REMODELANDO A FRONTEIRA?
ESPAÇO, OCUPAÇÃO, COMÉRCIO E CONFLITOS – FACES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
A formação de discentes do curso de
licenciatura em História prevê a atuação/ida destes ao ambiente escolar a fim
de que conheçam diferentes aspectos de seu futuro espaço de trabalho, além da
lida que envolve a elaboração de materiais de ensino, identificação do público
ao qual se destina e sua aplicação em sala de aula.
Dentro dessa perspectiva da formação de
futuros professores e sua relação com a produção do conhecimento histórico a
partir da ida aos arquivos, identificação de sujeitos e suas atuações em
diferentes contextos históricos, a presente pesquisa busca fazer essa
inter-relação a partir da elaboração e aplicação de oficinas aos graduandos do
curso de História da Universidade Federal do Pará/Campus Ananindeua, a fim de
fazer interlocução entre as atividades de pesquisa realizadas em arquivos e a proposição
de suas potencialidades aplicadas ao ensino na Educação Básica, com o objetivo
de aproximar as atividades e os conhecimentos adquiridos em atividades
acadêmicas a atuação nas aulas de história. Para isso partimos da experiência
de pesquisa do projeto “A lei de terras
e a criação de
gado no Turiaçu:
impactos do projeto
de lei (1840-1852)”.
A
fronteira por dentro
Desde 1772, a fronteira físico-administrativa
entre o Pará e Maranhão se encontrava no rio Turiaçu, região que foi marcada
pela diversidade de sujeitos e suas ocupações como mocambos formados por
fugitivos da escravidão, dos aldeamentos e do recrutamento militar, por outro
lado, tinham os que representavam as políticas colonizadoras portuguesas e
imperiais como sesmeiros e donos de terra, agricultores e criadores de gado
[Souza,2016]. E ao se relacionarem, esses sujeitos de interesses e ações
diferentes, também a marcaram através de conflitos, comércios, alianças e
outros [Ibid]
No entanto, em 1852, a ocupação no Turiaçu
foi redefinida a partir de dois acontecimentos. A desanexação da faixa de terra
entre os rios Turiaçu e Gurupi do Pará e a inclusão ao Maranhão pela lei
provincial n.330 de 14 de Outubro de 1852 e o decreto n.639 de 12 de Julho de
1852 que designava o rio Gurupi como o novo limite entre as províncias do Pará
e Maranhão [Marques, 1870]. Após longos anos de debates, a anexação refletia os
interesses dos maranhenses, pois esses anteriormente foram os que em maioria
utilizavam as terras do Turiaçu [Souza, 2016]. Logo, o Turiaçu, e também
o Gurupi, foram palco do avanço do domínio das autoridades maranhenses com a
instalação de uma colônia militar e outras agrícolas povoadas, respectivamente,
por brasileiros e estrangeiros, apropriação de minas, construção de estradas e
políticas de controle sobre os indígenas, quilombolas e pobres livres.
Por isso, o ano de 1853 foi bastante difícil
aos quilombos que existiam nas matas do Turiaçu, reconhecidos nos documentos
oficiais como de "longa data". O presidente de província do Maranhão,
Eduardo Olympio Machado, informava em 1853, a destruição de dois significativos
quilombos de "pretos", o Criz Santo e Minas de Maracassumé,
após uma expedição anti-mocambeira liderada pelo Tenente coronel Leopoldo de
Freitas [Relatório,1853]
César Marques [1870, p.301] destacou que o
quilombo Criz Santo era mais isolado evitando o contato com os de fora, em uma
clareira em meio aos bosques, sustentando-se da agricultura. O Minas de
Maracassumé tinha em média 200 moradores que viviam da agricultura, mineração e
do comércio com os regatões e povoados como o de Santa Helena onde iam trocar
os produtos que retiravam das minas por " víveres, munições e
fazendas" [Ibid, p.301].
