Renilda Vicenzi e Bruno Antonio Picoli


‘UMA CIDADE BRANCA’: DESAFIOS PARA UMA EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL



Este texto busca compreender a construção de identidades e os sentidos das falas expressas no minidocumentário ‘Uma cidade branca’, relacionando-o com a importância da educação das relações étnico-raciais e sua difusão social para dirimir estereótipos e combater a história única.

Em 2009 durante o evento  Tecnology, Entertainment and Design (TED),  em Oxford (Reino Unido) a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, proferiu uma fala que  denominou de ‘o perigo da história única’. Essa denominação é em referência ao modo como em geral olhamos para os povos do continente africano. A narrativa é desenvolvida a partir do olhar de uma estudante branca ocidental sobre a escritora e seu local de origem e avança sobre como foram e são construídos estereótipos de pessoas e de lugares, que nos levam a anacronismos históricos e a deturbar identidades. ‘O perigo da história única’ ronda a escrita da história, suas interpretações e o cotidiano de indivíduos e comunidades. No campo da História narrar um fato histórico exige pensar os homens e mulheres e suas produções em seu tempo. Produções entendidas aqui como fontes históricas [Barros, 2019]. Isto é, tudo o que foi produzido pelos seres humanos e que temos acesso, e nos proporciona compreender o passado, e a luz do presente desenvolver interpretações que nos distanciem da história única.

O vídeo ‘Uma cidade de brancos’ foi produzido em 2016 pelo site UOL TAB. De acordo com informações disponibilizadas pelos produtores, desde 2014 a UOL TAB produz minidocumentários com temas da contemporaneidade. Suas fontes são dados, entrevistas e pesquisas que geram conteúdos disponibilizados em vídeos de livre acesso. Este vídeo foi produzido tendo como fonte os números  disponibilizados no Censo do IBGE de 2010, do município de Cunhataí - Santa Catarina e de entrevistas com moradores deste município. Esta localidade foi escolhida porque os números do IBGE apresentavam dados sobre o pertencimento racial que a UOL TAB considerou interessante: a inexistência de autodeclaração de pretos. Para o IBGE a população brasileira está segmentada em 5 categorias de cor/raça: branco, preta, pardo, amarelo e indígena. Dos 1.822 mil habitantes residentes em Cunhataí no ano de 2010, 97,5% se autodeclaram brancos e 2,5% de pardos. Havendo a inexistência de autodeclaração de pretos, amarelos e indígenas. O objetivo do minidocumentário (três minutos e trinta e seis segundos) foi nos apresentar a cidade de Cunhataí (SC) como a cidade mais branca do Brasil  e fazer um contraponto com a cidade de Antônio Carlos (BA), como a cidade brasileira com maior número de negros (pretos e pardos – 87%).

Para nos situarmos propomos descrever, de forma breve, a constituição histórica do espaço no qual Cunhataí - SC está inserido. Informações disponibilizadas em https://www.cunhatai.sc.gov.br/, itens “colonização” e “cultura” (publicados e atualizados em 2013) nos dizem que a história deste município iniciou com chegada, por volta dos anos de 1940, da família Klauck e logo após da família Sehnen, que encontraram um local com mata virgem, especialmente de araucárias e madeira de lei. Na sequência enfatiza a chegada, pós segunda guerra mundial, de mais famílias descendentes de alemães que “até hoje preservam a cultura, os costumes e a língua mãe”. Mas algo nos chamou atenção nestas informações “oficiais”, a origem do nome Cunhataí. Assim descrito: “Contam os mais antigos, pessoas daquela época, que os raros elementos de origem indígena que aqui viviam naquele tempo, ao verem as mulheres louras, filhas ou esposas dos pioneiros de origem alemã diziam ‘Cunhataí’, palavra que mais tarde eles entenderam como moça bonita. Por essa razão, em homenagem a esta gente, batizaram a jovem comunidade de Cunhataí”.

A ocupação e colonização do oeste catarinense, onde se localiza o município de Cunhataí, está relacionada aos processos históricos dos campos de Palmas no final do século XIX, como a disputa pelos territórios entre Brasil e Argentina [Adelar, 2007], a guerra do Contestado [Machado, 2004] e a formação do município de Chapecó em 1917 associada a política colonizatória empreendida pelo estado de Santa Catarina. A partir dos anos 1920 o ‘velho Chapecó’ começou a receber migrantes nacionais e estrangeiros para povoar nos moldes das antigas colônias de alemães e italianos instaladas no Rio Grande do Sul ao longo do século XIX [Vicenzi, 2008]. O modelo econômico de pequena propriedade agrícola com produção para subsistência e excedentes para comércio local e o extrativismo vegetal foram a tônica da política colonizatória, isto efetivado pela presença de homens brancos cristãos. Mas, estes espaços já se encontravam habitados, como destacado na versão do nome Cunhataí, havia comunidades indígenas (kaingangs e guaranis) estabelecidas e que gradativamente foram expulsas, em nome da civilização e do progresso empreendido pelo estado e por companhias colonizadoras. Como descrito pela antropóloga Renk [2006], buscava-se pelo colono de origem - a europeia, em detrimento dos brasileiros.

Compõe parte da literatura catarinense a invisibilidade da história de homens e mulheres indígenas e negros. Esta invisibilidade levou a negação da presença e contribuição destes indivíduos, e por conseguinte o estado se apropriou do discurso do branqueamento e o disseminou através de propagandas e materiais didáticos. Nas últimas décadas as produções acadêmicas e os movimentos sociais (indígenas e negros) vem desfazendo o olhar do branqueamento e dando visibilidade aos historicamente excluídos.

Assim, as novas produções acadêmicas vem com concepção teórico-metodológica de perspectiva decolonial, ou “o pensamento decolonial [que] propõe romper com os pensamentos gravados nas mentes e corpos por gerações […], incluir o pensamento dos povos originários (índios) e de diáspora forçada (negros)” [Costa Neto, 2016, p. 51].  Este pensamento se contrapõe ao padrão colonial de poder, que justificou as violências da colonialidade sobre povos não europeus. Ainda de acordo com Mignolo (2017, p. 15): “A descolonialidade não consiste em um novo universal que se apresenta como o verdadeiro, superando todos os previamente existentes; trata-se antes de outra opção. [...] o decolonial abre um novo modo de pensar que se desvincula das cronologias construídas  […]”. A proposta é o rompimento de epistemologia eurocentradas de racialização.

