‘UMA CIDADE BRANCA’: DESAFIOS PARA UMA EDUCAÇÃO
ÉTNICO-RACIAL
Este texto busca compreender a construção de
identidades e os sentidos das falas expressas no minidocumentário ‘Uma cidade
branca’, relacionando-o com a importância da educação das relações
étnico-raciais e sua difusão social para dirimir estereótipos e combater a
história única.
Em 2009 durante o evento Tecnology, Entertainment and Design
(TED), em Oxford (Reino Unido) a
escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, proferiu uma fala que denominou de ‘o perigo da história única’.
Essa denominação é em referência ao modo como em geral olhamos para os povos do
continente africano. A narrativa é desenvolvida a partir do olhar de uma
estudante branca ocidental sobre a escritora e seu local de origem e avança
sobre como foram e são construídos estereótipos de pessoas e de lugares, que
nos levam a anacronismos históricos e a deturbar identidades. ‘O perigo da
história única’ ronda a escrita da história, suas interpretações e o cotidiano
de indivíduos e comunidades. No campo da História narrar um fato histórico
exige pensar os homens e mulheres e suas produções em seu tempo. Produções
entendidas aqui como fontes históricas [Barros, 2019]. Isto é, tudo o que foi
produzido pelos seres humanos e que temos acesso, e nos proporciona compreender
o passado, e a luz do presente desenvolver interpretações que nos distanciem da
história única.
O vídeo ‘Uma cidade de brancos’ foi produzido
em 2016 pelo site UOL TAB. De acordo com informações disponibilizadas pelos
produtores, desde 2014 a UOL TAB produz minidocumentários com temas da
contemporaneidade. Suas fontes são dados, entrevistas e pesquisas que geram
conteúdos disponibilizados em vídeos de livre acesso. Este vídeo foi produzido
tendo como fonte os números
disponibilizados no Censo do IBGE de 2010, do município de Cunhataí -
Santa Catarina e de entrevistas com moradores deste município. Esta localidade
foi escolhida porque os números do IBGE apresentavam dados sobre o pertencimento
racial que a UOL TAB considerou interessante: a inexistência de autodeclaração
de pretos. Para o IBGE a população brasileira está segmentada em 5 categorias
de cor/raça: branco, preta, pardo, amarelo e indígena. Dos 1.822 mil habitantes
residentes em Cunhataí no ano de 2010, 97,5% se autodeclaram brancos e 2,5% de
pardos. Havendo a inexistência de autodeclaração de pretos, amarelos e
indígenas. O objetivo do minidocumentário (três minutos e trinta e seis
segundos) foi nos apresentar a cidade de Cunhataí (SC) como a cidade mais
branca do Brasil e fazer um contraponto
com a cidade de Antônio Carlos (BA), como a cidade brasileira com maior número
de negros (pretos e pardos – 87%).
Para nos situarmos propomos descrever, de
forma breve, a constituição histórica do espaço no qual Cunhataí - SC está
inserido. Informações disponibilizadas em https://www.cunhatai.sc.gov.br/,
itens “colonização” e “cultura” (publicados e atualizados em 2013) nos dizem
que a história deste município iniciou com chegada, por volta dos anos de 1940,
da família Klauck e logo após da família Sehnen, que encontraram um local com
mata virgem, especialmente de araucárias e madeira de lei. Na sequência
enfatiza a chegada, pós segunda guerra mundial, de mais famílias descendentes
de alemães que “até hoje preservam a cultura, os costumes e a língua mãe”. Mas
algo nos chamou atenção nestas informações “oficiais”, a origem do nome
Cunhataí. Assim descrito: “Contam os mais antigos, pessoas daquela época, que
os raros elementos de origem indígena que aqui viviam naquele tempo, ao verem
as mulheres louras, filhas ou esposas dos pioneiros de origem alemã diziam
‘Cunhataí’, palavra que mais tarde eles entenderam como moça bonita. Por essa
razão, em homenagem a esta gente, batizaram a jovem comunidade de Cunhataí”.
A ocupação e colonização do oeste
catarinense, onde se localiza o município de Cunhataí, está relacionada aos
processos históricos dos campos de Palmas no final do século XIX, como a disputa
pelos territórios entre Brasil e Argentina [Adelar, 2007], a guerra do
Contestado [Machado, 2004] e a formação do município de Chapecó em 1917
associada a política colonizatória empreendida pelo estado de Santa Catarina. A
partir dos anos 1920 o ‘velho Chapecó’ começou a receber migrantes nacionais e
estrangeiros para povoar nos moldes das antigas colônias de alemães e italianos
instaladas no Rio Grande do Sul ao longo do século XIX [Vicenzi, 2008]. O
modelo econômico de pequena propriedade agrícola com produção para subsistência
e excedentes para comércio local e o extrativismo vegetal foram a tônica da
política colonizatória, isto efetivado pela presença de homens brancos
cristãos. Mas, estes espaços já se encontravam habitados, como destacado na
versão do nome Cunhataí, havia comunidades indígenas (kaingangs e guaranis)
estabelecidas e que gradativamente foram expulsas, em nome da civilização e do
progresso empreendido pelo estado e por companhias colonizadoras. Como descrito
pela antropóloga Renk [2006], buscava-se pelo colono de origem - a europeia, em
detrimento dos brasileiros.
Compõe parte da literatura catarinense a
invisibilidade da história de homens e mulheres indígenas e negros. Esta
invisibilidade levou a negação da presença e contribuição destes indivíduos, e
por conseguinte o estado se apropriou do discurso do branqueamento e o
disseminou através de propagandas e materiais didáticos. Nas últimas décadas as
produções acadêmicas e os movimentos sociais (indígenas e negros) vem
desfazendo o olhar do branqueamento e dando visibilidade aos historicamente
excluídos.
Assim, as novas produções acadêmicas vem com
concepção teórico-metodológica de perspectiva decolonial, ou “o pensamento
decolonial [que] propõe romper com os pensamentos gravados nas mentes e corpos
por gerações […], incluir o pensamento dos povos originários (índios) e de
diáspora forçada (negros)” [Costa Neto, 2016, p. 51]. Este pensamento se contrapõe ao padrão
colonial de poder, que justificou as violências da colonialidade sobre povos
não europeus. Ainda de acordo com Mignolo (2017, p. 15): “A descolonialidade
não consiste em um novo universal que se apresenta como o verdadeiro, superando
todos os previamente existentes; trata-se antes de outra opção. [...] o
decolonial abre um novo modo de pensar que se desvincula das cronologias
construídas […]”. A proposta é o
rompimento de epistemologia eurocentradas de racialização.