Apesar de o Criz Santo aparecer na
documentação com aspecto de isolado, é preciso observá-lo diante da afirmação
de Flávio Gomes [2015, p.21-22] sobre as experiências de quilombos no Brasil
terem tido o não isolamento como fundamental para se protegerem, mesmo que
localizados em "montanhas e planaltos, inscrustrados em serras ou áreas
inóspitas de sertões bem distantes nunca localizados ou alcançados ". O
não isolamento era feito por meio do comércio e suas sociabilidades com
quilombolas indo às feiras e sítios trocar seus produtos, comerciando com
regatões, índios, asenzalados e em alguns casos, realizando atividades braçais
a fazendeiros como a derrubada de mata para roça [Ibid].
Neste sentido, o comércio permitia o contato
e a formação de redes de solidariedades entre quilombolas e diferentes grupos.
E o Minas de Maracassumé estava inserido nesta lógica, uma vez que no relatório
de 1853, Machado contava que havia, após a derrubada do Minas, ordenado prender
os homens que os quilombolas comerciavam com a finalidade de cortar a
comunicação daqueles que escaparam e pretendiam buscar ajuda deles; entre os
quais citou os negociantes Marcelino José da Costa Ramos, Isidoro Francisco de
Oliveira, Theodoro Sodré e Mariano Gil [Relatório, 1853, p.32].
Porém, um ponto que estes dois quilombos
possuíam em comum era a presença do "rei" como organização
social e política interna. O rei do Criz Santo havia morrido há 2 anos
[Relatório, 1853, p.32]. Já o rei do Minas cujo nome era Palmerio, o então
antigo escravo do Tenente Onofre Ribeiro e sucessor do Reinado de Epifânio,
havia falecido no confronto contra militares que acompanhavam Freitas na
derrubada do quilombo [O Progresso, 11 de Setembro de 1853, n 72].
Neste cenário de disputa pelo Turiaçu, a
derrubada de quilombos longevos significou na perspectiva do Governo
provincial, a conquista concreta de terras ocupadas por
"pretos"-então vistos como não donos delas embora as usassem há
bastante tempo-como áreas de mineração e de agricultura tendo em vista o
fazendeiro rico, sobretudo maranhense-verdadeiro dono e beneficiador delas-.
Com isso, o assentamento em 1854 da colônia
militar São Pedro de Alcântara no rio Gurupi, então fronteira Pará-Maranhão,
aparece como medida de vigilância contínua de tais terras, mas também de
ocupação [Marques,1870]. Tal vigilância não recaia apenas à formação de
quilombos, mas também sobre a circulação de regatões que comerciavam com os
indígenas [Ibid, p. 140]. Sobre os indígenas ditos "selvagens", a
colônia se mostrou como ponto catequizador e civilizatório, atraindo-os
para fixa-los à terra através do trabalho, assim aprendendo os costumes
civilizados [Faria, 2011].
A presença da colônia São Pedro de Alcântara
acabou gerando áreas bem delimitadas do rio Gurupi de maior e menor circulação
de indígenas, quilombolas, regatões e pobres livres. Marques [1870, p.140] nos
conta que foi fundada em uma "ponta de terra" que formava a baía do
Gurupi em meio a plantações antigas de cacau e café. Já o engenheiro Dodt
[1873, p.91-159] por volta de 1870, ao subir e descer o rio Gurupi, dividiu ele
socialmente com uma parte ocupada por pessoas "civilizadas" e uma
outra por "índios", "sertanejos"-pobres livres e mestiços-,
"quilombolas" e "regatões". A zona "
civilizada" abrangia da baía a partir da colônia e seus arredores com
alguns sítios, rotas ligando o Pará como a navegação à Viseu e, indiretamente,
encerrava na povoação Gurupy [Ibid, p.91-159]. Certamente, essa definição de
Dodt considerava a atuação e influência do Governo maranhense por meio de seus
agentes como militares, colonos e grandes donos de terras.
A área mais ocupada pelos indígenas,
regatões, alguns quilombolas e pobres livres correspondia do lugar Pedras do
amolar, passando por muitas cachoeiras, pântanos, bambuzais, abrangendo do lado
do Pará o rio Capim e rio Uraim até ao Maranhão em Cajuapara, afluente do
Gurupi, alcançando rotas com picadas até à vila de Imperatriz e o rio Tocantins
[Dodt, 1873,p.91-159]. O Cajuapara se converteu em território de resistência
dos sujeitos que o Governo maranhense tentava controlar, pois suas margens eram
ocupadas majoritariamente por eles que as viam como ponto estratégico de
refúgio e possibilidade de vida. Pois, partindo da povoação Gurupy no
sentido Sul, logo se chegava nas cachoeiras rochosas, demandando muito esforço
e conhecimento indígena para ser atravessada [Ibid]. Ou seja, a natureza
enquanto obstáculos que compunham o percurso do rio Gurupi aparecia como
fronteiras naturais, mas também humanas entre os seus diferentes grupos de
moradores.