Ainda, retomemos a classificação realizada pelo IBGE sobre cor/raça e que culminou com a autoidentificação em Cunhataí-SC de uma maioria de brancos. Segundo Schucmann [2014, p. 84]: “no Brasil, ser branco está ligado à aparência, aos status e ao fenótipo”. O ser branco, para a pesquisadora precisa ser analisado no contexto histórico do branqueamento e da branquitude, que implica “expor os privilégios simbólicos e materiais que os brancos obtém em uma estrutura racista”. A região oeste catarinense fora construída pelo discurso do branqueamento ao longo do século XX, isto fica evidente pela opção do estado em formar núcleos de colonização com homens e mulheres, como já citado, brancos e cristãos. A comunidade em questão não está isolada das políticas que incentivaram e possibilitaram os discursos e práticas racistas na sociedade brasileira do pós-abolição. Há uma notória exclusão dos outsiders pelos estabelecidos [Elias; Scotson, 2000], mas neste caso os outsiders eram os que viviam no local muito tempo antes da chegada dos estabelecidos. Nas entrevistas (que, como é comum em documentários, sofreram um processo de edição, tendo em vista os objetivos da equipe produtora) há um lugar de fala sobre como é ser branco e qual a relação com o outro.

A partir destes elementos que no propusemos a analisar o minidocumentário. Neste minidocumentário foram selecionados seis homens e uma mulher para falar. Estes homens em sua maioria são representantes do poder político local (prefeito e vereadores). O vídeo começa com a seguinte afirmação: “Cunhataí (SC) é a cidade mais branca do Brasil”. Para analisar as falas, que se apresentam com respostas, elencamos o que possivelmente fora perguntado e na sequência a transcrição:

1. Porque é a cidade mais branca do Brasil?
“Se gira em torno de 98% que são de origem alemã, daí entraram uns italianos, também brancos, daí entrou uns morenos, os brasileiros, mas são poucos”. “Nem sei como é viver com negros porque a gente é acostumado a viver praticamente sem nenhum negro”. “Aqui, aquele brasileiro mesmo, não, não, tem o cor de cuia e que entraram agora nos últimos tempos”. “Em todo o Brasil, em todo o mundo é assim, onde puxa uma raça mais uma raça, daí vai todos”.
2. Sabe o que é samba?
“Eu não sei o que é samba”. “Não sei dançar samba, não aprendi. Se tocar um samba a pista fica vazia”. “Os bailes, o mais tocado, mais pedido pela alemoada é música de bandas, marchinha, vaneira, xote, valsa”. “O alemão tem o rito da valsa, da vaneira, marchinha, e o negro tem o samba deles”.
3. Já comeu feijoada?
“Uma coisa que eu escutei falar, mas não conheço”.
4. Existe ou existiu algo que seja da cultura negra?
“No passado teve um curso de capoeira no município. Foi só um ano e não aconteceu mais”. “No começo a gurizada se empolgou”. “Capoeira aqui não pegou não, tinha alguns alunos, se apresentaram, muito bonito, muito bonito, mas não deu certo”.

A metodologia empregada que gerou as afirmações (respostas) acima garantem a visibilidade aos brancos. Ao mesmo tempo que imagens do cotidiano reafirmam isso. Mas a primeira legenda nos conduz a pensar que a cultura ali pode ser encontrada em outras regiões do Brasil: sob o nome de um dos entrevistados constava “prefeito e gaiteiro”. O uso da gaita como instrumento musical compõe a diversidade de ritmos que temos em nosso país. Quem não ouviu falar em Luiz Gonzaga, o pernambucano que com sua sanfona levou a cultura musical nordestina para todo o Brasil? Ou em Renato Borghetti, o sul riograndense, da gaita-ponto? Ainda, os diferentes ritmos musicais, como xote, vaneira, valsa..., não são exclusivos de um grupo étnico. Estes ritmos possuem origens e apropriações que perpassam diversas tradições culturais.

Não saber dançar ou não ter aprendido sambar é compreensível, mas o desconhecimento do samba é algo espantoso. Afinal, o que entendem por samba? Uma dança de negros! Logo, se não tem negros, não tem samba! Começamos nossa argumentação a partir do que está em nosso cotidiano, no calendário oficial brasileiro temos o feriado de carnaval, e, nos dias que antecedem este feriado, os meios de comunicação em todo o país dedicam parte de sua programação para mostrar como esta festa (carnaval) é realizado em diferentes lugares, que tem seu ápice com blocos e escolas de samba. Regionalmente a cidade de São Carlos e Águas de Chapecó (SC), distantes cerca de 20 km da cidade de Cunhataí, são conhecidas por receber foliões em seu carnaval de rua. Certamente, se perguntarmos aos jovens da cidade de Cunhataí, se participam do carnaval nestas cidades vizinhas, a resposta será positiva. Não há como desvincular samba e carnaval e ambos são vivenciados em todo território nacional.

O campo de disputa social e política em torno da denominação de brasileiros e estrangeiros é acionado neste minidocumentário. Para Renk [2006], no Sul do Brasil os colonos (origem europeia) construíram sua identidade em oposição aos brasileiros (caboclos). No caso aqui analisado, a ideia de brasileiro é ser negro (preto) ou moreno, já ‘o cor de cuia’ está no limbo. Então precisamos acionar o conhecimento histórico para refletirmos sobre os diversos e diferentes indivíduos que povoam nosso território. Ao acionarmos o passado visualizamos a escravização e dizimação dos povos indígenas, a violenta diáspora África e as políticas estatais de imigração. No presente, pensamentos ligados ao branqueamento e a civilidade do início do século XX, quer seja, equívocos que colocam uma comunidade vivendo com passado criado/inventado, e o que não for igual, considerado o diferente, que possuiu várias adjetivações de um pertencimento étnico errôneo e  generalista e ainda, confundindo-se com nacionalidade – o brasileiro.

