Antonio José de Souza


UMA PESSOA (AUTO)BIOGRAFADA: MINHA PRIMEIRA PROFESSORA


1º Ato – prólogo: uma pessoa (auto) biografada
O dia chegava ao fim, dando lugar à noite. Foi nessa atmosfera de transição, em forma de crepúsculo alaranjado, que o encontro com a professora Dulcinéia, nome fictício, aconteceu em sua casa. Com a já conhecida doçura na voz fez as honras, convidando-me a entrar e sentar. E antes de dizer qualquer coisa, lembrou-me da sua timidez. Naquele momento, quis ter dito o quão significativo era o nosso encontro, contudo, sucumbi num embaraço ainda mais severo e, por isso, detive-me nos detalhes sutis de uma voz que ao narrar, vagueava por estradas, esquinas e “becos da memória” (EVARISTO, 2017).

O face a face possibilitava captar a expressão corporal, a sinuosidade do timbre e a presença ou ausência de ênfase nas respostas longas para perguntas escassas e desenvolvidas de forma espontânea, sem que estivessem sujeitas a um modelo estanque de interrogação (GIL, 2009), pois, interessava-me mais à confluência de vida e profissão narrada em primeira pessoa do singular, o “si mesmo”, o self, demarcando o próprio espaço onde as lembranças da existência eram selecionadas e exteriorizadas na perspectiva oral e autorreflexiva (SOUZA, 2011). Definitivamente, tratou-se de uma reunião, também, com o meu passado, pois Dulcinéia havia sido minha primeira professora.

Então, concordei que seria melhor iniciarmos a conversa, agendada com antecedência por telefone. A entrevista foi gravada e autorizada através da assinatura da Carta de Cessão, outorgando-me a usá-la integralmente ou em partes, sem restrições de prazos e citações para efeitos de publicação, apresentação em congressos e outros eventos. Posteriormente foi transcrita, transubstanciando a fala (o som/a fonética) em palavra (a escrita/o grafema); alcançando uma indispensável fase para o estudo, qual seja: a hermenêutica das memórias sagradas da Dulcinéia que foram analisadas de forma descritiva, por meio da Análise de Conteúdo por considerar os significados (conteúdos), suas formas e distribuições; procurando “[...] conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça.” (BARDIN, 2016, p. 50)

Esse recorte inicial, que mais parece uma cena introdutória antes do desenrolar da trama, é para, propositadamente, elucidar o vínculo entre os envolvidos neste processo de comunicação: eu, aluno e locutor; ela, minha antiga professora e interlocutora. Desse modo, num diálogo sincero, natural e sem artifícios, a professora Dulcinéia narrou algumas passagens de suas memórias, afinal, “a memória [...] pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que [...] representa como passadas.” (LE GOFF, 2013, p. 387).

A companhia de Dulcinéia permitiu vê-la, “palavra por palavra”, como uma “mulher-memória”, professora desde a década de 1980, aposentada pela rede estadual de ensino e ainda atuante na rede de educação do município de Itiúba, interior da Bahia, localizado na região centro-norte, fazendo parte do Semiárido baiano e do Território do Sisal, localizado aproximadamente 378 km de Salvador. Mulher negra de pele retinta que apesar dos dissabores de uma trajetória marcada pela pobreza e o preconceito racial, desponta na maturidade para uma negritude vitoriosa, tornando-se a “viga-mestra” de sua história de vida contada em profusão de assuntos, manifestações da recordação, “produto de uma rememoração” (LE GOFF, 2013, p. 393).

Ainda assim, devo registrar minha predileção pela expressão “histórias de vida”, primeiro pelo plural que revela uma vastidão de possiblidades, atravessando a temporalidade para ser desde um gênero literário, feito de descrição específica e imaginativa, até uma ciência que pretende compreender o mundo. Segundo porque é vida, “uma vida” “[...] pelos gens, pela origem social ou pelas relações parentais [...] uma dinâmica formativa, multifatorial e complexa [...]” (PINEAU, 2011, p. 29), portanto, um modo construtivista de escrever uma vida.

Para escrever uma vida, ou melhor, a história de vida, espera-se ter a obstinada vontade de, ante o desafio autobiográfico, caminhar em direção àquele “baú velho” de aspecto hermético, possuidor de uma crosta densa de poeira e abandonado no canto escuro de si próprio. E, mesmo assim, abri-lo com mãos de quem sabe que o “baú velho”, diz muito sobre cada um de nós.