Apesar de haver áreas bem definidas, isso não
impedia os vários sujeitos de circularem em diferentes extensões do rio Gurupi
como o diretor da Colônia Tenente Junqueira registrou em 1856 que "haviam
subido 10 canoas com negócio 'a retalho e descido 19 do mesmo'" [Santos,
2016, p.194]. Os episódios de barganha, moradia, conflitos, alianças e comércio
se davam muito como estes sujeitos alvo de controle eram atentos à áreas de
atuação do Governo e se permitiram deslocar por elas conforme lhes interessava.
Como registrou Helena Faria [2011, p.12], ao estudar a lógica de instalação da
colônia Gurupi, situações de indígenas avisando o diretor da colônia da
existência de quilombos nas proximidades. Assim, recorriam à colônia para
alcançar alguns objetivos, como neste caso que os indígenas buscavam prejudicar
os quilombolas.
Assim como é preciso pensar que etnias de
vida semi ou totalmente errantes nem sempre correspondiam a isso. Como era o
caso dos indígenas Urubus, que segundo Dodt [1873,p.122] se estendiam
entre o rio Capim, Uraim e Gurupi, mas às vezes eram vistos nas proximidades da
colônia e o único contato que mantinham com os "civilizados" era o
perigoso com suas flechas.
Mas que práticas encontramos no Cajuapara?! O
comércio clandestino e a busca por terras devolutas eram algumas dinâmicas
cotidianas. Cajuapara era o centro do comércio dos regatões, uma vez agindo
clandestinamente eram poucos que podiam comerciar nos mercados do Pará e
Maranhão e por causa disso se abasteciam em Viseu, na Colônia militar e vendiam
em Cajuapara [Dodt, 1873,p.138-139]. Isso aumentava o preço de muitos produtos
pois levavam em conta as dificuldades que o deslocamento trazia: o tempo
-meses- para adquirir a mercadoria e o transporte pelo rio até Cajuapara [Ibid]
que como vimos tinham alguns impedimentos.
Entre seus clientes estavam os indígenas que
trocavam produtos dos regatões pelo o que extraíam da mata como madeiras para
tintura e marcenaria, bem como tinham ali outras possibilidades pois existiam
óleos e temperos como copaíba, abutua, cumarú, baunilha etc [Marques,1870, p.301].
Os indígenas também comerciavam com negros fugidos como os Urubus cujo ferro
das flechas era adquirido em Mocambos de pretos das paragens do rio Gurupi
[Dodt,1873, p.123].
Assim, articulavam uma economia de
trocas com a agricultura e horticultura de subsistência. Por exemplo, as etnias
Timbira e Tembé consumiam o que retiravam da caça e de suas roças. Os Timbiras
tinham como base alimentar a mandioca, carnes de caça e peixe que gostavam de
assá-las em grelhas ou madeiras, enquanto os Timbiras consumiam mandioca,
raízes tuberculosas, cana de açúcar para chupar o sumo e as carnes costumavam
assá-las debaixo da terra [Dodt, 1873,p.127].
O comércio mediava as relações entre os
distintos grupos étnicos da fronteira na região de Cajuapara, mas também os conflitos
estiveram presentes. Há dois anos, por volta de 1870, pobres livres e mestiços,
da vila de Imperatriz migravam levando seus gados para as terras devolutas de
Cajuapara [Dodt,1873, p.143-145]. Em uma ocasião, quando pensavam se mudar de
vez, Timbiras passando por um dos campos que ficava no caminho da aldeia,
roubaram uma cabeça de gado e ameaçaram o dono, porém nada aconteceu [Ibid].
Assim, diante dessas experiências vemos que o contato entre diferentes sujeitos
deram não só autonomia ao Cajuapara, mas adicionaram ao rio Gurupi, enquanto
fronteira, características sociais e econômicas singulares.
