MITO, RELIGIÃO E PODER: O
CRIACIONISMO ASTECA NA SALA DE AULA
Sabemos que o estudo do passado deriva de
nossas próprias inquietações ou indagações. Ao fazer isso, conectamo-nos com
uma série de narrativas e elementos da cultura material que exprimem diferentes
modos de agir e pensar, visões de mundo e expectativas sobre a vida singulares.
Ao observar os processos históricos das sociedades antigas, percebemos a
natureza complexa de continuidades e transformações, ou seja, elementos
político-culturais que são agregados e que se (re)combinam, conforme as
demandas ou inclinações sociais que se configuram no tempo. As narrativas criacionistas,
produzidas na Antiguidade, por exemplo, ocupam ainda hoje um papel privilegiado
em muitas comunidades religiosas e produzem significativas dissensões tanto
políticas como culturais.
Nesse sentido, defendemos a relevância do
estudo das narrativas criacionistas, seus diálogos e duelos, nos currículos de
História da Educação Básica com a finalidade de refletir sobre como tais
narrativas afetavam(am) configurações sociais como política e religião.
Na Antiguidade, até meados do I Milênio a.C,
os mitos criacionistas eram uma narrativa central e estruturante de diferentes
organizações sociais. Por meio de relatos que contemplam a intervenção dos
deuses na ordem dos acontecimentos, seu principal propósito versa sobre a
origem do universo e do homem, por isso tais narrativas ajustam-se à categoria
dos “mitos de origem”. É preciso
destacar que essa construção mitológica fornece uma estrutura fundamental para
dinâmica dos rituais religiosos bem como confere inteligibilidade a seus
principais atores, os sacerdotes, que, em geral, atuam em sintonia com os
demais agentes de poder: o monarca, seus aliados políticos e os escribas, em
geral, ideólogos dos projetos de poder monárquico.
Isso posto, as narrativas míticas colaboram
para conferir um sentido à relação entre o cosmos e a humanidade, além de
constituir, como afirmamos, uma forma de compreender a origem do universo e dos
seres humanos por meio de um universo simbólico inerente às circunstâncias
históricas e condições político-culturais de produção de tais discursos.
Para Strass, a mitologia está inserida em uma
etnologia religiosa, que “[…] rejuvenessem as velhas interpretações: sonhos da
consciência coletiva, divinização de personagens históricos, ou o inverso.
Qualquer que seja o modo em que se consideram os mitos, parecem todos
reduzirem-se a um jogo gratuito ou a uma forma superficial de especulação
filosófica” (1995, p.230) (Tradução da autora) . Nota-se que, para o estudioso,
o mito está atrelado ao campo da filosofía, já que procura dar respostas a
inquietações sociais, ou seja, trata-se de uma investigação ancorada em
necessidades sociais específicas.
Além disso, a narrativa mítica, como se situa
no campo da linguagem, constroi-se a partir de relações de causa-efeito e
exprimem a forma como as relações interpessoais e as práticas culturais foram
concebidas por figuras de autoridade como os sacerdortes, logo o mito manifesta
o ponto de vista dos que estavam à frente da gestão das instituições políticas
e religiosas.
Ao contrário de Strass (1995), Eliade
enfatiza o caráter ‘sagrado’ ou ‘sobrenatural’ presente nas narrativas míticas:
“[...] o mito conta uma história sagrada; ele
relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do
"princípio". Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas
dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade
total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um
comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma "criação":
ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser [...] Os personagens
dos mitos são os Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo pelo que
fizeram no tempo prestigioso dos "primórdios". Os mitos revelam,
portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a
"sobrenaturalidade") de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as
diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado (ou do
"sobrenatural") no Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente
fundamenta o Mundo e o converte no que é hoje. E mais: é em razão das
intervenções dos Entes Sobrenaturais que o homem é o que é hoje, um ser mortal,
sexuado e cultural. [...] é importante frisar, desde já, um fato que nos parece
essencial: o mito é considerado uma história sagrada e, portanto, uma
"história verdadeira", porque sempre se refere a realidades. O mito
cosmogônico é "verdadeiro" porque a existência do Mundo aí está para
prová-lo; o mito da origem da morte é igualmente "verdadeiro" porque
é provado pela mortalidade do homem, e assim por diante”. (ELIADE, 1972, p.9)
Eliade também nos informa que a narrativa
mítica permite o compartilhamento de saberes, concebidos pelo grupo social que
o constroi como ‘verdadeiros’, por meio dos quais os sujeitos orientam suas
experiências cotidianas. Assim, tais discursos, além de serem concebidos como
‘verdadeiros’, assumem um papel paradigmático à vida social.