Para desfazer preconceitos e equívocos e nos entendermos como diversos e diferentes e não como superiores e inferiores, em 09 de janeiro de 2003 foi promulgada a Lei nº 10.639  que instituí a obrigatoriedade do ensino de História da África, cultura africana e afro-brasileira; E em 10 de março de 2008 a Lei nº 11645, que em seu Art. 26-A, estabelece: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. Para que a história de negros e indígenas não continue sendo esquecida e inferiorizada é que está legislação existe. Reeducar para que valorizemos a existência, a identidade, a cultura destes milhares de indivíduos que trazem consigo um passado de esquecimento e são vítimas cotidianamente de práticas racistas.

As falas aqui apresentadas demonstram que é cada vez mais urgente uma educação para as relações étnico-raciais. E isto nos toca, porque após uma década de amplo debate da legislação acima citada, entendemos que houve avanços significativos para uma educação intercultural, que interaja com o outro e se perceba integrante de uma sociedade multicultural, mas infelizmente temos locais onde predomina a história única. E de acordo com Chimamanda Ngozi Adichie “Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso”.

Numa comunidade de maioria branca, a educação das relações étnico-raciais tem função essencial, pois vai dialogar sobre como nos apropriamos de discursos colonialistas e que estes desejam manter relações de poder baseado na racialidade. Irá propiciar ações que valorizem as diversidades culturais e perceber que capoeira, samba e a feijoada não são suficientes para explicar a complexidade da cultura afro-brasileira, e de apenas decorar que o nome da cidade tem origem em língua indígena, não irá nos constituir numa sociedade humana e plural. Segundo Nilma Gomes precisamos ensinar, re-educar, estudar:

“É preciso ensinar para os(as) nossos(as) filhos(as), nossos(as) alunos(as) e para as novas gerações que algumas diferenças construídas na cultura e nas relações de poder foram, aos poucos, recebendo uma interpretação social e política que as enxerga como inferioridade. A consequência disso é a hierarquização e a naturalização das diferenças, bem como a transformação destas em desigualdades supostamente naturais. Dessa forma, se queremos lutar contra o racismo, precisamos re-educar a nós mesmos, às nossas famílias, às escolas, às(aos) profissionais da educação, e à sociedade como um todo. Para isso, precisamos estudar, realizar pesquisas e compreender mais sobre a história da África e da cultura afro-brasileira e aprender a nos orgulhar da marcante, significante e respeitável ancestralidade africana no Brasil, compreendendo como esta se faz presente na vida e na história de negros, índios, brancos e amarelos brasileiros” [Gomes, 2005, p. 39].

As falas através de questões estão mal colocadas, pois quiçá foram proferidas a partir do uso metodológico da indução, mas é fato que o desconhecimento ou a simples negação possibilita a criação de imaginários, de preconceitos, de equívocos e reforça o distanciamento do outro. Podemos nos propor a sair da questão da colonização, e olharmos para a realidade atual, onde há um lugar para corpos serem violentados e marcados para morrer, e outro para corpos que vivem privilégios. A história dos negros e indígenas pertence a todos nós, pois cada indivíduo ou grupo étnico compõe a história cultural, social, política e econômica de nosso país, e num país racista como o Brasil é imprescindível que brancos sejam antirracistas e que os saberes diversos nos tornem mais humanizados. Não é mais possível nos escondermos em desculpas, mas de sermos responsáveis e com as humanidades negadas e acolher as múltiplas narrativas.

Referências
Drª Renilda Vicenzi é professora de História da África de Brasil Colonial e Imperial na UFFS – Campus Chapecó. Vice-coordenadora do NEABI/UFFS/Campus Chapecó.
Dr. Bruno Antonio Picoli é professor da área de Ensino de História da UFFS - Campus Chapecó. Líder do Grupo de Pesquisa em Educação, Violência e Democracia – UFFS.

BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas – uma introdução aos seus usos historiográficos. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.
COSTA NETO, Antonio Gomes da. A Denúncia de Cesáire ao Pensamento Decolonial. Revista EIXO, Brasília – DF, v. 5, n. 2, julho-dezembro de 2016.
ELIAS, N.; SCOTSON, J. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: Uma breve discussão. In: SECAD - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade/MEC. Educação Anti-racista: Caminhos abertos pela Lei Federal 10639/03. Brasília. 2005. p. 39-62.
HEINSFELD, Adelar . Fronteira Brasil/Argentina: a Questão de Palmas - de Alexandre de Gusmão à Rio Branco. Passo Fundo-RS: Méritos, 2007.
MACHADO. Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a formação e atuação das chefias caboclas (1912-1916), Campinas, Ed. da UNICAMP, 2004.
MIGNOLO, Walter. Desafios Decoloniais Hoje. Epistemologias do Sul, Foz do Iguaçu/PR, 1 (1), pp. 12-32, 2017. Revista EIXO, Brasília – DF, v. 5, n. 2, julho-dezembro de 2016.
RENK, Arlene Anelia. A luta da erva: um ofício étnico no oeste catarinense. 2. ed. rev. Chapecó: ARGOS, 2006.
VICENZI, Renilda. Mito e história na colonização do oeste catarinense. Chapecó: Argos, 2008.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana.
Psicologia & Sociedade. 26(1), 2014, p. 83-94.

Vídeos
O perigo da história única. Disponível em
Uma cidade branca. Disponível em
https://www.cunhatai.sc.gov.br/. Acesso em 07 de outubro de 2018.

46 comentários:

  1. Caros, Renilda e Bruno, o texto despertou em mim uma imensa curiosidade que me levou a procurar informações e assistir ao minidocumentário mencionado. A articulação entre as discussões e referência à Chimamanda Adichie nos transporta para várias regiões do Brasil que não conseguem se desprender de discursos hegemônicos pautados na colonialidade, em especial no Sul do país. Nessa esteira, pergunto se há mais bibliografias de suas autorias que tratem de Cunhataí, pois resido em uma cidade com mais de 20% de negros autodeclarados e que insiste em se rotular branca. A partir daí, almejo elaborar quadros comparativos. Eu gostaria, se possível, com base no minidocumentário, que comentassem sobre o processo de invisibilidade negra nos interditos associados aos enunciados acerca do Carnaval e do Samba, que muitos participam e conhecem, mas fazem questão em demarcar um distanciamento e optar por um discurso a partir do desconhecimento dessas heranças culturais. Outra questão que trago é acerca da lei 10.639/2003 que já conta com quase duas décadas de promulgação, mas continua sendo cumprida parcialmente. Nessa esteira, pergunto se em um território como Cunhataí haveriam profissionais da educação básica preparados para colocar em prática as demandas dessa legislação? E como o ensino da história, no contexto citadino elencado, pode ir na contramão dessa História única e colaborar para a construção de uma contranarrativa local?
    Agradeço pelas reflexões e oportunidade em tomar conhecimento do material citado.

