Liara Bernuci Crippa


OS INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA


Vivemos em um mundo plural, a diversidade pode ser observada de diversas formas no nosso cotidiano, as pessoas passaram por transformações aos longos dos anos, em que lutam não só por seus direitos, mas para possuir a liberdade de ser o que realmente se é, sem máscaras. Dessa forma, a sociedade foi se transformando aos poucos, os espaços para muitos grupos passaram a ser adquirido, ainda que sabemos dos problemas que continuam a aterrorizar grande parte das minorias, como a violência.

A sala de aula, é um espaço diverso, cada aluno possui seus traços de individualidade, assim como os professores, mas então por qual motivo muitas vezes tentamos “agrupar” os indígenas como se fossem todos iguais? Utilizando termos genéricos, imagens que muitas vezes não representam a realidade, ou até mesmo imaginar que as etnias “pararam no tempo”? Se o que observamos no dia a dia são mudanças, então qual o motivo de apenas os indígenas serem tratados como retratos de um passado? Existe algo de errado nesta lógica.

Assim, quando pensamos na sala de aula, fica claro que o livro didático é um elemento que acompanha professores e alunos nas mais diversas disciplinas e nas mais diversas salas de aula do nosso país, muitas vezes a mesma coleção é utilizada durante todo o período escolar, mudando apenas a edição antiga pela nova, então o  livro didático é um elemento decisivo na formação de cidadãos críticos e de opiniões sobre os diversos povos estudados nos diversos anos da disciplina de história, contribuindo para o respeito a diversidade. É nesse âmbito que a lei 11.645/08 mostra sua importância, já que tornou obrigatório o estudo da temática da História e cultura afro-brasileira e indígena.

Dessa forma, analisar como o livro didático segue a lei e como o mesmo analisa os indígenas e sua diversidade, se mostra importante para compreender a sociedade que estamos formando, visto que nos tempos atuais é comum vermos o desrespeito com as diferenças, pessoas que no lugar de pensar nos direitos que os indígenas deveriam ter, ficam defendendo a extinção dos mesmos. Nesse caminho, faz-se necessário observar o material didático, que muitas vezes é a principal forma de obtenção de conhecimento dos professores e dos alunos das redes de ensino. 

Nossa história
A história do nosso país é muito diversa e mais antiga do que se apresenta, entretanto, ao observar alguns exemplares de livros didáticos, podemos notar um foco na história europeia, muitas vezes deixando de lado personagens importantes da nossa história, ou até mesmo da história mundial.

Pensando dessa forma, vamos tomar como marco a invasão portuguesa das terras que hoje pertencem ao Brasil, em 22 de abril de 1500. Esse momento é de suma importância para compreender não só nossa situação atual, como o nosso passado, já que para muitos a história anterior a 1500 está ainda coberta de névoa, devido a dificuldade de se estudar esse período, ou muitas vezes o fato das pesquisas da universidade não chegarem as escolas públicas de ensino. Então é, de certa forma, até comum encontrarmos estudantes nas salas de aula que muitas vezes tratarem o 1500 como o início da nossa história, ignorando assim a longa permanência dos nativos no nosso país.

É de conhecimento que a história da América é muito antiga, por mais que ainda há divergências sobre a data exata até o presente momento com o grupo do “Clovis-first” e dos pré-clovistas, o fato é que ainda há muito o que ser descoberto e  o papel dos arqueólogos  é de suma importância para ajudar a “clarear” a história do nosso país:  “Sabe-se pouco da história indígena: nem origem, nem as cifras de população são seguras, muito menos o que realmente aconteceu.” (Cunha, 1992, p. 11)

Além da dificuldade de se estudar o passado por falta de dados, existe também o problema que veio após o encontro. O genocídio que ocorreu após o choque cultural, não matou apenas as etnias em si, levou junto com o sangue os indígenas sua cultura material e imaterial, e até mesmo sua língua. Sabemos que além da violência dos colonizadores contra os nativos, as doenças foram responsáveis por muitas mortes junto outros fatores:
Mas não foram só os microorganismos os responsáveis pela catástrofe demográfica da América. O exacerbamento da guerra indígena provocado pela sede de escravos, as guerras de conquista e de apresamento em que os índios de aldeia eram alistados contra os índios ditos hostis, as grandes fomes que tradicionalmente acompanhavam as guerras, a desestruturação social, a fuga para novas regiões das quais se desconheciam os recursos ou se tinha de enfrentar os habitantes (vide, por exemplo, Franchetto e Wright), a exploração do trabalho indígena, tudo isto pesou decisivamente na dizimação dos índios.(Cunha, 1992, p. 13-14)