Ambos Eliade (1972) e Strauss (1995),
concordam que o mito dialoga com um universo simbólico de seu tempo, porquanto
la mitología será considerada un reflejo de la estructura social y de las
relaciones sociales do momento histórico em que foi construído (1995, p.230).
Por se tratar de uma narrativa chancelada
pelos deuses, logo portadora de uma ‘verdade’ de caráter universal, que incide
sobre a dinâmica da vida social:
“Em um mito tudo pode acontecer; parecia que
a sucessão dos acontecimentos não está subordinada a nenhuma regra de lógica ou
de continuidade. Todo sujeito pode ter qualquer predicado; toda relação
concebível é possível. E, no entanto, esses mitos, aparentemente arbitrários,
se reproduzem com as mesmas características e, muitas vezes, com os mesmos
detalhes nas diversas regiões do mundo”. (STRAUSS, 1995, p. 230- 231) (Tradução
da autora)
Como se observa, a logicidade da narrativa
não é o aspecto definidor de sua legitimidade social, mas sim os autores
envolvidos em sua composição, a saber: os sacerdotes ou governantes e a
revelação divina de que afirmam ser portadores.
Para os mexicas, a narrativa que trata da
criação do mundo chama-se a “Leyenda de Los Soles” e se exprime na cultura
material da sociedade asteca de modo significativo, o que sinaliza a relevância
desses discursos para a compreensão do cenário político-cultural das sociedades
antigas. Mais do que uma narrativa, o mito, para Eliade, imprime um modo de
viver e pensar:
"Viver" os mitos implica, pois, uma
experiência verdadeiramente "religiosa", pois ela se distingue da
experiência ordinária da vida quotidiana. A "religiosidade" dessa
experiência deve-se ao fato de que, ao reatualizar os eventos fabulosos,
exaltantes, significativos, assiste-se novamente às obras criadoras dos Entes
Sobrenaturais; deixa-se de existir no mundo de todos os dias e penetra-se num
mundo transfigurado, auroral, impregnado da presença dos Entes Sobrenaturais.
[...] O indivíduo evoca a presença dos personagens dos mitos e torna-se
contemporâneo deles. Isso implica igualmente que ele deixa de viver no tempo
cronológico, passando a viver no Tempo primordial, no Tempo em que o evento
teve lugar pela primeira vez. [...] Em suma, os mitos revelam que o mundo, o
homem e a vida têm uma origem e uma história sobrenaturais, e que essa história
é significativa, preciosa e exemplar” (ELIADE, 1972, p.18).
Como se observa, o mito possibilita o
compartilhamento de saberes comuns que delineiam os processos identitários de
uma sociedade na medida em que constroi uma base comum de comportamentos,
práticas, princípios e valores sociais que, autorizados pelos ‘Entes
Sobrenaturais’, passam a ser aceitos, reconhecidos e valorizados pelos integrantes
da comunidade. Além disso, ao se reportar às origens do cosmos e do homem, o
mito idealiza um passado comum que confere inteligibilidade à vida de cada
sujeito e promove a integração social, reforçada por meio de práticas
ritualísticas que atualizam, nos sujeitos, o sentimento de pertencimento à
comunidade:
“Em suma, trata-se de rituais coletivos de
uma periodicidade irregular, incluindo a construção de
uma casa de
cultos e a
recitação solene dos
mitos de origem de estrutura cosmogônica. O
beneficiário é a
comunidade inteira incluindo os vivos e os mortos. Por ocasião
da reatualização dos mitos, a comunidade inteira é renovada; ela reencontra as
suas "fontes", revive as suas "origens". A idéia de uma
renovação universal produzida pela
reatualização cultural de um mito
cosmogônico é encontrada em
muitas sociedades tradicionais” (ELIADE, 1972, p.29-30).
