçu, região hoje de abrangência do Campus União da Vitória da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR. Nas palavras do autor segue em multidão do Reino da Polônia, naquele período, “não apenas o criado de cavalariça, mas também o camponês sem-terra; não apenas o operário de fábrica, mas também ricos fazendeiros” (p. 33) e no:

“[...] Paraná surgem então duas Comissões Colonizadoras, uma no vale do Iguaçu, na região de Palmeira, e outra na região de Rio Negro. Na região de Palmeira surgem então as seguintes colônias polonesas: Santa Bárbara, Cantagalo, Rio dos Patos, São Mateus, Água Branca e a seguir Eufrosina e Rio Claro. Quem trabalhou na fundação dessas colônias foi Saporski” (p. 34).

No terceiro período colonizador, a partir de 1896, inicia-se a colonização da colônia Jangada, “a sudoeste de Porto União da Vitória” (p. 36). No final do século XIX, se dá o último e quarto período colonizador, sobretudo quando a “companhia construtora da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande do Sul, que cortava quase todo o Paraná, inicia por conta própria a sua propaganda na Europa” (p. 37). Em 1910, surge a Colônia Vera Guarani que era chamada inicialmente de Cândido de Abreu, trata-se de uma continuação da colônia Rio Claro que é adjacente. É também nesse período que “o governo começa a dar os primeiros passos para Cruz Machado, a maior colônia federal no Paraná quanto à extensão, situada além da Serra da Esperança, entre os rios Palmital, Areia e Iguaçu” (p. 38). Também nessa época, a companhia responsável pela construção da estrada de ferro funda suas colônias, entre elas, a colônia Legru.

Resultante desse histórico fluxo migratório da Polônia para o Brasil, ocorrido nos anos finais do século XIX e início do século XX, se construiu e consolidou a identidade cultural polônica na região de Porto União da Vitória. São antigas colônias, hoje municípios, distritos e comunidades que ainda vivenciam a seu modo particular, cotidianamente, hábitos e tradições mantidos, reinventados e adaptados. Essa característica demográfica e cultural vem se apresentando, há aproximadamente 60 anos, enquanto demanda afirmativa nos cursos de graduação (todos no campo das licenciaturas) na antiga Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória – FAFIUV, desde 2013 Campus da Unespar. São trabalhos de conclusão de curso de graduação, pesquisas de campo, manifestações artístico-culturais e ações de pesquisa, extensão e ensino. Entretanto, nunca houve, de fato, uma articulação entre o que a Universidade produzia coletivamente e o que a comunidade expressava em suas vivências diárias e comemorativas.

No final de 2019 objetivando esta integração, iniciaram-se as atividades do “Observatório Polonês da Unespar”, um Programa de Extensão Universitária que integra professores, pesquisadores e estudantes do Campus União da Vitória à comunidade de poloneses, descendentes e simpatizantes da identidade polônica da região. Trata-se de um esforço coletivo no sentido de resgatar, sistematizar e agrupar ações e atividades que vêm sendo desenvolvidas pela Unespar, especialmente nos cursos de Geografia, História, Pedagogia, Letras e Matemática, notadamente com pesquisas nas áreas de identidade linguística, instituições escolares, cultura e etnicidade, cemitérios étnicos, patrimônio cultural, etnomatemática, identidade de gênero e violência. O Programa tem como parceiro o “Clube Literário Wladyslaw Reymont (CLWR)” de Porto União da Vitória que desenvolve ações e atividades de forma a enaltecer a identidade trazida pelos imigrantes no século XVIII articulando-a com a Polônia contemporânea por meio da atuação de quatro seções temáticas.