Isto posto, superada tais advertências, espera-se, com sinceridade, uma leitura deleite e reflexiva.

2º Ato – o ápice: A crônica da Dulcinéia, a tecelã
A infância e a história, segundo Rabinovich (2005, p. 122), estão nos primórdios uma da outra, entrelaçadas. A existência do homem e da mulher, enquanto ser histórico, dar-se, simplesmente, por haver a infância do homem, da mulher; isto é: “[...] para falar, ele [ela] tem necessidade de se expropriar da infância [...].”. De tal modo, Dulcinéia voltou à infância, a partir das lãs de cores frias, próprias e oportunas para dias cinzas e nublados. E como quem não quer nada, foi tecendo uma manta quente o bastante para agasalhar suas memórias. Assim, a professora, botou-se a tecer, contando-me da sua infância:

“[...] quando criança eu não entendia, ficava acreditando que o negro era realmente inferior. [...] eu não entendia aquela maneira de falar: ‘roxinha’, ‘escurinha’, sempre naquela maneira carinhosa e eu achava que a pessoa era boazinha. [...] Eu tinha uma madrinha que gostava muito de mim. Ela dizia: ‘Essa menina só tem de preta a pele, por dentro é ouro puro’. Ah, eu ficava me achando [entonação enfática]!” (Dulcinéia)

O mais consternador desse relato é a resignação passiva à condição de “inferior” da criança que foi Dulcinéia, pois, apesar da dissimulada hostilidade da madrinha ela não se apercebeu da indiferença e, por essa razão, absteve-se de qualquer resistência. Diria que o ingênuo imaginário infantil foi facilmente assolapado pela capciosa ideologia que destituía a identidade negra. Por isso, compreendo que “[...] o negro, na situação presente, deve primeiro tomar consciência de si mesmo.” (SARTRE, 1965, p. 96).

Enquanto a Professora Dulcinéia falava e tecia, era possível perceber o quão árduo é falar da identidade racial, diante de um emaranhado de práticas discriminatórias, pois vários segmentos institucionalizados da sociedade brasileira, tais como: igrejas, Universidades, escolas, cenário político e midiático; influenciaram a representação e posicionamento vexatório do negro (homem e mulher) na estrutura social, afinal a partir desse lugar de poder e controle, foi possível, numa articulação de vozes e silenciamentos, construir a imagem do negro como inferior e ‘coisificado’ por meio de uma engrenagem sistêmica, elaborada para negligenciar os conhecimentos que são transmitidos desde o nosso nascedouro, no tocante aos acervos culturais, educacionais, religiosos, dentre outras questões que envolvem os povos negros.

Desse modo, superar tal configuração ardil e cruel exige uma longa caminhada, no intuito de criar oportunidades de diálogo sobre os desafios do ser negro, pois como destaca Munanga (2012, p. 37):

“No cotidiano, o negro vai enfrentar o seu inverso, forjado e imposto. Ele não permanecerá indiferente. Por pressão psicológica, acaba reconhecendo-se num arremedo detestado, porém convertido em sinal familiar. A acusação perturba-o, tanto mais porque admira e teme seu poderoso acusador.”

O ímpeto aviltante e determinante da ideologia do branqueamento, isto é, a poderosa compreensão que submete o negro a uma suposta degradação, segundo Chiavenato (1987, p. 170), permanece entranhado no cerne da sociedade. O referido autor sublinha o fato de que até mesmo “[...] notórios como Charles Darwin [teve] suas ideias deturpadas [...] sua teoria da evolução das espécies e a sobrevivência dos mais aptos [...]” foram usadas de forma abusiva na tentativa de aplicar os conceitos de Darwin nas sociedades humanas o que, lamentavelmente, pavimentou o caminho da teoria pseudocientífica, a raciologia, erigida numa relação intrínseca entre o biológico (cor da pele, traços morfológicos) e qualidades psicológicas, morais, intelectuais e culturais definidoras, portanto, da categorização e hierarquização de uma pessoa como superior ou inferior (MUNANGA, 2003):