A reatualização do mito cosmogônico por meio
de práticas ritualísticas que ocorrem em geral nos templos construídos para
esta finalidade possibilitam a integração social e renovam os ‘pactos’
culturais e ideológicos por meio dos quais as instâncias de poder legitimam
suas ações junto à coletividade.
Por fim, convém salientar que o mito deriva
de diálogos interculturais e interdiscursivos inerentes ao momento histórico em
que foram escritos. No caso da sociedade
asteca ocorre uma espécie de combinação de diferentes características culturais
dos povos que viveram em Tenochtitlán antes da dominação dos mexicas. Assim, a
“Leyenda de Los Soles” é resultado de várias camadas culturais que se conectam,
tal como defende Soustelle:
“A religião mexicana era uma religião aberta.
Os astecas vencedores procuravam anexar ao império, junto com as províncias, os
deuses que estas adoravam. O recinto do grande teocalli acolhia todas as
divindades estrangeiras, e os sacerdotes de Tenochitlán, curiosos de saber e de
ritos, adotavam de bom grado mitos e práticas dos países longínquos que os
exércitos percorriam” (SOUSTELLE, 1990, p.137).
Soustelle, assim como Homi Bhabha, em O local
da cultura (1998), argumenta que a relação entre colonizador/conquistador e
colonizado/dominado, ao invés de resultar na sobreposição ou na aniquilação da
cultura dos vencidos, redunda num ambiente híbrido e aberto à recomposição de
práticas culturais, engendradas particularmente pelos grupos sociais que
ocupavam as instâncias de poder, entre os quais se destacam os governantes, os
sacerdotes e seus apoiadores. Visto sob este ângulo o mito cosmogônico
justifica e fundamenta uma ordem social concebida, sobretudo, por aqueles que
estão à frente das instituições político-religiosas.
De acordo com a Leyenda de los Soles o cosmos (mundo organizado) fora criado e
destruído quatro vezes e o mundo em que os mexicas viviam corresponde,
cosmologicamente, ao ‘quinto mundo’ ou ‘quinto sol’ (AUSTIN, 2015, p. 97), por
isso o mito de origem é chamado de lenda dos cinco sóis.. Os astecas
acreditavam que, antes de serem criados pelos deuses, estes já haviam criado
outros quatro mundos ou sóis, habitados por humanos mais frágeis ou vulneráveis
a diferentes circunstâncias, como se observa a seguir:
“Para o pensamento indígena, o mundo havia
existido, não uma, mas sim várias vezes consecutivas. A que se chamou 'primeira
fundamentação da terra’, havia tido lugar há muitos milênios. Tanto que em
conjunto, haviam existido já quatro sóis e quatro terras, anteriores à época
presente. Nessas idades, chamadas ‘Sóis’ pelos antigos mexicanos, havia tido
lugar uma certa evolução ‘em espiral’, na qual apareceram formas cada vez
melhores de seres humanos, de plantas e de alimentos. As quatro forças
primordiais ─ água, terra, fogo e vento (curiosa coincidência com o pensamento
clássico do Ocidente e da Ásia) ─ haviam presidido essas idades ou sóis até chegar
à quinta época, designada como a do ‘Sol do Movimento’. Os primeiros homens
haviam sido feitos de cinza. A água acabou com eles, convertendo-os em peixes.
A segunda classe de homens constituíram os gigantes. Estes, não obstante, por
sua grande corpulência, eram, na realidade, seres frágeis. O texto indígena diz
que, quando estes caíam por algum acidente, ‘caíam para sempre’. Os homens que
existiram durante o terceiro Sol ou Idade do Fogo, tiveram também um trágico
fim: permaneceram transformados em perus. Finalmente, a respeito dos homens que
viveram no quarto Sol, refere-se ao mito sobre a catástrofe que pôs fim a essa
idade, sendo que os seres humanos não se transformaram nem em peixes e nem em
perus, mas que foram viver nos montes transformados, no que o texto chama de
tlacaozomatin, ‘homens-macacos’. A quinta idade que agora vivemos, a época do
‘sol do movimento’, teve sua origem em Teotihuacán e nela surgiu também a
grandeza tolteca com nosso príncipe Quetzacóatl” (LEÓN-PORTILLA, 1994,
p.13-14). (Tradução dos autores)
Por meio do mito, os mexicas compreendem que
os deuses são os principais artífices da criação do mundo e do homem, além
disso, entendem que se trata de um empreendimento marcado por tentivas e erros
o que sinaliza o caráter imperfeito ou frágil desta criação. Como produto da
criação divina, os humanos podem, potencialmente, ser destruídos pelos deuses,
como as ‘idades’ anteriores deixaram claro.