O programa abarca e reúne diversas e múltiplas atividades, pesquisas, promoções e ações. No âmbito da Unespar, estas derivam das pesquisas e temáticas de atuação dos docentes auxiliados por seus estudantes (Projetos de Extensão) em sua maioria, oriundos de comunidades polonesas. São os seguintes:

1) “Discreto encanto do cemitério na colônia polaca”, coordenado pela professora Alcimara Aparecida Föetsch, do Colegiado de Geografia. Objetivo: - Identificar, cartografar e evidenciar cemitérios poloneses e túmulos de imigrantes que faleceram no Brasil para, em seguida, interpretar a paisagem, perceber o luto e decodificar a memória discutindo as perspectivas da patrimonialização e do proveito didático destes espaços sagrados;

2) “Cidades, Museus e Monumentos: Lugares de Memória Pública (sécs. XX – XXI)”, coordenado pelo professor Michel Kobelinski, do Colegiado de História. Objetivo: - Pesquisar os elementos estéticos e sensíveis, as relações emocionais com lugares de memória e suas mediações com as audiências (comunidades polonesas ou descendentes de poloneses) nas regiões Centro-Sul e do Estado do Paraná e Norte de Santa Catarina, bem como organizar projetos audiovisuais voltados à produção de curtas-metragens;

3) “Instituições escolares organizadas pelos imigrantes poloneses na região de abrangência da Unespar, Campus União da Vitória”, coordenado pela professora Roseli Bilobran Klein, do Colegiado de Pedagogia. Objetivo: - Investigar as instituições escolares polonesas da região, levantando a respectiva documentação e contextualizando-a com a realidade social da época, mapeando estas instituições, estruturando categorias de análise, organizando publicações e estabelecendo diálogos entre os segmentos envolvidos;

4) “‘Mulheres fazedoras’: identidades étnico-linguísticas das descendentes de poloneses residentes em Santana, distrito de Cruz Machado”, coordenado pela professora Silvia Regina Delong, do Colegiado de Letras/Espanhol. Objetivo: - Promover o empoderamento das mulheres fazedoras da comunidade polonesa regional evidenciando o poder e a importância de suas ações e atuações na sociedade;

5) “Descendentes de poloneses no Paraná – negociação de identidades dos sujeitos da Unespar – Campus União da Vitória”, coordenado pelas professoras Bernardete Ryba e Karim Siebeneicher Brito, do Colegiado de Letras/Inglês. Objetivo: - Pesquisar/analisar como são constituídas as identidades étnico-linguístico-culturais e as negociações de identidades dos descendentes de poloneses sujeitos da UNESPAR – Campus União da Vitória;

6) “História da matemática polonesa e sua influência no pensar contemporâneo”, coordenado pelo professor Dion Ross Pasievitch Boni Alves, do Colegiado de Matemática. Objetivo: - Estudar a história da matemática polonesa a partir do século XVIII, promovendo-a no ambiente acadêmico e nas comunidades locais com o intuito de popularizar a cultura matemática polonesa na região;

7) “Relações de violência, gênero e imigração na primeira metade do século XX: realidades da comunidade eslava na comarca de União da Vitória-PR”, coordenado pelos professores Jefferson William Gohl e Kelly Cristina Banjamim Viana, do Colegiado de História. Objetivo: - Inventariar o universo dos processos criminais envolvendo poloneses, seja como réus seja como vítimas, na comarca de União da Vitória, com fins de uma tipologia da criminalidade da região que recebeu a imigração eslava, pesquisando os elementos subjacentes aos vetores históricos da violência.

Na amplitude do Clube Literário, se vinculam às estruturas existentes (Seções), que são as seguintes:

1) “Estudos literários, da identidade, cultura e língua polono-brasileira” – “Studium Literackie, Tożsamości Kulturowej oraz Języka Polsko-Brazylijskiego”, coordenada pelas professoras Ludmila Pawlowski e Ivete Oczust Nitek. Objetivo: - Promover o pensamento reflexivo dos sujeitos sobre questões referentes à cultura, identidade e língua por meio de narrativas autobiográficas, apresentando e refletindo sobre e a literatura polonesa desde a idade média até o século XX;

2) “Arte e cultura polonesa” – “Polska Sztuka i Kultura”, coordenada pelas professoras Terezinha Gelchaki e Ludmila Pawlowski. Objetivo: - Oferecer por meio de oficinas temáticas um momento de valorização e conhecimento das expressões culturais étnicas polonesas, organizando espaços para exposição de arte e cultura e promover debates e diálogos por meio de rodas de conversa e palestras;