Do encontro do novo mundo pra frente, quando observamos o livro didático percebemos que os indígenas de certa forma foram excluídos de muitos momentos, dando até mesmo a sensação de que após o Brasil Colonial e com o surgimento da República não havia indígenas, ou talvez esse sentimento ocorra devido ao mito das três raças: “[...]mito da democracia racial; através dele aprendemos que o Brasil é um país onde não existe preconceito ou discriminação de raça ou cor e onde as diferenças são absorvidas de forma cordial e harmoniosa.”  (Gênero e diversidade na escola, 2009, P.200)

Mas no fundo, o real motivo deve ser por que em todos esses anos os indígenas não foram tratados como parte do país, deveriam ser civilizados, o idioma deveria ser a língua portuguesa, sua cultura esquecida, suas terras deveriam ser utilizadas para o que era de interesse comercial. Esse pensamento permaneceu com o Brasil Colônia, passou pelo Império, e claro, não seria diferente na República.  Como então manter viva uma cultura em um país que muitas vezes tratou o indígena como tutelado, como com o Decreto nº 5.484 de 1928:

As terras ocupadas por indígenas, bem como o seu próprio ritmo de vida, as formas admitidas de sociabilidade, os mecanismos de representação política e as suas relações com os não-índios passam a ser administradas por funcionários estatais; estabelece-se um regime tutelar do que resulta o reconhecimento pelos próprios sujeitos de uma ‘indianidade’ genérica, condição que passam a partilhar com outros índios, igualmente objeto da mesma relação tutelar. (PACHECO DE OLIVEIRA, 2001, p.224)

A história indígena foi (e é) marcada por lutas, por resistência, só assim um povo que foi (e continua sendo) massacrado de diversas maneiras, que foi excluído de sua própria terra com a chegada do homem branco pode continuar sobrevivendo. A “liberdade” em si só veio com a Constituição Cidadã de 1988, mas mesmo assim, se observamos de 1988 para cá a história desse povo com os mais diferentes governantes se resumiu em lutas para manter viva a chama de sua esperança, esperança de dias em que vão ser valorizados como os fundadores da nossa terra, em que as terras indígenas sejam respeitadas e não invadidas, quem sabe assim, até mesmo a própria história será reescrita, como dizia Monteiro: “Páginas inteiras da história do país serão reescritas; e ao futuro dos índios reservar-se-á um espaço mais equilibrado e, quem sabe, otimistas” (1995, p. 228)

Dessa maneira, para que se valorize a história indígena e conheça seu protagonismo, o estudo da diversidade é essencial, já que possuímos muitos povos, com diferentes línguas, costumes e manifestações culturais. Conhecer o “diferente” é abrir-se a novas visões, embarcar em uma nova aventura, é respeitar as diversas formas de se viver, afinal, não somos todos iguais, as pessoas constroem suas memórias, seus gostos de maneira diferenciada, então o que há de errado em falar uma língua diferente? Viver de maneira harmônica com a natureza? Ou além, o que há de errado em um indígena frequentar uma universidade?

As pessoas querem aproveitar o mundo de maneira diversa, independentemente de suas origens, entretanto, o preconceito, o racismo, e o etnocentrismo surgem como um impedimento para muitos, principalmente quando acarreta em manifestações de violência. Muitas vezes por puro senso comum, acabamos repetindo noções estereotipadas através de frases como: “Filho de peixe, peixinho é”, isso ajuda a manter diversos preconceitos, o mesmo ocorre com os indígenas quando se repete pensamentos genéricos sobre os mesmos.