Ainda, retomemos a classificação realizada
pelo IBGE sobre cor/raça e que culminou com a autoidentificação em Cunhataí-SC
de uma maioria de brancos. Segundo Schucmann [2014, p. 84]: “no Brasil, ser
branco está ligado à aparência, aos status e ao fenótipo”. O ser branco, para a
pesquisadora precisa ser analisado no contexto histórico do branqueamento e da
branquitude, que implica “expor os privilégios simbólicos e materiais que os
brancos obtém em uma estrutura racista”. A região oeste catarinense fora
construída pelo discurso do branqueamento ao longo do século XX, isto fica
evidente pela opção do estado em formar núcleos de colonização com homens e
mulheres, como já citado, brancos e cristãos. A comunidade em questão não está
isolada das políticas que incentivaram e possibilitaram os discursos e práticas
racistas na sociedade brasileira do pós-abolição. Há uma notória exclusão dos
outsiders pelos estabelecidos [Elias; Scotson, 2000], mas neste caso os
outsiders eram os que viviam no local muito tempo antes da chegada dos
estabelecidos. Nas entrevistas (que, como é comum em documentários, sofreram um
processo de edição, tendo em vista os objetivos da equipe produtora) há um
lugar de fala sobre como é ser branco e qual a relação com o outro.
A partir destes elementos que no propusemos a
analisar o minidocumentário. Neste minidocumentário foram selecionados seis
homens e uma mulher para falar. Estes homens em sua maioria são representantes
do poder político local (prefeito e vereadores). O vídeo começa com a seguinte
afirmação: “Cunhataí (SC) é a cidade mais branca do Brasil”. Para analisar as
falas, que se apresentam com respostas, elencamos o que possivelmente fora
perguntado e na sequência a transcrição:
1. Porque é a cidade mais branca do Brasil?
“Se gira em torno de 98% que são de origem
alemã, daí entraram uns italianos, também brancos, daí entrou uns morenos, os brasileiros,
mas são poucos”. “Nem sei como é viver com negros porque a gente é acostumado a
viver praticamente sem nenhum negro”. “Aqui, aquele brasileiro mesmo, não, não,
tem o cor de cuia e que entraram agora nos últimos tempos”. “Em todo o Brasil,
em todo o mundo é assim, onde puxa uma raça mais uma raça, daí vai todos”.
2. Sabe o que é samba?
“Eu não sei o que é samba”. “Não sei dançar
samba, não aprendi. Se tocar um samba a pista fica vazia”. “Os bailes, o mais
tocado, mais pedido pela alemoada é música de bandas, marchinha, vaneira, xote,
valsa”. “O alemão tem o rito da valsa, da vaneira, marchinha, e o negro tem o
samba deles”.
3. Já comeu feijoada?
“Uma coisa que eu escutei falar, mas não
conheço”.
4. Existe ou existiu algo que seja da cultura
negra?
“No passado teve um curso de capoeira no
município. Foi só um ano e não aconteceu mais”. “No começo a gurizada se
empolgou”. “Capoeira aqui não pegou não, tinha alguns alunos, se apresentaram,
muito bonito, muito bonito, mas não deu certo”.
A metodologia empregada que gerou as
afirmações (respostas) acima garantem a visibilidade aos brancos. Ao mesmo
tempo que imagens do cotidiano reafirmam isso. Mas a primeira legenda nos
conduz a pensar que a cultura ali pode ser encontrada em outras regiões do
Brasil: sob o nome de um dos entrevistados constava “prefeito e gaiteiro”. O
uso da gaita como instrumento musical compõe a diversidade de ritmos que temos
em nosso país. Quem não ouviu falar em Luiz Gonzaga, o pernambucano que com sua
sanfona levou a cultura musical nordestina para todo o Brasil? Ou em Renato
Borghetti, o sul riograndense, da gaita-ponto? Ainda, os diferentes ritmos
musicais, como xote, vaneira, valsa..., não são exclusivos de um grupo étnico.
Estes ritmos possuem origens e apropriações que perpassam diversas tradições
culturais.
Não saber dançar ou não ter aprendido sambar
é compreensível, mas o desconhecimento do samba é algo espantoso. Afinal, o que
entendem por samba? Uma dança de negros! Logo, se não tem negros, não tem
samba! Começamos nossa argumentação a partir do que está em nosso cotidiano, no
calendário oficial brasileiro temos o feriado de carnaval, e, nos dias que
antecedem este feriado, os meios de comunicação em todo o país dedicam parte de
sua programação para mostrar como esta festa (carnaval) é realizado em
diferentes lugares, que tem seu ápice com blocos e escolas de samba.
Regionalmente a cidade de São Carlos e Águas de Chapecó (SC), distantes cerca
de 20 km da cidade de Cunhataí, são conhecidas por receber foliões em seu carnaval
de rua. Certamente, se perguntarmos aos jovens da cidade de Cunhataí, se
participam do carnaval nestas cidades vizinhas, a resposta será positiva. Não
há como desvincular samba e carnaval e ambos são vivenciados em todo território
nacional.
O campo de disputa social e política em torno
da denominação de brasileiros e estrangeiros é acionado neste minidocumentário.
Para Renk [2006], no Sul do Brasil os colonos (origem europeia) construíram sua
identidade em oposição aos brasileiros (caboclos). No caso aqui analisado, a
ideia de brasileiro é ser negro (preto) ou moreno, já ‘o cor de cuia’ está no
limbo. Então precisamos acionar o conhecimento histórico para refletirmos sobre
os diversos e diferentes indivíduos que povoam nosso território. Ao acionarmos
o passado visualizamos a escravização e dizimação dos povos indígenas, a
violenta diáspora África e as políticas estatais de imigração. No presente,
pensamentos ligados ao branqueamento e a civilidade do início do século XX,
quer seja, equívocos que colocam uma comunidade vivendo com passado
criado/inventado, e o que não for igual, considerado o diferente, que possuiu
várias adjetivações de um pertencimento étnico errôneo e generalista e ainda, confundindo-se com
nacionalidade – o brasileiro.