3) “Turismo Polônico” – “Turystyka Polonijna”, coordenada pelo professor Vanderlei Kalamar. Objetivo: - Oportunizar a vivência e o contato com elementos do patrimônio histórico e cultural e a identidade da comunidade polônica na região por meio de excursões que buscam promover a integração e a cooperação entre comunidades contribuindo para a valorização dos recursos histórico-culturais;

4) “Expressões culturais polonesas” – “Polskie Ekspresje Kulturowe”, coordenada pela terapeuta Scharlene Luciara Amarante, pela professora Diovana Pasczuk e pelo músico Alexandre Gelchaki Neto. Objetivo: - Promover as expressões culturais polonesas e também a integração entre as diferentes etnias por meio da arte e da cultura como forma de desenvolvimento intelectual, cognitivo e emocional.

O Programa de Extensão vincula-se à Área Temática “Cultura” do Plano Nacional de Extensão Universitária (FORPROEX) por meio da linha “Patrimônio Cultural, histórico, natural e imaterial”. O intuito é superar a fragmentação e a desarticulação das ações promovendo um extensionismo universitário convergente, reflexivo e articulado, potencializando esta agenda multidisciplinar cultural por meio de encontros de socialização, pesquisas científicas, relatos de memória, eventos, documentários, cantos, danças, cursos temáticos, visitas às comunidades, grupos de estudo, concursos, integrações étnicas, manifestações artísticas, recepções aos visitantes, estudo do idioma, culinária, artesanato e folclore. Participam professores, pesquisadores, estudantes, músicos, terapeutas, administradores, dançarinos, assistentes sociais, engenheiros, gastrônomos, arquitetos, trabalhadores, artesões, agricultores, donas de casa, aposentados, artistas, advogados, empresários, cada qual com seu olhar, vivência, memória e contribuição. A participação é aberta aos interessados, descendentes ou não de poloneses.

Considerando o potencial integrador e diverso do Programa, a Casa Sanguszko de Cultura Polonesa e a Capelania Polonesa de Nossa Senhora de Czestochowa, ambas de São Paulo, doaram ao Campus União da Vitória da Unespar um acervo de aproximadamente 14 mil livros, todos em idioma polonês. O Diretor da Casa Sanguszko, Ricardo Neuding, esclarece que “A Biblioteca da Casa Sanguszko de Cultura Polonesa foi sendo formada ao longo de décadas por meio de doações de poloneses radicados no Brasil. A doação realizada neste momento tem como finalidade oferecer livre acesso a ela, para pessoas interessadas no idioma, na literatura e na cultura polonesa, de forma ampla, com a certeza de que a Unespar é a instituição brasileira que melhor pode cumprir este papel, além de manter a integridade Biblioteca ao longo dos anos”.

Da mesma forma, por vários anos, a Capelania Polonesa recebeu doações de livros no idioma polonês e o acervo agora também foi doado à Unespar. A Capelania situa-se na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora no Bairro Bom Retiro, em São Paulo. A capela, dedicada a Nossa Senhora de Czestochowa – Padroeira e Rainha da Polônia, situa-se na lateral direita da Igreja, erigida no lugar do antigo santuário em 1914. O paraninfo de honra durante a sagração da Capela foi o próprio príncipe Roman Sanguszko. A Srª. Gertruda Bak Ciesielski e o Sr. Grzegorz Mielec, representantes da Capelania Polonesa, destacam que “O objetivo da doação foi preservar o acervo e torna-lo acessível à comunidade. Trata-se de uma preciosidade que ficou guardada por muito tempo, mas que agora precisa ser catalogada, conhecida, explorada e valorizada”.