É neste momento que podemos entender a importância no ambiente escolar para lutar contra esses estigmas e propagar conhecimento e respeito: Ao identificarmos o cenário de discriminações e preconceitos, vemos no espaço da escola as possibilidades de particular contribuição para alteração desse processo. A escola, por seus propósitos, pela obrigatoriedade legal e por abrigar distintas diversidades (de origem, de gênero, sexual, étnico-racial, cultural etc), torna-se responsável – juntamente com estudantes, familiares, comunidade, organizações governamentais e não governamentais – por construir caminhos para a eliminação de preconceitos e de práticas discriminatórias. Educar para a valorização da diversidade não é, portanto, tarefa apenas daqueles/as que fazem parte do cotidiano da escola; é responsabilidade de toda a sociedade e do Estado. (Gênero e diversidade na escola, 2009, P.31)

Foi exatamente pensando na relevância de estudar a diversidade que tivemos a importantíssima lei 11.645/08, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena no ensino médio e fundamental: § 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. (Brasil, 2008)

É dessa forma que o livro didático se torna um material indispensável, já que é distribuído gratuitamente nas escolas públicas pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), é um material em que professores e alunos possuem acesso facilmente, e como tal, possui teorias e explicações sobre diversos temas. Não iremos discutir a questão do livro como mercadoria, voltado ao lucro, já que não é interessante no presente momento.

Assim, o livro é um porto de conhecimentos diversos, no caso do livro de história é interessante observar como os indígenas são retratados nos diversos momentos da nossa história, passando no período pré-colonial até os capítulos dedicados as contemporaneidades. Entretanto, o material didático está longe da perfeição, avanços foram feitos, mas ainda é notável alguns pontos negativos, como a invisibilidade do indígena durante vários períodos da nossa história.

Nesse sentido, quando observamos o livro utilizado no ensino médio do Colégio Denise Cardoso de Albuquerque, e que vai continuar em uso até o fim de 2020: História Global de Gilberto Cotrim, podemos observar algumas dessas falhas. No primeiro volume da coleção (referente ao 1º ano do ensino médio), vemos algo sobre os nativos no capitulo sobre os primeiros humanos que aborda o evolucionismo e criacionismo. O capítulo que de fato trata sobre as nossas origens é os “Primeiros povos da América”, em é tratado sobre as hipóteses de migrações ao território americano, além de falar um pouco sobre os povos caçadores-coletores do Brasil. Após esses dois capítulos os indígenas são esquecidos, serão relembrados apenas no final do livro com a parte dedicada aos “Povos da América”, sendo seguida pelos capítulos de expansão europeia e conquista.

Mesmo sendo uma coleção diferente, a que provavelmente será utilizada como material único no Estado do Paraná: História Sociedade & Cidadania de Alfredo Boulos, apresenta em seu primeiro volume (referente ao 6º ano) o mesmo conteúdo que o livro de Cotrim, com algumas alterações na ordem.

Nas duas coleções observamos muito sobre a Europa, e em muitos momentos, a sensação de que os indígenas “desapareceram” para retornar somente no capítulo sobre invasão da América.  

Então, como devemos trabalhar nossa história e focar na população que aqui já habitava bem antes de 1500? Como professores devemos levar ao nosso aluno um conhecimento a mais do que está nos livro, é aí que entra a importância de fazer com que o acesso a materiais sobre os indígenas cheguem as escolas e sejam utilizados não apenas em momentos festivos (como o “dia do índio), mas durante todo o ano, conscientizando e trabalhando com a atualidade dos nossos indígenas, retratando suas dificuldades, suas lutas.

A população indígena apresenta uma diversidade que muitas vezes é trazida pelos materiais didáticos como algo genérico, não valorizando as especificidades das etnias que construíram e constroem o nosso país, dessa forma, observar o material e tentar trabalhar com novos encaminhamentos é de suma importância para que possamos chegar em uma sociedade que respeite a alteridade: [...] a recuperação da própria história é um direito fundamental das sociedades. É também, pela atual Constituição, o fundamento dos direitos territoriais indígenas, e particularmente da garantia de suas terras. (Cunha, 1992, p. 20)

Referências
Liara Bernuci Crippa é professora de história na rede pública e mestranda em Ensino de História pelo ProfHistória.