Dentro desse contexto enunciativo,
caracterizado por destruições-criações, percebemos que o mito não expõe apenas
o surgimento do universo, mas a emergência de diversas espécies de animais,
tais como os peixes, as aves, os macacos, os quais ocupam um patamar inferior
em relação aos humanos, já que derivam de tentativas mal-sucedidas de criação
da humanidade. Esses processos de criação-destruição estão inscritos no
calendário asteca, tal como representado a seguir:
FIGURA 1: Piedra del Sol- INAH
Arquivo pessoal de Wiliane Barbosa
O artefato chama-se “Pedra do Sol”, pois é
uma pedra mexica esculpida para representar os ciclos que constituíram o
calendário asteca e era muito importante para a vida cotidiana e cultural da
própria comunidade, pois ela trazia tanto os dias, os meses e os anos como
também evidenciava a cosmogonia retratada pelos mitos. Sendo assim, a Pedra
materializa o mito e demonstra seu papel social na constituição de crenças,
hábitos e costumes que derivam dos saberes veiculados por esta narrativa.
No centro, a imagem representa a cabeça do
sol, denominado de nanáhuatl ou naollin, que é figurado com a boca aberta
porque, segundo a narrativa mítica, o sol se alimentaria do sangue humano para
pôr-se em movimento. Logo, a imagem do deus com a boca aberta significa que ele
está à espera desse sacrifício. Atrelada à imagem do deus-solar, há quatro
quadrantes que lembram cada sol cósmico que foi destruído. Para Austin:
“É este o documento que aqui se torna como
base para estabelecer a sequência das eras. A primeira teve por nome Cuatro
Jaguar, dado que seu trágico fim foi causado pelos jaguares que devoraram os
seres então criados. O segundo Sol foi Cuatro Viento, pois os ventos devastaram
a terra, arrancando as árvores e as casas e transformando os seres da era em
macacos. O terceiro foi o Sol Cuatro LLuvia, e, quem então viveu, foram os
convertidos em galinhas, baixo uma chuva de fogo. O quarto foi Cuarto Agua,
porque durante seus últimos 52 anos, as águas inundaram a terra e todos se
transformaram em peixes. Por fim chegou o quinto sol, definitivo e último,
Cuatro Movimiento” (AUSTIN, 2015, p.56-57). (Tradução dos autores)
De acordo com o pesquisador, o sangue humano
seria uma forma de retribuição aos deuses, por estes terem se sacrificado para
criar a quinta raça humana, e de penitência, para que eles não se esquecessem
de seus deveres para com o divino. O sacrifício seria um desses deveres a serem
cumpridos, como forma de equilibrar a ordem cósmica que estava em constante
ameaça pelo caos. Léon-Portilla (1994) acrescenta que:
“Foi Quetzalcóatl, símbolo da sabedoria do
México antigo, quem aceitou a responsabilidade de restaurar os seres humanos,
assim como proporcionou depois seu alimento. Quetzalcóatl aparece nas antigas
lendas realizando uma viagem ao Mictlan, ‘a região dos mortos’, em busca dos
‘ossos preciosos’ que serviram para a formação dos homens: Mictlantecuhtli,
senhor da região dos mortos, põe uma serie de dificuldades a Quetzalcóatl para
impedir que se leve os ossos das gerações passadas. Mas Quetzalcóatl, ajudado
em dobro pelo nahual, assim como pelos bichos e abelhas silvestres, consegue se
apossar deles e os leva logo à Tomoanchan. Alí, com ajuda de Quilaztli, molhou
os ossos e os pôs depois em um barro precioso. Sangrando seu membro sobre eles,
os deu à vida. Os homens aparecem assim no mito como resultado da penitência de
Quetzalcótl. Com seu sacrificio, Quetzalcóatl ‘mereceu’ sua existência.