    Att: Merylin Ricieli dos Santos

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    1. Prezada Merlyn, obrigada pela questão.
      Este minidocumentário é um dos exemplos de narrativas e discursos que evidenciam a branquitude. Em Santa catarina a literatura até os anos 1980, em sua maioria, invisibilizou a presença negra. O que faz com que a escrita da história e o ensino de história tenham que a todo momento negar esta literatura, revê-la e pautar-se pela presença negra, indígena nesse estado. Não temos ainda mais elementos sobre Cunhataí, estamos em processo de construção de um texto que irá além do que apresentamos aqui, mas o campo da invisibilidade e da branquitude podem te auxiliar aí. A obrigatoriedade da lei não significa empatia. Ainda não podemos afirmar acerca de como vem ocorrendo os processos educacionais em Cunhataí, mas acreditamos que há profissionais (professor de história) que trabalhe temáticas da história da África e afro-brasileira, no entanto as abordagens são desconhecidas ainda. Somente com pesquisas, estudos os professores poderão construir uma outra narrativa, e como nos propõe Hampaté Bâ é preciso esquecer nosso mundo - aqui o da branquitude - para 'descobrir' outro mundo - ou seja, sair da zona de conforto no campo educacional e estar disposto a um outro olhar sobre a história.

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  2. Como desenvolver um ensino baseado nas relações etnico-raciais se grande parte dos educadores desconhecem o conteúdo aludido pela lei 10.639 ?


    (Hélido Veras Silva)

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI21 de maio de 2020 às 10:29

      Boa tarde Hélido, obrigado pela questão.

      Permito-me aqui dar a mesma resposta que dei para Ana Lúcia, já que as perguntas parecem ter o mesmo sentido.

      O cenário em que vivemos não é animador, além disso as recentes reformas educacionais, especialmente a BNCC, atuam no sentido de invisibilizar ainda mais essas "histórias outras". Isso mostra que ser professor e professora de história não é uma tarefa fácil e que a responsabilidade só aumenta quando o cenário é desfavorável. A assunção dessa responsabilidade se dá pelo dever de memória (precisamos falar daquilo que nos incomoda, daquilo que não gostamos, sobretudo porque incomoda e não gostamos), pela ética da responsabilidade pelo outro enquanto Outro, isso implica que não podemos objetificá-lo em um conteúdo, sobre o risco de desumanizá-lo, e na estética, na manifestação do desejo do Outro. Isso significa que precisamos, agora mais do que nunca decidir o que importa em Educação Histórica, que vai muito além de ensino de história e de aprendizagem em história, tem relação com a forma como nos movemos no mundo. Isso significa também que precisamos enfrentar, como educadores, o retrocesso. Uma prática para relações étnico-raciais saudáveis só é possível depois de passar por essa tríplice assunção.

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  3. Se por um lado a Lei 10639/03, torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do Brasil, com o intuito de ressaltar a importância da cultura negra na formação da nação brasileira. Por outro, apesar do peso institucional dessa lei, sua legitimidade política e histórica, percebe-se, que na prática ainda tem encontrado resistência, no que diz respeito à sua implementação efetiva. Sendo assim, devemos atribuir como principal fator a tal resistência, a formação dos professores que não foi contemplada com conhecimentos acerca dessa temática?
    (Ilma Cristiny Batista da Costa)

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    1. Prezada Ilma, obrigada pela questão.
      Temos um contexto histórico que infelizmente nega a diversidade étnico-racial e vê o outro como o estranho, aquele que não partilha do mesmo mundo. Concordamos que pode ser atribuído a resistência, a não formação de professores sobre a temática, mas em comunidades como a expressa no documentário o branqueamento e todo seu discurso os identifica, isso faz com que o ensino de história fique relegado a construção de um passado, sem qualquer proximidade com o cotidiano. Ainda não temos algumas respostas porque o próximo passo e chegar até as escolas desta comunidade e avançar no debate e quiçá auxiliar para o ensino de outras histórias.

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  4. Excelente leitura, gratidão. Compreendi que a história de indígenas e negros, assim como de outros grupos étnicos que compõe a história do Brasil deve ser preservada e popularizada como um direito das pessoas. A educação, ao mostrar passados dolorosos, dentro de um processo de reparação social mais amplo da sociedade brasileira é a ferramenta que pode dar a “garantia de não repetição”. Nas palavras de vocês que os “saberes diversos nos tornem mais humanizados”.

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    1. Prezada Valdirene, obrigada pelo comentário.
      Seguimos pautados na defesa de eque o ensino de história jamais pode ser único, mas plural e com a perspectiva da alteridade.

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  5. Boa tarde Drª Renilda Vicenzi e Dr. Bruno Antonio Picoli. Eu gostaria de saber como podemos colocar em prática uma educação para as relações étnico-raciais nas escolas, no atual cenário político em que vivemos, um cenário de retrocesso, de descaso e manipulação da nossa História, por parte de alguns grupos?

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI21 de maio de 2020 às 10:25

      Boa tarde Ana Lúcia, obrigado pela questão. O cenário em que vivemos não é animador, além disso as recentes reformas educacionais, especialmente a BNCC, atuam no sentido de invisibilizar ainda mais essas "histórias outras". Isso mostra que ser professor e professora de história não é uma tarefa fácil e que a responsabilidade só aumenta quando o cenário é desfavorável. A assunção dessa responsabilidade se dá pelo dever de memória (precisamos falar daquilo que nos incomoda, daquilo que não gostamos, sobretudo porque incomoda e não gostamos), pela ética da responsabilidade pelo outro enquanto Outro, isso implica que não podemos objetificá-lo em um conteúdo, sobre o risco de desumanizá-lo, e na estética, na manifestação do desejo do Outro. Isso significa que precisamos, agora mais do que nunca decidir o que importa em Educação Histórica, que vai muito além de ensino de história e de aprendizagem em história, tem relação com a forma como nos movemos no mundo. Isso significa também que precisamos enfrentar, como educadores, o retrocesso. Uma prática para relações étnico-raciais saudáveis só é possível depois de passar por essa tríplice assunção.