Os livros chegaram a Unespar no mês de janeiro deste ano e passarão por um processo de restauração, higienização e catalogação antes de serem disponibilizados à consulta pública.  “Levaremos anos para dar conta de compreender a riqueza do material que recebemos. São obras raríssimas e das mais diversas temáticas, desconheço acervo parecido na região”, ressalta a Profª. Drª. Alcimara Aparecida Föetsch, coordenadora do Programa de Extensão “Observatório Polonês da Unespar”. O Diretor do Campus, Valderlei Garcias Sanches, destaca ainda que “a Biblioteca Polonesa Casa Sanguszko fará do Campus de União da Vitória um lugar de referência e visitação obrigatória para pesquisadores, professores e demais interessados. Estamos buscando a melhor forma de catalogar o acervo e adequar o espaço para receber a todos”.

O Presidente do Clube Literário Wladyslaw Reymont (CLWR), Alexandre Gelchaki Neto, reforça que a vinda do acervo de livros associada à proposição do Programa de Extensão é de grande importância para a região, segundo ele “Reconhecer o valor das comunidades polonesas, sua cultura e tradição, significa enaltecer a memória e a contribuição dos antepassados imigrantes, ao mesmo tempo em que permite proporcionar espaços e momentos de encontro, lembrança e socialização aos descendentes e simpatizantes”.

Ludmila Pawlowski, membro do Conselho Exterior do Ministério da Educação da Polônia, professora do idioma polonês na região e Vice-Presidente do CLWR, finaliza dizendo que “A Unespar, situada no coração da imigração polonesa entre Paraná e Santa Catarina, vai inspirar por meio da biblioteca a disseminação de conhecimentos e informações sobre a cultura e a ciência da Polônia, além de disponibilizar materiais bibliográficos para pesquisas e incentivar a leitura na língua polonesa”. Nos próximos meses os livros passarão por um processo de seleção temática, higienização e catalogação para serem disponibilizados à consulta e acesso da comunidade.

Assim sendo, acreditamos que o Programa ao se constituir de uma ação colaborativa, interdisciplinar e diretamente ligada à comunidade envolvida certamente contribuirá tanto no cenário científico por meio do aprofundamento e da junção das pesquisas acadêmicas, quanto no cenário cultural por valorizar a identidade étnica de muitos de nossos estudantes. Cumprindo, dessa forma, um dos objetivos da extensão universitária que visa, justamente, promover por meio de suas mais variadas atividades externas a valorização e a democratização da Universidade Pública.

Referências
Drª. Alcimara Aparecida Föetsch é professora Adjunta do Colegiado de Geografia da Unespar/Campus União da Vitória e Coordenadora do Programa de Extensão “Observatório Polonês da Unespar” – E-mail: poloneses@unespar.edu.br

GLUCHOWSKI, K. Os poloneses no Brasil: subsídios para o problema da colonização polonesa no Brasil. Tradução de Mariano Kawka. Porto Alegre: Rodycz & Ordakowski Editores, 2005.
MAZUREK, J. A Polônia e seus emigrados na América Latina (até 1939). Tradução de Mariano Kawka. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2016.
POSADZY, I. Na trilha dos peregrinos: impressões de uma visita às colônias polonesas na América do Sul. Tradução de Mariano Kawka. Wydawnictwo Agape, Poznań, 2018.
WACHOWICZ, R. C. O camponês polonês no Brasil. Curitiba: Fundação Cultural, Casa Romário Martins, 1981.

28 comentários:

  1. Olá Professora Dra. Alcimara, parabéns pelo texto e pela dedicação à temática. Agradeço duplamente ao prazer da leitura do artigo e ao saber que há um grupo de pessoas dedicadas a cultura eslava, em especial nesse caso à polonesa, que não deixa sua história morrer dentro da sociedade brasileira; como sou descendente de ucranianos e luto pela preservação da memória dos eslavos, esse assunto me interessa bastante. Gostaria, se possível, de algumas palavras a respeito da seguinte dicotomia: há momentos em que a referência à cultura polonesa e seus indivíduos é retratada como “polonesa” e outras como “polaca”, qual delas seria a mais adequada, considerando que se trata de uma relação a identidade étnica de uma cultura?
    Obrigada, Talita Seniuk.