“A definição inferiorizante do negro perdurou mesmo depois da desagregação da sociedade escravocrata e da sua substituição pela sociedade capitalista [...]. Negros e brancos viam-se e entreviam-se através de uma ótica deformada consequente à persistência dos padrões tradicionais das relações sociais.” (SOUZA, 1983, p. 20)
Portanto, existe uma problemática do “ser negro” que, aqui, considero a partir da ‘problemática do bastardo’ anunciada na apresentação do livro Reflexões sobre o racismo, no qual Sartre (1965) desenvolve, no primeiro ensaio, uma análise psicológica sobre o judeu, o “bastardo amaldiçoado”, e, no segundo ensaio, sobre o negro, o “bastardo vítima do colonialismo”. Nesse aspecto, há de ter um “bode expiatório”, pois “o pecado, a culpa, [...], a paranoia, [...] aplica-se perfeitamente ao preto.” (FANON, 2008, p. 156).

Nesse ritmo, a professora Dulcinéia foi, durante algum tempo, narrando através de uma simples capacidade típica dos sábios. Relembrando sua jornada, fazendo-me olhar para o passado apontando com sinceridade as várias vezes que, ao longo da vida, ela havia caído:

“Na minha formação, lá no magistério, durante o estágio supervisionado a gente passa pela semana de observação, cada dia em uma série. Quando eu cheguei na quarta série para observar. Bem, eu não sei se estava combinado com a professora regente ou foi uma articulação apenas entre os meninos. O fato é que foi chocante, pois na hora que eu cheguei, eu esperava o costumeiro ‘bom dia visitante, como vai?’, mas pra mim não cantaram. Na hora que eu cheguei e dei bom dia, os meninos levantaram e cantaram: ‘plantei uma cenoura no meu quintal, nasceu uma neguinha de avental [...]’. Eles cantavam com cara de gozação e se olhavam com certa cumplicidade para me constranger. Eu sentir uma coisa muito forte, principalmente por se tratar de crianças. Eu quis que o chão abrisse ali pra eu sumi, mas eu sempre reajo. Então, eu pensei rapidamente e comecei a cantar com eles”. (Dulcinéia)

Quiçá as crianças, as quais a professora se refere, não tivessem a maturidade suficiente para reconhecer a veemência da desqualificação do negro subjacente na cantiga popular entoada. Entretanto, Dulcinéia reconhece o quanto a sua negritude foi desfigurada, causando afastamento e exclusão. Pois, essas representações modelam e inscrevem o negro num imaginário socialmente marginal, projetando-o numa “não existência”. Por isso, fatalmente os vários contextos de negação, vivenciados pela professora Dulcinéia, respingaram em sua prática docente no início da carreia:

“Com as minhas turmas eu acho que deixei a desejar, porque eu poderia ter trabalhado mais. Foi uma fraqueza minha, pois eu ficava com vergonha das minhas colegas. Naquela época não tinha a lei 10.639 [após a homologação da Lei Federal nº 10.639/2003, o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana passou a ser obrigatoriamente inclusa no currículo escolar (BRASIL, 2003)] e eu pensava que se trabalhasse temas voltados para a África e os negros, elas diriam: ‘ela é negra, por isso, só quer falar de coisas de negros’”. (Dulcinéia)

À vista disso, o ser negro não tem inicialmente identidades positivas às quais possa afirmar; pelo contrário, são identidades rechaçadas sob o ponto de vista do “outro”, portanto, uma condição identitária dada a priori. Desse modo, convenço-me de que o sentimento de vergonha estar na base do problema da inferiorização é algo “mais-do-que forte” entre os negros.

Reportando-me à tese sartriana, encontro a afirmação de que na vergonha, tem-se a noção de “estar no mundo”, posto que “[...] é, por natureza, reconhecimento. Reconheço que sou como o outro me vê” (SARTRE, 1997, p. 290, grifos do autor), através da consciência e juízo alheio. Não significa julgar-se sozinho. A hipótese é que a consciência de “ser-para-outro”, consiste na consciência do “Eu-objeto” legitimado, assumido e reconhecido; o meu “ser-fora”: envergonhado como “cúmplice” de um controle externo (SARTRE, 1997). A inferiorização “mais-do-que-forte” é, portanto, estar inferiorizado não como algo tão somente endógeno, mas um “fora” sancionado à proporção do “fora” existencialmente negativo.