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas. Rev. Bras. Hist. [online]. 2017, vol.37, n.75, pp.17-38.  Epub Aug 17, 2017. ISSN 0102-0188. 
AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. O projeto de pesquisa: o conteúdo e seus itens. Revista Expedições: Teoria da História & Historiografia Ano 2, N.3, dezembro 2011
BARROS, José D'Assunção. O projeto de pesquisa em História. Da escolha do tema ao quadro teórico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
BRASIL. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008.
CUNHA, Manuela Carneiro. História dos índios no Brasil / org. Manuela Carneiro da Cunha. — São Paulo : Companhia das letras Secretaria Municipal de Cultura : FAPESP, 1992.
PACHECO DE OLIVEIRA, João & ROCHA FREIRE, Carlos Augusto. A Presença Indígena na Formação do Brasil. Brasília, SECAD/MEC e UNESCO, 2006.
SEED. Escolha do Livro Didático: as obras mais escolhidas pelos professores serão utilizadas em toda a rede. Participe dessa escolha!. 22 de agosto de 2019. Disponível em: 


26 comentários:

  1. Professora Liara, o texto seu texto discute um tema eu diria delicado quando se fala de livros didáticos, que apesar das Leis 10.639 e 11.645/08 ainda persiste em muitos casos em colocar o índio de uma genérica, vivemos em um país com proporções continentais e acredito que o livro didático mesmo que queira trabalhar com as especificidades de cada região, ele não consegue. Mas sei que o livro pode e deve melhorar quando aborda os povos indígenas no Brasil. Pergunto a você que está fazendo mestrado profissional em ensino de História – Profhistória. O cenário de hoje as políticas públicas para educação, como a aprovação da nova BNCC para o ensino Médio, os livros didáticos de história, terão espaço abordar os povos indígenas na história do Brasil conforme a Lei 11.645/08? E a formação do professor pode fazer a diferença, já que a lei aprovada que regulamenta a nova BNCC ainda persiste com conteúdo de “história da humanidade” e um poucos conteúdos de “História do Brasil”?

    Luciana Martinez de Oliveira Costa

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    1. Olá!
      Muito obrigada por ter realizado a leitura do meu texto.
      Realmente o tema é delicado, sabemos que ainda precisamos de um grande avanço para, de fato, fazermos jus as Leis.
      Sobre a sua primeira pergunta, se formos analisar as políticas públicas e a BNCC (onde viramos o bloco de ciências humanas), acredito que vão ocultar ainda mais o indígena, transformando a Lei 11.645 em algo ainda mais longe de se concretizar no ensino.
      Sabemos que nossa história é de muito tempo atrás eurocêntrica, na UEM existem vários debates para se mudar um pouco a grade, mas avanços não são feitos, então acredito que formações em que se trabalhem mais etnicidades são de suma importância, uma pena que muitas vezes as faculdades não dão esse foco, acabam estudando muito a Europa, e pouco do nosso país.

      Abraços

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  2. Parabéns pelo trabalho que apresenta a proposta de pesquisa com livro didático. Minha pergunta qual o método e os instrumentos que você vai utilizar para realizar a observação do tema “como os indígenas são retratados nos diversos momentos da nossa história” nos livros didáticos adotados na pesquisa?
    Teresinha Marcis

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    1. Olá! Muito obrigada por ter lido!
      Para analisar como os indígenas são retratados pretendo irei fazer a análise das imagens e textos dos livros de Boulos e Cotrim (os dois escolhidos para o trabalho), fundamentando na pesquisa teórica bibliográfica .

      Obrigada

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  3. Boa tarde Liara!
    O ensino de História indígena foi difundido ao final do século XX, carregados por estereótipos negativos e romantizados. Diante da atual BNCC e as novas coleções dos livros didáticos, estes conceitos avançaram ou retrocederam frente as lutas quanto aos grupos étnicos?
    Lucivaine Melo da Silva