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    1. Bom dia Talita, obrigada por sua participação e sua questão.
      Os povos eslavos, poloneses e ucranianos, tem muito em comum, sendo possível pensarmos atividades e parcerias muito interessantes. Super feliz com sua dedicação às questões étnico-culturais. A discussão sobre o uso dos termos "polaca" ou "polonesa" é longa e complexa. Na literatura sobre o assunto é possível encontrar vários argumentos defendendo ou questionando ambos. Penso que o mais importante seja, ao escolher por um, você justificar baseando-se em autores e posicionamentos próprios. Conhecemos o fato de que o termo "polaca" por um período histórico foi utilizado de forma pejorativa no Brasil, acredito ter sido um dos motivos para que se desenvolvesse o uso do termo "polonesa" - sendo este último bem mais comum nas pesquisas científicas regionais. Entretanto, como boa apreciadora da cultura local e suas raízes, penso que uma boa alternativa seja você utilizar do termo que a própria comunidade pesquisada te sugerir. Caso se identifiquem com "polacos", ótimo. Se preferirem "poloneses", bom também. A Pesquisa Qualitativa de cunho étnico deve valorizar sempre a auto-identificação.
      Espero ter contribuído. Caso tenha mais dúvidas ou queira continuar o diálogo, segue o e-mail de contato do nosso Programa: poloneses@unespar.edu.br
      At.te,
      Prof. Alcimara

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  2. Primeiro de tudo quero parabenizar a Professora Dr.Alcimara pela sua dedicação, competência e principalmente pelo texto.

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    1. Bom dia Alessandra!
      Gratidão imensa por ter participado do evento e por ter lido o texto. Obrigada pelas palavras, sempre bom saber que nosso trabalho é valorizado. Abraço carinhoso.
      Prof. Alcimara

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  3. Todos sabemos do quão importante é a valorizaçao da Cultura seja qual for. Principalmente a NOSSA em si. Quero saber da Professora oque o levou, qual propósito da Professora escrever esse texto maravilhoso.

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    1. Bom dia Alessandra,
      obrigada pela participação e pela questão.
      Sou descendente de poloneses e no Mestrado pesquisei os poloneses de Rio Claro do Sul, Mallet/PR, comunidade onde nasci. Já naquele momento, em 2006, me chamou a atenção o fato de que as pessoas são muito ligadas à sua descendência étnica. Da mesma forma, percebi a quantidade de pessoas que, em outros lugares, valoriza a cultura polonesa. Então, resolvi tentar dar minha contribuição ao agrupar algumas ações por meio do Programa de Extensão, está sendo uma experiência muito bacana e interessante, conhecemos muitas pessoas e percebemos o tanto de coisa que acontece por aí.
      Abração.
      Prof. Alcimara

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  4. Olá Profa. Alcimara, parabéns pelo texto e pelo Observatório Polonês da Unespar que tem gerado tanta pesquisa a respeito dos poloneses e seus descendentes. Me interesso pelo assunto pois descendo de poloneses e estou iniciando uma pesquisa sobre a presença deles no município de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba, em meio a forte imigração italiana que identifica a cidade. Gostaria de fazer algumas questões pontuais:
    1 - Aproveitando a pergunda da colega Talita Seniuk: Com o tempo o termo "polaco" se tornou pejorativo aqui na região de Curitiba, preferindo-se chamar os descendentes de "poloneses". Isso ocorreu também na região de União da Vitória?
    2 - No início do texto a professora elenca os 3 últimos períodos da imigração polonesa no Paraná. Gostaria de saber qual seria a temporalidade e a localização das colônias do primeiro período que não é citado no texto? Seria Curitiba e região?
    3 - Durante a pesquisa junto aos descendentes ou mesmo nos locais de memória, como o cemitério, é possível encontrar bastante material escrito em polonês?
    4 - As colônias polonesas que estou investigando receberam mais imigrantes oriundos da Alta Silésia. Na região estudada é possível saber a origem dos imigrantes? Se sim, existe diferença na fala dos descendentes?
    Obrigado!
    Fábio Luiz Machioski