Para desfazer preconceitos e equívocos e nos
entendermos como diversos e diferentes e não como superiores e inferiores, em
09 de janeiro de 2003 foi promulgada a Lei nº 10.639 que instituí a obrigatoriedade do ensino de
História da África, cultura africana e afro-brasileira; E em 10 de março de
2008 a Lei nº 11645, que em seu Art. 26-A, estabelece: “Nos estabelecimentos de
ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório
o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. Para que a história
de negros e indígenas não continue sendo esquecida e inferiorizada é que está
legislação existe. Reeducar para que valorizemos a existência, a identidade, a
cultura destes milhares de indivíduos que trazem consigo um passado de
esquecimento e são vítimas cotidianamente de práticas racistas.
As falas aqui apresentadas demonstram que é
cada vez mais urgente uma educação para as relações étnico-raciais. E isto nos
toca, porque após uma década de amplo debate da legislação acima citada,
entendemos que houve avanços significativos para uma educação intercultural,
que interaja com o outro e se perceba integrante de uma sociedade
multicultural, mas infelizmente temos locais onde predomina a história única. E
de acordo com Chimamanda Ngozi Adichie “Quando nós rejeitamos uma única
história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum
lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso”.
Numa comunidade de maioria branca, a educação
das relações étnico-raciais tem função essencial, pois vai dialogar sobre como
nos apropriamos de discursos colonialistas e que estes desejam manter relações
de poder baseado na racialidade. Irá propiciar ações que valorizem as
diversidades culturais e perceber que capoeira, samba e a feijoada não são
suficientes para explicar a complexidade da cultura afro-brasileira, e de
apenas decorar que o nome da cidade tem origem em língua indígena, não irá nos
constituir numa sociedade humana e plural. Segundo Nilma Gomes precisamos
ensinar, re-educar, estudar:
“É preciso ensinar para os(as) nossos(as)
filhos(as), nossos(as) alunos(as) e para as novas gerações que algumas
diferenças construídas na cultura e nas relações de poder foram, aos poucos,
recebendo uma interpretação social e política que as enxerga como inferioridade.
A consequência disso é a hierarquização e a naturalização das diferenças, bem
como a transformação destas em desigualdades supostamente naturais. Dessa
forma, se queremos lutar contra o racismo, precisamos re-educar a nós mesmos,
às nossas famílias, às escolas, às(aos) profissionais da educação, e à
sociedade como um todo. Para isso, precisamos estudar, realizar pesquisas e
compreender mais sobre a história da África e da cultura afro-brasileira e
aprender a nos orgulhar da marcante, significante e respeitável ancestralidade
africana no Brasil, compreendendo como esta se faz presente na vida e na
história de negros, índios, brancos e amarelos brasileiros” [Gomes, 2005, p.
39].
As falas através de questões estão mal
colocadas, pois quiçá foram proferidas a partir do uso metodológico da indução,
mas é fato que o desconhecimento ou a simples negação possibilita a criação de
imaginários, de preconceitos, de equívocos e reforça o distanciamento do outro.
Podemos nos propor a sair da questão da colonização, e olharmos para a
realidade atual, onde há um lugar para corpos serem violentados e marcados para
morrer, e outro para corpos que vivem privilégios. A história dos negros e
indígenas pertence a todos nós, pois cada indivíduo ou grupo étnico compõe a
história cultural, social, política e econômica de nosso país, e num país
racista como o Brasil é imprescindível que brancos sejam antirracistas e que os
saberes diversos nos tornem mais humanizados. Não é mais possível nos
escondermos em desculpas, mas de sermos responsáveis e com as humanidades
negadas e acolher as múltiplas narrativas.
Referências
Drª Renilda Vicenzi é professora de História
da África de Brasil Colonial e Imperial na UFFS – Campus Chapecó.
Vice-coordenadora do NEABI/UFFS/Campus Chapecó.
Dr. Bruno Antonio Picoli é professor da área
de Ensino de História da UFFS - Campus Chapecó. Líder do Grupo de Pesquisa em
Educação, Violência e Democracia – UFFS.
BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas –
uma introdução aos seus usos historiográficos. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.
COSTA NETO, Antonio Gomes da. A Denúncia de
Cesáire ao Pensamento Decolonial. Revista EIXO, Brasília – DF, v. 5, n. 2,
julho-dezembro de 2016.
ELIAS, N.; SCOTSON, J. Os estabelecidos e os
outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade.
Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos
presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: Uma breve discussão. In:
SECAD - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade/MEC.
Educação Anti-racista: Caminhos abertos pela Lei Federal 10639/03. Brasília.
2005. p. 39-62.
HEINSFELD, Adelar . Fronteira
Brasil/Argentina: a Questão de Palmas - de Alexandre de Gusmão à Rio Branco.
Passo Fundo-RS: Méritos, 2007.
MACHADO. Paulo Pinheiro. Lideranças do
Contestado: a formação e atuação das chefias caboclas (1912-1916), Campinas,
Ed. da UNICAMP, 2004.
MIGNOLO, Walter. Desafios Decoloniais Hoje.
Epistemologias do Sul, Foz do Iguaçu/PR, 1 (1), pp. 12-32, 2017. Revista EIXO,
Brasília – DF, v. 5, n. 2, julho-dezembro de 2016.
RENK, Arlene Anelia. A luta da erva: um
ofício étnico no oeste catarinense. 2. ed. rev. Chapecó: ARGOS, 2006.
VICENZI, Renilda. Mito e história na
colonização do oeste catarinense. Chapecó: Argos, 2008.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Sim, nós somos
racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana.
Psicologia & Sociedade. 26(1), 2014, p.
83-94.
Vídeos
O perigo da história única. Disponível em
https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story/transcript?language=pt.
Acesso em 06 de setembro de 2019.
Uma cidade branca. Disponível em
https://www.cunhatai.sc.gov.br/.
Acesso em 07 de outubro de 2018.