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    1. Olá!
      Sim, esse peso da história indígena com seus estereótipos ainda é muito persistente.
      Observo livros didáticos por uns 10 anos, que é o período que leciono, não posso afirmar sobre algo mais antigo que isso, mas com o passado tivemos alguns avanços, mas ainda persiste diversas falhas, por exemplo no livro do Cotrim do 3o ano E.M, no capítulo da Ditadura não temos nada sobre os indígenas, até box sobre a Copa do Mundo têm, mas nada sobre os indígenas e sabemos o quanto esse período foi cheio de mortes entre eles. Além de que muitas vezes trazem pouca coisa sobre os indígenas, é meia página, as vezes nem isso, poucas vezes mais...no livro do 7o ano do Boulos temos apenas 1 página de informação sobre os Tupis, seguida de duas páginas com textos (um sobre a mandioca e outro sobre os mantos Tupinambá). Eu até entendo que não temos muitas fontes sobre o período pré Cabral, mas poderiam colocar mais coisas, parece que em alguns períodos não existia indígena, sobre as lutas atuais mesmo, ou até mesmo sobre a participação dos indígenas nas políticas públicas, ainda falta visibilidade.

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  4. Parabéns pelo texto e pela pesquisa Liara.
    Em uma conjuntura anterior eu te perguntaria acerca das possibilidades, no momento das escolha dos livros do PNLD, de lutarmos por melhores abordagens da temática indígena, inclusive na contemporaneidade, levando em conta a realidade destes povos atualmente. Entretanto, visto que a conjuntura mudou, prefiro levantar a questão da perspectiva deste panorama. Se a educação como um todo está ameaçada, de acordo com sua pesquisa, qual sua perspectiva sobre o futuro do ensino da história e cultura indígenas?

    Como sugestão para o trabalho com as conquistas dia povos indígenas você poderia observar a participação dos movimentos indígenas na Assembleia Nacional Constituinte, utilizando em sala, inclusive, o poderoso discurso em plenário do líder indígena Ailton Krenak. Esta é uma fonte histórica que possibilitaria boas análises pelos alunos.

    Jeferson José Gevigier

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    1. Olá!
      Muito obrigada por ter feito a leitura do meu texto, Jeferson.
      Como apontado por você, estamos passando por momentos caóticos na educação, e principalmente no ensino de História, sabemos que a educação muitas vezes parece ser abandonada pelos governantes, assim como as reivindicações dos indígenas, que lutam diariamente para manter viva sua cultura e seus direitos.
      Neste sentido, pode até parecer pessimista, e me desculpe por isso, mas no momento atual, eu creio que o futuro do ensino de história e cultura indígena está ameaçado, visto que temos governantes que não se importam nem com a história e nem com os indígenas, mas é aí que eu digo que também devemos permanecer fortes como historiadores, não é de hoje que temos que lutar pelo nosso lugar.
      Obrigada

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  5. Olá Liara, excelente texto, que lança um olhar crítico sobre o ensino da história dos indígenas. Diante das enormes dificuldades de trabalho sobre o tema como você poderia descrever de acordo com sua vivencia a prática dos professores sobre esse tema? Obrigado
    Marcos José Soares de Sousa.

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    1. Olá, Marcos!
      Agradeço por ter lido meu texto.
      Realmente trabalhar o assunto em sala não é tão simples como parece, os alunos ainda estão muito apegados ao estereótipo de indígena que vive na "floresta", que "anda nu", é por isso que devemos buscar novas abordagens, ano passado resolvi trabalhar um pouco com documentários sobre as terras indígenas, já que tem aluno que acredita que os indígenas não passam por dificuldades, possuem muita terra e por aí vai, e também trabalhei um pouco com música (com artistas indígenas que fazem reivindicações) para mostrar as dificuldades e lutas, o que eu acho que devemos fazer é ir para uma abordagem um pouco além do material didático, sei que muitas vezes falta tempo, mas eu acredito que só assim iremos mudar um pouco esse pensamento e gerar no aluno consciência e empatia.

      Obrigada!

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  6. Parabéns pela pesquisa. No sentido de suporte, como superar de forma concreta o currículo (visível e oculto)? Já que uma grade curricular, um sistema de avaliação ( inclusive, o vestibular) foram constituídos politicamente, e acabam sendo os vetores da organização escolar.

    DIEGO LOPES PEREIRA

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    1. Olá, Diego!

      Superar o currículo é algo complexo, o trabalho do professor busca ir além do currículo formal, visto em que sala ocorrem discussões que "fogem" do esperado,e isso faz parte da educação como um todo, acredito que nos momentos em que trabalhamos questões que normalmente não possuem tanto foco nas diretrizes, que damos atenção as minorias, que falamos sobre o cotidiano e problemáticas atuais é um momento de superação da imposição curricular. É claro que os vestibulares seguem o currículo formal, a organização segue o currículo, e acredito que nesses âmbitos não iremos ter grandes modificações.