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  6. Renilda Vicenzi e Bruno Antonio Picoli -‘UMA CIDADE BRANCA’: DESAFIOS PARA UMA EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL
    Parabéns pela produção do conhecimento determinada cidade brasileira, da Região Sul, que tem recebido migrantes negros de país Haiti, em Cascavel são mais de 6 milhões de pessoas em busca de condições de vida e trabalho. Diante desse cenário, escrevo o seguinte questionamento; essa população do Sul do Brasil construiu a sua identidade como alemães, nascidos em território brasileiro, constituíram famílias e reiteram discurso ideológico de dois brasis, um de branco que deve viver com privilégios e os negros em situação econômica menos favorecidos?
    Nesse contexto, como o currículo escolar da rede municipal adota as questões das Relações Étnico-Raciais?
    De que forma a rede municipal as Universidades do Sul devem contribuir para a construção de um currículo decolonial que visibilize as CRIANÇAS NEGRAS, que adote ações contra o racismo?
    Grata.
    Ana Paula Vieira e Souza (UFPA/PPLSA)

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI21 de maio de 2020 às 11:17

      Olá Ana Paula, obrigado pelo questionamento.

      Para a sua primeira pergunta, a resposta é sim e não. O processo de colonização dessa região (aqui tratamos especificamente do osete catarinense) é bem recente e foi conduzido por famílias de agricultores, em sua maioria pobres, que adquiriam de companhias colonizadoras pequenas áreas de terra. É predominante nessa região propriedades rurais pequenas, em torno de dez hectares, que sustenta razoavelmente uma família de 4 a 5 pessoas. As colonizadoras utilizavam critérios étnicos para a distribuição dos lotes de terra entre seus compradores, normalmente a primeira ou segunda geração de descendentes de imigrantes europeus que se instalaram no Rio Grande do Sul no século XIX. É possível afirmar que muito do discurso étnico tem relação com a necessidade de construir um amálgama entre os novos moradores (ou seja, a germanidade ou a italianidade são invenções que tiveram lugar já nas colônias, aqui portanto). Isso é claro, não significa que não se empreendeu violência contra as populações já estabelecidas nessa região, como os kaingangs, xoklengs e caboclos, muito pelo contrário. Então, para ser objetivo, não me parece que o discurso étnico está fundado na ideia de que os não-brancos devem viver com menos direitos (embora isso apareça como consequência dessa visão de mundo em alguns indivíduos), mas tão só que eles são "outros", não são "brasileiros", possuem uma história diferente e vivem a vida de uma forma diferente. Não se identificam com aqueles que eles mesmo chamam de "brasileiros". O fato de ser uma cidade com uma população pequena e que não sofreu grandes alterações demográficas desde a colonização, contribuiu para sedimentar esse sentimento de "nós" e "eles".

      Com relação ao currículo escolar, temos ainda uma pesquisa em curso, que esperamos tornar pública logo. A pandemia estacionou um pouco isso (afinal, uma coisa é ver o que diz o currículo oficial, o que não nos interessa muito, outra, bem diferente e significativa, é ver o que acontece, se acontece etc.). Preliminarmente é possível afirmar que "cumpre a lei", formalmente. Ou seja, ensina elementos da cultura afro-brasileira e indígena. O problema disso é que sem o devido zelo teórico-metodológico objetifica-se o Outro em conteúdos distantes da realidade, ou melhor, mutiladores da realidade (em aulas de capoeira por exemplo). É preciso enfrentar essa construção identitária como um problema educativo.
      Para sua terceira pergunta, tomo a liberdade (de novo), de reproduzir o que eu respondi para Carla e Eduardo.

      Enquanto educador penso que precisamos deslocar o foco. Sigo aqui as reflexões de Adorno em Educação e Emancipação. Não acho muito produtivo que conteúdos como história da África, dos afro-brasileiros e das populações indígenas seja ensinada para crianças brancas com o argumento de que esses indivíduos mereçam ser lembrados (embora eu concorde absolutamente com isso, tão só não acho que esse é o caminho pedagógico adequado). Penso ser muito mais produtivo que as crianças e jovens brancos percebam o quanto são prejudicados por serem privados de compartilhar o mundo com não-brancos. Em outras palavras, acho mais produtivo não objetificar negros e indígenas (como conteúdos obrigatórios e que por isso tem que ser trabalhados), mas despertar nas crianças o desejo (no sentido de Eros) de conhecer "o que" não são eles próprios. O ponto central que quero enfatizar é que o mundo é plural, goste-se disso ou não, e que, portanto, uma história única é perniciosa, embora em grau bem diferente, mesmo àqueles que estão em condição de privilégio: quando há desigualdade não há liberdade, isso já está no sentido grego de eudaimonia. Isso implica uma concepção diferente de história, pautada no dever de memória (Adorno), na ética da responsabilidade (Levinas) e na estética do Eros (Gur-Ze'ev).

      Nisso tem as universidade sério papel. São as primeiras que precisam assumir essa responsabilidade.

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  7. Olá. Professora Renilda e Professor Bruno. Que texto instigante! Obrigada. No Rio Grande do Sul temos textos com a história lical, publicados nos sites oficiais das cidades, com esse mesmi teor que revela branquidade. O Professor Carlos Eduardo Stroher fez um levantamento em sites do Valedo Cai e encontrou dados semelhantes aos trazidos por vocês? Pergunto: não devemos tratar isso como racismo institucional e fazer uma denúncia pública, como pesquisadores?

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI21 de maio de 2020 às 10:50

      Olá Carla, obrigado pela questão.
      De fato é muito comum em várias localidades do Sul do Brasil, essa tentativa de recusar a pertinência da história indígena e afro-brasiliera, especialmente a partir de órgãos oficiais. Não são poucas as "Áustrias brasileiras", "Pomerânia brasileira", para não falarmos da "Santa (e loura) Catarina". O que torna evidente que precisamos enfrentar isso como um problema educativo.