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ResponderExcluirCaros, Renilda e Bruno, o texto despertou em mim uma imensa curiosidade que me levou a procurar informações e assistir ao minidocumentário mencionado. A articulação entre as discussões e referência à Chimamanda Adichie nos transporta para várias regiões do Brasil que não conseguem se desprender de discursos hegemônicos pautados na colonialidade, em especial no Sul do país. Nessa esteira, pergunto se há mais bibliografias de suas autorias que tratem de Cunhataí, pois resido em uma cidade com mais de 20% de negros autodeclarados e que insiste em se rotular branca. A partir daí, almejo elaborar quadros comparativos. Eu gostaria, se possível, com base no minidocumentário, que comentassem sobre o processo de invisibilidade negra nos interditos associados aos enunciados acerca do Carnaval e do Samba, que muitos participam e conhecem, mas fazem questão em demarcar um distanciamento e optar por um discurso a partir do desconhecimento dessas heranças culturais. Outra questão que trago é acerca da lei 10.639/2003 que já conta com quase duas décadas de promulgação, mas continua sendo cumprida parcialmente. Nessa esteira, pergunto se em um território como Cunhataí haveriam profissionais da educação básica preparados para colocar em prática as demandas dessa legislação? E como o ensino da história, no contexto citadino elencado, pode ir na contramão dessa História única e colaborar para a construção de uma contranarrativa local?
ResponderExcluirAgradeço pelas reflexões e oportunidade em tomar conhecimento do material citado.
Att: Merylin Ricieli dos Santos
Prezada Merlyn, obrigada pela questão.
ExcluirEste minidocumentário é um dos exemplos de narrativas e discursos que evidenciam a branquitude. Em Santa catarina a literatura até os anos 1980, em sua maioria, invisibilizou a presença negra. O que faz com que a escrita da história e o ensino de história tenham que a todo momento negar esta literatura, revê-la e pautar-se pela presença negra, indígena nesse estado. Não temos ainda mais elementos sobre Cunhataí, estamos em processo de construção de um texto que irá além do que apresentamos aqui, mas o campo da invisibilidade e da branquitude podem te auxiliar aí. A obrigatoriedade da lei não significa empatia. Ainda não podemos afirmar acerca de como vem ocorrendo os processos educacionais em Cunhataí, mas acreditamos que há profissionais (professor de história) que trabalhe temáticas da história da África e afro-brasileira, no entanto as abordagens são desconhecidas ainda. Somente com pesquisas, estudos os professores poderão construir uma outra narrativa, e como nos propõe Hampaté Bâ é preciso esquecer nosso mundo - aqui o da branquitude - para 'descobrir' outro mundo - ou seja, sair da zona de conforto no campo educacional e estar disposto a um outro olhar sobre a história.
Como desenvolver um ensino baseado nas relações etnico-raciais se grande parte dos educadores desconhecem o conteúdo aludido pela lei 10.639 ?
ResponderExcluir(Hélido Veras Silva)
Boa tarde Hélido, obrigado pela questão.
ExcluirPermito-me aqui dar a mesma resposta que dei para Ana Lúcia, já que as perguntas parecem ter o mesmo sentido.
O cenário em que vivemos não é animador, além disso as recentes reformas educacionais, especialmente a BNCC, atuam no sentido de invisibilizar ainda mais essas "histórias outras". Isso mostra que ser professor e professora de história não é uma tarefa fácil e que a responsabilidade só aumenta quando o cenário é desfavorável. A assunção dessa responsabilidade se dá pelo dever de memória (precisamos falar daquilo que nos incomoda, daquilo que não gostamos, sobretudo porque incomoda e não gostamos), pela ética da responsabilidade pelo outro enquanto Outro, isso implica que não podemos objetificá-lo em um conteúdo, sobre o risco de desumanizá-lo, e na estética, na manifestação do desejo do Outro. Isso significa que precisamos, agora mais do que nunca decidir o que importa em Educação Histórica, que vai muito além de ensino de história e de aprendizagem em história, tem relação com a forma como nos movemos no mundo. Isso significa também que precisamos enfrentar, como educadores, o retrocesso. Uma prática para relações étnico-raciais saudáveis só é possível depois de passar por essa tríplice assunção.
Se por um lado a Lei 10639/03, torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do Brasil, com o intuito de ressaltar a importância da cultura negra na formação da nação brasileira. Por outro, apesar do peso institucional dessa lei, sua legitimidade política e histórica, percebe-se, que na prática ainda tem encontrado resistência, no que diz respeito à sua implementação efetiva. Sendo assim, devemos atribuir como principal fator a tal resistência, a formação dos professores que não foi contemplada com conhecimentos acerca dessa temática?
ResponderExcluir(Ilma Cristiny Batista da Costa)
Prezada Ilma, obrigada pela questão.
ExcluirTemos um contexto histórico que infelizmente nega a diversidade étnico-racial e vê o outro como o estranho, aquele que não partilha do mesmo mundo. Concordamos que pode ser atribuído a resistência, a não formação de professores sobre a temática, mas em comunidades como a expressa no documentário o branqueamento e todo seu discurso os identifica, isso faz com que o ensino de história fique relegado a construção de um passado, sem qualquer proximidade com o cotidiano. Ainda não temos algumas respostas porque o próximo passo e chegar até as escolas desta comunidade e avançar no debate e quiçá auxiliar para o ensino de outras histórias.
Excelente leitura, gratidão. Compreendi que a história de indígenas e negros, assim como de outros grupos étnicos que compõe a história do Brasil deve ser preservada e popularizada como um direito das pessoas. A educação, ao mostrar passados dolorosos, dentro de um processo de reparação social mais amplo da sociedade brasileira é a ferramenta que pode dar a “garantia de não repetição”. Nas palavras de vocês que os “saberes diversos nos tornem mais humanizados”.
ResponderExcluirPrezada Valdirene, obrigada pelo comentário.
ExcluirSeguimos pautados na defesa de eque o ensino de história jamais pode ser único, mas plural e com a perspectiva da alteridade.
Boa tarde Drª Renilda Vicenzi e Dr. Bruno Antonio Picoli. Eu gostaria de saber como podemos colocar em prática uma educação para as relações étnico-raciais nas escolas, no atual cenário político em que vivemos, um cenário de retrocesso, de descaso e manipulação da nossa História, por parte de alguns grupos?