Nessa perspectiva, ser negro passa por uma relação persecutória entre as subjetividades, as identidades e o corpo, compondo as vicissitudes do “tornar-se”. Afinal, a raciologia como fenômeno é adaptativa e diversificada no tempo e no espaço, reverberando no âmbito social o pretenso “complexo de inferioridade” influenciando, consequentemente, o processo de “tornar-se” negro no sentido da emancipação (ser) ou da interdição (não ser):

“Tinha medo da reação dos outros, por isso fiz menos do que devia. Hoje eu me arrependo [...]. Aprendi com a vida a não engolir calada. Pois, eu já me assumi, me respeito, eu me amo e não vou deixar que ninguém jogue lixo sobre mim.” (Dulcinéia)

Isto posto, tomando o processo de construção identitária da professora Dulcinéia como objeto de estudo, parto da premissa, segundo Sartre (2014, p. 19), que a “[...] existência precede a essência [...] o homem existe primeiro, se encontra, surge no mundo, e se define em seguida”, ou seja, como o esmaecimento da compreensão a partir de uma ‘natureza humana’, ganha espaço a consciência de um projeto de vir a ser (SARTRE, 1997).

Com essa experiência, fica comprovada a presença do sentimento de orgulho que permeia as relações da Dulcinéia, costurando o passado ao presente, vislumbrando o futuro. Há um contentamento conforme o grifo: “[...] sou negro e me glorifico deste nome; sou orgulhoso do sangue negro que corre em minhas veias [...].” (MUNANGA, 2012, p. 46). Sendo assim, a narrativa da professora permitiu que o tempo presente, passado e futuro estivessem intrinsicamente pronunciados, de modo que as lembranças, experiências e ações que estavam no passado fossem projetadas na tela da ressignificação.

3º Ato – antes do fecho
Estivemos (Dulcinéia e eu) envolvidos nessa tessitura como tecelãs e, como tais, entramos e saímos do passado e do presente. Voltamos, pensamos ter concluído; recordamos mais uma vez. Éramos duas tecelãs, a própria “Moça Tecelã” contada por Marina Colasanti (2000), que, com toda a delicadeza literária que lhe é característica, fala-nos das lãs mais vívidas, lãs quentes que iam tecendo hora a hora um longo e exuberante tapete que não pretendia ter fim.

Fizemos uso das “linhas” reminiscentes e pessoais, tecendo novos aprendizados, enquanto refletíamos sobre a importância de ter nas mãos a “velha manta” puída pelo passado, mas quente o bastante para agasalhar o presente.

O que quer dizer isto?
Que o método usado para os relatos (auto) biográficos, assim como a Moça Tecelã que, às vezes, sem escolher linha específica, pega a lançadeira, jogando-a veloz de um lado para o outro, desfazendo o tecido; serve-se da experiência sobrepujante, pois precede o mundo verbal, e mesmo o cognitivo e o mental. Não que esteja separada deles – afinal, somos um só – mas, definitivamente, não está a reboque deles. Eles – esses mundos – é que estão a reboque da experiência vinculada à poética revelada, pois elas formam, por assim dizer, uma unidade, isto é: na possibilidade de ter experiência, existe a possibilidade de ser da poética.

Nesse sentido, a questão da revelação é precípua na poética e na (auto) biografia. Com isto, estou dizendo que iniciamos esse caminhar poético sem mapa e bússola, apenas receptivos às revelações da (auto) biografia, denominação que me agrada muito, porque tem na biografia a pulsão para além do método (auto) biográfico, posto que é história/experiência de vida.

Portanto, refletimos, tecemos e dialogamos em torno dos ideários de negação e submissão para alcançar a certeza de que ser negro, ser negra, exige um ânimo descomedido. Entretanto, uma vez que há a aceitação de sua história e que já não há dor em reconhecer-se membro deste corpo negro; vem o esforço para combater as barreiras discriminatórias, contribuindo na formação de um novo ser humano, capaz de se elevar à altura de seu destino, assumindo plenamente a negritude.

Por fim, destaco a necessidade de se realizar outros estudos que aprofundem tais achados.

Referências
Antonio José de Souza é Doutorando do Programa de Pós-graduação em Família na Sociedade Contemporânea (PPGFSC - UCSal). Integrante do Grupo de Pesquisa Família, (auto)biografia e poética (FABEP/UCSal), do Laboratório LaPPRuDes - Políticas Públicas, Ruralidades e Desenvolvimento Territorial (IFBaiano), da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as – ABPN e Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – (FAPESB).