A configuração de zona "civilizada"
e "incivilizada" se compôs então a partir da ocupação de grupos de
pessoas que foram definidos pelos representantes do Governo maranhense como os
que estavam de acordo e os que não estavam de acordo com o interesse de
desenvolvimento econômico e populacional para a fronteira pautado no controle
dos índios para liga-los a terra e na fiscalização e punição de negros fugidos
e do comércio ilegal de regatões. Com a instalação da colônia percebermos que o
Governo consegue em certa medida estabelecer um controle simbólico sobre a
fronteira, o que se expressa na sua formação social do território com dois
centros de circulação. O centro dos não civilizados se mostrou como uma
resposta a tais ações do Governo no Gurupi, porém algumas dinâmicas que
envolviam as duas extensões do rio faziam com que estivessem relacionadas.
Faces
para o ensino
Essas dinâmicas de ocupação, relações sociais
envolvendo conflitos e redes de sociabilidade, além da pluralidade das gentes
que compunham a fronteira entre o Pará e o Maranhão revelam faces da vida
cotidiana dos sertões do Pará e Maranhão e as investidas pela complexa
implantação de ideais civilizados. No entanto, é preciso pensar e entender
essas dimensões também no ensino de história.
Estudar ou entender as estratégias e
políticas de ocupação da Coroa portuguesa e posteriormente do Império
brasileiro não é apenas entender as políticas idealizadas e aplicadas
verticalmente, mas problematizar as particularidades das regiões e sujeitos,
assim como as ressignificações assumidas em diferentes espaços. Nesse sentido,
a proposta da presente pesquisa é aplicar oficinas aos graduandos em três
momentos: o primeiro; para debater os aspectos da pesquisa histórica,
destacando a espacialidade, temporalidade, políticas de ocupação, sujeitos e
dinâmicas sociais. O segundo momento; consistirá na discussão que privilegiará
as possibilidades de trabalhar as políticas de colonização e ocupação da Coroa
e Império brasileiro a partir das particularidades de sujeitos e suas
organizações sociais na fronteira entre o Pará e Maranhão, destacando seus
modos de vida na clandestinidade, comércio, alianças, conflitos e redes de
solidariedade. No terceiro momento; pretende-se propor a construção de
materiais didáticos que viabilizem o ensino de história em turmas da educação
básica, como por exemplo, a elaboração de cartilha e/ou produção de mapas
mentais a serem aplicados ao ensino.
A fronteira administrativamente demarcada
precisa ser entendida para além dessa classificação, o espaço pensado pelas
autoridades do Império brasileiro foram forjados por atividades e ações de
sujeitos ligados aos propósitos deste e tantos outros que se opunham a ele.
Esse saber histórico constituído academicamente precisa chegar aos espaços da
sala de aula, fugindo da ideia – reproduzida socialmente e, sobretudo, nas
escolas primárias e secundárias – de uma história “acontecimental” que tem como
princípio a memorização de nomes e datas, como denunciado por Vavy Pacheco
Borges [1991/1992,p.7] e questionado por autores como Selva Fonseca e Marcos da
Silva [2010, p.13-33], a fim de que os alunos da graduação criem estratégias de
trabalho e diálogo entre a pesquisa acadêmica e suas potencialidades de ensino
no ambiente escolar. E, os alunos da educação básica percebam, a partir de um
ensino de história crítico, que não existe apenas um fosso entre as políticas
do Império brasileiro e a tentativa de dominação das populações mais pobres e
etnicamente diversas, mas que para além disso as diferentes relações sociais
eram constituídas ancoradas em negociações, conflitos e interesses que não
necessariamente segregava os sujeitos por suas características étnicas ou
classe social, mas a interação entre eles e as formas de ocupação e utilização
dos espaços se deram por relações mais intensas, redimensionando políticas
imperiais e relativizando os pretendidos poderes locais e seus ideais
civilizatórios.
Referências
Sueny Diana de Souza é doutora em História
Social da Amazônia e professora da Faculdade de História da Universidade
Federal do Pará/ Campus Ananindeua.