      Enquanto educador penso que precisamos deslocar o foco. Sigo aqui as reflexões de Adorno em Educação e Emancipação. Não acho muito produtivo que conteúdos como história da África, dos afro-brasileiros e das populações indígenas seja ensinada para crianças brancas com o argumento de que esses indivíduos mereçam ser lembrados (embora eu concorde absolutamente com isso, tão só não acho que esse é o caminho pedagógico adequado). Penso ser muito mais produtivo que as crianças e jovens brancos percebam o quanto são prejudicados por serem privados de compartilhar o mundo com não-brancos. Em outras palavras, acho mais produtivo não objetificar negros e indígenas (como conteúdos obrigatórios e que por isso tem que ser trabalhados), mas despertar nas crianças o desejo (no sentido de Eros) de conhecer "o que" não são eles próprios. O ponto central que quero enfatizar é que o mundo é plural, goste-se disso ou não, e que, portanto, uma história única é perniciosa, embora em grau bem diferente, mesmo àqueles que estão em condição de privilégio: quando há desigualdade não há liberdade, isso já está no sentido grego de eudaimonia. Isso implica uma concepção diferente de história, pautada no dever de memória (Adorno), na ética da responsabilidade (Levinas) e na estética do Eros (Gur-Ze'ev).

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  8. Olá. O comentário anterior, com a pergunta sobre denúncia publica é assinado por Carla Beatriz Meinerz. Parabéns Renilda e Bruno.

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  9. Ola pessoal, excelente discussão.

    São muitas questões e problematizações que emergem em meio a essa discussão. Mesmo sabendo das desigualdades históricas desses País, fico imagino como os descendentes de europeus - os chamados cotistas do século XIX e início do XX, aos quais foram ofertados todos benefícios possíveis para se estabelecerem nesse País e cuja vinda acabou por selar o destino daqueles que efetivamente construíram a riqueza do Brasil através do seu trabalho e da privação de suas liberdades - no direito menosprezar grupos étnicos cuja riqueza acabaram, de certa forma, se apropriando. Obvio que esses fatos se deram em contextos históricos e sociais distintos, contudo é notório que há toda uma construção sociocultural por trás desse racismo reverberado por esses grupos defendem um Brasil branco e na maior nação mestiça do mundo. Portanto, se faz urgente a tomada de posição de nós historiadores no proposito de fomentar processos educativos que preparem o individuo, seja ele de que origem for, para o exercício da plena cidadania. Precisamos assim, de trabalhar no sentido de desconstruir esteriótipos e no processo de descolonização de nossa população.
    Eduardo Santana, Doutorando em História da UFRPE

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI21 de maio de 2020 às 10:55

      Olá Eduaro, obrigado pelas colocações

      Acredito que a resposta que ofereci para Carla, também seja adequada ao seu apontamento.

      De fato é muito comum em várias localidades do Sul do Brasil, essa tentativa de recusar a pertinência da história indígena e afro-brasiliera, especialmente a partir de órgãos oficiais. Não são poucas as "Áustrias brasileiras", "Pomerânia brasileira", para não falarmos da "Santa (e loura) Catarina". O que torna evidente que precisamos enfrentar isso como um problema educativo.

      Enquanto educador penso que precisamos deslocar o foco. Sigo aqui as reflexões de Adorno em Educação e Emancipação. Não acho muito produtivo que conteúdos como história da África, dos afro-brasileiros e das populações indígenas seja ensinada para crianças brancas com o argumento de que esses indivíduos mereçam ser lembrados (embora eu concorde absolutamente com isso, tão só não acho que esse é o caminho pedagógico adequado). Penso ser muito mais produtivo que as crianças e jovens brancos percebam o quanto são prejudicados por serem privados de compartilhar o mundo com não-brancos. Em outras palavras, acho mais produtivo não objetificar negros e indígenas (como conteúdos obrigatórios e que por isso tem que ser trabalhados), mas despertar nas crianças o desejo (no sentido de Eros) de conhecer "o que" não são eles próprios. O ponto central que quero enfatizar é que o mundo é plural, goste-se disso ou não, e que, portanto, uma história única é perniciosa, embora em grau bem diferente, mesmo àqueles que estão em condição de privilégio: quando há desigualdade não há liberdade, isso já está no sentido grego de eudaimonia. Isso implica uma concepção diferente de história, pautada no dever de memória (Adorno), na ética da responsabilidade (Levinas) e na estética do Eros (Gur-Ze'ev).

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  10. infelimsmente tanto no ensino fundamental quanto ensino médio, o estudo sobre a África e sobre a cultura afro-brasileira é bem limitado e como vocês comentaram que os pais tem o papel de educar os filhos e de conversar com eles sobre o a importancia dos grupos etnicos e as diferentes culturas do nosso país. E com relação ao texto de voçês, sobre o 'perigo da história única', como que um professor de alfetizaçao pode trabalhar esse tema em sala de aula?

    NADIENE ALVES FERREIRA

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI21 de maio de 2020 às 11:22

      Olá Nadiene, obrigado pela questão!

      Penso que é possível, concomitantemente, alfabetizar para a língua e para a história. Afinal, muito do caráter se constrói nessa fase da vida. Quando se alfabetiza, o foco centrar precisa ser pelo desejo de conhecer, e não nos procedimentos técnico de decifração do código linguístico. Assim, ao se alfabetizar em história, a ênfase precisa ser em provocar o desejo de conhecer o mundo como ele é, ou seja, plural. Tem a ver sim com a escolha de conteúdos, mas sobretudo tem a ver com a postura de educador que manifesta seu amor pelo mundo e pela pluralidade no seu fazer.

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  11. Através da leitura ressaltou-se em mim uma dúvida que tenho algum tempo em relação a origem e propósito da palavra racismo. Contudo, quando utilizamos essa palavra para referirmos a um preconceito, podemos estar distinguindo os seres através da própria palavra, isto é, distinguindo individuos através da raça. Gostaria que comentasse em relação a essa minha dúvida.

    Att: Bruno dos Santos Pedro. UFMS- História.