BARDIN, L. Analise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto. São Paulo: Edições 70, 2016.
BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.
CHIAVENATO, J. J. O negro no Brasil: da senzala à Guerra do Paraguai. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
COLASANTI, M. Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento. Global Editora, Rio de Janeiro, 2000.
EVARISTO, C. Becos da Memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2017.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2009.
LE GOFF, J. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão; [et al.]. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.
MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. In: SEMINÁRIO NACIONAL RELAÇOES RACIAIS E EDUCAÇÃO-PENESB. Rio de Janeiro, 2003. Anais... Rio de Janeiro, 2003. Disponível em:
<https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf>. Acesso em: 15 de Out. de 2019.
PINEAU, G. Histórias de vida e alterância. In: SOUZA, Elizeu Clementino de (Org.). Memória, (auto) biografia e diversidade: questões de método e trabalho docente. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 25-40.
RABINOVICH, E. P. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Rev Bras Cresc Desenv Hum, 2005; 15(2):119-123.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução de João Batista Kreuch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
SARTRE, Jean-Paul. Reflexões sôbre o racismo. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965.
SOUZA, E. C. de. Territórios das escritas do eu: pensar a profissão – narrar a vida. Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 213-220, maio/ago. 2011.
SOUZA, N. S. Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

11 comentários:

  1. Olá,Toni! Boa-noite!
    Ao ler o seu artigo, que emoção! Já tive o prazer de entrevistar essa sua "Dulcinéia, por conta, justamente, da tenacidade, coragem e reviravolta que a mesma deu na sua vida enquanto mulher negra.Como você bem referencia, ela teve uma trajetória de enfrentamento ao racismo da infância à fase adulta e,foi quebrando as barreiras que lhe impunham com muita sapiência. Que lição eu creio que eu e todos nós que vivemos essa situação semelhante tiramos? Não se abater, apesar da tristeza; não se armar com as mesmas armas de ódio e sarcasmo do seu algoz; não se aceitar como "coitadinho" e conformar-se com aquele velho jargão: "Deus quer assim, assim seja!" Enfim, mais do que estudar Português, Matemática, Geografia e Ciências com a sua pró "Dulcinéia, você ESTUDOU O "LIVRO DA VIDA" DELA PARA HOJE SE ORGULHAR DE QUEM VOCÊ É!

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    1. Olá, boa noite!
      Obrigado pela leitura, pelo comentário e a sensibilidade.

      Reconheço nas memórias e nas histórias de vida o entrecruzamento benfazejo com o cotidiano, ajudando-nos a entender as relações entre as pessoas e das pessoas com o mundo. Desse emaranhado, têm-se as experiências da professora Dulcinéia e o processo de voltar ao passado para avançar na novidade revelada por si e a si mesma, provocando a consciência identitária, em especial, a negra.

      Forte abraço.

      P.S.: O comentário é de Ivanize Santana Sousa Nascimento?

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  2. Gostaria primeiramente lhe parabenizar pelo belíssimo texto!
    Ao ler o titulo de seu artigo, logo me chamou a atenção, pois Autobiografia é um dos meus gêneros literários preferidos, aliás, utilizo das autobiografias de escravos como fontes históricas para o meu trabalho acadêmico. Sendo assim, direcionando mais especificamente para este gênero literário, gostaria de lhe perguntar qual a sua opinião sobre a importância de uma autobiografia, ou melhor - utilizando o termo de sua preferência -,de uma "história de vida"? Seja simplesmente para uma leitura, ou para realizar um artigo ou um material didático para se utilizar em sala de aula.

    Reuther Henning Machado

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    1. Olá, Reuther!
      Obrigado pela leitura e comentário.

      Acho que a brevidade da resposta não ajudará na exposição da importância do gênero autobiográfico, mas vou me esforçar.

      Tomando como exemplo o livro de memórias escrito pela cantora e compositora brasileira Rita Lee e publicado originalmente em novembro de 2016 com o título - ‘Rita Lee: uma autobiografia’; percebe-se que a personagem autobiografada fez e faz parte de um contexto histórico. Portanto, é possível entender o que foi a ditadura através dos escritos memorialísticos de Rita quando enfatiza suas letras censuradas durante o regime. É a história contada por quem fez parte dela de modo cotidiano.