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  7. Olá, Liara
    Primeiramente, gostaria de te parabenizar pela pesquisa. Tive contato com a educação para as relações etnico-raciais tanto como disciplinas da graduação, quanto nas aulas desenvolvidas para o PIBID, no abordei sobre a representação dos povos indígenas através da História da pintura no Brasil.
    Enfim, refletir sobre a questão indígena ou ainda sobre o livro didático é algo que geralmente está nos currículos de formação dos professores de História. Contudo, pesquisas indicam (não que de forma generalizada) que exista profissionais que não possuem formação em História, mas que estão ocupando a cadeira de professor(a) de História. Como você vê que isso pode prejudicar ainda mais no quesito de fazer uma análise conjunta com os estudantes a respeito dos povos indígenas nos livros didáticos?

    Mateus Delalibera

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    1. Olá, Mateus!

      Bom saber que você se interessa pela temática. Muito obrigada por ter lido meu trabalho, me interesso muito sobre as representações, gosto de analisar as imagens de Debret e Rugendas.

      Sobre sua pergunta, sabemos que em algumas regiões, por falta de professores formados, alguns acabam exercendo a função de um licenciado, isso ocorre muito nas disciplinas de exatas, onde professores de Matemática acabam dando aula de química (um exemplo), mas também ocorre nas ciências humanas, e com a disciplina de história, acredito que isso é muito prejudicial, somente o especialista na área entende a metodologia e possui o olhar para trabalhar a história, estimulando a empatia pelos outros povos, tentando quebrar a visão eurocêntrica e estimulando os estudantes a analisarem o indígena em seu contexto, mostrando a importância da diversidade cultural. Me preocupo, com esse achismo de que qualquer um pode dar aula de história, isso tira a nossa credibilidade, mas bem...estamos em um mundo em que todos querem opinar sobre história, mas não querem ouvir o historiador, não é mesmo?!
      Abraços!

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  8. Olá! Gostei muito de ler o artigo!
    Em uma parte do texto você menciona que em certo ponto da história, o modo de vida indígena passou a ser de tutela governamental. Com isso, gostaria de saber como ocorreu essa troca de mentalidade, do extermínio para a "guarda". Isso porque, desde de os primeiros anos da "descoberta", até os dias atuais, sabemos que os índios ainda continuam sendo perseguidos, exterminados e apagados do cotidiano brasileiro. Então, como ocorreu o surgimento dessa noção (embora falha) de proteção dos indígenas por parte das instituições governamentais?

    Guilherme Bohn dos Santos

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    1. Olá,Guilherme!

      Obrigada por ter feito a leitura!
      Exato, até hoje na prática, por mais que a FUNAI exista, os indígenas continuam sendo vítimas de perseguição e extermínio.
      Os conflitos foram existentes durante toda a 1a República, vai surgir exatamente o SPI por causa do extermínio que era defendido por muitos , como von Ihering, que defendia o massacre daqueles que fossem contra a "civilização", o Brasil então começou a ser acusado em um Congresso em Viena, vai ser devido a isso que vai surgir o SPILTN - Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (que depois se separou é virou SPI), visava proteger e integrar o indígena.Em 1928 diziam que os os indígenas eram incapazes judicialmente é passaram a ser tutelados pelo SPI.

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  9. Olá Liara, de acordo com sua experiência e suas visões,e tendo em vista a falta de informações no livro didático, como o aluno tem compreendido o papel do índio em nossa sociedade?

    José Júlio dos Reis Matos

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    1. Olá, José!
      Percebo que muitos alunos ainda associam a imagem indígena àquela do Brasil colonial, possuem certa dificuldade de entender que o indígena não precisa estar em uma aldeia para " ser índio", percebo também que muitas vezes são influenciados pela mídia com aquelas frases do tipo: "índio tem muita terra".
      Por isso acho que é bom irmos além do livro didático, pegar notícias e fazer um trabalho de conscientização e respeito às diferenças, além de explicar a importância da terra indígena.