Precisamente por isso os homens se reconheceram macehuales, que quer dizer ‘os
merecidos pela penintência’ (LEÓN-PORTILLA, 1994, p.17- 18). (Tradução dos
autores)
O sacrifício sinaliza um compromisso entre
homens e deuses, reiterado por meio de rituais em adoração às divindades e a
negligência aos rituais podem resultar em destruições. O quinto mundo, chamado
de “Sol do Movimento” ou Ollin, enfatiza a passagem do sol durante o dia, que,
segundo os mexicas, movia-se ao redor da Terra. O mito narra que, ao criar o quinto mundo, o
deus Nanáhuatl se transformaria em Sol, através de seu próprio sacrifício.
Logo, é o sacrifício da própria divindade que viabiliza a origem da quinta
raça; muito semelhante, diga-se de passagem, ao mito cristão. No entanto, para
seguir em movimento, necessitaria de sangue humano; caso não houvesse
sacrifício humano, o sol pararia seu movimento e a terra pereceria em
catástrofe:
“Assim se inicia o drama cósmico em que a
humanidade está empenhada atrás dos deuses. Para que o Sol prossiga sua marcha,
para que as trevas não caiam definitivamente sobre o mundo, é preciso lhe dar
todos os dias seu alimento, a “água preciosa” (chalchiualt), isto é, o sangue
humano. O sacrifício é um dever sagrado para com o Sol e uma necessidade para o
próprio bem dos homens. Sem ele, a vida no universo pára. Sempre que, no topo
de uma pirâmide, um sacerdote eleva em suas mãos o coração sangrento de uma
vítima e o deposita no quauhxicalli, a catástrofe que ameaça o mundo e a
humanidade é adiada. O sacrifício humano é uma transmutação pela qual se faz
vida com a morte. E os deuses deram o exemplo dela no primeiro dia da criação.
Quanto ao homem [...] furtar-se a esse dever cósmico é trair os deuses e, com
isso, os outros homens [...] Nada renasce, nada dura, a não ser pelo sangue dos
sacrificados. (SOUSTELLE, 1990, p.118)
Desse modo, o sacrifício é concebido como um
dever humano. O mito manifesta seu poder coercitivo por contemplar a
possibilidade não só de estabelecimento do caos (catástrofes ambientais), mas
também de castigos divinos. Assim, o mito cumpre seu papel regulador das
práticas ritualísticas, além de naturalizar relações de poder bem como modos de
agir e pensar, indispensáveis à manutenção da ordem social. Procuramos mostrar
as implicações político-culturais do mito e sua relevância para o estudo das
sociedades antigas.
Referências
Williane é Graduada em História pela UFPI;
José Petrúcio é Professor Adjunto da UFPI.
AUSTIN, Alfredo
López. Las razones del mito: la cosmovisión mesoamericana. México:
Ediciones Era. 2015.
ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos. Lisboa:
Coleção Artes e Letras. Arcádia. 1 ed.
1979.p. 56-121.
LEÓN-PORTILLA,
Miguel. LOS ANTIGUOS MEXICANOS: a través de sus crónicas y cantares. 1994.
LÉVI-STRAUSS, Claude.
Antropología Estructural. México: EDICIONES PAIDOS. 1995. P. 229-262.
Disponível em: <
https://monoskop.org/images/6/67/LeviStrauss_Claude_Antropologia_estructural_1978.pdf>
Acesso em 20 de abril de 2019.
SOUSTELLE, Jacques. Os astecas na véspera da
conquista espanhola. São Paulo: Companhia de Letras: Círculo do Livro. 1990.
Olá!
ResponderExcluirTudo bem?
Achei muito interessante o seu texto, a mitologia indígena é muito rica e nos dá diversas oportunidades de trabalho, entretanto, percebo que muitas vezes, por falta de tempo, acabamos ficando no "básico", como quando trabalhamos os aspectos da religião dos Astecas, acabamos ficando nas generalizações e trabalhando um pouco sobre Quetzalcóatl, mas raramente pegamos um tempo para contar um pouco dos mitos. Dessa forma, pergunto qual seria a melhor forma de abordar a questão dos sacrifícios? visto que sabemos como muitos carecem de entender a cultura do outro e como o eurocentrismo ainda é forte.