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    1. Prezado Bruno, obrigado pela reflexão.
      Aqui nos aportamos nas palavras do antropólogo Kabengele Munanga, quando nos diz que no Brasil temos um racismo silenciado, uma sociedade racista que nega a humanidade do outro. E o racismo institucionalizado ou estrutural segundo o estudioso Silvio Almeida. Não simplesmente distinguindo indivíduos pela raça, mas problematizar o lugar de fala do branco, da construção da branquitude e como isso coloca em desigualdade e promove o racismo.

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  12. Boa tarde!

    Um grande esafio é como ensinar História em sala de aula se o modelo de educação no Brasil ainda é traicional e excludente?

    Diêgo Luiz Góes Santos Menezes

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  13. Prezado Diêgo, obrigado pela colocação/pergunta.
    E que desafio, tendo em vista que os ataques a educação pública são diários.
    Os professores de história tem responsabilidades e dever ético com o ensino de história pautado na diversidade, na pluralidade ..., apesar do modelo tradicional e excludente. Cabe aos profissionais da educação encontrar 'brechas', alternativas que se pautem pela inclusão e pelos estudos das múltiplas histórias.

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  14. A maioria das pessoas admitem que existe racismo no Brasil, mas ninguém se assume de fato racista, o primeiro impulso das pessoas é afirmar que nunca tiveram falas ou práticas racistas “ eu tenho amigos negros” , “ a minha empregada é negra” a partir do momento que estendemos que o racismo é um sistema estrutural da sociedade, essas falas se tornam vazias já que é impossível não ter pelo menos uma prática/fala racista em toda sua vida sendo que foi criado em uma sociedade que acha que o povo preto é bandido ou empregada doméstica. É preciso sempre prestar atenção que o racismo está tão presente em nossas vidas que muitas das vezes se passa despercebido um exemplo disso é a ausência de pessoas negras em novelas ou em cargos que não seja lavando o banheiro de alguém ou então quando seu amigo faz uma piada racista e você se silencia. Combater esse tipo de atitude é de extrema importância para sobrevivência do povo preto. O texto fala que devemos sempre ensinar nossos filhos a não serem racistas, mas que política educacional podemos fazer uso com aqueles pais que não querem ter esse tipo de diálogo com sua prole?

    Maria Antônia Gomes

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI22 de maio de 2020 às 13:11

      Olá Maria, obrigado pela questão.

      De fato há famílias que reproduzem o racismo. Muitas dessa famílias não admitem que na escola enfrentemos essa questão e hoje estão muito bem organizados em movimentos que influenciam políticas públicas no campo, daí os movimentos como Escola Sem Partido e o esvaziamento da BNCC (história como lista de conteúdos para adquirir habilidades e competências).

      A mim parece que cada vez mais precisamos definir o que é a escola. O que a faz diferente de todas as outras instituições. Seguinto Biesta, compreendo que o que diferencia a escola das demais instituições não é o fato de nela se produzir conhecimentos (com o que concorre com outras instituições e, mesmo, recursos), as de ser o único espaço que pode (não significa que o faça sempre e nem que de forma determinante) promover alguma oposição aos desejos indesejáveis da sociedade, das famílias, do Estado e, mesmo, dos estudantes. Dentre estes desejos indesejáveis está a reprodução do racismo, mas não só.

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    2. BRUNO ANTONIO PICOLI22 de maio de 2020 às 13:38

      Correção: "Mas de ser o único..."

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  15. Saudações cordiais!

    Meu questionamento vai no seguinte sentido, mesmo com leis visando a inserção de uma educação étnico racial, nós historiadores e demais professores devemos nós atentar aos diversos tipos de representações desses povos! Muitas delas super romantizado e/ou equivocadas.
    É também uma tristeza pessoal que na academia tenhamos poucos ou quase zero de acesso a escritores africanos e indígenas.
    Atenciosamente: Fabrícia da Silva Lopes

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    1. Prezada Fabrícia, muito obrigada por ler o texto e expor sua colocação.
      Sua tristeza pessoal se soma a de milhares de estudantes, pesquisadores, professores. Felizmente nos últimos anos estamos tendo acesso, pouco ainda, mas de extrema importância da literaturas negra e menor número da indígena. É possível dialogar sobre história da África com estudiosos africanos. No Brasil as políticas de Ações Afirmativas são um meio que podem garantir estudantes negros/as e indígenas nas universidade e a produção de conhecimento decolonial.
      Aos educadores o desafio é constante, como buscar formação para não se apropriar das representações que tu apontas. Um conhecimento romantizado ou equivocado não auxilia em nada na compreensão das diferenças e na promoção da igualdade.

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  16. Boa tarde professores Renilda é Bruno,
    O Brasil é um país que cria sua identidade a partir de miscigenação de raças, precisamos adicionar conhecimento histórico para refletir os diversos e diferentes indivíduos que povoam nosso território. No presente, pensamento ligados ao branqueamento e a sensibilidade do início do século XX, quer seja, equívocos que colocam uma comunidade vivendo com passado criado/inventado, e o que não for igual, que possui várias adjetivações de um pertencimento étnico errôneo e generalista e ainda, confundindo-se com nacionalidade- o brasileiro.

    MARIA APARECIDA PEREIRA DA SILVA - História/ CPNA

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  17. Professores,o texto aborda um recurso tecnológico; vídeos e censo. Neste período de pandemia há uma aumento do acesso aos vídeos e isso, está sendo sugerido como formato para desenvolvimento de atividades pedagógicas e que através desta discussão me atentei aos perigos disponiiveis para os alunos do ensino fundamental e Médio. Cientes dos desafios em ensinar História, comente um nome/nomes de outro(os) vídeos que faz o papel inverso deste da UOl1

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    1. Edvane, sua preocupação com o que alunos podem acessar é algo comum a nós professores.
      Indico o site www.geledes.org.br, onde são disponibilizados textos, imagens,vídeos, planos de aula que podes explorar e fazer uso neste período. São materiais que se contrapõe a história única.

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  18. Este comentário foi removido pelo autor.