      Para além disso, tomando o gênero enquanto um método (auto)biográfico de pesquisa, tem-se uma pulsão que de tão potente ultrapassa o método, pois, quando partimos em direção a um outro tempo ‘de si’, acha-se à ‘poética de si’ que é a experiência de subjetivar-se quebrando, pela memória, a narrativa em partes, expondo-a para, finalmente, construir-se uma linguagem que replique toda a beleza de ser alguém. Ou seja, é formação também.

      Espero ter respondido.
      Forte abraço.

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  3. Olá Antonio.
    Muito boa a sua abordagem teórico metodológica, que ao tratar das autobiografias também adentra nas história das sensibilidades como possibilidade de produção do conhecimento histórico.
    Também considero seu artigo muito importante para para a compreensão da história do ensino de história, especialmente porque traz a lume as memórias de docentes e alunos. Parabéns!

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    1. Olá, Elaine!
      Obrigado pela leitura e comentário.

      Você tem toda razão, pois a autobiografia deixou de ser privilégio do labor criativo dos literários e tornou-se ofício dos historiadores e presença nas epistemes dos pesquisadores das ciências humanas.

      Forte abraço!

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  4. Bom dia Professor Antonio,tudo bem?Que texto mareavilhoso,história de vida é um grande recurso de fonte histórica e acho um dos mais belos para estudar e compreender o racismo eo que o povo negro sofreu.Na minha percepção vejo que a história de vida da professora Dulcinéia pode ser um referencial não só do empoderamento feminino como do ser humano,ela caiu e se levantou , ela existiu e depois se deu conta de sua essência ,a biografia da professora Dulcinéia é como uma "lupa" atravessa o tempo e toda a condição do ser humano quer seja Negro ou viva em algum tipo de submissão a história dos negros nos capacita em sermos melhores .

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    1. Olá, Vanessa!
      Obrigado pela leitura e comentário.

      Concordo com você.
      A pesquisa (auto)biográfica é um recurso metodológico importante, entre outras coisas, por lançar mão de algo tão corriqueiro, isto é, narrar a própria vida. Estamos invariavelmente a nos autobiografar, trata-se de uma ação humana singular.

      Forte abraço!

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  5. Olá, Antonio.
    Parabéns pelo texto.
    Ao ler ele percebemos toda a paixão com que foi escrito. Com toda certeza este texto se destacou entre os que li.
    Histórias de vida, apesar de ser parte intrínseca de todas as pessoas, no campo científico ainda sofre alguns preconceitos, principalmente por trabalhar com memórias e estas não serem consideradas "confiáveis" (como se papeis escritos por pessoas pudesse ser mais ou menos confiável, não é mesmo?). A pergunta que te faço é: Como sua pesquisa vem sendo recebida pelos seus pares e por que você adentrou neste campo? A Dulcinéia retrata, de fato, a importância da luta da mulher negra e da necessidade voraz de mudar essa história branca e eurocentrada.
    Att,

    Jane da Silveira Martins de Paiva.

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    1. Olá, Jane!
      Obrigado pela leitura e comentário.

      Você fez uma síntese coerente sobre a História de Vida. Afinal, segundo o historiador francês François Dosse, o gênero literário autobiografia era classificada como ‘historieta menor’; acredita?

      Gosto de textos escritos em primeira pessoa. Gosto de obra implicada. Acho que isso é um antigo hábito de criança: querer saber das coisas e da vida das pessoas, obviamente, não no sentido da bisbilhotice, mas por seu caráter confidencial e dos resquícios da memória de uma vida. Mais tarde, ao estudar história, reconheci-me como historiador oral.

      Jane, as minhas pesquisas são bem recepcionadas. Nunca percebi nenhum tipo de dúvida ou sanção. Sei que existe, por parte de alguns, um entendimento da pesquisa (auto)biográfica como uma ‘historieta menor’, mas nunca senti respingar em mim. Percebo que quem “bebeu” da escola dos Annales ampliou, também, o quadro das suas pesquisas no campo da História acerca dos estudos das atividades humanas, estabelecendo parcerias com outras áreas das Ciências Sociais, como: a Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia humana e assim por diante. Nesse sentido, não há melhor metodologia para materializar tal intento como a (auto)biografia e a autoetnografia.

      Feliz por seu comentário.
      Forte abraço!

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