ResponderExcluirBoa tarde Ana Lúcia, obrigado pela questão. O cenário em que vivemos não é animador, além disso as recentes reformas educacionais, especialmente a BNCC, atuam no sentido de invisibilizar ainda mais essas "histórias outras". Isso mostra que ser professor e professora de história não é uma tarefa fácil e que a responsabilidade só aumenta quando o cenário é desfavorável. A assunção dessa responsabilidade se dá pelo dever de memória (precisamos falar daquilo que nos incomoda, daquilo que não gostamos, sobretudo porque incomoda e não gostamos), pela ética da responsabilidade pelo outro enquanto Outro, isso implica que não podemos objetificá-lo em um conteúdo, sobre o risco de desumanizá-lo, e na estética, na manifestação do desejo do Outro. Isso significa que precisamos, agora mais do que nunca decidir o que importa em Educação Histórica, que vai muito além de ensino de história e de aprendizagem em história, tem relação com a forma como nos movemos no mundo. Isso significa também que precisamos enfrentar, como educadores, o retrocesso. Uma prática para relações étnico-raciais saudáveis só é possível depois de passar por essa tríplice assunção.
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ResponderExcluirRenilda Vicenzi e Bruno Antonio Picoli -‘UMA CIDADE BRANCA’: DESAFIOS PARA UMA EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL
ResponderExcluirParabéns pela produção do conhecimento determinada cidade brasileira, da Região Sul, que tem recebido migrantes negros de país Haiti, em Cascavel são mais de 6 milhões de pessoas em busca de condições de vida e trabalho. Diante desse cenário, escrevo o seguinte questionamento; essa população do Sul do Brasil construiu a sua identidade como alemães, nascidos em território brasileiro, constituíram famílias e reiteram discurso ideológico de dois brasis, um de branco que deve viver com privilégios e os negros em situação econômica menos favorecidos?
Nesse contexto, como o currículo escolar da rede municipal adota as questões das Relações Étnico-Raciais?
De que forma a rede municipal as Universidades do Sul devem contribuir para a construção de um currículo decolonial que visibilize as CRIANÇAS NEGRAS, que adote ações contra o racismo?
Grata.
Ana Paula Vieira e Souza (UFPA/PPLSA)
Olá Ana Paula, obrigado pelo questionamento.
ExcluirPara a sua primeira pergunta, a resposta é sim e não. O processo de colonização dessa região (aqui tratamos especificamente do osete catarinense) é bem recente e foi conduzido por famílias de agricultores, em sua maioria pobres, que adquiriam de companhias colonizadoras pequenas áreas de terra. É predominante nessa região propriedades rurais pequenas, em torno de dez hectares, que sustenta razoavelmente uma família de 4 a 5 pessoas. As colonizadoras utilizavam critérios étnicos para a distribuição dos lotes de terra entre seus compradores, normalmente a primeira ou segunda geração de descendentes de imigrantes europeus que se instalaram no Rio Grande do Sul no século XIX. É possível afirmar que muito do discurso étnico tem relação com a necessidade de construir um amálgama entre os novos moradores (ou seja, a germanidade ou a italianidade são invenções que tiveram lugar já nas colônias, aqui portanto). Isso é claro, não significa que não se empreendeu violência contra as populações já estabelecidas nessa região, como os kaingangs, xoklengs e caboclos, muito pelo contrário. Então, para ser objetivo, não me parece que o discurso étnico está fundado na ideia de que os não-brancos devem viver com menos direitos (embora isso apareça como consequência dessa visão de mundo em alguns indivíduos), mas tão só que eles são "outros", não são "brasileiros", possuem uma história diferente e vivem a vida de uma forma diferente. Não se identificam com aqueles que eles mesmo chamam de "brasileiros". O fato de ser uma cidade com uma população pequena e que não sofreu grandes alterações demográficas desde a colonização, contribuiu para sedimentar esse sentimento de "nós" e "eles".
Com relação ao currículo escolar, temos ainda uma pesquisa em curso, que esperamos tornar pública logo. A pandemia estacionou um pouco isso (afinal, uma coisa é ver o que diz o currículo oficial, o que não nos interessa muito, outra, bem diferente e significativa, é ver o que acontece, se acontece etc.). Preliminarmente é possível afirmar que "cumpre a lei", formalmente. Ou seja, ensina elementos da cultura afro-brasileira e indígena. O problema disso é que sem o devido zelo teórico-metodológico objetifica-se o Outro em conteúdos distantes da realidade, ou melhor, mutiladores da realidade (em aulas de capoeira por exemplo). É preciso enfrentar essa construção identitária como um problema educativo.
Para sua terceira pergunta, tomo a liberdade (de novo), de reproduzir o que eu respondi para Carla e Eduardo.
Enquanto educador penso que precisamos deslocar o foco. Sigo aqui as reflexões de Adorno em Educação e Emancipação. Não acho muito produtivo que conteúdos como história da África, dos afro-brasileiros e das populações indígenas seja ensinada para crianças brancas com o argumento de que esses indivíduos mereçam ser lembrados (embora eu concorde absolutamente com isso, tão só não acho que esse é o caminho pedagógico adequado). Penso ser muito mais produtivo que as crianças e jovens brancos percebam o quanto são prejudicados por serem privados de compartilhar o mundo com não-brancos. Em outras palavras, acho mais produtivo não objetificar negros e indígenas (como conteúdos obrigatórios e que por isso tem que ser trabalhados), mas despertar nas crianças o desejo (no sentido de Eros) de conhecer "o que" não são eles próprios. O ponto central que quero enfatizar é que o mundo é plural, goste-se disso ou não, e que, portanto, uma história única é perniciosa, embora em grau bem diferente, mesmo àqueles que estão em condição de privilégio: quando há desigualdade não há liberdade, isso já está no sentido grego de eudaimonia. Isso implica uma concepção diferente de história, pautada no dever de memória (Adorno), na ética da responsabilidade (Levinas) e na estética do Eros (Gur-Ze'ev).
Nisso tem as universidade sério papel. São as primeiras que precisam assumir essa responsabilidade.
Olá. Professora Renilda e Professor Bruno. Que texto instigante! Obrigada. No Rio Grande do Sul temos textos com a história lical, publicados nos sites oficiais das cidades, com esse mesmi teor que revela branquidade. O Professor Carlos Eduardo Stroher fez um levantamento em sites do Valedo Cai e encontrou dados semelhantes aos trazidos por vocês? Pergunto: não devemos tratar isso como racismo institucional e fazer uma denúncia pública, como pesquisadores?