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  19. Hoje em dia os alunos se importam com o imediato, o agora, e pouco se vê eles se interessarem por coisas que são importantes para nossa história. As questões abordadas no texto como o desconhecimento do samba, não só pelos brancos, mas também pelos pretos, porque a sociedade conseguiu apagar grande parte da história do samba, da sua importância, não é "mainstream", e essa cultura de apagamento da história preta/negra acontece a décadas, como podemos começar a mudar isso? Um professor é capaz de mudar toda essa estrutura racista?

    Gustavo Santos de Oliveira

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    1. Prezado Gustavo, obrigado pelas questões.
      Mudanças fazem parte do exercício histórico, mas também da paciência histórica, e sabemos que a população negra sempre resistiu a imposição e a destruição de seus saberes, conhecimentos, cultura. A lei 10639/2003 significa um começo, devemos agir, mesmo que em alguns momentos estamos sozinhos ou isolados, e colocá-la em prática. Na configuração da educação brasileira um professor sozinho não tem condições de mudar uma estrutura racista, mas ele deve levar o debate para a sala de aula e para a sua comunidade escolar. A omissão em debater racismo permite que ele se institucionalize ainda mais. Nosso dever como professores é pautar o que causa desconforto social e epistemológico.

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  20. Olá! Primeiramente, parabenizo pelo texto, ficou excelente. Bom, de acordo com o que vemos e vivemos, a educação brasileira no que diz respeito à história é fortemente limitada e excludente, tendo em vista que o branco é ressaltado a todo momento, em maior parte dos feitos. Infelizmente, o racismo foi impregnado nas vidas, na história, no mundo, devido aos acontecimentos nos tempos coloniais. Por isto, dá-se, então, forte negação e exclusão do preto. É um problema que afeta nossa realidade até hoje. Não só por alguém ser criticado pela cor de sua pele, mas também por afetar a vida como um todo, em trabalho, estudos. E nos é negado conhecimento. Conhecimento daqueles que são pouco citados e de feitos pouco sabidos e contemplados.

    - Maria Liliane da Silva Santos

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    1. Prezada Maria Liliane, obrigada pela reflexão!
      Sabedores de como o racismo age e destrói corpos e pensamentos, como professores precisamos usar do espaço acadêmico e escolar para refletir e combatê-lo. E trazer os saberes das populações negras a partir de seus escritos, depoimentos, materialidades, etc. para contrapor aos discursos do colonizador.

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  21. Boa noite
    Quero primeiramente parabenizar pelo texto.
    O que vemos no Brasil é o racismo, de uma forma muito forte, em vários aspectos. Não há um olhar da sociedade ainda que tanto o negro como o indio tem a sua historia que por sinal é muito rica por sinal. O acesso dos estudantes ainda é muito as colonizações que fala do negro e do indio mas não mostra a sua beleza. Gostaria de saber se poderiamos ter um mundo menos racista se pudesssemos colocar dentro do ensino não só a colonização, mais a história do negro e do indio? A qual ponto poderíamos diminuir esse olhar de inferioridade para esses povos ?


    Nathália Vieira de Abreu.

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI22 de maio de 2020 às 13:28

      Olá Nathália, obrigado pela questão

      Em educação nunca poderemos ter certeza dos resultados das coisas que realmente importam. Conseguimos apenas aferir com graus variados de exatidão questões de conteúdo. Assim, não posso afirmar com certeza que ao inserir mais conteúdos de história africana, afro-brasileira e indígena teremos jovens mais abertos ao outro e menos afeitos ao racismo ou se apenas teremos jovens que sabem mais conteúdos sobre afrinanos, afro-brasileiros e indígenas. Isso não é uma questão menor e precisa ser encarada com a seriade necessária. Ou seja, não é apenas uma questão de conteúdo.

      Contudo, os resultados de uma educação histórica que negligencia a pluralidade e apresenta essas "histórias outras" como apêndices, ou seja, que reproduz uma história outra, nós já conhecemos.

      A questão da pluralidade no ensino de história não pode ser mais negligenciada, embora não possamos afirmar com certeza quais serão os resultados disso.

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    2. BRUNO ANTONIO PICOLI22 de maio de 2020 às 13:34

      Correção: "que reproduz uma história única, nós já conhecemos".

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  22. prof. Renilda Vicenzi e Bruno Antonio Picoli

    sabemos que os colonizadores fizeram o seu povo acredita que povos que eram diferentes deles fosse vistos como selvagens e só eles eram a raça perfeita, queria saber como essa visão afetou a historiografia no tempo ?

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  23. O racismo em instituições escolares acontece em diversos setores da escola, acredito que esse problema deve ser trabalhado não apenas com os alunos, mas com os educadores, diretores, cordenadores, etc . O racismo está presente em diversas áreas da escola, portanto, devemos trabalhar com esse problema em todas elas.

    Att: Bruno dos Santos Pedro

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    1. BRUNO ANTONIO PICOLI22 de maio de 2020 às 13:17

      Olá Bruno, obrigado pelo comentário!

      Não há dúvidas disso. Os educadores, e me incluo dentre eles, carregam preconceitos. O grande esforço educativo está na abertura, e não eliminação de preconceitos. Explico melhor: um indivíduo aberto para o Outro é um indivíduo que está disposto a pôr os seus preconceitos em questão, transformá-los em algo mais nobre. A eliminação de preconceitos, por mais ideal que seja, é psicologicamente impossível, é inclusive um recurso de defesa. Então, professores abertos para o outro, que questionem seus preconceitos, podem em muito ajudar as crianças e jovens a questionar os seus próprios preconceitos.

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  24. Prezados,

    Recentemente, com o programa BBB da emissora Globo, foi levantado um debate à respeito dos termos "negro" e "preto", por um dos participantes.
    Gostaria de saber a opinião de vocês, pois segundo o participante, o termo negro não deveria ser usado por ter conotação negativa, já que o termo se refere à "nigro", do grego inimigo, preferindo assim ser chamado de preto. Ele afirma também que apenas os brasileiros aceitam e usam esse termo. Também é comum ouvir ativistas negros dizendo que acham ofensivo os termos "pardo" ou "moreno", pois para eles, assim como branco é branco, o preto é preto.
    Gostaria de saber se podem opinar sobre essa questão e indicar autores que abordem o tema.
    Obrigada, e me desculpem por talvez fugir um pouco do assunto.

    Nathálya Ferreira Raseira

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