Talita
Almeida do Rosário é graduanda de
Licenciatura em História da
Universidade Federal do
Pará/Campus Ananindeua e bolsista
no projeto de iniciação científica “A lei
de terras e a
criação de gado
no Turiaçu: impactos
do projeto de
lei (1840-1852)” coordenado pela
Profª. Drª. Sueny Diana Oliveira
de Souza.
BORGES, Vavy P. “História e política: laços
permanentes” in REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA. São Paulo: Marco Zero, vol.12,
n 23-24, 1991/1992, p. 07.
DODT, Gustavo Luiz Guilherme. Descrição dos
rios Paranahyba e Gurupy. Relatórios sobre a exploração dos mesmos de uma
memória sobre o porto de San’ Luiz do Maranhão. Maranhão: Biblioteca Pública
Benedito Leite, 1873.
FARIA, Regina Helena Martins. “Civilizar e
desenvolver: duas faces da intervenção militar em áreas internas do Brasil.
Séculos XIX e XX” in CLIO- REVISTA DE PESQUISA HISTÓRICA, 2011.
GOMES, Flávio dos Santos. Mocambos e
quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. São Paulo: Claro
Enigma, 2015.
MARQUES, Augusto César. Apontamentos para o
dicionário histórico, geográfico, topográfico e estatístico da Província do
Maranhão. Maranhão: Typ. do Frias, 1870.
O PROGRESSO, 11 de Setembro de 1853, n 72
Relatório apresentado á Assembleia
Legislativa Provincial do Maranhão, no dia 1 de Novembro de 1853 na abertura da
Assembleia legislativa provincial pelo presidente Eduardo Olímpio Machado.
Maranhão: Typ. Constitucional de I.J. Ferreira.
SANTOS, Arthur Germano dos. “Poder e
administração no Maranhão Oitocentista: o caso da Colônia Militar do Gurupi” in
ALMANACK, n. 12, 2016.
SILVA, Marcos Antônio da & FONSECA, Selva
Guimarães. “Ensino de história hoje: errâncias, conquistas e perdas” in REVISTA
BRASILEIRA DE HISTÓRIA. São Paulo, v. 31, n 60, p. 13-33 – 2010.
SOUZA, Sueny Diana Oliveira
de. Usos da fronteira: terras, contrabando
e relações sociais no Turiaçu (Pará-
Maranhão, 1790-1852). Tese (Doutorado em
História Social da Amazônia) - Universidade
Federal do Pará, Belém, PA, 2016.
Prezadas Sueny Souza e Talita Rosário,
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizá-las pelo esforço na interligação entre pesquisa e ensino de História. Muito discutimos em sala de aula como o professor mesmo após sair dos bancos da Universidade deve ser constantemente em sua carreira um professor-pesquisador, levando para os seus alunos fontes primárias para leitura, análise e interpretação de temas históricos. Entretanto é instigador observar este trabalho sendo feito na prática. Mostra-nos como é possível pensar o ensino e a pesquisa de forma concomitante.
Gostaria, portanto, de saber quais fontes estão sendo utilizadas para análise e desenvolvimento do projeto de pesquisa mencionado por vocês e se já tiveram a oportunidade de aplicar esta oficina com os graduandos da UFPA/Campus Ananindeua. Caso tenham conseguido, como os alunos lidaram com a oficina? Alcançaram os objetivos propostos?
Desde já agradeço a atenção.
Clara Maria da Silva.
Olá, Clara, agradeçamos pela sua leitura de nosso texto.
ExcluirBem, para este projeto foram pensados e usados, os relatórios de presidente de província do Maranhão, jornais, correspondencias trocadas entre o diretor da colônia militar e autoridades locais e por fim o livro de relato de expedição do rio Gurupi pelo contemporâneo daquele período, Gustavo Luiz Guilherme Dodt.
Quanto a aplicação. O planejamento foi realizado algumas semanas antes do período de isolamento da pandemia e suspensão das atividades na Universidade, então por isso nós decidimos adia-la para quando tudo estiver normalizado. Mas já estamos bem entusiasmadas com os possíveis resultados e produções a partir deles.
Talita do Rosário
Prezada Clara,
ExcluirObrigada pela leitura!