ResponderExcluirOlá Carla, obrigado pela questão.
ExcluirDe fato é muito comum em várias localidades do Sul do Brasil, essa tentativa de recusar a pertinência da história indígena e afro-brasiliera, especialmente a partir de órgãos oficiais. Não são poucas as "Áustrias brasileiras", "Pomerânia brasileira", para não falarmos da "Santa (e loura) Catarina". O que torna evidente que precisamos enfrentar isso como um problema educativo.
Enquanto educador penso que precisamos deslocar o foco. Sigo aqui as reflexões de Adorno em Educação e Emancipação. Não acho muito produtivo que conteúdos como história da África, dos afro-brasileiros e das populações indígenas seja ensinada para crianças brancas com o argumento de que esses indivíduos mereçam ser lembrados (embora eu concorde absolutamente com isso, tão só não acho que esse é o caminho pedagógico adequado). Penso ser muito mais produtivo que as crianças e jovens brancos percebam o quanto são prejudicados por serem privados de compartilhar o mundo com não-brancos. Em outras palavras, acho mais produtivo não objetificar negros e indígenas (como conteúdos obrigatórios e que por isso tem que ser trabalhados), mas despertar nas crianças o desejo (no sentido de Eros) de conhecer "o que" não são eles próprios. O ponto central que quero enfatizar é que o mundo é plural, goste-se disso ou não, e que, portanto, uma história única é perniciosa, embora em grau bem diferente, mesmo àqueles que estão em condição de privilégio: quando há desigualdade não há liberdade, isso já está no sentido grego de eudaimonia. Isso implica uma concepção diferente de história, pautada no dever de memória (Adorno), na ética da responsabilidade (Levinas) e na estética do Eros (Gur-Ze'ev).
Olá. O comentário anterior, com a pergunta sobre denúncia publica é assinado por Carla Beatriz Meinerz. Parabéns Renilda e Bruno.
ResponderExcluirOla pessoal, excelente discussão.
ResponderExcluirSão muitas questões e problematizações que emergem em meio a essa discussão. Mesmo sabendo das desigualdades históricas desses País, fico imagino como os descendentes de europeus - os chamados cotistas do século XIX e início do XX, aos quais foram ofertados todos benefícios possíveis para se estabelecerem nesse País e cuja vinda acabou por selar o destino daqueles que efetivamente construíram a riqueza do Brasil através do seu trabalho e da privação de suas liberdades - no direito menosprezar grupos étnicos cuja riqueza acabaram, de certa forma, se apropriando. Obvio que esses fatos se deram em contextos históricos e sociais distintos, contudo é notório que há toda uma construção sociocultural por trás desse racismo reverberado por esses grupos defendem um Brasil branco e na maior nação mestiça do mundo. Portanto, se faz urgente a tomada de posição de nós historiadores no proposito de fomentar processos educativos que preparem o individuo, seja ele de que origem for, para o exercício da plena cidadania. Precisamos assim, de trabalhar no sentido de desconstruir esteriótipos e no processo de descolonização de nossa população.
Eduardo Santana, Doutorando em História da UFRPE
Olá Eduaro, obrigado pelas colocações
ExcluirAcredito que a resposta que ofereci para Carla, também seja adequada ao seu apontamento.
De fato é muito comum em várias localidades do Sul do Brasil, essa tentativa de recusar a pertinência da história indígena e afro-brasiliera, especialmente a partir de órgãos oficiais. Não são poucas as "Áustrias brasileiras", "Pomerânia brasileira", para não falarmos da "Santa (e loura) Catarina". O que torna evidente que precisamos enfrentar isso como um problema educativo.
Enquanto educador penso que precisamos deslocar o foco. Sigo aqui as reflexões de Adorno em Educação e Emancipação. Não acho muito produtivo que conteúdos como história da África, dos afro-brasileiros e das populações indígenas seja ensinada para crianças brancas com o argumento de que esses indivíduos mereçam ser lembrados (embora eu concorde absolutamente com isso, tão só não acho que esse é o caminho pedagógico adequado). Penso ser muito mais produtivo que as crianças e jovens brancos percebam o quanto são prejudicados por serem privados de compartilhar o mundo com não-brancos. Em outras palavras, acho mais produtivo não objetificar negros e indígenas (como conteúdos obrigatórios e que por isso tem que ser trabalhados), mas despertar nas crianças o desejo (no sentido de Eros) de conhecer "o que" não são eles próprios. O ponto central que quero enfatizar é que o mundo é plural, goste-se disso ou não, e que, portanto, uma história única é perniciosa, embora em grau bem diferente, mesmo àqueles que estão em condição de privilégio: quando há desigualdade não há liberdade, isso já está no sentido grego de eudaimonia. Isso implica uma concepção diferente de história, pautada no dever de memória (Adorno), na ética da responsabilidade (Levinas) e na estética do Eros (Gur-Ze'ev).
infelimsmente tanto no ensino fundamental quanto ensino médio, o estudo sobre a África e sobre a cultura afro-brasileira é bem limitado e como vocês comentaram que os pais tem o papel de educar os filhos e de conversar com eles sobre o a importancia dos grupos etnicos e as diferentes culturas do nosso país. E com relação ao texto de voçês, sobre o 'perigo da história única', como que um professor de alfetizaçao pode trabalhar esse tema em sala de aula?
ResponderExcluirNADIENE ALVES FERREIRA
Olá Nadiene, obrigado pela questão!
ExcluirPenso que é possível, concomitantemente, alfabetizar para a língua e para a história. Afinal, muito do caráter se constrói nessa fase da vida. Quando se alfabetiza, o foco centrar precisa ser pelo desejo de conhecer, e não nos procedimentos técnico de decifração do código linguístico. Assim, ao se alfabetizar em história, a ênfase precisa ser em provocar o desejo de conhecer o mundo como ele é, ou seja, plural. Tem a ver sim com a escolha de conteúdos, mas sobretudo tem a ver com a postura de educador que manifesta seu amor pelo mundo e pela pluralidade no seu fazer.