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    1. Oi Fábio, bom dia, obrigada pela leitura do texto e pelas questões.
      Estou ansiosa por conhecer a comunidade de Colombo, em especial o cemitério, que é o foco da minha pesquisa particular.
      Respondendo suas questões:
      1. Sim, na região de União da Vitória o termo "polaco" historicamente também se tornou pejorativo. Notada e principalmente por conta da associação com a prostituição no sudeste do país, também vinculado à identidade linguística e ao modo de vida mais interiorano.
      2. Vou sugerir que você procure um livro, ele dá conta de temporalizar e localizar as colônias da nossa região, é uma leitura fantástica: GLUCHOWSKI, K. Os poloneses no Brasil: subsídios para o problema da colonização polonesa no Brasil. Tradução de Mariano Kawka. Porto Alegre: Rodycz & Ordakowski Editores, 2005.
      3. Infelizmente não muito no Brasil. É algo que sempre me intrigou no estudo sobre os cemitérios poloneses, eles não aparecem muito nos relatos e nas publicações, acredito que se deva ao ocidental formato de encarar a morte e o luto. Tenho tido muita dificuldade, mas venho buscando trabalhar com a paisagem, fotografias, registros de óbitos e muita história oral. Ainda quero aprofundar a pesquisa na Polônia e quem sabe lá encontrar mais coisas.
      4. Ainda não conseguimos avançar tanto no sentido de resgatar as regiões de origem dos nossos imigrantes poloneses aqui da região, embora, informalmente eu saiba que a maioria também veio da Alta Silésia. Tenho pesquisado a genealogia da minha família polonesa justamente pra contribuir nessa busca. Na mesma medida, estimulo quem posso para que, da mesma forma, busquem saber mais sobre os seus. É um caminho de volta encantador que eu muito recomendo!
      Espero ter contribuído. Caso tenha mais dúvidas ou queira continuar o diálogo, segue o e-mail de contato do nosso Programa: poloneses@unespar.edu.br
      At.te,
      Prof. Alcimara

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  5. Olá, Talita. A Polônia em polonês é "polska" e quem habita lá é polar. Daí muitos teóricos defenderem chamar os descendentes de Polacos. No entanto, em latim, chamavam o país de Polônia, daí vem o gentílico polonês. Hoje, a Polônia adota oficialmente chamar seus território de Polska e seus cidadãos de polak,polka, polacy. Já os territórios onde há poloneses fora de suas fronteiras, ela nomeia como Polonia, é os descendentes de imigrantes, como polonijny. Estaria certo Polaco porque vem de Polska, mas como responderam abaixo, tornou-se pejorativo, então o pessoal acaba optando por polonês mesmo, já que Polônia é a latinização de Polska.

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    1. Obrigada Vilma, não sabia dos detalhes que você elencou; sabia, como um colega já comentou, dessa questão pejorativa, mas nada acadêmico. =)

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    2. Bom dia Vilma, que prazer vê-la por aqui! Faço minhas as suas palavras na resposta à Talita! Que diálogo interessante e rico, gratidão pelas contribuições!
      Prof. Alcimara.

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  6. Olá, primeiro quero parabenizar a professora Dr. Alcimara por sua dedicação neste brilhante trabalho que se trata da cultura polonesa no Brasil e em nossa região, uma cultura muito rica em todos os aspectos, porém pouco estudado em nossa região. Também sou descendente de polonês, e acho muito legal as histórias que os mais velhos de minha contam sobre a migração, pois no interior do município de Cruz Machado, mais precisamente no Pátio Velho, foi uma colônia de poloneses, onde pelo motivo de uma doença acabou matando grande parte dos poloneses. Hoje este lugar poderia ser um lugar de turismo polonês, como a professora também mencionou, mas esta abandonado, onde o mato tomou conta da área que era a vala, que eram colocado os corpos, sendo assim um pedaço da história da migração está abandonado.