A aplicação das oficinas, como informou a Talita, ocorrerão no retorno das atividades. Porem, para além dessa proposta, tenho uma orientanda que está finalizando o TCC e trabalha com as relações étnicas dessa fronteira e sua aplicabilidade para a educação básica. E além das discussões com historiografia e fontes está elaborando uma cartilha sobre a região, seus sujeitos e as sociabilidades ali existentes.
Olá Sueny e Talita, adorei o texto, em especial a proposição para o ensino de história tanto para o ensino básico quanto para o superior.
ResponderExcluirA fronteira do Turiaçu é uma região muito interessante para trabalhar a questão da diversidade étnica, por ter uma presença bastante mista de povos em um determinado espaço e em diferentes momentos históricos. Gosto bastante de como as fronteiras são colocadas com aspectos de sociabilidade e não imutáveis.
Nesse sentido, desejo saber se você pudesse destacar um acontecimento histórico da fronteira do Turiaçu para levar para sala de aula no ensino básico, qual seria?
E teria como relacionar este acontecimento com outras fronteiras da região amazônica?
Ass: Layane de Souza Santos
Olá, Layane Santos. Agradeçemos pela sua leitura! 🌸
ExcluirComo você falou, a região de fronteira entre o Turiaçu e Gurupi teve diferentes momentos históricos. E o texto trata de um deles, a redefinição do limite entre o Pará e Maranhão que antes de 1852 estava no Turiaçu, e após esse ano é transferido para o rio Gurupi, o que movimentou diferentes dinâmicas de ocupação e reconfigurou o espaço.
Enfim, um acontecimento que eu levaria para o Ensino seria a instalação da colônia militar São Pedro de Alcântara nas margens do rio Gurupi, fronteira. Ela estava inserida em um projeto imperial de redistribuição de terras do Brasil, alcançando regiões onde a influência do Estado era precária como áreas de fronteiras, de fato que aparece no decreto que regularizou a lei de terras de 1854 com recomendações serem fundadas em terrenos limítrofes e devolutos. Com isso foi um projeto amplamente multiplicado pelo territorio brasileiro como nos informa o levantamento de Regina Faria que em seu texto " Civilizar e desenvolver" afirma a fundação de 22 colônias e presídios por todo Brasil entre 1850-1859, com exceção de uma em 1840 no rio Araguari no Pará.
Logo a instalação da colônia no Gurupi pode ser pensada para uma aula de História do 8° ano, pois conforme apresenta a Bncc, na unidade tematica "Brasil do séc XIX", um dos objetos de conhecimento é " A lei de terras e seus desdobramentos na política do segundo Reinado", então, seria de muita importância levar aos alunos que projetos são viabilizados pelo Governo imperial como parte da política de terras do período buscando alcançar seus interesses diante das particularidades regionais do espaço que passam a ocupar . Assim apresentando os aspectos regionais e seus contextos com as características comuns entre as colônias: o controle dos sujeitos marginalizados, a vigilância da fronteira e ocupação do espaço que consigo ver na colônia Gurupi e observo também em trabalhos de colegas como Amaro Hélio da Silva, Colônia Leopoldina em Alagoas-1854-, Francivaldo Nunes Colônia militar Pedro II no rio Araguari-1840, colônia militar São João d' Araguaia-1851- no rio Araguaia, colônia militar de Óbidos no rio Amazonas-1854- e Rafael Amaral, colônia Pedro II, rio Araguari no Pará-1840-, dão possibilidades de levar ao aluno como diferentes sujeitos, sobretudo os pobres, lidaram com aplicacao de um projeto de controle e civilizador de hábitos em áreas de florestas, contrastando modos de viver e usar a terra e as investidas com as ações dos sujeitos da fronteira como consequência disso.
Correçao breve: A lei de terras é de 1850, o decreto que colocava ela em aplicação era de 1854
ExcluirBoa noite Layane!
ExcluirGrata pela leitura.
Outras questões que podem ser trabalhadas no ensino de história são as relações e interações étnicas e raciais dos sujeitos das fronteiras de Turiaçu e Gurupi. Pensamos que a partir destas questões é possível enxergar esses sujeitos não de forma segregada em virtude de suas questões étnicas, mas como homens e mulheres que sofreram, lutaram e forjaram relações de defesa e sobrevivência nos diferentes espaços do território brasileiro.
Sueny