Através da leitura ressaltou-se em mim uma dúvida que tenho algum tempo em relação a origem e propósito da palavra racismo. Contudo, quando utilizamos essa palavra para referirmos a um preconceito, podemos estar distinguindo os seres através da própria palavra, isto é, distinguindo individuos através da raça. Gostaria que comentasse em relação a essa minha dúvida.
ResponderExcluirAtt: Bruno dos Santos Pedro. UFMS- História.
Prezado Bruno, obrigado pela reflexão.
ExcluirAqui nos aportamos nas palavras do antropólogo Kabengele Munanga, quando nos diz que no Brasil temos um racismo silenciado, uma sociedade racista que nega a humanidade do outro. E o racismo institucionalizado ou estrutural segundo o estudioso Silvio Almeida. Não simplesmente distinguindo indivíduos pela raça, mas problematizar o lugar de fala do branco, da construção da branquitude e como isso coloca em desigualdade e promove o racismo.
Boa tarde!
ResponderExcluirUm grande esafio é como ensinar História em sala de aula se o modelo de educação no Brasil ainda é traicional e excludente?
Diêgo Luiz Góes Santos Menezes
Prezado Diêgo, obrigado pela colocação/pergunta.
ResponderExcluirE que desafio, tendo em vista que os ataques a educação pública são diários.
Os professores de história tem responsabilidades e dever ético com o ensino de história pautado na diversidade, na pluralidade ..., apesar do modelo tradicional e excludente. Cabe aos profissionais da educação encontrar 'brechas', alternativas que se pautem pela inclusão e pelos estudos das múltiplas histórias.
A maioria das pessoas admitem que existe racismo no Brasil, mas ninguém se assume de fato racista, o primeiro impulso das pessoas é afirmar que nunca tiveram falas ou práticas racistas “ eu tenho amigos negros” , “ a minha empregada é negra” a partir do momento que estendemos que o racismo é um sistema estrutural da sociedade, essas falas se tornam vazias já que é impossível não ter pelo menos uma prática/fala racista em toda sua vida sendo que foi criado em uma sociedade que acha que o povo preto é bandido ou empregada doméstica. É preciso sempre prestar atenção que o racismo está tão presente em nossas vidas que muitas das vezes se passa despercebido um exemplo disso é a ausência de pessoas negras em novelas ou em cargos que não seja lavando o banheiro de alguém ou então quando seu amigo faz uma piada racista e você se silencia. Combater esse tipo de atitude é de extrema importância para sobrevivência do povo preto. O texto fala que devemos sempre ensinar nossos filhos a não serem racistas, mas que política educacional podemos fazer uso com aqueles pais que não querem ter esse tipo de diálogo com sua prole?
ResponderExcluirMaria Antônia Gomes
Olá Maria, obrigado pela questão.
ExcluirDe fato há famílias que reproduzem o racismo. Muitas dessa famílias não admitem que na escola enfrentemos essa questão e hoje estão muito bem organizados em movimentos que influenciam políticas públicas no campo, daí os movimentos como Escola Sem Partido e o esvaziamento da BNCC (história como lista de conteúdos para adquirir habilidades e competências).
A mim parece que cada vez mais precisamos definir o que é a escola. O que a faz diferente de todas as outras instituições. Seguinto Biesta, compreendo que o que diferencia a escola das demais instituições não é o fato de nela se produzir conhecimentos (com o que concorre com outras instituições e, mesmo, recursos), as de ser o único espaço que pode (não significa que o faça sempre e nem que de forma determinante) promover alguma oposição aos desejos indesejáveis da sociedade, das famílias, do Estado e, mesmo, dos estudantes. Dentre estes desejos indesejáveis está a reprodução do racismo, mas não só.
Correção: "Mas de ser o único..."
ExcluirSaudações cordiais!
ResponderExcluirMeu questionamento vai no seguinte sentido, mesmo com leis visando a inserção de uma educação étnico racial, nós historiadores e demais professores devemos nós atentar aos diversos tipos de representações desses povos! Muitas delas super romantizado e/ou equivocadas.
É também uma tristeza pessoal que na academia tenhamos poucos ou quase zero de acesso a escritores africanos e indígenas.
Atenciosamente: Fabrícia da Silva Lopes
Prezada Fabrícia, muito obrigada por ler o texto e expor sua colocação.
ExcluirSua tristeza pessoal se soma a de milhares de estudantes, pesquisadores, professores. Felizmente nos últimos anos estamos tendo acesso, pouco ainda, mas de extrema importância da literaturas negra e menor número da indígena. É possível dialogar sobre história da África com estudiosos africanos. No Brasil as políticas de Ações Afirmativas são um meio que podem garantir estudantes negros/as e indígenas nas universidade e a produção de conhecimento decolonial.
Aos educadores o desafio é constante, como buscar formação para não se apropriar das representações que tu apontas. Um conhecimento romantizado ou equivocado não auxilia em nada na compreensão das diferenças e na promoção da igualdade.
Boa tarde professores Renilda é Bruno,
ResponderExcluirO Brasil é um país que cria sua identidade a partir de miscigenação de raças, precisamos adicionar conhecimento histórico para refletir os diversos e diferentes indivíduos que povoam nosso território. No presente, pensamento ligados ao branqueamento e a sensibilidade do início do século XX, quer seja, equívocos que colocam uma comunidade vivendo com passado criado/inventado, e o que não for igual, que possui várias adjetivações de um pertencimento étnico errôneo e generalista e ainda, confundindo-se com nacionalidade- o brasileiro.
MARIA APARECIDA PEREIRA DA SILVA - História/ CPNA
Professores,o texto aborda um recurso tecnológico; vídeos e censo. Neste período de pandemia há uma aumento do acesso aos vídeos e isso, está sendo sugerido como formato para desenvolvimento de atividades pedagógicas e que através desta discussão me atentei aos perigos disponiiveis para os alunos do ensino fundamental e Médio. Cientes dos desafios em ensinar História, comente um nome/nomes de outro(os) vídeos que faz o papel inverso deste da UOl1
ResponderExcluirEdvane, sua preocupação com o que alunos podem acessar é algo comum a nós professores.