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    1. Oi Ewaldo, bom dia! Que feliz fiquei com seu comentário e sua participação.
      Você realmente é privilegiado por descender de poloneses e morar em Cruz Machado, é um lugar riquíssimo em cultura e identidade, não só histórica mas também atualmente.
      Pátio Velho é um espaço de memória icônico e muito destacado na literatura regional por evidenciar um exemplo de adaptação ao meio muito difícil. Fica a dica para você pensar em algo e contribuir para a revitalização desses lugares e pela inclusão deles em um circuito étnico turístico.
      Lutar contra o abandono dos lugares e das paisagens geográficas simbólicas é uma bandeira que eu aprecio muito.
      Forte abraço,
      Prof. Alcimara.

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  7. Primeiramente parabéns a professora dra. Alcimara , gostei muito do texto, acredito que para os descendentes de poloneses em especial, é uma grande honra, esse resgate histórico e a valorização da cultura, quanto ao programa e o acervo e o programa de extensão é fantástico e pode contribuir muito para que se mantenha viva nossa cultura, acredito também que o acervo seja muito, será muito bem utilizado por gerações futuras, bem como o programa de extensão.
    Ass Felipe Luiz Mokochi

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    1. Oi Felipe, bom dia! Obrigada pela participação e pelas palavras, fico muito feliz. É exatamente essa a nossa intenção, ir buscando sistematizar, organizar e também divulgar o que temos e o que fazemos. Você também pode contribuir e muito, pense nisso!
      Abração.
      Prof. Alcimara

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  8. Olá professora, Alcimara Aparecida Föetsch, venho parabenizar pela grande paixão que a vossa pessoa expressa, pelas culturas da nossa região. O texto, só reforça como a senhora é engajada nesta luta. Parabéns aos demais professores.

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    1. Olá, bom dia, obrigada pela leitura do texto, pela participação e pelas palavras. Esses incentivos são muito importantes pra nós!
      Forte e carinhoso abraço.
      Prof. Alcimara

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  9. Bom dia professora. Parabéns pelo excelente trabalho em prol da cultura polonesa. Quem me conhece pessoalmente vai achar estranho,mas também sou descendente de poloneses. Minha bisavo materna veio da Polônia para o Brasil,e meu bisavô, marido dela ,veio ao Brasil da Alemanha.
    Tenho uma mistura enorme de sangues.
    Voltando ao que realmente interessa,fiquei curioso sobre um dos trabalhos realizados no programa."História da Matemática Polonesa e sua iInfluência no Pensar Contemporânea " do Professor Dion Rossi Pasievitel Bonilson Alves(Colegiada de Matemática ). Do que se trata ,exatamente, esse trabalho?

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    1. Oi, Marcos. Obrigada por sua participação e questionamento.
      Vou compartilhar aqui contigo o resumo do projeto do professor Dion e também o e-mail dele caso você tenha mais algum questionamento, tá?
      As contribuições científico-tecnológicas polonesas são pouco conhecidas e pouco exploradas no Brasil, mesmo em comunidades compostas majoritariamente por descendentes de poloneses. Este desconhecimento é ainda maior no que diz respeito a rainha das ciências, a matemática, mesmo em ambientes universitários. Em geral, o estudo de questões migratórias e linguísticas predominam, deixando à margem as questões relacionadas ao desenvolvimento das ciências exatas. Na comunidade local, composta por um número considerável de descendentes de poloneses, o desconhecimento sobre a matemática desenvolvida na Polônia é notório. No curso de licenciatura em matemática da UNESPAR, o desconhecimento sobre o assunto é generalizado. Tendo-se isto em vista, propõe-se promover a popularização da escola matemática polonesa no meio acadêmico e social, buscando a integração das comunidades polonesas da região com o ambiente universitário sob um viés histórico.

      E-mail do professor Dion: dion.rss@gmail.com
      Grande abraço,
      Prof. Alcimara

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  10. Sou o Marcos Cesar de Paula.Desculpe alguns problemas na digitação. Foram causados pelo corretor ortográfico.

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  11. Boa noite, eu fico honrada em participar do Observatório Polonês e faço parte do grupo das expressões culturais.
    No dia de hoje faço minha contribuição com uma pequena reflexão acerca de nossos ancestrais poloneses.