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  10. Olá, Liara! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pelo excelente texto. Por conseguinte, percebemos na nova BNCC, um recuo da proposta onde a História Indígena se torna obrigatória na grade curricular, nota-se que ainda há lacunas nas abordagens do tema nos livros didáticos. Diante disto, com a necessidade de desmistificar e refletir o papel dos povos indígenas, o que o docente pode fazer para tentar preencher esses espaços?

    Jeane da Silva Lopes.

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    1. Olá, Jeane!
      Tudo bem?

      Se o livro didático já deixava (deixa) a desejar a respeito da temática indígena, a BNCC só fez piorar...
      Eu entendo que muitas vezes por falta de tempo acabamos nos atendo ao material didático , mas para refletir sobre o papel dos indígenas é necessário ir além, eu venho tentando trabalhar com a atuação indígena em busca de seus direitos, com músicas, notícias, acredito que se pegarmos notícias sobre a invasão da terra indígena, a violência contra os mesmos, trabalhando a atualidade preenchemos um pouco essas lacunas, gosto também de refletir a velha questão da colonização, mostrando artefatos da ocupação antiga das diversas etnias e trabalhando a invasão, evitando o termo "descobrimento".


      Liara Bernuci Crippa
      Flórida /PR

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  11. Boa noite, fui conduzido ao seu texto por tratar de um tema que também trabalho e tenho observado que nos livros didáticos quando tratam do índio somos levados a passar um conhecimento de um "índio genérico" que exalta as culturas tupinambá e tupi, influenciados pela "tupimania". O meu questionamento vai em direção em como trabalhar os indígenas locais em sala de aula já que eles são excluídos dos livros didáticos, quando não existe material tratando sobre, ou superficialmente possuímos algum tipo de material sobre os indígenas que pisaram em nossos municípios muito antes de nós atuais povoadores?

    Antonio Marcos de Almeida Ribeiro
    macribial@yahoo.com.br

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    1. Olá!
      Tudo bem?

      Como você apontou a carência de materiais realmente é uma barreira para se trabalhar as etnias locais, muitas informações acabam sendo as dos colonizadores e confesso ter um pé atrás com algumas"fontes". Eu ando utilizando o site que deixo abaixo para trabalhar os indígenas do PR, principalmente os Guarani que foram os que ocuparam algumas regiões próximas.

      https://pib.socioambiental.org/pt/Categoria:Povos_ind%C3%ADgenas_no_Paran%C3%A1

      Usar também os achados arqueológicos para mostrar a ocupação prévia e da região perto também é algo que considero importante.

      Obrigada por ler!

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Olá, Liara. Parabéns pelo texto. Sua temática muito se aproxima da que venho desenvolvendo, já que num capítulo da minha tese, farei a análise do material do Boulos, por este ser utilizado nas escolas indígenas do território Potiguara, as quais venho estudando. Uma das questões que me incomoda na maioria dos livros é justamente o fato de tratarem os povos indígenas como genéricos, quando sabemos que os costumes se diferem muito de uma etnia para outra. Pelo que percebi, em seu trabalho, essa é uma questão que também foi observada por você, né? Além disso, percebo que os indígenas geralmente são silenciados no contexto da formação da sociedade nacional, aparecem no período colonial e, quando muito, mais alguns dados do contexto atual. Concorda que ainda temos muito a amadurecer nesse sentido?

    Abraço,
    Vânia Cristina da Silva.

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    1. Olá!

      Vânia,bom saber que você também está estudando os indígenas nos livros didáticos, quem sabe com mais trabalhos (e críticas) os autores de livros didático reflitam sobre algumas questões.
      Assim como você, também analisei o Boulos , e é como você disse, o indígena é apresentado como se as etnias fossem todas iguais, e realmente vendo o quanto o material didático esquece dos indígenas em diversos períodos, visto que desaparecem após a 1a República e só retornam, praticamente, com a Constituição de 1988...uma lástima! Sem dúvidas ainda há muito a amadurecer, inclusive na nossa prática, as vezes vale mais a pena darmos mais atenção a essas questões do que avançarmos um capítulo.


      Muito obrigada por ter lido!

      Liara Bernuci Crippa
      Flórida/PR

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