Liara Bernuci Crippa
Flórida/PR
Boa noite Liara. Concordo com você no que diz respeito à questão de apontamentos básicos, pois este artigo é fruto do meu trabalho de conclusão de curso. Infelizmente, num artigo não temos como abordar tudo, então temos que nos limitar ao perfil superficial do texto, como forma de manter a discussão.
ExcluirAssim sendo há duas formas diferentes e principais de abordar essas questões: a primeira é no âmbito da academia, através de minicursos, palestras e conferências e tentar apontar as questões em meio às discussões e textos.
A segunda é no ensino básico, onde temos que buscar a interdisciplinaridade, o auxílio da TIC's e a práxis social, como forma de auxiliar o professor em sala de aula e para que os alunos consigam apreender as temáticas de maneira mais interativa.
Olá,
ResponderExcluirAchei a questão do mito bem pertinente, especialmente do contexto da cultura asteca. Mas, lendo a proposta apresentada sobre como a ideia do mito estava enraizada nesta cultura, minha pergunta é como vocês veem a ruptura dessa percepção dos astecas frente a dominação espanhola e a imposição do catolicismo.
Att.
Cláudia Cristina do Lago Borges
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirBoa noite Claudia,
ExcluirEm relação a uma possível ruptura, eu não vejo assim, pois no momento do processo de colonização, os espanhóis deixaram claro, principalmente na sua arquiteta, que eles consideravam-se "superiores" aos nativos. O que trazemos em relação a essa exposicao é a persistencia da cultura frente aos dias atuais, pois mesmo que houve um choque cultural entre ambos e uma população fora dizimada, em sua origem, mas há resistências, seja na alimentação, seja nas maneiras de vestimentas e comemorações, seja nos próprios escritos e achados arqueológicos .Desse modo, isso é faz com que uma cultura não seja dizimada por completo, pois deixou a herança cultural, ao qual fora passada de geração a geração através da memória social.
Olá,
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
A religião e os mitos são utilizados em diversas civilizações como forma de coibir e controlar ações daquela sociedade. No Brasil há pessoas que se declaram ser praticantes de religiões de diferentes origens, sendo de matriz africana, católicos, cristãos protestantes, budistas e etc.. A pergunta é justamente, como abordar este tema da coerção e punição praticada pelas diversas religiões com os alunos em sala de aula de forma que o aluno não se sinta desconfortável, ou até mesmo confrontado?
At.te
Debora Cirqueira Ferreira
Boa noite Débora.
ResponderExcluirHá diversas formas de trabalhar essas questões. Uma delas é mostrar aos alunos a pluralidade cultural e buscar envolvê-los, a partir de suas realidades, a partir de temáticas, aos quais, em casa temática, trabalhar uma cultura. Dentro desses processos, demonstrar aos alunos, a composição, originalidade, desenvolvimento e os conflitos ocasionados, como forma de demonstrar ao aluno as características culturais de cada entidade "religiosa". Assim sendo, o aluno, em seu caráter crítico e reflexivo, irá tirar, por si só, suas próprias conclusões, sem confrontamento,sem se sentir desconfortável ou até mesmo acuado, em relação aos outros colegas. Nesse sentido, o professor promove a diversidade social, sem necessitar ser intolerante "religiosamente" falando.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, boa noite.
ResponderExcluirAchei o tema muito interessante, porém confesso que preciso fazer muitas leituras sobre o assunto de grande relevância para todos os amantes da História.
Os povos atuais ainda preservam parte dessa cultura mítica deixada pelos povos astecas?
Danúbia da Rocha Sousa
Boa noite Danúbia.
ResponderExcluirSim, pelo que eu percebi. Eles preservam através das músicas, danças, comidas principalmente e em algumas comemorações. E em algumas localidades, culturas que são descendentes dos mexicas, preservam a língua. Porém há na própria tradição, uma dificuldade em preservar a língua na contemporaneidade, pois os descendentes mais recentes dessa cultura não quer se ater, em sua maioria a aprender a língua, resultando, futuramente na "mortificação" da língua nativa mexica.