ExcluirIndico o site www.geledes.org.br, onde são disponibilizados textos, imagens,vídeos, planos de aula que podes explorar e fazer uso neste período. São materiais que se contrapõe a história única.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHoje em dia os alunos se importam com o imediato, o agora, e pouco se vê eles se interessarem por coisas que são importantes para nossa história. As questões abordadas no texto como o desconhecimento do samba, não só pelos brancos, mas também pelos pretos, porque a sociedade conseguiu apagar grande parte da história do samba, da sua importância, não é "mainstream", e essa cultura de apagamento da história preta/negra acontece a décadas, como podemos começar a mudar isso? Um professor é capaz de mudar toda essa estrutura racista?
ResponderExcluirGustavo Santos de Oliveira
Prezado Gustavo, obrigado pelas questões.
ExcluirMudanças fazem parte do exercício histórico, mas também da paciência histórica, e sabemos que a população negra sempre resistiu a imposição e a destruição de seus saberes, conhecimentos, cultura. A lei 10639/2003 significa um começo, devemos agir, mesmo que em alguns momentos estamos sozinhos ou isolados, e colocá-la em prática. Na configuração da educação brasileira um professor sozinho não tem condições de mudar uma estrutura racista, mas ele deve levar o debate para a sala de aula e para a sua comunidade escolar. A omissão em debater racismo permite que ele se institucionalize ainda mais. Nosso dever como professores é pautar o que causa desconforto social e epistemológico.
Olá! Primeiramente, parabenizo pelo texto, ficou excelente. Bom, de acordo com o que vemos e vivemos, a educação brasileira no que diz respeito à história é fortemente limitada e excludente, tendo em vista que o branco é ressaltado a todo momento, em maior parte dos feitos. Infelizmente, o racismo foi impregnado nas vidas, na história, no mundo, devido aos acontecimentos nos tempos coloniais. Por isto, dá-se, então, forte negação e exclusão do preto. É um problema que afeta nossa realidade até hoje. Não só por alguém ser criticado pela cor de sua pele, mas também por afetar a vida como um todo, em trabalho, estudos. E nos é negado conhecimento. Conhecimento daqueles que são pouco citados e de feitos pouco sabidos e contemplados.
ResponderExcluir- Maria Liliane da Silva Santos
Prezada Maria Liliane, obrigada pela reflexão!
ExcluirSabedores de como o racismo age e destrói corpos e pensamentos, como professores precisamos usar do espaço acadêmico e escolar para refletir e combatê-lo. E trazer os saberes das populações negras a partir de seus escritos, depoimentos, materialidades, etc. para contrapor aos discursos do colonizador.
Boa noite
ResponderExcluirQuero primeiramente parabenizar pelo texto.
O que vemos no Brasil é o racismo, de uma forma muito forte, em vários aspectos. Não há um olhar da sociedade ainda que tanto o negro como o indio tem a sua historia que por sinal é muito rica por sinal. O acesso dos estudantes ainda é muito as colonizações que fala do negro e do indio mas não mostra a sua beleza. Gostaria de saber se poderiamos ter um mundo menos racista se pudesssemos colocar dentro do ensino não só a colonização, mais a história do negro e do indio? A qual ponto poderíamos diminuir esse olhar de inferioridade para esses povos ?
Nathália Vieira de Abreu.
Olá Nathália, obrigado pela questão
ExcluirEm educação nunca poderemos ter certeza dos resultados das coisas que realmente importam. Conseguimos apenas aferir com graus variados de exatidão questões de conteúdo. Assim, não posso afirmar com certeza que ao inserir mais conteúdos de história africana, afro-brasileira e indígena teremos jovens mais abertos ao outro e menos afeitos ao racismo ou se apenas teremos jovens que sabem mais conteúdos sobre afrinanos, afro-brasileiros e indígenas. Isso não é uma questão menor e precisa ser encarada com a seriade necessária. Ou seja, não é apenas uma questão de conteúdo.
Contudo, os resultados de uma educação histórica que negligencia a pluralidade e apresenta essas "histórias outras" como apêndices, ou seja, que reproduz uma história outra, nós já conhecemos.
A questão da pluralidade no ensino de história não pode ser mais negligenciada, embora não possamos afirmar com certeza quais serão os resultados disso.
Correção: "que reproduz uma história única, nós já conhecemos".
Excluirprof. Renilda Vicenzi e Bruno Antonio Picoli
ResponderExcluirsabemos que os colonizadores fizeram o seu povo acredita que povos que eram diferentes deles fosse vistos como selvagens e só eles eram a raça perfeita, queria saber como essa visão afetou a historiografia no tempo ?
O racismo em instituições escolares acontece em diversos setores da escola, acredito que esse problema deve ser trabalhado não apenas com os alunos, mas com os educadores, diretores, cordenadores, etc . O racismo está presente em diversas áreas da escola, portanto, devemos trabalhar com esse problema em todas elas.
ResponderExcluirAtt: Bruno dos Santos Pedro
Olá Bruno, obrigado pelo comentário!
ExcluirNão há dúvidas disso. Os educadores, e me incluo dentre eles, carregam preconceitos. O grande esforço educativo está na abertura, e não eliminação de preconceitos. Explico melhor: um indivíduo aberto para o Outro é um indivíduo que está disposto a pôr os seus preconceitos em questão, transformá-los em algo mais nobre. A eliminação de preconceitos, por mais ideal que seja, é psicologicamente impossível, é inclusive um recurso de defesa. Então, professores abertos para o outro, que questionem seus preconceitos, podem em muito ajudar as crianças e jovens a questionar os seus próprios preconceitos.
Prezados,
ResponderExcluirRecentemente, com o programa BBB da emissora Globo, foi levantado um debate à respeito dos termos "negro" e "preto", por um dos participantes.
Gostaria de saber a opinião de vocês, pois segundo o participante, o termo negro não deveria ser usado por ter conotação negativa, já que o termo se refere à "nigro", do grego inimigo, preferindo assim ser chamado de preto. Ele afirma também que apenas os brasileiros aceitam e usam esse termo. Também é comum ouvir ativistas negros dizendo que acham ofensivo os termos "pardo" ou "moreno", pois para eles, assim como branco é branco, o preto é preto.
Gostaria de saber se podem opinar sobre essa questão e indicar autores que abordem o tema.
Obrigada, e me desculpem por talvez fugir um pouco do assunto.
Nathálya Ferreira Raseira