    Existem datas diferentes acerca da primeira onda imigratória dos Romani (Rom, Ciganos), mas acredito sobre coincidir com a época da abolição da escravatura e as políticas de entradas de estrangeiros em território nacional porém todos relatam sobre a segunda Guerra Mundial, final de 1920 e de 1930, quando ciganos rom, juntamente com os judeus, formavam parte de um grupo mais indesejável de imigrantes que tentavam, a todo custo, escapar da perseguição nazista.

    "Um raro e importante documento de imigração cigana no Arquivo Histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro. O documento explicita o fato ocorrido em 14 de dezembro de 1936, quando 30 POLONESES e gregos ciganos, a bordo do navio Almirante Alexandrino, oriundo de Lisboa, foram impedidos de desembarcar no porto de Santos, no Estado de São Paulo (Carneiro & Strauss, 1996, p. 121). Os ciganos foram enviados de volta a PortugaL."
    Como não aceitos como ciganos, muitos começaram a adotar identidades de "europeus brancos" e quando tinham a pela mais escura eram de cidadania “latina” (incluindo o italiano, o português, o espanhol, o francês e o romeno). (revista USP)

    "Seguindo as nacionalidades indicadas por José de Oliveira China, registros governamentais indicam que 77.781 imigrantes da Albânia, Bulgária, Checoslováquia, Grécia, Hungria, POLÔNIA, Romênia, Rússia e Iugoslávia entraram no Brasil entre 1926 e 1935 (Gibson, 1936). Seria quase impossível, neste momento, determinar quantos desses imigrantes eram, na realidade, ciganos rom."

    No dossiê sobre os Ciganos na Revista de História da Biblioteca Nacional fala que: "desde os primórdios, os ciganos estiveram nos quatro cantos do Brasil. Por isso, bem se pode afirmar que, para compreender a cultura brasileira em sua totalidade, é preciso investigar as contribuições dos ciganos para as artes, a toponímia, o trajar, os hábitos, enfim, para a vida tradicional do país.(p.19)

    Lembro que Papusza a poetisa polonesa era cigana do grupo Polska Roma (ciganos da planície polonesa, grupo de ciganos presente na Polônia desde o século 15.

    Quando começamos a adentrar nas expressões culturais da etnia romani vamos enxergando suas contribuições por onde passaram.

    Hoje apenas esta reflexão ou provocação!!

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    1. Boa tarde Scharlene!
      Que felicidade saber que leu o texto e poder contar com uma contribuição tão rica e curiosa como essa que postou acima. Fico realmente muito agradecida!
      Pensar sobre ciganos poloneses é tarefa provocadora e sua pesquisa tão bem apresentada e descrita acima nos convida a observar as histórias, memórias e lendas que cercam e dão vida ao nosso povo.
      Forte e carinhoso abraço!
      Alcimara

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  12. Boa noite Professora Alcimara. Já havia ouvido falar sobre o Observatório Polonês, ainda que de forma superficial. No entanto me surpreendi com a abrangência dos projetos. A região de Porto União da Vitória tem um potencial muito grande para ser explorado, em relação a cultura polonesa. Nesse sentido, considerando a particularidade brasileira, e as diversas literaturas em torno da miscigenação racial, a pesquisa cientifica tem se mostrado uma grande aliada para reforçar os laços de identidade cultural. A nível do Observatório Polonês, existe algum estudo em torno da porcentagem de judeus poloneses que emigraram da Polônia para o Brasil em cada um dos quatro períodos colonizadores?

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    Respostas
    1. Boa tarde Sérgio,
      fico imensamente grata por sua leitura do texto e sua contribuição. Então, infelizmente não temos nada ainda em específico sobre os judeus poloneses, mas com certeza em nossa biblioteca polonesa há muita coisa a ser descoberta sobre a temática!
      Não sei exatamente o por quê de seu interesse nessa perspectiva, mas já o convido para juntar-se a nós. Como é um Programa de Extensão, a participação de várias pessoas e segmentos é fundamental em sua essência.
      Pense sobre e se tiver interesse mande-nos um e-mail: poloneses @unespar.edu.br
      Forte abraço,
      Prof. Alcimara

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